Start Over escrita por MBS


Capítulo 21
Say goodbye




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Ponto de Vista – Bernardo

 

Tudo parecia tão irreal, como um sonho ruim que você fica se debatendo na cama, mas sem conseguir de fato acordar.

Até dois dias atrás tudo estava certo e bem, éramos uma enorme família feliz, daquelas que todos ajudam os seus membros, mas principalmente ele. Ele era a alegria de todo mundo. Cara, ele sempre estava lá por todos, ajudando e dando suporte nos piores momentos, brigando e dando xingão quando merecido, como um irmão mais velho mesmo. Mas por outro lado, você sempre foi o cara que soube curtir a vida, soube mostrar que o mundo não é essa bolha cinza que a sociedade nos coloca em volta, ela é um fucking arco-íris gigantesco apenas esperando ser descoberto.

— Mas que merda – encarei minhas olheiras no reflexo do espelho. Passar noites em claro, dormindo no máximo duas horas por dia, já não era mais pra mim. Principalmente por este motivo.

Cara como eu odeio velórios.

Arrumei novamente a gravata e coloquei meu paletó preto. Peguei as chaves do carro e desci as escadas.

Sophie e Gustavo estavam absortos em algum programa de TV, ou meu irmão tinha finalmente conseguido fazer a namorada dormir. Ela ficou esses dias um bom tempo em estado de choque, ai ela e Abby entraram em uma crise de choro. Eu e Gustavo não sabíamos exatamente o que fazer, até porque nunca passamos pelo o que elas estavam passando. Ele era irmão delas, e agora se foi, para sempre.

Eu havia mais cedo perguntado para Sophie se ela queria me acompanhar, ela negou, disse que não queria se despedir.

— Stavo – chamei-o e ele virou o pescoço encarando-me – Estou indo, qualquer coisa me liga.

— Okay, manda as minhas condolências por mim e desculpas por não ir. Bem... você entende.

— Claro, mando sim. Cuida dela. E a mamãe deixou avisado que tem comida pronta na geladeira, é só esquentar. Veja se faz ela comer alguma coisa.

— Tá – acenou com a cabeça e voltou à atenção para a TV.

O caminho até o cemitério parecia interminável, e para piorar tudo ainda o tempo estava se fechando, o que antes era um céu azul, agora estava cheio de nuvens e algumas cinzas. Bom, pelo menos tem um guarda-chuva no carro. Pensei.

Já no cemitério, a ruazinha perto do local onde ele seria enterrado estava toda cheia dos carros das pessoas dos rachas. Porque era isso que ele era, um corredor, mas suas corridas haviam chegado ao fim.

Encontrei um lugar vago e deixei meu carro, peguei o guarda-chuva e caminhei até o local onde as cadeiras estavam postas para o enterro.

Escutei o ronco de outro charro chegando e logo o reconheci. Abby saiu de dentro do carro e enxergou-me de longe, veio caminhando rapidamente em minha direção com um vestido preto até os joelhos e seus saltos também pretos.

— Como você está, loirinha? – perguntei envolvendo-a em meus braços. Ela afundou o rosto em meu pescoço apenas assentindo.

— Consegui por ordem os pensamentos – ela disse depois de um tempo.

Desde o momento em que descobri o que havia acontecido não deixei Abby sozinha, ela estava muito abalada e culpando-se pelo ocorrido. Meu verdadeiro medo era que ela fizesse alguma loucura. Mas hoje de manhã, Bianca apareceu na casa para ficar com Abby, e as duas praticamente me expulsaram de lá.

...

Dois dias antes

...

A porta da casa da Abby se abriu e eu acabei desviando meu olhar de Carter para quem havia acabado de chegar. Senti quando o soco em meu rosto veio em cheio e meu corpo caiu para o lado.

— Isso ainda não acabou... é apenas o começo – Carter disse antes de desaparecer pela porta de trás da casa. Não fiz questão de correr atrás, mesmo querendo. Meu coração falhou algumas batidas quando vi Abby inconsciente ao meu lado. Vê-la desacordada era a pior sensação do mundo. Mas estava ainda me martelando o porquê será que Carter, depois de tanto tempo, havia aparecido novamente? 

— O que aconteceu? – Sophie perguntou entrando na cozinha e ajoelhou-se ao lado de Abby.

— Carter apareceu aqui - notei Sophie arregalando os olhos - Eu não tenho nem ideia por que... mas eu te mandei mensagem avisando porque eu não tinha ideia de como eu iria reagir quando o visse - falei com raiva.

— Você não é o único. Eu vim voando quando você me mandou aquela mensagem. 

— Desculpa por isso - abaixei minha cabeça e encarei minha namorada. Com todo cuidado peguei Abby no colo a tempo de escutar o forno apitando, dando sinal que a pizza estava pronta. Caminhei até a sala e Gustavo estava lá sentado - Tem pizza no forno, acabou de ficar pronta. Tirem de lá pra vocês comerem.

— O que aconteceu com ela? - Gustavo me perguntou encarando Abby.

— Longa história. Vou lá colocá-la na cama. 

— Okay.

Coloquei Abby gentilmente na cama, cobrindo seu corpo com as cobertas da cama ainda bagunçada. Ela nem se mexeu. Será que não era melhor leva-la para um hospital?

“Menos Bernardo, se ela não acordar daqui um tempo ai sim você a leva.” Balancei a cabeça e comecei a olhar os livros espalhados pelas prateleiras no quarto, peguei um livro chamado Desastre Iminente, sentei ao lado de Abby na cama e fiquei lendo.

Depois de um tempo Abby começou a se revirar na cama, larguei o livro no bidê ao lado da cama e a abracei.

— Hey loirinha, tá tudo bem – sussurrei em seu ouvido.

— Bernardo... – ela disse baixinho virando o corpo e escondendo o rosto na volta do meu pescoço – Ele está morto.

— Quem amor?

— O Gui – ela começou a chorar e apertou mais a cabeça em nosso abraço.

— Você tem certeza Abby?

— Por que Carter viria aqui e arriscaria tanto ser pego se não fosse verdade? – Ela respondeu depois de um tempo.

Continuei com meus braços ao seu redor até ela estar mais calma, notei que ela havia dormido novamente. Aquilo tudo estava martelando na minha cabeça. Isso não poderia ser verdade, ou poderia? Não, Carter não iria conseguir pegar o Gui em uma corrida, nem se ele quisesse, ele era o melhor nos rachas, não era atoa que era o rei...

Levantei da cama com cuidado para não acordar Abby e fui para o andar de baixo.

— Cadê a Bianca? – pedi para Sophie que estava voltando da cozinha para a sala.

— Não chegou ainda – ela disse dando de ombros e voltando ao lado do namorado.

— Como está Abby? – Gustavo pediu enquanto eu sentava na poltrona da sala.

— Não tenho certeza, ela vai ficar bem, eu acho. Está dormindo mais um pouco agora.

Eles ficaram encarando-me esperando que eu prolongasse o assunto e falasse o que havia acontecido, mas a verdade era que nem eu sabia o que havia acontecido direito.

Após mais algum tempo Abby acordou novamente, veio caminhando meio arrastada até o meu lado, sentou em meu colo e aninhou-se ali. Passou os braços por de trás do meu corpo e recostou a cabeça em meu peito. Fiquei fazendo carinho em seus cabelos até que meu celular começou a tocar.

Retirei-o do bolso e atendi.

— Alo?

— Bernardo, é a Bianca. Abby tá ai? – Notei que sua voz era meio chorosa do outro lado da linha.

— Tá sim – afastei o celular e entreguei para Abby – É a Bia.

— Hey – Abby respondeu.

— Aconteceu uma coisa Abby – consegui escutar Bianca falando.

— Não Maria, não me diga que é verdade – Abby voltou a chorar. Sophie ficou me encarando como se pedisse explicações do que estava acontecendo.

— É sim Abby, eu tô aqui no local do acidente. Ele não resistiu a pancada. – Deu para notar que Bianca também chorava do outro lado da linha.

Abby me entregou o celular de volta e sentou no chão se encolhendo e chorando. Sophie foi para o seu lado abraçar a irmã e tentar entender o porquê daquilo.

— Bianca, o que aconteceu? – Perguntei.

Bianca respirou fundo do outro lado da linha e voltou a falar.

— Depois que vocês saíram, Peter convenceu o Gui de não correr, disse que ele iria no lugar. Mas alguma coisa aconteceu durante o racha, o carro em que o Peter tava acabou capotando. Eu sai correndo porque eu e o Gui escutamos a batida e uma explosão, sabíamos que algo tinha acontecido mas não sabíamos com quem, chegamos no local do acidente e notamos que era o carro do Gui, era o Peter que estava dirigindo, ele deve ter pego a chave em algum momento enquanto eu distraia o Gui, ele não resistiu. Ele está morto Bernardo. – Ela contou meio pausadamente, provavelmente por conta do choro.

— Mas que merda. Os outros não sabem quem foi que fez isso?

— Tudo aponta pro Carter, mas ninguém sabe onde ele se meteu. – Ela suspirou do outro lado da linha – Eu e o Gui já estamos voltando pra casa, cuida das meninas.

— Pode deixar. – Desliguei o celular e soltei-o ao meu lado. Encostei minha mão nas costas de Abby fazendo carinho. – Loirinha. Bia e o Gui já estão vindo pra casa. – Ela soltou-se do abraço com a irmã e me encarou com os olhos arregalados.

— O Gui?

— É, quem tava no racha não era ele, era o Peter.

— Ai meu Deus – foi a última coisa que ela disse antes de tapar a boca espantada e voltar a chorar. – Mas ele então está...

— Morto? – Suspirei profundamente assentindo.

Sophie e Abby abraçaram-se novamente chorando. Eu nunca entendi a relação da família Carstairs com o Peter, eu sabia que ele e o Gui desde sempre eram amigos, mas não imaginava que as meninas eram tão próximas também.

Eu e Gustavo não sabíamos ao certo o que fazer, nunca havíamos perdido alguém tão próximo da família assim, tão depressa e sem muita explicação.

Dentro da minha cabeça as coisas começavam a se encaixar, mas sem muito sentido ainda. Como um gigante quebra-cabeça, mas com diversas peças fundamentais ainda faltando.

Após as duas pararem de chorar, mas ainda estarem meio perplexas, sentaram novamente cada uma no lugar que estava antes. Bianca e Guilherme não demoraram muito para chegar, tanto Abby como Sophie correram de encontro com o irmão. Escutei ele murmurar para Abby um “tá tudo bem”. Encarei Bianca e seus olhos estavam inchados.

...

Todos já estavam sentados em seus lugares, não havia motivo para estar bem, era um momento péssimo e todos ali haviam perdido um amigo, companheiro, filho, irmão. Abby estava com a cabeça em meu ombro, brincando com meus dedos da mão.

— Estamos hoje aqui reunidos para realizar o velório de Peter Beauregard. Amado filho, irmão, amigo. Com grande pesar perdemos uma alma tão jovem. Uma vida que não teve chance de florescer e cumprir seu proposito neste mundo é uma vida que foi tirada deste mundo muito cedo. Abigail e Guilherme Carstairs, que foram na vida de Peter como irmãos, me foi dito que farão os discursos. Chamo-os para fazerem o discurso que prepararam.

Abby levantou e enganchou o braço em seu irmão, caminharam calmamente até o local em que o padre estava.

Pete, irmãozinho, você foi uma das melhores pessoas que eu conheci. Você era muito mais do que apenas uma pessoa que conseguia contagiar todo mundo com sua felicidade. Surgiu em nossas vidas como um irmão a mais, seus pais, Mark e Joana, acabaram praticamente adotando eu e o Gui como membros da família, já que nós não saíamos de sua casa, fomos os irmãos, mesmo que não de sangue, que você nunca teve.

Por incrível que pareça, Peter era delicado, cuidadoso, protetor, inteligentíssimo, e se fosse necessário ameaçar alguma pessoa para se manter longe podem ter certeza que ele estaria lá. Como eu disse, sua positividade emanava dele. Muitas vezes quando sem nenhum motivo eu estava triste, ele estava lá para achar um motivo para rir, ou transformar o momento triste em algo engraçado.

Você foi uma das pessoas mais incríveis que tive a oportunidade de conviver e conhecer Peter, independente do lugar onde você estiver agora, tenho certeza que estará alegrando tudo ao seu redor. 

Não tem palavras que possam descrever o que estamos sentindo, aquele buraco que se formou em nosso peito, aquele palhaço que fazia todos rirem por N motivos, independente do estado de espírito que a pessoa estava, mas que no fim todos ficavam bem, porque você transformava momentos ruins em engraçados. Esse era você Peter.

É meu irmão, hoje você se foi. Mas sabemos que você soube curtir a vida. Espero um dia poder encontrar você, então curta as pistas do paraíso porque quando todos nós chegarmos à festa irá começar.

Com amor,

Sua família e amigos.

— Vá em Paz Pete - Abby finalizou jogando uma rosa branca sobre o caixão. Ela ficou parada ao lado do irmão enquanto ele fazia discurso.

O Peter era tipo aquele amigo irmão, fizemos muitas coisas juntos, a primeira festa, o primeiro porre, o primeiro racha, ele também sempre esteve lá por mim, para dar as broncas, para receber as broncas, para pararmos e olharmos um para o outro e perguntar “o que diabo estamos fazendo?”. A ligação era tão forte que acabamos trabalhando juntos, e foi os meses mais produtivos, porque ambos éramos parecidos e pensávamos parecidos, mal precisávamos falar para saber o que o outro estava pensando e o que diríamos sim e o que excluiríamos. Nós éramos tão parecidos, que até pela mesma menina nos apaixonamos...

Só que Peter, ele era o cara que fazia tudo pelos amigos e pelas pessoas que amava, ele viu que eu e essa garota nós não estávamos bem separados e ele disse para ela que precisávamos nos resolver, ele abriu mão dessa garota porque antes de que eu mesmo percebesse ele sabia que talvez ela fosse a única chance de eu me envolver de verdade com alguém... E eu nunca disse nada, eu não precisei dizer, porque com o Peter, não precisava se falar muito, ele via tudo e percebia tudo e fazia com que as coisas se ajeitassem. Para ele não tinha tempo ruim e nenhum sacrifício era grande demais se causasse mais bem do que mal.

Acho que ele esquecia as vezes dele mesmo, e esquecia de pedir ajuda, mas Peter sempre teve amigos, que como ele, não esperavam que ele falasse, nós sempre estivemos lá por ele, porque ele estava lá por nós.

E agora... Ele não está mais aqui.

Eu perdi meu parceiro, o cara que ia ser padrinho do meu casamento e dos meus filhos, o cara que era meu irmão e que sempre estava lá.

O mundo perdeu um jovem que tinha o coração enorme, que fazia o bem, que vivia o que acreditava, que vivia a felicidade intensamente e os dias como se fossem os últimos. Eu não queria que o seu último dia tivesse vindo cedo demais, mas o destino quis ao contrário e agora eu sei que ele está em um lugar melhor.

Em um lugar sem limites de velocidade, sem dor, onde o amor é uma constante e onde o sorriso de Peter permanecerá inalterado e sua alma livre.

Você viverá para sempre em nossos corações, descanse em paz meu irmãozinho.— Guilherme também pegou uma rosa branca e jogou-a sobre o caixão, passou o braço sobre o ombro de Abby que chorava muito depois do discurso dele.

— Descanse em paz – o padre fez o sinal da cruz e todos os amigos foram jogando rosas brancas sobre o caixão enquanto este ia descendo pelo buraco da cova. Abby e Guilherme caminharam até o lado dos pais de Peter e os abraçaram, ficaram lá por um tempo.

Após a maioria das pessoas já disposto as rosas sobre o caixão, fui lentamente até o lado do mesmo e fiz a mesma coisa. Notei que Guilherme estava abraçado com Abby e Bianca e ambas estavam abatidas. Caminhei com as mãos no bolso da calça até onde eles estavam. Abby se soltou do braço do irmão delicadamente e parou ao meu lado.

— Quer ir pra casa? – Perguntei para Abby que apenas fez sinal com a cabeça afirmando.

— Nós vamos logo também – Guilherme disse encarando a irmã.

— Okay – Abby concordou novamente.

Voltamos para a casa dos Carstairs e subimos para o quarto de Abby para trocarmos de roupa, tanto eu quanto ela colocamos calças de moletom cinza, mas ela colocou uma regata branca e um casaquinho e eu uma camiseta azul marinho.

Fomos para a cozinha e começamos a organizar a janta. Eu sabia que nenhum deles três havia comido direito nos últimos dias, inclusive Sophie também, Stavo me disse que ela estava abatida e estava sempre argumentando estar sem fome.

Logo Bia e Guilherme chegaram e também foram tirar as roupas do velório. Após descerem foram para a sala, junto com Gustavo e Sophie.

— Vai lá junto com eles – Falei para Abby.

— Tem certeza?

— Eu me viro aqui, prometo não explodir nada.

— Não brinca com uma coisa dessas.

— Eu consigo terminar a janta Abby, pode ir lá com eles.

— Okay – ela respondeu por fim ficando na ponta dos pés e me dando um selinho.

Após algum tempo terminei o jantar e todos pegaram os seus pratos e ficamos sentados na sala, cada um com seus pensamentos em silêncio. Eu e Gustavo retiramos os pratos logo após e voltamos para sala. Abby sentou em meu colo na poltrona, Gustavo e Sophie na outra e Bia e Gui no sofá.

— Deu disso – Abby disse e todos nós a encaramos.

— O que? – Guilherme perguntou encarando a irmã.

— Ele iria odiar ver nós assim, pra baixo, tristes, sem tentar achar algo engraçado pra transformar um momento fodido em engraçado.

— E quer que nós façamos o que Abby? – Guilherme continuou pedindo.

— Relembrar das coisas oras. Era isso que ele fazia quando qualquer um de nós estava triste. Ficava lembrando de momentos pra fazer nós rirmos, e é isso que deveríamos fazer oras. – ela disse abrindo um sorriso amarelo – Você se lembra daquela vez que eu cai da escada e você e o Peter ficaram rindo da minha cara, me chamando de monte e tal, mas quando eu comecei a gritar com vocês que eu não estava conseguindo firmar o pé no chão vocês dois quase ficaram loucos de preocupação? – Abby falou em meio a risadas.

— Porque você foi monte irmãzinha,  lembro que você fez nós enfaixarmos o seu pé e erguer ele no sofá da sala. Parecia uma madame pedindo comida e argumentando que não poderia andar pra pegar cada vez que nós reclamávamos dos seus luxos – Gui falou sorrindo e revirando os olhos.

— Mas tava doendo, eu não conseguia andar mesmo poxa – Ela sorriu ainda mais com isso.

— Eu lembro de uma vez no Halloween que vocês três jogaram mais de dez rolos de papel higiênico na casa da mamãe – Sophie falou – Aquilo foi engraçado.

— Só lembro dos gritos e de nós tendo que arrumar tudo depois – Abby complementou e Guilherme concordou com a irmã.

— Vocês três provocaram – Sophie disse.

— Era uma festa, mamãe deveria ser menos dramática e histérica, quem sabe assim ela entrasse no clima da festa.

— A mamãe entrar no clima, Abby? Você imagina a dona Helena entrando no clima de alguma festividade? – Gui perguntou e a irmã começou a rir negando com a cabeça.

— Nem pensar.

— Tem também aquela vez no Dia de Ação de Graças que eu e o Peter começamos a guerra de comida com a Abby. O que mesmo que jogamos em você primeiro?

— Ovo e farinha.

— Isso. A Joana não sabia se brigava com nós ou dava risada, porque limpar a bagunça tivemos que fazer de qualquer forma.

— Sim, cara. Ela ficou louca com nós – Abby começou a rir – Teve também aquela festa que nós três fomos junto com o papai, acho que era alguma comemoração dos militares, que tinha umas garotas loucas por vocês dois e o Peter não queria ninguém, lembro que eu comecei a rir e ele mentiu que eu era namorada dele, mas não morava no país. Tive que por minhas aulas de francês em prática.

— Eu não sabia se eu brigava com vocês dois ou começava a rir.

— Você ficou com o Peter? – Perguntei para Abby.

— O que? Não, nunca. Ele era praticamente meu irmão, nesse dia o máximo que eu fiz foi ficar abraçada com ele, nada mais que isso. – Respondeu.

— Fora que depois dessa cena as gurias começaram a querer jogar charme pra cima de mim e a Abby saiu puxando nós dois pro lado do papai. – Guilherme falou e Bianca apenas revirou os olhos sorrindo de canto.

— Mas eu não estava mais aguentando aquelas garotas oras, elas tavam enjoativas demais, eu já tava com vontade de esfregar no asfalto aquelas caras de dois quilos de maquiagem.

— Quanta violência para 1,54 de altura – Guilherme provocou e Abby apenas mostrou a língua para ele. – Muito adulta sua atitude.

— Eu lembro quando o Gui ainda tava na faculdade e a Abby e o Bernardo começaram a brigar, que o Peter jogou a Abby sobre os ombros e o Gui só revirava os olhos com o piti dela. – Sophie falou

— Eu não lembro disso – Abby tentou se defender, mas estava sorrindo. Eu sabia que ela estava apenas fingindo inocência. Ela pegou o copo de suco e ficou apenas escutando o que os outros tinham a dizer.

— Eu lembro, inclusive seus tapas doeram aquele dia, o do rosto ficou marca até. – Falei e Abby me encarou perplexa.

— Lembro apenas de mandar você vazar de lá antes que eu pedisse pro Peter soltar ela pra ela voltar a te bater – Gui falou rindo.

— Ai gente. Por que eu não lembro disso?

— Você não se lembrar não é uma boa defesa Abby – Bia falou – Gui, você lembra aquela vez que você me pegou na cama com ele? – disse encarando Guilherme.

Abby ao meu lado, na hora estava tomando suco, acabou engasgando-se e encarando a amiga.

— O que? Calma, você transou com ele?

— Sim, ué.

— Você não precisa me lembrar disso, rainha. – Guilherme estava com as bochechas vermelhas e encarava a namorada.

— Awn, Gui deu piti de ciúmes? - Abby perguntou animada.

— O que você acha? – Bia respondeu piscando para a amiga. Ela, Sophie e Abby começaram a rir.

— Não vejo graça alguma. – Guilherme disse cruzando os braços sobre o peito.

— Irmãozinho, você sempre foi meio gelado demais. Saber que você tinha sentimentos assim é... espantoso e incrível.

As pegações no pé e lembranças deles continuaram até a madrugada, quando Guilherme dando uma de adulto responsável mandou todo mundo ir dormir.

Diferente de como estava antes, o clima na casa mudou e estava bem mais leve. Eles estavam certos, Peter não ia gostar de ver as pessoas que ele mais se importava e considerava como irmãos tristes e abatidos, fazê-los sorrir e rir sempre foi seu forte.


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