Quando o Amor acontece escrita por Lizzy Darcy


Capítulo 15
Capítulo 15




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Décimo Quinto Capítulo ❣

No dia seguinte, Shirlei, sentindo um carinho na bochecha bem de leve, começou a piscar os olhos repetidamente para que eles fossem se adaptando à luz do dia. Foi aí que de repente uma imagem foi se formando na sua frente, a imagem de uma homem, deitado ao seu lado, sorrindo para ela com ternura. Era ele quem estava fazendo carinho em sua bochecha. Tão lindo. Tal qual um príncipe. Seria aquilo um sonho? Mas parecia tão real... O brilho nos olhos dele, o toque aveludado de seus dedos em sua bochecha, o seu sorriso inebriante... Ok. Só havia uma maneira de descobrir isso...

– Hmmmm... - Gemeu, Shirlei. - Felipe?! - Falou com a rouca de sono.

Felipe deu um suspiro e abriu ainda mais o sorriso. Ele estava vestido apenas com uma calça de moletom cinza e uma camiseta regata branca.

– Finalmente acordou, mocinha. - Ele falou também com a voz rouca - Já tava ficando preocupado.

Shirlei se sentou e franziu a testa sem compreender, então seu olhar começou a percorrer o local onde ela estava. Aquele não era o seu quarto. Definitivamente não era o seu quarto! Muito menos aquela era sua cama. Então o que ela estaria fazendo ali? E por quê? Foi aí que, de repente, lembranças da noite anterior lhe sobrevoaram a mente... Cinema... Tancinha... Perseguidor... Sequestro... Sequestro??? Aquela palavra a apavorou tanto que sua expressão de confusa passou a assustada. Felipe percebendo, sabia que tinha chegado a hora de explicar.

O olhar Dela se voltou para ele, buscando uma explicação plausível para aquilo tudo.

– Felipe, onde é que eu tô? Aliás, onde é que a gente tá? O que tá acontecendo aqui? - Ela pergunta sem parar, o coração disparado.

Felipe chegou perto dela e tentou segurar a mão Dela, mas ela retirou-a, abruptamente.

– Eu vou dizer, mas você vai tentar ficar calma, por favor.

– Tarde demais, Felipe, diz logo!

Felipe engoliu em seco.

– A gente tá em... Campos do Jordão. - Felipe trincou os dentes, já esperando pelo grito.

Shirlei arregalou os olhos, estupefata. O coração quase saindo pela boca. Ela levantou da cama.

– Como é que é, Felipe? Você me trouxe para Campos do Jordão! Mas como foi que... - Shirlei pausou quando a ficha começou a cair. Felipe se levantou. - Espera... Felipe, você não ia ter coragem de... Felipe, você me sequestrou???

Felipe pigarreou e coçou a nuca, antes de responder.

– A palavra não é bem essa, né?

– Ah, não? Dopar alguém e trazer ela sem o consentimento para um lugar desconhecido agora tem outro nome?

– Shirlei, eu posso explicar.

– Felipe, eu não quero explicação. Eu quer ir embora daqui. Agora! - Shirlei foi enfática. Depois começou a olhar para os lados como que procurando algo. - Cadê o meu celular?

– Eu guardei em um lugar seguro. - Felipe respondeu de forma natural.

– Ok. Então me dá ele aqui - Shirlei estendeu o braço com a mão aberta para Felipe - que eu preciso ligar pra minha família pra avisar pra eles que eu tô bem. Eles devem tá enlouquecidos com meu sumiço.

Felipe balançou a cabeça, negando.

– Pode ficar tranquila que a essa altura o Henrique já cuidou disso pra você. Ele ficou de avisar e tranquilizar a sua família.

Shirlei franziu a testa, indignada.

– Como é que é? - Shirlei revirou os olhos e soltou um riso irônico - Eu já devia saber que o seu amigo Henrique também devia tá metido nisso. - Shirlei levantou a cabeça, impaciente. - Felipe, por que tá fazendo isso?

– Porque eu tentei conversar com você, mas você não colabora, Shirlei.

Shirlei soltou um risada sem nenhuma pitada de humor.

– Que ótimo, agora a culpada sou eu.

Agora foi a vez de Felipe expirar, impaciente.

– Eu não falei isso.

A partir daí, os dois ficaram em silêncio absoluto, um diante do outro. E em meio ao silêncio, Shirlei tentava reorganizar os pensamentos, braços cruzados.

– O que você quer comigo, Felipe? - Shirlei perguntou, finalmente quebrando o silêncio, para alívio de Felipe.

– Conversar. - Felipe foi evasivo. - Mas a verdade é que... eu te trouxe aqui porque eu quero te fazer uma... Proposta.

Shirlei olha para ele com uma expressão desconfiada.

– Iiiiiiiiiih, já tá pensando besteira. - Acrescentou Felipe. - Shirlei, num é nada disso que cê tá pensando.

– Então que tipo de proposta é essa? - Shirlei quis saber, mas como Felipe não respondeu de imediato, ela insistiu: - Fala, Felipe!

Felipe deu um suspiro profundo.

– Eu vou falar. Só que não agora. Porque você acabou de acordar, né? Deve tá com fome. Ou será que prefere tomar um banho antes?

A verdade é que Shirlei queria logo saber da proposta, a curiosidade já começava a consumi-la, mas... a fome também, confessou a si mesma.

– Tomar banho e vestir a mesma roupa...?

Felipe deu um sorriso afetuoso.

– Na verdade, eu trouxe uma roupa emprestada da Cris que deve servir em você... Posso pegar a toalha?

Shirlei olhou de lado, sem graça.

– Pode, né.

Felipe então foi até onde tinha deixado uma mochila que ele havia levado para o Chalé. Abriu-a e retirando de lá um vestido e uma toalha, entregou-a para Shirlei.

– O banheiro fica no corredor à direita. E lá tem tudo que você precisar, inclusive uma escova de dentes nova. Mas... se ainda assim você precisar de alguma coisa é só chamar, tá certo?

O primeiro esboço de sorriso do dia surgiu nos lábios de Shirlei, o que aqueceu bastante o coração de Felipe.

– Tá certo. Brigada. - Respondeu, Shirlei.

– Sabe que... irritada... você fica muito linda, mas... sorrindo... você fica ainda mais. - Felipe elogiou, em tom galanteador e por mais que Shirlei quisesse, ela não podia negar que aquilo a derreteu por inteiro.

No entanto, para disfarçar sua entrega, ela silenciou, deu meia volta e já ia se dirigindo para o banheiro se não fosse, Felipe tê-la impedido ao segura-la pelo pulso. Pega de surpresa, de início, Shirlei olhou para a mão de Felipe que segurava seu pulso para em seguida levantar o seu olhar, cruzando com o dele.

– Shirlei, se eu fiz tudo isso foi porque o que eu tô sentindo por você é muito sincero. Muito forte também. E... eu espero que ao final de tudo isso você consiga compreender.

Shirlei engoliu em seco. As pernas ficaram bambas. E seu coração, por mais que ela não quisesse, disparou.

– E-eu também. - Gaguejou.

Felipe repuxou o canto da boca, com um sorriso disfarçado. Depois soltou-a, sabendo que aquele gaguejado era um bom sinal.

Shirlei, por sua vez, apressou o passo para o banheiro antes que fizesse ou falasse mais alguma besteira.

Vinte minutos depois, Shirlei voltou vestida com um vestidinho rosa de alcinha, apertadinho um pouquinho acima da cintura. Felipe estava de costas, concentrado no preparo do café da manhã. Ela aproveitou para observá-lo sem que ele percebesse. Ainda estava irritada com o que ele tinha feito, mas não podia negar que, em outra circunstância, aquilo seria uma atitude mais do que romântica. Aproximou-se silenciosamente, mirando-o de cima a baixo. Não tinha como negar. Felipe era a perfeição em forma de homem. Chega! Melhor se fazer presente antes que fique ali e ele acabe a pegando no flagra, babando por ele.

– Precisa de ajuda? - Shirlei se ofereceu, pegando-o de surpresa.

Felipe, que naquele instante virava um crepe na frigideira, virou o rosto na sua direção, sorrindo.

– Ow, Shirlei, tava aí? Tava tão concentrado aqui que nem tinha te visto. - Felipe respondeu com voz suave - Mas não. Pode ficar sentadinha aí, mocinha, que hoje eu sirvo você.

– Tá certo. - Shirlei respondeu e obedientemente, foi até à mesa e se sentou em uma das cadeiras.

Que ótimo! Mais um pretexto para ficar admirando-o sem que ele veja. Não. Melhor não - Pensou ela, prendendo uma mecha de cabelo desgarrada atras da orelha. Foi aí que ela se levantou e começou a percorrer todo o Chalé, observando cada detalhe. Aquele local era simplesmente incrível. De repente, Shirlei parou no dorsel da cama, passando os dedos e fitando os lençóis, então mil pensamentos lhe sobrevieram a mente. Pensamentos não muito amistosos.

– É seu esse Chalé? - Ela perguntou, quebrando o silêncio que se seguiu.

Felipe virou o rosto para saber onde ela estava e já até imaginou o que ela poderia está pensando. Então, para provocar, girou o corpo, encostou o traseiro no balcão, cruzou os braços e dando um sorrisinho malicioso, esperou pela pergunta que sabia, logo viria.

– Da minha família. Por quê? - Felipe respondeu, a voz macia.

Shirlei continuou fitando a cama.

– Nada. É que... Quantas mulheres você já trouxe aqui?

E a pergunta veio. - Pensou Felipe.

Felipe encostou um dedo no lábio e fingiu pensar.

– Contando com você... Três.

Shirlei que até então não o estava encarando, levanto o olhar quase que instantaneamente.

– Ah, claro... Jéssica e Helô. - Falou ela, revirando os olhos.

Felipe comprimiu os lábios.

– Hmmm não. A Cris e a Vitória - Shirlei estava quase para perguntar quem era essa tal Vitória quando ele continuou: - que eu me acostumei a chamar de mãe.

Shirlei acabou rindo de si mesma.

– Se você conhecesse a Dona Vitória iria entender porque eu nunca trouxe nenhuma das minhas namoradas aqui... Ser nora Dela não é fácil, é bom você ir se acostumando com isso.

Shirlei piscou os olhos, desnorteada.

– O que você disse?

Felipe apertou os olhos, sentindo que falou além da conta. Achou melhor mudar de assunto.

– Eu disse que o café tá pronto. Vamo comer? - Ele chamou e puxou uma cadeira tal qual um cavalheiro para que ela se sentasse.

Como Shirlei também preferia não entrar naquele assunto, ela também achou melhor tomar café, por isso, sem preâmbulos, ela rumou até à mesa e se sentou na cadeira que ele ofereceu.

Depois disso ele foi até onde estava toda a comida e se pôs a apresentar os pratos que iria servir.

– Bom, para hoje nós temos omelete, mas eu também fiz ovos mexido para o caso de você preferir. Temos misto quente, mas se você não gostar, tem queijo quente. Preparei também um crepe de queijo e outro, claro, de doce de leite porque eu sei que você adora. - Ela sorriu, feliz, por toda a preocupação que ele teve. - E pra beber, nós temos: Leite, café, mas também temos chocolate quente e... suco de laranja, mas a laranja num tava muito boa, então eu não recomendo.

Shirlei sorriu com os olhos, com o queixo apoiado na mão.

– Só isso? - Ela quis provocar.

– É, né? - Felipe concordou, preocupado - Eu devia ter feito mais. Mas oh se você quiser ainda tem massa de tapioca na geladeira. Eu posso fazer uma bem rapidinho e... - Shirlei deu uma risada, interrompendo-o e Felipe se tocou. - Tá implicando comigo, né?

– Claro. Olha o tanto de comida que cê fez! Felipe, isso aqui da pra alimentar minha família inteira, se brincar. Quê que cê tá fazendo? - Ela perguntou quando viu Felipe colocando batata palha dentro do crepe de doce de leite.

– Que foi? Vai dizer que você nunca fez isso?

Shirlei fez uma careta para ele.

– Não. - Shirlei respondeu, como que dizendo que era óbvio.

– Então não julga. Porque agora você vai ter que provar.

Shirlei balançou a cabeça, negando e cruzou os braços tal qual uma criança birrenta.

– Hum hum. Não quero. Brigada.

Felipe deu um sorriso divertido.

– Ah, mas você vai. Abre a boca!

Shirlei comprimiu os lábios, provocando.

– Abre a boca, Shirlei! Parece criança.

– Mas se eu não quero.

– Abre a boca, Shirlei, antes que eu vá aí e abra ela a força!

Shirlei voltou a comprimir os lábios. Então foi aí que Felipe se levantou e levando o crepe até onde Shirlei estava, prendeu-a dentro de seus braços musculosos. Shirlei se debatia, com a boca fechada, tentando não rir da situação, enquanto Felipe enfiava o crepe na boca dela, sujando-a.

– Para, Felipe!

Mas foi nessa frase que Shirlei acabou abrindo a boca e o crepe entrou com tudo, arrancando uma gargalhada gostosa de Felipe, que se divertiu. Shirlei teve que mastigar.

– Vai, agora fala que não gostou...! - Felipe disse, querendo uma resposta em meio ao riso asmático.

– Mais ou menos. - Respondeu com a boca cheia - O gosto é meio estranho.

– Estranho? Estranho? Mas você num dá o braço a torcer mesmo hein? Pensa assim, você passa anos acostumada com uma coisa, talvez esteja na hora de experimentar coisas novas, Dona Shirlei!

Shirlei olhou de lado, sorrindo. Ela sabia muito bem que ele não estava mais se referindo ao crepe e sim a eles dois.

– Mensagem registrada com sucesso, Seu Felipe! - Shirlei falou, irônica. E os dois riram ao mesmo tempo.

Após isso, os dois se puseram a tomar café, conversando sobre coisas aleatórias.

Então quando tudo tinha terminado, Felipe retirou a mesa, mesmo sob os protestos de Shirlei que queria ajudá-lo.

– Vem comigo? - Felipe estendeu a mão para Shirlei, que franziu a testa. - Tá na hora da gente conversar.

Shirlei colocou a mão em cima da dele, então ele segurou e ele a conduziu até o sofá, que ficava do lado de uma lareira, onde eles se sentaram, um de frente para o outro.

Felipe deu um suspiro profundo. Estava nervoso. Parecia até que ia pedi-la em casamento. Estava com a mesma sensação. Suas mãos estavam suando.

– Bom, Shirlei, eu te trouxe aqui porque, como eu disse, eu quero te fazer uma proposta. - Shirlei o olhava com atenção. Então para se sentir mais seguro, ele segurou a mão Dela com carinho. - Shirlei, você é uma mulher incrível, linda e tenho certeza que... correta também. Quando você me beijou a primeira vez, você me disse que não achou errado porque não sentiu nada mas na segunda vez foi você quem me beijou e... desculpa falar, mas... eu senti o seu corpo correspondendo ao meu. - Shirlei baixou o olhar, enrubescendo. Felipe teve de levantar o queixo Dela com dois dedos. - Então... Tecnicamente você traiu o seu noivo. - Shirlei franziu a testa, indignada, e soltou a mão da dele. - Calma, Shirlei. Deixa eu terminar?! O que eu proponho é que você peça um tempo para o seu noivo porque é justo com ele, né? Já que você traiu ele. Mas... não por muito tempo. Por 15 dias apenas. Tempo suficiente pra que eu... possa tentar provar pra você que eu posso ser o cara certo pra você! - Shirlei arregalou o olhar, estupefata. - O bom é que se eu não conseguir, você já tem a passagem comprada, aí você só vai ter que viajar e voltar com ele. E eu... prometo que... Desapareço da sua vida. Pra sempre. É isso. Fala alguma coisa, Shirlei, pelo amor de Deus!

Um silêncio constrangedor se fez naquele Chalé, agoniando Felipe, que esperava até mesmo um grito de Shirlei.

– Felipe, por que se submeter a isso? Quando deve ter um milhão de mulheres que devem se jogar aos seu pés.

Felipe sorriu, o olhar brilhou, fascinado pra ela.

– Você ainda não entendeu nada, né?

– Sinceramente, não.

Felipe chegou mais perto Dela e voltou a segurar a mão Dela, acariciando-a com o polegar. O olhar intenso sustentando o Dela.

– Shirlei, eu tô apaixonado por você. - O coração de ambos disparou. - Muito apaixonado!

– Como você pode ter tanta certeza disso? A gente se conhece a tão pouco tempo.

Felipe roça os dedos na bochecha de Shirlei e ela mesma movimenta o rosto se acariciando nos dedos dele.

– Porque uma vez você me disse que quando a gente tá apaixonado, a gente sente um frio na barriga, as mãos transpiram, as pernas ficam bambas e a gente até perde a fala... E isso, Shirlei, eu nunca senti com mulher nenhuma, só com você. Agora mesmo... - Felipe pausou para segurar a mão de Shirlei e levar até o coração dele, que estava aceleradíssimo. - Viu? Ele nunca ficou assim antes.

Shirlei sorriu, encantada.

– Bom, agora eu vou te deixar em casa pra que você possa refletir e tomar uma decisão com calma.

Shirlei sorriu ainda mais encantada. Felipe era um homem como poucos. Apaixonar-se por ele não seria nada impossível, isso se ela já não estivesse, o que era bem mais provável.

*************************************

A viagem de volta para casa foi bem silenciosa. E quando acontecia deles conversarem era sobre a vida, o universo é tudo mais. Felipe não tocou mais no assunto e Shirlei acabou achando ótimo.

Entretanto, quando o carro estacionou na frente da casa de Shirlei, a regra do silêncio parecia ter sido quebrada.

– Shirlei, você tem até meia noite de hoje para se decidir. - Felipe disse, retirando o cinto de segurança.

Shirlei deu uma risadinha.

– Como a Cinderela?

Felipe acabou rindo também.

– É. Como a Cinderela. E eu quero que você saiba que se você aceitar, durante esses quinze dias, eu vou ser o seu príncipe, desajeitado, que vou respeitar seu tempo e... Eu vou te fazer feliz... um dia de cada vez.

Shirlei sorriu, olhando para ele, estudando cada traço daquele rosto lindo.

– Ah, tem só mais uma coisa... - Felipe se lembrou e virando o corpo em direção ao banco de trás, sacou de lá um buquê de flores, que entregou pra ela - São pra você. - Shirlei recebeu-as com um abraço terno, sorvendo seu perfume.

– São lindas, Felipe. Brigada.

– Dentro delas tem um bilhete que tem uma mensagem e o endereço onde você vai me encontrar, apesar de que... como é tarde, eu pedi pra que o Henrique esteja aqui pra te buscar a essa hora, tudo bem pra você?

– Tudo. - Shirlei concordou e sorriu, meiga.

– Que bom. - Suspirou - Agora... - Levantou o dedo indicador. - Eu só tenho mais um pedido. - Shirlei quis saber através do olhar - Um beijo. É que se não der certo, eu queria pelo menos guardar essa lembrança comigo.

Shirlei ia responder, mas algo assombrou seu pensamento, então ela colocou uma mecha de cabelo desgarrada atras da orelha.

– Espera, Felipe... O que você vai fazer se eu não aceitar?

Felipe olhou pra frente, não teve coragem de encara-la.

– Eu vou voltar pra Itália. A Cris já está ciente disso, não se preocupe.

Shirlei ficou com o coração apertado. E quando ele virou o rosto, ela mesma ofereceu os lábios. Mas ele não foi de imediato. Em vez disso, ele permaneceu por alguns segundos admirando o rosto, os olhos, a boca...

– O que foi? - Shirlei murmurou.

– Nada. - Ele respondeu, então segurando o queixo Dela entre o polegar e o indicador, trouxe os lábios Dela até os dele, devagar, quase parando. Shirlei foi fechando os olhos. Ele não. Pois queria ver tudo. Todas as reações Dela. Então quando os lábios dele se encontraram com os Dela, ele os sentiu tão macios, tão gostosos. Tentou descrever que gosto tinham, mas nenhum fruta se comparava aos lábios de Shirlei. Eram de um gosto único. Abriu a boca, forcando-a a abrir a Dela também. Então aproveitou para mordiscar o lábio inferior e puxa-lo para si. Será que ela deixaria que ele o levasse para ele? De repente, a língua Dela buscou a dele e quando se encontrou a dele, suas bocas se colaram e o beijo se tornou mais urgente, sôfrego... molhado. As mãos de Felipe seguraram o rosto de Shirlei, girando-o, conforme a exigência do beijo. E Shirlei gemia entre uma tomada de fôlego e outra.

Minutos depois, o beijo foi cessando, sendo finalizado com três beijos estralados. Felipe encostou sua testa na testa de Shirlei. E sorriu, os lábios de ambos machucados pelo beijo violento que tinham acabado de trocar.

– Vai logo, antes que eu trave essa porta e te sequestre de novo!

Shirlei sorriu, enrubescendo. E dando um beijinho na ponta do nariz de Felipe, saiu quase correndo de dentro carro, segurando as flores.

Felipe, com a janela aberta, ficou observando Shirlei abrir a porta de casa e ficou feliz quando antes de entrar, ela se virou, sorriu, soltou um beijo e acenou. Felipe, por sua vez, acenou e com os olhos marejado, deu uma piscadela.

Em seguida, deu a partida no carro e foi embora, esperançoso de que tudo daria certo.

Depois de falar com os irmãos e com a mãe e explicar tudo que tinha acontecido, apesar de que - ela notou que todos estavam do lado de Felipe, mas ao mesmo tempo a apoiariam em qualquer decisão - Shirlei entrou no quarto para pensar nos prós e contras. Pensar em Adônis, mas também em Felipe. Mas sobretudo pensar nela. Em meio a isso, ela resolveu ler o bilhete que estava no meio das flores, pegou-o. E nele estava escrito:

" Tanto amor guardado tanto tempo, a gente se prendendo à toa, por conta de outra pessoa, só dá pra saber se acontecer..."

Quando ela terminou de ler, ela sabia que aquela frase era o trecho da música que tocou no dia em que eles se beijaram pela primeira vez e sim, ele escolheu certo o que dizer... Realmente, só da pra saber se acontecer...

Deitou na cama, sorrindo, mas apesar de tudo, ainda não estava completamente decidida... A voz de Adônis ao telefone poderia fazer uma grande diferença. Suspirou, imaginando como seria sua conversa com ele naquela noite em especial. Será que teria coragem de pedir um tempo? Assim. Do nada.

*******************************

Era meia noite. E Felipe já estava lá no local marcado, ansioso. Vestido com uma camisa preta de botões e uma calça jeans surrada, que estava dobrada até quase os joelhos, já que o local combinado era a mesma praia para onde ele tinha levado o Tito da última vez.

O lugar estava silencioso. Tudo que se ouvia ali era o bater das ondas nas pedras. E o céu estava estrelado com uma lua minguante.

Em pensamento, Felipe rezava para que Shirlei o escolhesse. Mas lá no fundo estava com um certo receio e um frio na barriga lhe percorria todas as vezes que imaginava ela não aparecendo ali. Ele iria para Itália sim. Não suportaria viver em um lugar onde Shirlei também vivia sem poder trocá-la, beija-la, acaricia-la... Não. Não suportava nem pensar nessa possibilidade. Era de enlouquecer.

De repente, em meio aos seus pensamentos, as luzes de faróis de um carro ofuscaram os seus olhos. O carro chegou. Com ela. Um sorriso iluminou seu rosto.

Os faróis se apagam. Henrique estava ali no banco do motorista, mas ela... Não!

Henrique desceu do carro, a expressão solidária, e foi em direção ao amigo.

– Eu sinto muito, meu amigo, mas... eu esperei até agora, então... - Henrique diz.

Felipe não conseguiu acreditar. Achou que era brincadeira, afinal, o amigo é rei nessas coisas. Olhou de um lado para o outro. Nada. Foi até o carro e procurou por dentro. Mas também nada.

– Eu sei que cê queria que fosse uma de minhas brincadeiras, mas... - Henrique falou, triste.

A respiração de Felipe se tornou intensa, o tórax começou a subir e a descer. Então ele passou as mãos pelos cabelos, repuxando-os. E de repente, um grito gutural saiu de sua garganta.

Henrique foi até ele é o puxou para um abraço, apertando-o forte, enquanto o amigo descontava sua dor nas lágrimas e nos murros não tão fracos que proferia nas costas do amigo.

– Por que, Henrique? Por que ela fez isso comigo? - Ele perguntava, a voz embargada em meio a soluços.

– Não sei, cara! Eu juro que num sei. Só sei que quero matar ela. - Henrique falou para confortar o amigo. - Vem, vamos pra casa? - Henrique praticamente carregou Felipe nos ombros até o carro. Então depois de colocar o cinto do amigo e deixá-lo bem acomodado, foi até o banco do motorista e deu a partida no carro. Mas para desespero de Henrique, o carro não pegou. - Mas que porra é essa? - Tentou de novo. Nada. O barulho era de carro velho. - Ih, cara, ferrou!

Atordoado, Felipe virou o rosto pra ele.

– O que ferrou? Do que cê tá falando?

– Do meu carro, cara. Num tá pegando. Acho que vai ter que empurrar.

Felipe fez uma careta pra ele. Ótimo. Dia lindo. Levou um fora e agora ia ter que empurrar um carro. O que ele tinha feito de errado pra merecer isso?

– Cara, cê empurra e eu dirijo. - Felipe propôs.

– Cara, cê sabe que eu te amo, mas o carro é meu e quem vai empurrar é você. E vai logo!

Felipe mal podia acreditar no que ouviu do amigo. Cadê o amigo solidário que o abraçou a 15 segundos atras? Tinha ido embora quando a porcaria do carro não pegou é? Devolvam ele, por favor!

– Tá bom! Mas eu só vou tentar uma vez, se ele não pegar, problema seu!

– Vai logo, irmão! Para de enrolar!

Felipe saiu do carro, enfurecido, batendo a porta com força.

– Ow, tem geladeira em casa não? - Gritou Henrique de dentro do carro.

Felipe teve vontade de voltar para esganar o amigo, mas o que adiantaria? Então bufando de raiva, foi até a parte de trás do carro e reunindo forças, começou a empurrar o carro.

O problema foi que ele percebeu que Henrique não ligou o carro.

– Liga o carro, porra!!!! - Felipe gritou.

Nada. Nem sinal. Felipe gritou mais uma vez e nada. Gritou então mais duas vezes até que se cansou e foi até o vidro do motorista que estava fechado. Começou a bater nele.

– Abre essa porra, Henrique! Tá de brincadeira comigo, é?

Foi nesse entremeio que seu olhar foi atraído para algo que se mexia ao longe no mar. Um vulto. Um fantasma? Arregalou o olhar e começou a bater mais rápido no vidro do carro.

– Abre logo essa porra, cara!!!!

Mas a medida que o vulto ia se aproximando, ele ia tomando forma. Forma de mulher. Forma de...

– Shirlei?! - Felipe paralisou, a pulsação lá nas alturas e o coração palpitando num ritmo frenético.

Ela chegou perto. Linda. Vestida com uma espécie de macacão sexy azul clarinho que tinha uma parte de cima que realçava bem os seus seios. E seus cabelos estavam levemente ondulados.

– Oi, Felipe. - Ela da um sorriso luminoso. - Pensa que é só você que sabe fazer surpresas?

Felipe encarou Shirlei, o olhar foi firme, intenso e ardente. Então, sem mais delongas, ele correu até ela, com um sorriso largo no rosto e enlaçando a cintura Dela, ele a abraçou com força, a içou no ar, tirando os pés Dela da areia e ficou rodando com ela pela praia, enquanto depositava beijos por todos pescoço e rosto Dela. Sem parar. Em resposta, ela enlaçou o pescoço dele com os braços, rindo de cócegas e de felicidade.

Os dois ficaram assim, rindo felizes, rodando pela praia por um bom tempo até que Felipe se cansou e a colocou no chão. Mas ainda com os braços ao redor de sua cintura, olhos nos olhos.

– Shirlei, eu preciso saber a sua resposta. - Felipe falou, ansioso.

– Achei que tivesse claro ou a proposta num tá mais de pé?

– Claro que tá de pé. Meu Deus, Shirlei, é claro que tá de pé.

Shirlei encostou os lábios nos dele. Depois respondeu, olhando bem fundo nos olhos dele.

– Então a minha resposta é sim.

Felipe sorriu, feliz.

– Então tá na hora do príncipe beijar a sua Cinderela. - Felipe disse, malicioso - Sabe por quê?

Shirlei sorriu, arqueando uma sobrancelha, curiosa.

– Por quê? - Ela murmurou, grudando o seu corpo ainda mais ao dele.

– Porque o príncipe acabou de derrotar todas as bruxas. E o dragão, né?!

Shirlei riu, sabendo que ele falava de Helô, Jéssica e Adônis.

– É. - Shirlei disse, e sem mais delongas, Felipe segurou o rosto de Shirlei entre as mãos e se apoderou dos lábios Dela, beijando-a com desespero. As mãos subindo e descendo em suas costas. Um beijo de gosto Salgado pelas lágrimas que os dois começavam a derramar pela emoção.

E a partir de agora seria um dia de cada vez...


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