A Intérprete - Orgulho e Preconceito Moderno escrita por Nan Pires


Capítulo 20
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo para vocês :)



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Depois da partida dos Bennets, o apartamento das garotas ficou tão quieto que Lizzie começou a se incomodar. Além da ausência da parte mais barulhenta da família, Jane que costumava ser a alma do lugar, andava pelos cômodos se arrastando. Quase como um fantasma, as poucas palavras que trocava com Elizabeth era quando a outra insistia muito e sobre assuntos banais.

— Jane, você não pode mais ficar assim. – Liz tentou animar Jane pela milionésima vez. – Vai, sei lá, fazer um curso ou alguma coisa para esquecer dele.

— Não preciso de curso nenhum. – A mais velha deu um sorriso enquanto tirava os pratos da mesa. Elas haviam acabado de tomar o café da manhã. – Já superei, aliás, nunca gostei dele mesmo.

— Ah tá.

— A primeira fase do luto, negação. – Charlotte disse em tom de brincadeira. A sra. Wilson havia pedido que ela trabalhasse no Hopkins naquele dia, pois a intérprete de espanhol do hospital havia pedido uma dispensa médica. Então, ela passou no apartamento das garotas para dar carona à Elizabeth, que tinha devolvido o carro alugado.

— Nem vem, vocês. – Jane voltou a defensiva. – Eu estou falando que já estou bem!

— Se você está dizendo...

Lizzie preferiu não insistir, ultimamente a irmã andava muito sensível e chorava por qualquer coisa. Ela ainda não havia superado o fim do relacionamento com o sr. Bingley. Jane tinha o coração mais amoroso e bondoso que Lizzie já conhecera, mas também, o mais frágil. E Liz odiava o fato de não poder fazer nada para ajudar, mas sabia que Jane sentia que podia contar com ela, e se a irmã precisava de espaço, ela daria. Mas para frente, quando ela quisesse conversar, elas teriam a oportunidade.

— Vamos? – Charlotte perguntou enquanto pegava a bolsa e procurava as chaves do carro.

— Claro. Já está saindo, Jane? – Lizziu perguntou.

— Podem ir, ainda vou finalizar um projeto aqui antes de ir para o escritório.

— Tudo bem. Até mais tarde!

— Tchau, Jane!

Assim que as garotas fecharam a porta e começaram a descer as escadas, o assunto recomeçou.

— E como ela está? – Charlotte quis saber. – De verdade, por trás dessa fachada de “estou super bem, me deixem em paz”.

Lizzie deu uma risada nervosa para a amiga.

— Mal. Você conhece minha irmã, ela só se finge de forte.

Charlotte fez uma expressão triste. Amava Jane como uma de suas próprias irmãs, mas se nem Liz estava encontrando algo que pudesse fazer para ajudá-la, imagine ela. Resolveram trocar aquele assunto por qualquer conversa banal. Falaram da última festa, do bolo maravilhoso que Charlotte tinha conseguido fazer e claro, do dr. Darcy.

— Já disse, depois daquele dia ficou tudo estranho entre nós.

— Então! Isso é sinal de que ele sente algo por você, ou não haveria motivos para estranhamentos.

— Então ele tem uma maneira bem peculiar de demonstrar quando gosta de alguém.

— Ah, porque a sua é muito normal, certo? – Char disse irônica e deu uma piscadela enquanto ela e Liz passavam pelas portas de vidro do Hospital Hopkins.

Assim que entraram, as duas deram de cara com o sr. Collins, que ficou vermelho como um pimentão assim que colocou seus olhos em Charlotte. Era estranho ver o chefe daquela maneira e mais tarde, Liz não perderia a chance de zombar de Charlotte pelo episódio.

— Srta. Lucas, é um prazer tê-la aqui no hospital, quero dizer, a sra. Wilson não havia me dito que seria a Srta. que viria. Estou muito feliz, quero dizer, é uma grata surpresa. – Ele disse tudo tão rápido que as garotas tiveram que fazer um esforço para entender.

— Obrigada, Sr. Collins. – Charlotte agradeceu um pouco corada também. Principalmente depois de reparar que todos ali estavam observando a cena.

— Queira me acompanhar. Eu vou te explicar tudo.

— Claro. – Ela respondeu com profissionalismo. – Liz, te encontro mais tarde.

— Boa sorte. – Elizabeth sussurrou baixinho, para que ninguém além da amiga ouvisse.

— Eu vou te matar. – Char respondeu mais baixo ainda e depois seguiu o Sr. Collins por um corredor.

Lizzie foi guardar suas coisas e depois foi até a clínica. Ao chegar no corredor que levava para o local, quase esbarrou em um médico alto, de ombros largos e profundos olhos azuis. Assim que percebeu quem era, ela se afastou tão rápido que quase caiu para trás e para piorar, sentiu seu rosto queimando. Era tudo o que ela queria, pagar mico em frente ao Sr. Darcy.

— Srta. Bennet. – Ela lançou um olhar severo a ele. – Elizabeth. Faz tempo que não nos vemos.

— Pois é. – Ela sorriu sem graça e quanto mais se esforçava para tentar voltar a sua cor normal, mais vermelha ela ficava. – Então, como você está?

— Bem, obrigada. E você?

Aquela conversa mecânica estava se tornando cada vez mais constrangedora. Não eram eles falando, pareciam robôs. Como uma dança, que na noite em que ocorrera parecia os ter aproximado, havia na realidade, transformado o pouco do relacionamento que eles tinham construído, em ruínas?

Liz ficou um tempo olhando para ele tentando entender, sem falar nada, e ele parecia estar fazendo o mesmo. Quando enfim ambos tiveram coragem o suficiente para falar, disseram ao mesmo tempo:

— Acho que a gente precisa conversar.

Eles riram um do outro, mas antes que um deles tivesse a oportunidade de dar sequência ao discurso, foram interrompidos.

— Darcy, que bom que eu te encontrei. – Era uma voz conhecida, de alguém por quem Elizabeth andava nutrindo um ódio profundo e mortal. – Queria saber sua opinião sobre...

Quando Darcy virou na direção da voz, querendo matar seu colega, Elizabeth teve uma visão geral de um dr. Bingley de aparência cansada. Na hora em que viu Elizabeth, a voz do médico sumiu e ele ficou parado sem falar nada. Aquilo estava ficando cada vez mais estranho.

— Desculpe, eu não vi que vocês estavam conversando – A voz dele finalmente saiu, titubeante e sem graça e seu olhar, quase um pedido de desculpas.

— Não se preocupe. – A voz de Elizabeth soou mais rígida do que ela queria, mas foi bom até. – Eu já estava de saída.

Então, ela virou-se e saiu andando deixando os dois amigos para trás.

— Não. Srta. Elizabeth!

Ela nem conseguiu distinguir quem fora o autor do chamado, e nem quis olhar para trás. Afinal, eram dois idiotas, um porque não sabia o que queria da vida e o outro porque havia deixado a mulher mais incrível da face da Terra, sua irmã, Jane.

Elizabeth mal podia ver a hora de contar todo o acontecido para sua amiga, Charlotte. Mas na hora do almoço, não havia nem sinal dela. Liz comeu sozinha no refeitório e ainda deu o azar de pegar uma mesa bem de frente para a de Darcy, que estava acompanhado da insuportável irmã do dr. Bingley. Era uma risadinha escandalosa por minuto e o estômago de Lizzie se retraia a cada vez que ela ouvia a moça dizendo o nome de Darcy. Era tão meloso! Dava para o dia ser pior? Ah, ela nem imaginava o quanto dava.

No final do turno, enquanto arrumava as coisas para ir embora, ela escutou um tumulto e quando seguiu na direção do barulho, percebeu que uma das vozes era de sua amiga. Ela gelou. O que estaria acontecendo?

— Você é muito escroto. – Liz ouviu Charlotte dizendo para alguém. Ela tinha acabado de virar a esquina do corredor e por alguns instantes, Elizabeth achou que a amiga estava insultando ao Sr. Collins. Só que quando a segunda figura, que vinha a passos largos, agarrou Charlotte pelo braço, ela percebeu que se tratava na verdade de Wickham.

— Me larga!

— Ei! – Elizabeth gritou em um ímpeto, e sem muita certeza do que fazer, continuou. – O que é que está acontecendo aqui?

Os olhos de Wickham endureceram assim que encontraram a forma de Elizabeth.

— Nada. – Ele rosnou e voltou pelo mesmo caminho.

Quando Charlotte chegou mais perto dela, Liz ergueu as sobrancelhas em um questionamento mudo.

— Deixa para lá. Ele é um babaca.

— Isso eu sei, mas o que aconteceu?

— Ele queria que eu falasse com você.

— Sobre?

— Ele. Disse que não tinha gostado de como as coisas tinham ficado e tal. Eu disse que não me meteria e ele tentou fazer uma ameaça velada, sabe?

Elizabeth sentiu a espinha gelar.

— Que tipo de ameaça?

— O de sempre. Eu cheguei um pouco atrasada do almoço e ele disse que me reportaria. Como se eu tivesse medo dele.

— Aí, Char. Obrigada, mas era melhor você só ter concordado. Depois falaríamos mal dele juntas. Como se você pudesse me dizer algo que me fizesse mudar de ideia quanto a ele. Cada dia mais vejo o quão idiota ele é, não tem mais jeito.

Charlotte riu e as duas seguiram de volta para o apartamento de Elizabeth.

— Vamos subir, aí comemos alguma coisa e depois você vai. – Liz sugeriu e Char sorriu em aceite.

Ao abrirem a porta do apartamento deram de cara com Jane. Mas não uma versão chorosa e triste dela, e sim uma garota sorridente que parecia ter ganhado na loteria. Será que Bingley havia ligado?

— Segui seu conselho!

— Meu? – Liz estava confusa.

— Quer dizer, não é bem um curso, mas é um projeto novo e bem legal. Vou ser a responsável. Não é demais!?

— Ah! Que maravilha, Jane! – Liz a abraçou bem apertado, estava tão contente em ver a irmã um pouco mais alegre e confiante. – Era tudo o que você precisava!

— Essa é a nossa Jane! – Charlotte comemorou animada.

— Começo na segunda-feira! Mas parto no sábado para ter um tempo para me acomodar e tal.

O coração de Elizabeth parou por alguns instantes. Sua expressão se mostrou confusa.

— Eu não falei? A cidade fica a algumas horas daqui, mas olha que coincidência! Bem onde nossos tios moram! – Jane continuou tão animada que não percebeu que o sorriso de sua irmã estava vacilando. – Já falei com eles e vou poder ficar hospedada lá!

— Uau. – Foi só o que Lizzie consegui dizer.

— Mas que ótimo! – Pelo menos Charlotte conseguiu manter a animação.


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Notas finais do capítulo

Gostaram?? Espero que sim!! Semana que vem tem mais :)



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