Quando o Amor acontece escrita por Lizzy Darcy


Capítulo 38
Capítulo 38




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Trigésimo Oitavo Capítulo ❣️

Algum tempo depois, Felipe acordou tossindo engasgado com a água que jogaram em seu rosto. Abriu os olhos e se deparou com os olhos de naja de ninguém menos que sua ex noiva, gargalhando como uma hiena, a sua frente.

– Jéssica?! - Exclamou, abismado. - O que tá fazendo aqui? E cadê a Shirlei? Onde cê escondeu ela? - Perguntou, atropelando as palavras, e olhando de um lado para o outro, só aí se dando conta de que estava com as mãos amarradas nas costas com fita adesiva, e sentado numa cadeira. Tentou se soltar, mas foi em vão. Jéssica havia feito um belo trabalho.

– Antes de mais nada e para começar, a sua namoradinha está bem, mas... para ela continuar assim só vai depender de você. - Jéssica falou sério.

Felipe a encarou com ódio.

– Você é louca... É doente... Se você acha que fazendo isso vai conseguir me separar da Shirlei pra ficar com você...

Jéssica gargalhou, assustando-o e interrompendo-o.

– Mas quem foi que disse pra você que eu ainda quero ficar com você? Ah, Felipe, tenha dó! - revirou os olhos - Tudo que eu quero agora é fazer os dois sofrerem toda a humilhação que eu sofri quando você me deixou. Você não faz ideia do quanto foi difícil para mim... Eu virei PIADA no nosso grupo de amigos!

Felipe Franziu a testa, incrédulo.

– Jéssica, esquece isso! Vai viver a tua vida! Você é uma mulher bonita, atraente... Ficar com vingancinha pra cima de mim e da Shirlei não vai te levar a nada. Entende isso, pelo amor de Deus! E deixa a gente em paz!

Mas aquelas palavras em vez de acalmarem Jéssica, surtiram um efeito exatamente contrário e Felipe só foi perceber quando o tórax de sua ex noiva começou a subir e descer desordenadamente e ela avançou nele, segurando a cadeira, os braços de um lado e do outro do corpo dele. Tão próxima que Felipe conseguiu sentir o bafo quente da respiração dela em seu rosto.

– ISSO NUNCA! - Gritou furiosa. - Você pensa o quê? Que eu namorei aquele velho babão e me aliei aquela ariranha da sua ex namorada pra desisti assim, só por um pedido seu...? Ah, Felipe, como você é idiota... E bem se vê que você não me conhece!

Felipe a encarou ainda mais incrédulo, balançando a cabeça de um lado para o outro.

– É, nisso você tem razão. Eu não te conheço mesmo. Porque só agora eu me dou conta da mulher mau caráter e inescrupulosa que você é.

Jéssica deu um sorriso cínico.

– Pra você vê, você nem me conhecia e há quinze dias atras nós éramos até noivos... Enfim... Águas passadas. Porque agora o que me interessa é acabar com esse continho de fadas medíocre de vocês! Tá pronto pra escutar tudo que eu tenho pra dizer?

Felipe trincou os dentes.

– E eu tenho outra escolha? Porque se eu tivesse, tudo que eu ia querer era que você sumisse da minha frente!

Jéssica riu com sarcasmo.

– Sabe que você falando assim torna as coisas ainda mais excitantes, não é? - Felipe semicerrou o olhar, fuzilando-a. - Mas... Vamos ao que interessa... Porque já já a princesinha vai dar por sua falta e eu já quero tudo bem esquematizado para quando isso acontecer. - Felipe Franziu a testa, curioso e já temendo o pior. - Bom, acho que depois disso tudo você já deve ter desconfiado de que o novo credor da família Rigoni sou eu, não é? - Felipe arregalou o olhar. - Pois é, para ser mais clara, sou eu quem detenho todas as dívidas desta família e... A tão amada Cantina.

Diante daquela revelação bombástica, Felipe começou a se debater na cadeira, tentando se soltar.

– Ora, sua, sua, sua... - Felipe tentava encontrar o pior dos palavrões, mas nenhum era digno dela. - Eu vou te matar! Eu juro que vou!

Mas Jéssica continuava inerte a tudo. Apenas observando Felipe com um sorriso cínico no rosto.

– Ao invés de me ameaçar, você deveria escutar minha proposta... Só acho.

– Proposta, Jéssica? Eu não quero nada que venha de você? Sabe por quê? Porque tudo que vem de você é podre! - Cuspiu essas últimas palavras, o ódio estampado em seu rosto.

– É, mas... Você tá amarrado, então vai ter que escutar assim mesmo. - Felipe bufou, derrotado. - A proposta é a seguinte: Você termina com a Shirlei e eu esqueço toda as dívidas e até deixo de ser a credora da família dela. Do contrário, meu bem, eu não só tomo a Cantina e todos os bens que eles têm como eu coloco quem mesmo... - Colocou o dedo no queixo, fingindo pensar. - Ah, a irmãzinha dela, a tal de Tancinha na cadeia. E não fique pensando que eu estou blefando não. Já me informei com o meu advogado e só estou agindo conforme a lei.

Felipe arregalou o olhar. Os olhos começando a marejar, já imaginando a possibilidade de ser obrigado a aceitar a porcaria da proposta já que aquilo tudo era de suma importância para sua namorada e ele jamais deixaria que Jéssica tirasse isso dela até porque naquela tarde mesmo ele havia prometido para ela que daria um jeito de encontrar o credor e resolver tudo. E mesmo que da pior maneira possível... Ali estava sua chance.

– Jéssica, num faz isso, por favor! - Felipe apelou. Ele já não sabia o que fazer. - A Shirlei vai sofrer, eu vou sofrer... PARA COM ISSO, JÉSSICA! - Implorou, desesperado.

Mas não adiantava, Jéssica estava irredutível.

– Terminou o showzinho? - Questionou, cínica. - Só que o tempo tá correndo e o meu advogado tá aqui oh... - Balançou o celular que estava tocando, mostrando-o para Felipe. - Doido por uma resposta. Ele quer saber se eu tô a fim de cobrar a dívida da família da sua namoradinha. Então, eu respondo o que pra ele? Tá nas suas mãos, Felipe. Mas lembre-se que o término de vocês têm de ser bem convincente e não adianta tentar me passar a perna não porque... - Pausou e aproximou-se dele para apertar a bochecha dele. Felipe virou o rosto, irritado. - Tenho meus informantes, viu?! Muitos deles. Infiltrados em toda parte. Sou doente como você mesmo disse hoje. - Afirmou e gargalhou sarcástica.

O tórax de Felipe começou a subir e a descer, os olhos antes marejados pela raiva agora derramavam lágrimas de dor. Mas ele não tinha escolha. Faria por sua princesa. Somente por ela. Pelo menos até encontrar um jeito de desfazer tudo isso e acabar com essa serpente que estava na sua frente.

Impaciente, com o dedo, Jéssica ameaçou atender ao celular, mas antes que ela pudesse fazê-lo...

– Eu vou fazer o que você tá pedindo. - Felipe falou, arrasado.

Jéssica sorriu, vitoriosa. Mas ela precisava ouvir com todas as letras; precisava se divertir como toda alma sebosa.

– Vai fazer o quê?

Felipe Franziu a testa, enojado, pois ele entendeu que ela queria se divertir com o seu sofrimento.

– Eu vou terminar com a Shirlei como você quer. Agora... Faça o favor de cumprir o acordo porque se não eu vou atras de você, Jéssica, e não adianta se esconder porque eu te acho. E quando isso acontecer... Eu não queria está na sua pele. - Ameaçou ele, sincero.

Jéssica se aproximou dele, descaradamente e sentou em seu colo, uma perna de cada lado.

– Sabe que esse seu lado mau me atrai. E muito. Eu não queria, mas... bem que... - Ela nem bem terminou a frase, já segurou o rosto dele entre as mãos e o beijou, mas... - AI! SEU FILHO DA... você me mordeu! Tá maluco! - Jéssica saiu do colo dele, segurando o lábio que sangrava. Eu devia era acabar com a sua namorada depois disso, mas não... Seu sofrimento será maior com esse término! Mas fique sabendo que você me paga por essa mordida! - Felipe a encarou, olhos semicerrados e fuzilantes. - Vou pedir para que meu ajudante o solte para que você vá e cumpra com o acordo... Aviso. Não seja idiota de machuca-lo. Ele é bem mais forte do que você. - Afirmou e dando as costas, foi embora, deixando um Felipe destruído pelo que estava prestes a fazer obrigatoriamente.

***************************************

Shirlei ainda ficou um tempo sem acreditar quando finalmente as luzes se acenderam. Tinham se passado apenas meia hora, mas para ela pareceu uma eternidade, principalmente pelo fato de que não encontrava o seu príncipe em lugar nenhum por mais que houvesse tateado o lugar inteiro e gritado seu nome e apelido inúmeras vezes. Com as luzes acesas, procurou por ele, encontrando-o cabisbaixo em um canto do jardim, mãos enfiadas nos bolsos. Caminhou até ele, devagar e em silêncio.

– Príncipe? - Chamou, tocando de leve em seu ombro. - Finalmente te encontrei. - Ela sorriu. E Felipe retesou as costas, levando Shirlei a franzir a testa estranhando. - Tá tudo bem?

Felipe apertou os olhos e respirou fundo antes de se virar em direção a ela.

– Tá. Tá tudo bem sim. - Ele respondeu, sentindo o coração diminuir aos poucos, ainda mais quando ela em um ímpeto, abraçou sua cintura, encostando sua cabeça em seu tórax. Felipe teve vontade de chorar. Ma não podia. Tinha de ser forte. Engolir o choro. Choraria mais tarde. E como choraria, pois sentia que nesse momento estava arrancando um pedaço de si mesmo. - Shirlei, a gente precisa conversar. - Ele disse, afastando-a de si.

Shirlei o encarou, estranhando principalmente o fato de ele ter se dirigido a ela pelo nome.

– Cla...Claro. - Respondeu ela, já ficando nervosa. - Aconteceu alguma coisa?

Felipe olhou de lado. Como mentir para mulher que amava? Como olhar nos olhos dela e inventar algo tão sórdido como o que estava prestes a dizer? Mas tinha que fazer, pois aquilo que diria era a única coisa que faria Shirlei terminar com ele já que mexeria no que ela mais prezava numa relação... Segurança e Confiança. Força, Felipe! Dizia para si mesmo em pensamento. É por pouco tempo. Até você derrubar a Jéssica e toda essa corja que está contra sua princesa. Precisa ser o príncipe ao contrário agora para ser o verdadeiro príncipe algum dia.

Respirou fundo outra vez, retirado coragem até de onde não tinha, então começou a falar.

– Shirlei, hoje é o nosso décimo quinto dia juntos e... - Shirlei ainda estava sorrindo, pois a menção daquele dia a fazia feliz. - E... Eu acho que... - Felipe tentava encontrar a melhor forma dizer. - Já que a gente vai seguir em frente, eu me acho na obrigação de te dizer uma coisa muito importante.

Shirlei virou a cabeça de lado, estranhando aquele jeito de falar de seu príncipe e mais uma vez o fato dele tê-la chamado pelo nome.

– Príncipe, quê que foi? Cê tá tão estranho... O que é que você tem pra me falar que é tão importante?

Felipe engoliu a seco.

– É que... É difícil pra mim te falar mas... Durante o nosso namoro, eu não fui totalmente sincero com você.

Shirlei Franziu a testa.

– Como assim você não foi totalmente sincero comigo, Felipe? - Fez questão agora de ela mesma chama-lo pelo nome para atingi-lo. - O que você quer dizer com isso? - Felipe baixou a cabeça. Então Shirlei insistiu, um tom de raiva na voz. - Vamos, Felipe, fala!

Felipe levantou a cabeça. A hora era agora. E seja o que Deus quiser!

– Shirlei, uns dias antes da gente viajar para Paris, eu... eu... Fui na casa da Helô e a gente... Dormiu junto.

Shirlei arregalou os olhar. A sensação que ela teve naquele momento era que o mundo tinha parado de girar por alguns segundos. Ela perdeu o chão.

– Como é que é???? - Questionou, incrédula, pedindo a Deus que não tivesse escutado direito.

Vendo a sua namorada naquele estado, Felipe teve vontade de desmentir tudo ali mesmo, mas ao mirar um ponto longe no jardim avistou Jéssica, vigiando-o e teve de continuar mesmo contra a vontade.

– É isso mesmo que você ouviu. Eu dormi com a Helô alguns dias antes da gente viajar para Paris.

O ar começou a faltar para Shirlei. Ela teve a sensação de que ia morrer. Seu tórax subia e descia num ritmo que nem ela conseguia controlar e lágrimas já começavam a se formar em seus olhos.

– Por quê? Por que, Felipe? Por que só agora você resolveu me contar isso? E por que você fez isso? - Questionou, a voz embargada.

– Eu já disse. Porque como a gente vai seguir em frente, eu não queria que a gente já começasse com mentiras. E quanto ao porquê de eu ter dormido com ela... - Felipe pausou, pois era agora a frase mais dura que ia dizer é sabia que ia machuca-lá e aquilo estava dilacerando o seu coração - Ah, Shirlei, eu sou homem! Você acha o quê? Já fazia um tempão que eu tava ali tentando com você e você se fazendo de difícil, dando uma de puritana, santinha... Quer mesmo saber? Tava de saco cheio! Então pra aguentar mais um pouquinho até Paris, fui buscar na Helô o que você não me dava e... - Parou de falar, pois teve de segurar o rosto dolorido pelo tapa forte que sua namorada havia desferido em seu rosto. Fechou os olhos com a face de lado. Depois voltou a encara-la e teve vontade de morrer ao vê-la aos prantos.

– Como você teve coragem? E eu achando que você era diferente dos outros... Não. Você é igualzinho. Um cretino, imbecil! - Esbravejou Shirlei, enxugando as lágrimas com o dorso de uma mão, enquanto estava com o dedo em riste ao rosto dele.

Lágrimas começaram a escorrer no rosto de Felipe e ele se aproximou dela com os braços estendidos.

– Shirlei, eu sei que você não está entendendo agora, mas...

Shirlei se afastou dele com repugnância.

– Não me toca! Aliás, nunca mais ouse chegar perto de mim. Ouviu bem? Nunca! E se eu não estou entendendo agora... Eu nunca vou entender porque eu nunca mais quero ver você! Eu nunca mais quero ouvir a sua voz outra vez! Adeus, Felipe!!!! - Esbravejou em alto e bom som e segurando o vestido em meio às lágrimas, deu as costas e saiu correndo loucamente.

– Shirlei, espera! - Felipe gritou e ainda correu um pouco para tentar alcançá-la, mas Shirlei foi muito rápida e quando Felipe menos esperou ela já estava atravessando a rua e entrando em um táxi, indo embora do castelo e talvez, quem sabe, da sua vida. - Shirleeeeeeeeeeeeei! - Ele gritou, desesperado, caindo no chão de joelhos e chorando compulsivamente, deixando extravasar toda a sua dor. - Não, Shirlei, voooooolta! Volta, meu amor! Eu te amo! Volta! Voooooolta! - Gritava ele, chorando e soluçando, mãos no rosto. - Shirleeeeeeeeeeei! Shirleeeeeeeeeeeeei! - Gritava tanto que começava a ficar rouco. - Me perdoa, meu amor! Me perdooooooaaaaaaaaaaa- Deitou no chão, mãos na cabeça, chorando como um bebê.

Só vinte minutos depois foi que Felipe, ainda soluçando, olhos e nariz vermelhos, começou a se recompor. Levantou aos trancos e barrancos e segurando o colete nas mãos, que havia tirado para enxugar o rosto, rumou em direção a um táxi mais próximo. Mas antes que ele pudesse entrar no automóvel, seus olhos foram atraídos por um objeto que brilhava no meio da escada. Agachou-se para ver do que se tratava. Tratava-se de um sapato de cristal, o mesmo que comprara para Shirlei, então constatou que aquele só poderia ser dela e na pressa com certeza ela o havia deixado cair tal qual Cinderela. Sorriu, pois até naquele momento suas vidas pareciam um conto de fadas. Pegou o sapato e beijou-o. Não era Shirlei, mas pelo menos, era um pedacinho dela que ele iria guardar com todo carinho para um dia colocar nela como o príncipe da Cinderela, afinal, ela continuava sendo sua princesa. Para sempre, sua Cinderela.

– Prontinho. O plano correu as mil maravilhas. - Jéssica falou ao celular - Agora é com você e vê se não bota tudo a perder! A essa hora estúpida já deve ter chegado aí, né? Como não???? Mas ela já deveria está aí? Ela já saiu daqui faz meia hora! Carmela, onde será que a sua irmã está? Olha, eu só espero que ela esteja chegando porque do contrário vai tudo por água abaixo. Como calma???? - Jéssica ficou impaciente - Você tem certeza disso???? Está bem. Vou te dar um voto de confiança então. A Helô e eu estamos contando com você nessa! E prometemos te recompensar muito bem. Ok então. Qualquer novidade me liga tá?! Abraço, querida! - E desligou, sorrindo, vitoriosa, por ter conseguido como aliada ninguém menos do que a própria irmã de Shirlei... Carmela.

***************************************

Felipe pagou a corrida do táxi e ao sair foi informado pelo porteiro que nem sua mãe nem sua irmã iriam dormir naquela noite em casa. Aliviado, Felipe não quis nem saber os motivos, já foi logo se dirigindo ao elevador não ouvindo nem o outro recado que o porteiro tinha a lhe comunicar. Aquelas já eram mais do que suficientes, afinal, não sabia se conseguiria dormir direito, então pelo menos teria paz e sossego para tentar.

Quando o elevador parou no seu andar, se dirigiu até a porta, então, enquanto com uma mão tentava destrancar a fechadura com a chave, com a outra desabotoava sua camisa, se atrapalhando com os botões.

Praguejando baixinho, finalmente conseguiu abrir a porta, que parecia não está colaborando aquela noite com ele, aliás o mundo inteiro parecia está contra ele aquela noite porque até à luz da sala estava apagada, coisa que nunca acontecia, pois sua irmã sempre fazia questão de deixar acesa para o caso dele chegar tarde.

Tateou a parede até encontrar o interruptor e quando o encontrou, seu coração quase saiu pela boca ao se deparar com uma pessoa sentada calmamente no sofá da sala.

– Shirlei???? Meu Deus, cê enlouqueceu? O que cê tá fazendo aqui? - Felipe questionou, agoniado. Mas no fundo feliz por está vendo aí princesa ali. Bem na sua frente.

Shirlei se levantou e se dirigiu até ele, ficando frente à frente com o seu príncipe.

– Eu vim porque... Príncipe, eu sei que na hora que você me contou, eu pirei e até te bati, mas... quando eu entrei naquele táxi e fui indo pra minha casa eu comecei a refletir e... eu pensei... Meu Deus, por mais que a gente se conheça a apenas quinze dias. Foram os dias mais intensos e mais maravilhosos da minha vida. E nada daquilo foi falso, eu tenho certeza disso. No meu coração, eu tenho absoluta certeza disso. - Falou segurando o lado esquerdo do peito. - Então pode me dizer, príncipe, quem te chantageou pra inventar uma mentira daquela?

Felipe piscou os olhos várias vezes, atordoado. Como assim Shirlei não tinha acreditado em nada? E agora? Tinha de ser mais convincente. O que faria? Droga!

– Ninguém, prin... - Ia falando o apelido, mas parou no meio e se concertou. - Shirlei. Ninguém me chantageou. E se você não acredita, eu não posso fazer nada. Quis ser sincero com você e... Enfim... Você faz o que quiser com a informação.

Shirlei o encarou, desconfiada. Então teve um plano para arrancar a verdade.

– Tá certo. Já que eu posso fazer o que eu quiser com a informação, eu... Resolvi te perdoar.

Felipe piscou os olhos e arregalou-os, incrédulo.

– Como é que é???? Não!!! Não, Shirlei! Você não pode fazer isso! Eu traí. você. A sua confiança. Você não pode simplesmente me perdoar. Isso não tá certo.

– Por que não? Você mesmo disse que queria me contar a verdade pra seguir em frente, não foi?

– Foi. Mas é que...

– Então. - Shirlei concordou antes mesmo dele argumentar. - Vamos esquecer disso e seguir em frente. Simples assim. - Shirlei deu um sorriso terno.

Felipe ficou confuso e até um pouco desesperado.

– Shirlei, olha só... Você tem que entender que... - Ele ia continuar falando se não fosse o fato de Shirlei ter segurado nas duas abas de sua camisa aberta e tê-lo puxado, colando seus lábios nos dela em um beijo de tirar o fôlego. No início, atordoado, Felipe se rendeu, segurando a cintura de Shirlei e trazendo-a para si com ímpeto, mas ao se dar conta do que estava fazendo, descolou seus lábios dos dela, fazendo até barulho. - Princesa... - Voltou a chamá-la pelo apelido, ofegando - O que... pensa... que... tá fazendo?

– O que acha? - Questionou Shirlei, também quase sem ar - Seguindo em frente. - Respondeu e sem pestanejar, puxou-o tão forte para si que os dois acabaram caindo no sofá de forma desajeitada, mas sem pararem de se beijar nem por um minuto. E sem que Felipe se desse conta, sua camisa já estava bem longe, ocupando algum lugar do tapete, enquanto as pequenas mãos de Shirlei tratavam de lembrar ao tórax e dorso de Felipe o quanto era bom ser tocado e acariciado por elas.

– Princesa, isso tá errado... era... - Felipe tentava falar quando Shirlei deixava ele tomar ar entre um beijo e outro. - Pra gente não se ver. Era... Pra você ter acreditado na droga... Da mentira!

Shirlei riu enquanto mordiscava o lábio inferior dele.

– Mentira é? - Ela perguntou e Felipe apertou os olhos, sabendo que agora tinha muito o que se explicar.

Os dois deram um último beijo e se sentaram se recompondo.

– Mentira sim. Você tinha razão, eu fui chantageado. Pela Jéssica.

Shirlei trincou os dentes de ódio.

– Aquela cobra jararaca! Mas... Com o quê? O que ela disse pra te convencer a inventar essa história?

– Vem cá. - Felipe puxou Shirlei para que ela se sentasse em seu colo. - Ela e sua credora, princesa. E ameaçou tomar tudo da sua família e ainda mandar prender a Tancinha se eu não fizesse o que ela queria.

Shirlei arregalou o olhar e abraçou seu príncipe bem forte, que retribuiu com mais força ainda.

– Desculpa príncipe ter te dado um tapa. - Pediu Shirlei, encarando-o, olhos marejados.

– Nada. Eu mereci por tudo que eu falei. Bom, se fosse verdade, né?

Shirlei sorriu e fez um carinho bem de leve no rosto do namorado (onde havia a marca de sua mão) que mexeu o rosto se deixando ser acariciado.

– Doeu muito? - Shirlei quis saber.

– Aí não. Mas aqui... - Apontou para o coração com o dedo indicador - Doeu demais!

Uma lágrima escorreu no rosto de Shirlei, então inclinando-se, ela deu um beijo no tórax dele bem na altura do coração dele.

– Passou? - Ela perguntou quando levantou a cabeça e seus olhares se encontraram.

– Eu te amo. - Ele disse, em vez de responder.

– Eu te amo. - Ela também disse, então os dois ao mesmo tempo, seguraram os rostos um do outro e se beijaram com sofreguidão, com desespero. Como se aquele pudesse ser o seu último beijo. E se amaram ali mesmo no sofá da sala com loucura.

Quando terminaram, Shirlei ajudou Felipe a abotoar sua camisa e depois começou a procurar seu sapato, o único, já que o outro, ela já nem tinha esperança de encontrar.

– Que foi, princesa? - Felipe perguntou, curioso, quando a viu se agachando embaixo do sofá.

– Tô procurando meu sapato. Você por acaso não viu ele por aí?

Felipe sorriu e teve uma ideia.

– Não, princesa. Por acaso, eu não vi não. - Respondeu naturalmente.

Então Shirlei continuou a sua caçado incessante pelo seu calçado até que o encontrou embaixo da mesa da sala de jantar. Como foi parar ali? Só Deus sabe. Calçou-o já rindo pelo fato de que ia pra casa com um pé só do sapato, mas tudo bem, é a vida. Fazer o quê?

– Então, fica combinado assim mesmo... - Felipe começou a falar - A gente vai fingir pra todo mundo que não tá mais junto. Mas claro... - Pegou nas mãos da namorada, puxando-a para si - que a gente vai dá um jeito de se encontrar escondido até que tudo seja esclarecido, né?

– Com certeza. - Shirlei concordou, recebendo dele um beijo nos lábios.

– Só tem um probleminha no meio disso tudo. - Felipe disse com um ar de mistério na expressão.

– Qual?

– Senta aqui. - Felipe puxou a namorada até o sofá pequeno para que ela se sentasse e se ajoelhou na frente dela. Shirlei o encarou sem compreender. Então Felipe retirou de detrás das costas dele o sapatinho de cristal que ele escondia. - Eu ainda tenho que achar a Dona desse sapatinho. É que no fim do vai ela correu e acabou esquecendo e eu prometi que um dia me casaria com a Dona do pé que coubesse esse sapatinho. - Shirlei sorriu, encantada, enquanto Felipe encaixava o sapatinho em seu pé, cabendo, claro, perfeitamente. Ela sorriu, olhos marejados e ele levantou o olhar que se encontrou com o dela e disse: - Serviu.

Então ela se atirou nos braços dele e eles se beijaram, selando aquele pacto que foi como um pedido de casamento, apesar de que Felipe queria deixar para amanhã o pedido de casamento, pois para aquele dia já tinha havido muita emoção. Tudo bem. Ele sabia que o sim ele já tinha, só faltava oficializar.

***************************************

Feliz como nunca, Shirlei chegou em casa. Era quase onze horas da noite. Mas ao subir as escadas, escutou um barulho estranho vindo da cozinha, como um choro abafado. Pé ante pé, se dirigiu até lá e encontrou Carmela aos prantos.

– Carmela, o que aconteceu? - Shirlei perguntou, preocupada.

Carmela levantou a cabeça e enxugou as lágrimas.

– Shirloca? Já chegou? Eu nem te vi aí. - Disse, fingindo desconcerto.

– Acabei de chegar, mas... O que aconteceu? Você tava chorando? Por quê?

– Nada. Não é nada. Bobagem. Cê tá linda, sabia?! Saiu com o seu príncipe? - Questionou para atiçar a curiosidade da irmã. E conseguiu.

– Saí sim. Mas... Depois a gente fala sobre isso. O que eu quero saber é por que você tava chorando e não adianta mudar de assunto porque eu só saio daqui quando você me disser.

Bingo. Isso era tudo que Carmela queria. O plano dela estava indo de vento em popa.

Em vez de responder, Carmela se atirou nos braços da irmã e fingiu chorar compulsivamente, soluçando.

– É o Adônis. - Carmela falou, fungando.

– O que tem ele?

– Ele tá morrendo, Shirlei.

Shirlei arregalou o olhar e se soltando do abraço da irmã, olhou nos olhos dela.

– Como é que é? Que brincadeira é essa, Carmela?

– Ele tem câncer, Shirloca. O Adônis descobriu que tá com Câncer.

Shirlei arregalou ainda mais o olhar e colocou a mão na boca, recuando alguns passos, atordoada.

– Não... Isso não pode ser verdade. O Adônis não... Carmela, fala que isso não é verdade!

– Bem que eu queria, mas... - Shirlei engoliu a seco. - E sabe o que é pior nisso tudo? É que ele desistiu.

– Como assim ele desistiu?

– Ele desistiu do tratamento. Disse que num tem mais nenhum motivo pra lutar... Nenhum motivo pra viver...

Shirlei ficou perplexa.

– Ah, meu Deus! Ele não pode dizer isso! Não pode pensar assim... É por isso que você tava chorando? Tava falando com ele?

– Tava. Tava tentando convencer ele a lutar, mas... Ele me disse que... Não. Deixa pra lá! Esquece!

Shirlei ficou curiosa, e chegando perto de Carmela quis insistir com ela, segurando seu pulso.

– Não, Carmela, vai, me diz! O que ele disse? Pode confiar em mim. Você sabe que apesar de tudo, eu tenho muito carinho pelo Adônis e sinto que ainda tenho uma dívida com ele por tudo que ele fez por mim. Fala, Carmela, por favor, eu quero ajudar o Adônis no que for preciso.

– Tá certo. Eu falo, mas... Não quero que se sinta pressionada a nada, tá? - Shirlei concordou com a cabeça - É que o Adônis disse que a única que conseguiria convencê-lo a voltar com o tratamento seria... você... Shirloca.

Shirlei arregalou os olhos.

– E...Eu?

– É. Foi o que ele disse. Mas como eu falei. Não se sinta pressionada. Afinal... Você não é obrigada a nada. Deixa que o Adônis se vire! Se for pra ele morrer... - O coração de Shirlei disparou ao ouvir essa palavra.

– Não! Pelo amor de Deus! Não! - Exclamou ela, desesperada. - É claro que eu vou ajudar o Adônis...

Carmela abriu um sorriso e abraçou a irmã bem apertado. Logo sorrindo maquiavélico sem que ela visse.

– Shirloca, como você é maravilhosa! Que coração lindo você tem! Eu não esperava menos de você. E até pensei que você poderia usar aquela passagem de avião que o Adônis te mandou, lembra? Aproveitar... o que você acha? Pra não desperdiçar.

Shirlei ficou pensativa. Por um momento achou muito esquisito o fato de Carmela começar a ter pressa em manda-la para o Chile.

– É, mas... Eu preciso falar com o Felipe primeiro. Vou ligar pra ele. - Pegou o celular e discou.

Meia hora depois, Shirlei desistiu, pois em todas as vezes que ligava, o celular caia na caixa postal.

– Shirloca, faz assim, escreve uma carta que eu mesma entrego pra ele. E depois você liga explicando tudo, tenho certeza que ele entenderá. Ou não? Pelo menos, eu acho, de tanto que você me diz que ele é príncipe.

– E ele é. E vai sim entender. Eu vou escrever a carta sim. Uma bem linda. E você me ajuda com as malas?

– Claro, irmãzinha. Vai ser um prazer! - Sorriu com sarcasmo, mas a pobre Shirlei nem percebeu.

***************************************

Três horas depois, Felipe estava se remexendo na sua cama sem conseguir dormir, então resolveu ligar para Shirlei. Procurou seu celular por toda parte e não o encontrou. Achou estranho. Será que tinham roubado? Ficou triste, pois agora teria de dormir selinho ouvir a voz de sua princesa.

Entretanto a alguns quilômetros dali, alguém sorria vitoriosa com um celular na mão, que vibrava naquele instante.

Carmela atendeu.

– Oi, príncipe.

– Que príncipe? Tá ficando maluca? Sou eu, Jéssica. Esqueceu que eu roubei o celular do Felipe pra que ele ficasse incomunicável.

– Foi mal... acho que foi a vontade de que fosse ele.

– Mas e aí? Tudo certo?

– Certíssimo! Neste momento a songa monga está numa altitude inalcançável para o principezinho dela e... Eu estou agora com o celular dela como você pode ver e pondo fogo na linda cartinha deixada por ela. Tadinha.

E as duas gargalharam, maquiavélicas. Enquanto o casal apaixonado nem imaginava a reviravolta que deu sua vida.


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