Hogwarts, Outra História escrita por The Escapist
Quando resolveu viajar de carro, Tiago não imaginou que seria aquele inferno; acostumado a viajar de Londres a Godric’s Hollow, estava percebendo que ir da Inglaterra à Irlanda seria bem diferente. Só no primeiro dia de viagem eles se perderam três vezes.
— Eu te falei que você deveria entrar à direita, 40 km atrás... essa não é a estrada.
— Calada, Loreley, por favor, se a gente tá perdido a culpa é sua que não lê esse mapa direito.
— Até parece! Fique sabendo que não é a primeira vez que eu viajo de carro... se você me deixasse dirigir...
— Você já teria batido com o carro!
— Eu nunca bati o carro, se você quer saber.
— É, milagres acontecem.
— Por que você está tão mal humorado?
— Porque eu queria que essa fosse a nossa viagem dos sonhos, mas o que está acontecendo é um pesadelo.
— Que drama!
— Se a gente tivesse usado a rede de Pó de Flú ou desaparatado, ou simplesmente viajado de avião, já estávamos num confortável apartamento em Dublin, com comida e lareira e não perdidos em algum lugar na Inglaterra, sem comida, sem banho e sem sexo.
— Ah, é isso então? Bom, primeiro, a ideia de viajar de carro foi sua, se você quisesse poderia ter viajado como quisesse, eu poderia ir sozinha; segundo, se você me deixasse dirigir a gente não estaria a 40 km/h... em terceiro, tá ficando de noite e, de acordo com esse mapa que eu não sei ler, tem um hotel a 10 km, a gente pode passar a noite lá... e resolver pelo menos um dos seus problemas — Tiago riu com o canto da boca e acelerou um pouco mais.
Quando chegaram ao hotel, tomaram um banho, que àquela altura foi divino, jantaram, e antes de dormir, Tiago alimentou sua coruja, Fred, que assim como o dono estava achando a viagem um pesadelo terrível, por ter que ficar trancado na gaiola o tempo todo.
— Ainda por cima ouvindo a Loreley brigar! — Fred piou como se concordando com Tiago.
— Você é hilário!
— E você é linda — Loreley estava sentada na cama usando baby-doll e penteando os cabelos.
— Você acha? Então esquece essa coruja feia e vem aqui...
— Ela não quis te magoar, Fred — Tiago alisou a cabeça da coruja. — Nem eu quero, mas você pode ir dar uma volta, amigão! — abriu a janela e deixou Fred voar, e se juntou a Loreley. — Agora nós, amor. —Tiago tocou o rosto de Loreley, e lhe deu um longo beijo.
No dia seguinte tanto Tiago quanto Loreley acordaram de bom humor; quando os dois saíram do hotel, Fred estava empoleirado no carro.
— Hey, bom dia, Fred! — Tiago esticou o braço e a coruja pousou docilmente.
— Humpf!
— Por que você não tenta ser amiga dele?
— Péssima ideia — Loreley fez uma careta para Fred; depois de colocar a coruja na gaiola e guardá-lo no banco de trás do carro, Tiago caminhou para entrar do lado do motorista. — Opa! — Loreley ficou na frente da porta. — Você disse que eu podia dirigir hoje.
— Eu não estava consciente.
— Humhum — Loreley estendeu a mão. Tiago se rendeu.
— Você joga baixo, Loreley — ele tirou as chaves do bolso, arrependido de ter apostado contra Loreley na noite passada, e colocou na mão dela; entrou no carro pelo lado do carona. Loreley também entrou no carro, botou a chave na ignição e deu partida. — Lembre-se, por favor, que o melhor jogador de quadribol do mundo está sentado ao seu lado.
— O melhor e o mais bobo jogador de quadribol do mundo — Loreley ligou o som do carro com uma música agitada e pisou no acelerador, atingindo os 200 km/h e fazendo ultrapassagens arriscadas; e embora Tiago estivesse com o coração na garganta, o dia foi bem mais divertido; eles pararam duas vezes em postos de gasolina para abastecer o carro, comprar comida e ir ao banheiro; à noite dormiram novamente em um hotel.
No quarto dia de viagem Tiago recuperou o direito de dirigir e eles voltaram a viajar abaixo dos 150 km/h, situação que não agradava Loreley, fã de alta velocidade.
— Talvez a gente consiga chegar em Dublin a tempo de ver a final do campeonato mundial.
— Eu acho incrível que você seja tão propensa a dirigir em alta velocidade, considerando o que aconteceu com seus pais — Tiago se arrependeu de tocar no assunto quando o sorriso de Loreley se apagou. — Desculpa, eu não... deveria ter dito isso... você me deixa nervoso e....
— Ok.
— Você não quer falar sobre o assunto! Claro, você nunca quer falar sobre nada.
— Olha, eu acho que ficar discutindo não vai fazer nossa viagem ficar mais divertida, tá legal?
— Me desculpe por ter falado dos seus pais.
— Tudo bem, um dia eu vou superar isso, essa coisa...
— Claro que vai — Tiago soltou o volante por um instante e pegou a mão de Loreley — Eu tô feliz por você está comigo, apesar de tudo, nossa viagem está sendo ótima.
— Ótima?
— Ou alguma coisa perto disso.
— Você é ótimo, Tiago — Loreley ligou o som do carro e começou a cantar junto com a música. — Honey you are the sea, upon which i float... honey you should know, that i can’t never go on without you... — empolgado com a alegria de Loreley, Tiago começou a cantar também.
Os dois estavam tão felizes que nem viram o tempo passar; o dia logo virou noite e eles procuraram um lugar para dormir; dessa vez pararam em uma cidade e encontraram um hotel “de verdade”, como disse Tiago, onde jantaram divinamente bem.
— Nossa, uma boa comida faz milagres, estou me sentindo tão bem, tão leve.
— Acho que não foi a comida que te deixou “leve”.
— Come on baby Light my fire! — Loreley colocou as duas mãos ao redor de Tiago.
— Espera, eu vou ligar pra mamãe.
— Humpf!
— Eu prometi... ela deve tá pirando.
— Ligar para a mamãe... fala sério! — Loreley fez uma careta, tirou as mãos do pescoço de Tiago e deu um empurrão; sentou na cama e começou a tirar os tênis. — Você é tão criança...
— Você deveria parar de beber, honey! — Tiago ignorou os chiliques de Loreley e pegou o telefone; assim como ele previa, os pais estavam preocupadíssimos e não faltaram reclamações por causa da sua falta de notícia; Tiago passou mais de uma hora ao telefone, falou com Giny, com Harry e até com Lilian; enquanto ele falava, Loreley resmungava coisas ininteligíveis; quando desligou o telefone ela estava no banheiro; Tiago parou na porta e ficou olhando enquanto ela vomitava.
— Você tá legal?
— Dá licença? Não é nada romântico vomitar na frente do meu namorado.
— Você tá enjoada...
— Foi a tequila! Você tem razão, eu deveria... oh, não, não faz essa cara, Tiago.
— O que? Enjoos não são normais, tá legal?
— Eu não estou grávida, tá legal? Não precisa ficar com medo.
— Eu não tô com medo.
— Não?! Deveria ver a sua cara!
— Desculpa...
— Relaxa! Você pode até não acreditar, mas eu sei o que eu faço.
— Ótimo. Eu tenho pena da criança que tiver você como mãe.
— Eu tenho pena da que tiver você como pai.
— Uau, até nisso nós formamos uma grande dupla.
— Yeah! — Tiago beijou Loreley, mas ela sentiu algo estranho com o namorado. — Você está nervoso?
— Um pouco, cada dia fica mais perto, eu fico mais ansioso; e se não der certo? Quer dizer, lá não será como na escola.
— Tiago, esse é o seu sonho, vai dar tudo certo, afinal você é o melhor jogador de quadribol do mundo, não é?
— Sou.
— Claro que é, e não é apenas no quadribol que você é bom.
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