A Vidente escrita por Euphemia


Capítulo 2
CAPÍTULO UM - I open at the end.


Notas iniciais do capítulo

Bom dia! Desculpe o sumiço, aconteceram muitas coisas de outubro para cá (tipo fim de semestre na universidade e férias), mas agora as coisas voltam ao ritmo normal e eu espero aparecer mais vezes por aqui.
Eu tenho muitas expectativas nessa fanfiction, principalmente por sempre procurar alguma coisa nesse estilo e nunca encontrando (a maior parte das fanfics assim são com o Harry voltando aos 11 anos dele e blá blá blá).
Espero realmente que gostem!



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A VIDENTE

CAPÍTULO UM – I open at the close.

Quand on veut, on peut.

(Quando queremos, podemos).

Euphemia

           

I.

Lily fechou os olhos tão rápido quanto os abriu.

Por algum tempo ela ficou pensando se o que havia visto – se o teto azul claro e abobado, colorido com pequenas estrelas amarelas e vibrantes – não havia sido fruto de sua imaginação fértil.

Ela havia morrido e isso era um fato. O único lugar para onde ela podia ter ido era outro plano astral e Lily Potter tinha certeza absoluta que o lado de lá não se pareceria com o seu quarto infantil. Seu coração não havia diminuído de ritmo, fazendo com que sua cabeça começasse a girar com o fluxo tão intenso de sangue. Lily foi obrigada a abrir os olhos para aliviar a tontura, mas, ao ver novamente o teto pintado, o estomago dela embrulhou.

Forçando-se a respirar fundo, Lily decidiu que o melhor a fazer era certificar-se de que ela conseguia sentir todas as partes de seu corpo. Seus dedos dos pés mexiam-se, apesar do formigamento, e ela conseguiu tocar o lençol da cama onde estava deitada com a ponta dos dedos das mãos. Já era uma vantagem saber que ela conseguiria correr ou lutar caso fosse preciso. A ideia de lutar deixou Lily tensa e sua mão automaticamente procurou por sua varinha, no coldre de sua cintura – e se antes ela considerou o seu coração como acelerado, era porque ela não sabia o quão mais rápido ele poderia bater.

Seus dedos fecharam-se ao redor de um tecido leve do que poderia ser considerado um pijama, e ela tateou desesperadamente toda a região baixa de suas costas, em tentativas falhas de encontrar a sua varinha. Lily sentia-se nua, fraca e despreparada, além de muito confusa. Ela precisava descobrir o que estava fazendo na casa dos seus pais – e como havia ido parar ali.

No fundo de sua mente, o eco da voz de Lord Voldemort tentou tomar conta de sua consciência, mas Lily esforçou-se para enterrar a memória recente. Ela não podia deixar-se cair no descontrole, no desespero, no luto. No momento, Lily Potter precisava descobrir o que havia acontecido.

Sentando-se em sua cama, a mulher sorriu com carinho ao ver que seu quarto continuava da mesma forma, todas as suas bugigangas espalhadas pelas estantes, seus pôsters colados nas paredes para dar um ar de adolescente madura. Lily começou a juntar os cabelos em um rabo, mas seu corpo paralisou de terror – havia algo de errado com o seu cabelo. A mulher pôs-se de pé o mais rápido que podia, dando passos largos até estar parada em frente ao espelho de corpo inteiro de seu quarto e o reflexo que Lily Potter viu deixou suas pernas tão bambas quanto o dia de seu casamento.

A imagem refletida no espelho não era a de Lily Potter, vinte e um anos e cicatrizes de guerra.

A imagem refletida no espelho mostrava Lily Evans, nos meados de seus onze anos – ou menos, ela não conseguia dizer –, com sua pele tão lisa e livre de cicatrizes quanto à de um bebê.

“Diabos” Lily aproximou o rosto do espelho, não conseguindo acreditar no que estava acontecendo. “que merda é essa?”

II.

Lily sentou-se mais uma vez em sua cama, seu cabelo curto havia sido amarrado em um rabinho ridículo no topo de sua cabeça e não caía mais em seus olhos. Nos últimos minutos ela havia revirado o seu quarto, procurando por qualquer coisa que a indicasse o que havia acontecido, no entanto, tudo o que ela havia encontrado fora cartinhas de amor para uma paixão infantil idiota por um amigo de sua irmã e fotografias. Nenhum pergaminho, nenhum livro de magia, nada.

Sua cabeça doía e havia um buraco em seu peito – a voz de James parecia sussurrar coisas em seu ouvido, vez ou outra, dificultando o seu trabalho de concentração.

“Eu preciso...” Lily puxou o ar, tentando não entrar em um ataque de pânico. “Preciso descobrir o que aconteceu...”

Porque ela estava no seu corpo infantil? Seria esta uma consequência de seu sacrifício? Harry havia morrido? James... O que tinha acontecido com seu marido?

Os pensamentos de Lily foram interrompidos por uma risadinha e cochichos do outro lado da porta. Milhões de ideias passaram pela mente dela – seriam Comensais da Morte? A Ordem da Fênix? James? – e ela não soube o que fazer. Lily estava desarmada e sem informações, entrar em uma luta nessas condições não traria nenhuma vitória. O trinco da porta do seu quarto mexeu e a mulher voou para de baixo das cobertas, decidindo que fingir que ainda estava dormindo era a melhor opção – afinal, quem quer que fosse do outro lado, ainda não havia a incomodado enquanto ela estava desmaiada.

Lily ficou de costas para a porta, enrolada em seu cobertor cor de rosa. Tampou bem sua cabeça e apertou os olhos, fingindo estar dormindo. A porta abriu e ela conseguiu identificar os passos de três pessoas, que caminhavam tentando ser o mais silenciosos possível. Uma delas tentou falar algo, mas fora cortada com um “shiii” baixinho.

No três...” Uma voz masculina murmurou. O coração de Lily voltou a acelerar. “Um...” Ela mordeu a língua, seus olhos ainda bem fechados. “Dois...” Um dos três desconhecidos moveu-se para os pés de sua cama. “Três!”

Suas cobertas foram puxadas para longe no mesmo instante que gritos de felicidade encheram o quarto.

SURPRESA, LILY!”

Os olhos verdes de Lily abriram-se no susto e ela rolou pela cama, ficando cara a cara com os três (des)conhecidos.

“Ah, filha...” Seu pai sentou-se ao seu lado, puxando seu corpo para um abraço. “Como se sente agora que tem onze anos?”

A boca de Lily chegou a abrir, mas nenhum som saiu – dentro de sua cabeça diversas vozes gritavam desesperadas.

Isso é loucura!

Estou entrando em choque!

Meus pais estão mortos!

“Acho que ela entrou em choque, querido.” Os olhos de Lily voltaram-se para sua mãe.

Sra. Evans carregava um bolo decorado com glacê verde, com onze velhinhas acesas. O sorriso em seu rosto era o mesmo de sempre, seu cabelo vermelho estava preso em um coque no alto de sua cabeça e ela usava o seu terninho profissional preferido. O estomago de Lily embrulhou e ela pensou que iria vomitar.

“Pronta para ir para a minha escola, Lily?” Se a visão de seus pais deixou a mulher sem palavras, a imagem de Petúnia Evans balançando as sobrancelhas loiras foi o suficiente para fazê-la soltar um murmúrio de pavor.

“Eu acho que vou desmaiar...”

Todos os presentes deram gostosas gargalhadas.

“Faça um pedido, querida.” Sra. Evans empurrou o bolo para mais perto do nariz de Lily, com um sorriso no rosto.

Em desespero, Lily olhou para todos os cantos do quarto, procurando por alguma forma de fugir dali, mas acabou sem sucesso e teve que obrigar-se a inclinar o rosto sobre o bolo, fechar os olhos e assoprar.

Eu quero que tudo isso não passe de um pesadelo.

Ao abrir os olhos, porém, todos continuavam ali, sorridentes.

“Vamos deixar que Lily troque de roupa, garotas...” O Sr. Evans soltou a filha e levantou-se da cama, empurrando de leve a esposa e a segunda filha. “E Lily” Virou-se para dar uma piscadinha para a ruiva. “vamos lhe esperar lá em baixo com o seu café da manhã de aniversário.”

Quando todos haviam ido embora e a porta do quarto de Lily fechou-se, a garota tratou de ficar de pé e começar a vasculhar o quarto mais uma vez – só que agora o seu objetivo não eram sinais de magia.

Lily Potter lembrava-se bem do que havia acontecido ali. No seu aniversário de onze anos seus pais e sua irmã invadiram o seu quarto pela manhã, com um bolo surpresa. E isso havia acabado de se repetir. Puxando as gavetas da penteadeira, Lily derrubou tudo até encontrar o fundo falso onde ela escondia o seu diário infantil e lá estava ele, decorado com estrelas azuis e brancas.

“Isso é loucura” Ela murmurou, folhando o diário até chegar à ultima pagina escrita. “isso tudo é uma completa maluquice.”

E lá estava.

O ultimo dia marcado era 29 de Janeiro de 1971, decorado com caneta glitter.

Querido diário” Lily começou a ler a primeira passagem em voz alta, tentando superar o ritmo acelerado de seu coração. “amanhã é o dia, o dia em que eu vou saber se tudo o que Sev falou foi realmente verdade...” Ela não conseguia respirar e, levando uma das mãos para o rosto, empurrou os fios de cabelo que haviam caído de seu rabinho no meio da confusão de antes. “amanhã é o meu aniversário de onze anos – o dia em que eu vou receber a minha carta de Hogwarts.”

Seu diário caiu no chão e Lily procurou apoio na penteadeira, suas pernas não seriam capazes de sustentar o seu peso.

“Puta merda” Lily Potter sussurrou. “puta que pariu, que merda é essa?”

E pela primeira vez na ultima uma hora, Lily notou o timbre infantil em sua voz.

“Santo Merlin.” Murmurou, seu corpo inteiro tremendo.

Sentia-se tão mal, tão fraca, que temeu que fosse desmaiar. A tontura de antes voltou com força total e o gosto de bile chegou em sua boca. Lily correu até o banheiro de seu quarto e conseguiu empurrar a tampa do vaso para cima a tempo de ajoelhar-se ao lado do vaso e vomitar tudo o que havia no seu estomago.

III.

Lily encarou a porta fechada que levava até a cozinha da casa de seus pais. Os últimos quinze minutos foram gastos em seu quarto, tentando entender tudo o que havia acontecido. A mulher havia conseguido chegar a algumas conclusões (conclusões estas que eram tão absurdas que Lily não conseguia aceita-las muito bem).

O primeiro fato concreto era que ela havia morrido. Isso era incontestável, não havia como sobreviver à maldição da morte. Lily Potter havia morrido na noite do dia 31 de outubro de 1981. Lord Voldemort, ao atacar a casa dos Potter em Godric’s Hollow, havia desencadeado uma sequencia de mortes e destruição, cuja extensão era desconhecida por Lily. Seu marido, James, estava morto e seu filho havia sido deixado a sua própria sorte, tudo isso era demais para ela compreender no momento – Lily, na verdade, ainda não conseguira absorver o que realmente havia acontecido nas ultimas horas. Os eventos do Halloween foram trancafiados em uma caixa, bem no fundo de sua mente, para serem analisados mais tarde.

O segundo ponto era que ela não estava mais no dia 31 de outubro de 1981 – e era aqui que a descrença de Lily começava. Se ela havia morrido naquela noite, ela deveria ter permanecido morta, o segundo fato era uma contradição ao primeiro. No entanto, de alguma forma absurda, ela havia acordado dez anos no passado.

E isso levava ao terceiro fato: a consciência de Lily Potter havia sido introduzida em seu corpo de onze anos. Lily Potter era mais uma vez Lily Evans.

Outra vez a bile subiu até a garganta da ruiva, porém agora ela contentou-se apenas em engolir o gosto amargo.

Havia dezenas de outras coisas importantes para pensar, mas naquele momento exato Lily tinha algumas coisas para resolver, como por exemplo receber a sua carta de Hogwarts.

As lembranças de Lily Potter estavam ali, fortes sobre as lembranças de Lily Evans. A mente infantil dela tinha de alguma forma absorvido as lembranças de sua mente adulta, as duas criando uma nova consciência, uma nova Lily. Seu corpo ansiava pela visita da Professora McGonagall – que sua mente sabia que chegaria em poucos minutos.

Empurrando a porta da cozinha, ela entrou e encontrou seu pai colocando um prato de panquecas doces e outro de bacon frito na mesa.

“Fiz o seu café da manhã preferido, meu bem.” As lagrimas subiram aos olhos de Lily quase que imediatamente.

Seus pais haviam morrido há muito tempo.

“Obrigada...” E com certa hesitação, ela continuou: “papai.”

O velho senhor apenas sorriu e bagunçou seu cabelo antes de sair do cômodo, deixando-a sozinha.

Servindo-se de panquecas e bacon, Lily tentou mastigar devagar, mas seu estomago clamava por comida depois de ter sido esvaziado no banheiro do segundo andar. Seus olhos estavam fixos no relógio pendurado acima da geladeira, acompanhando cada tique-taque dos ponteiros.

“Lily já desceu?” A voz abafada da Sra. Evans veio do corredor.

“Sim, está tomando café...” Foi a resposta do Sr. Evans.

Lily tratou de engolir o grande pedaço de bacon que ela havia enfiado na boca e virou o rosto para observar sua mãe entrar: os cabelos rubros estavam presos em um coque profissional e ela usava o conjunto de terninho feminino preferido dela. Nas suas lembranças, ela tem a imagem da Sra. Evans chocada, vestindo esse mesmo terninho cinza, ao lado da Prof. McGonagall.

“Sabe que dia é hoje?” Lily força-se a perguntar, tentando usar a sua voz mais infantil possível.

“Além de ser seu aniversário?” Sua mãe ri, servindo um pouco de suco e largando em sua frente.

“Hoje eu recebo a minha carta de Hogwarts.”

A Sra. Evans soltou um suspiro – e Lily lembrava-se perfeitamente da longa conversa que as duas teriam, sobre bruxos e bruxas não serem reais. Lançando mais um olhar para o relógio, Lily preparou-se para escutar o sermão.

O que aconteceu a seguir chocou a o suficiente para ela cuspir o seu suco: a campainha da casa dos Evans tocou – trinta minutos mais cedo.

Enquanto a Sra. Evans preocupou-se em lhe ajudar a se limpar do suco, o Sr. Evans foi abrir a porta. Seus ouvidos sensíveis captaram a conversa de seu pai, na entrada de casa.

“Pois não?”

“Bom dia, eu sou a Professora McGonagall e eu sou a representante da Escola de Hogwarts.”

E do mesmo jeito que Lily havia escutado a voz da Prof. McGonagall, a Sra. Evans também havia.

IV.

Instantes depois toda a família Evans encontrava-se sentada nos sofás da sala de estar, junto com a Prof. McGonagall. Petúnia já havia ido para a aula de sapateado, ensaiar para uma apresentação que o grupo realizaria daqui dois meses.

“Então...” O Sr. Evans arrumou o roupão por cima do pijama, desconfortável. “Sra. McGonagall...” Sua voz era hesitante, como se ele ainda não acreditasse no que estava acontecendo. “Lily já havia nos falado um pouco sobre essa tal Hogwarts...”

O olhar de surpresa na expressão da professora deixou Lily um pouco incomodada.

“É mesmo, Srta. Evans?” Ela levantou as sobrancelhas.

“Uhm...” Lily sentiu um certo pavor tomar conta de si. “Meu amigo... Severus...”

Apenas um nome fora o suficiente para que os olhos da velha mulher se iluminassem com o conhecimento.

“Ah, claro, ele mora algumas ruas daqui, vocês são amigos então?”

Lily queria manter a conversa o mais próximo possível de sua lembrança original.

“Sim... uhm...” Ela revirou sua mente, tentando lembrar quais haviam sido suas palavras. “Ele me mostrou alguns feitiços...”

“Sem varinha?” Lily quis morder a língua ao ver as sobrancelhas de sua antiga chefe de casa juntarem-se.

Merda.

“Com licença, sra. McGonagall...” Sua mãe interrompeu, salvando-a de uma resposta que Lily não sabia como dar. “É muito absurdo tudo isso, desculpe, mas a senhora deve entender o quão difícil é acreditar em algo assim.”

McGonagall largou a sua xícara de chá na mesinha de centro da sala e retirou sua varinha de dentro de seu casaco trouxa pesado, enquanto falava com uma voz calma com o Sr. e a Sra. Evans.

“É absolutamente normal para os pais trouxas de crianças bruxas terem esta descrença” Ela começou, balançando um pouco a varinha e tocando com a sua ponta na xícara de porcelana. “é por isso que um professor de Hogwarts sempre é encarregado de introduzir estas crianças e suas famílias no mundo bruxo.” A xícara transformou-se em um grande gato peludo, que espreguiçou-se sobre a mesa.

“Santa Maria...”Sua mãe balbuciou, segurando no braço de seu marido, que estava sentado no seu lado esquerdo.

“Existe todo um outro mundo, escondido dos olhos de todos, onde bruxas e bruxos vivem no mais absoluto segredo.” McGonagall continuou, sorrindo com tranquilidade. “Não sei o quanto o seu amigo, Sr. Snape, lhe disse” Agora ela voltou seus olhos escuros para Lily, que mexeu-se desconfortavelmente ao lado de sua mãe. “mas o universo mágico é inesgotável e você faz parte dele, Srta. Evans.”

“-mas... mas como?” Sr. Evans murmurou. “Porque Lily? Isso é algo genético?”

“Há magia em todos os cantos, Sr. Evans.” A ponta da varinha de McGonagall tocou no rabo do gato, que transformou-se novamente em uma xícara de chá. “E às vezes ela concentra-se o suficiente para que uma nova bruxa nasça.” E sorriu com carinho para Lily.

Era uma força interessante de explicar a magia, a garota ruiva pensou, mordendo sua bochecha. Ela não se lembrava de quase nada desse dia, era como se suas memórias estivessem fugindo, desaparecendo. Um pouco de suor concentrou-se na base de sua nuca, deixando-a nervosa.

“Eu tenho comigo alguns panfletos e livros introdutórios ao mundo bruxo, Sr. e Sra. Evans.” McGonagall abriu a bolsa que carregava e retirou o material que havia comentado, entregando para os pais de Lily. “E eu também tenho a sua carta de aceitação, Srta. Evans... Acredito que esteja ansiosa por ela.”

Lily levantou-se para pegar a carta, suas mãos tremendo um pouco.

“Obrigada, Prof. McGonagall.” Ela murmurou.

“Espero grandes coisas de você, Evans.” A senhora falou, piscando um dos olhos. “Foi uma grande explosão de magia que você fez, hoje pela manhã.”

Corando absurdamente, Lily fugiu de volta para o seu lugar no sofá, abrindo a carta com pressa. E o cheiro de pergaminho e cera atingiu seu nariz: era exatamente como ela lembrava.

“Pode nos mostrar um pouco mais de mágica, Sra. McGonagall?” Sra. Evans pediu, segurando dois panfletos informacionais.

Com um sorriso, McGonagall levantou as duas mãos e girou-as em sintonia e todos os móveis da casa começaram a levitar – inclusive os sofás onde eles estavam sentados.

Lily não pode evitar uma risada de alegria, no entanto seu pai fora um pouco mais expressivo, soltando um ou dois palavrões. Eles ficaram apenas alguns segundos no ar antes que a professora os deixasse de volta no chão.

“Será que vocês se sentem mais abertos à magia agora?” A velha bruxa cruzou os braços sobre as pernas, segurando a varinha firmemente com uma das mãos.

Seus pais precisaram de alguns segundos para se recompor. O Sr. Evans secou o suor da testa com a manga do roupão, antes de murmurar alguma coisa com a esposa e virar-se novamente para a Prof. McGonagall.

“Lily...” Ele começou. “Lily sempre fez coisas estranhas quando criança...” Seus olhos dançaram entre a bruxa e a filha. “Tentamos acreditar que era apenas coincidência que os vidros explodissem quando ela estava com raiva... Ou que os seus bichinhos de pelúcia tinham apenas caído da prateleira... Mas agora...” Ele não conseguiu terminar, enxugando as lagrimas. “A minha garotinha, uma bruxa!”

“Todos esses relatos foram pequenas amostras de magia acidental” McGonagall apressou-se em explicar. “crianças bruxas não possuem controle de sua magia e tendem a explodir ou levitar coisas com muita frequência.” Seus pais concordaram, tentando absorver todas as palavras. “Em Hogwarts ensinamos as crianças a controlarem seus poderes para que elas não percam o controle e acabem se machucando, ou machucando alguém.” O tom de voz da bruxa ganhou um tom mais sério. “Eu não posso forçar os senhores a deixarem sua filha ir à Hogwarts, mas aconselho-os a fazer isso. Uma bruxa destreinada pode ser um perigo para toda a sociedade... Hogwarts oferece proteção e estabilidade para todos os seus alunos.”

As próximas horas se transformaram em uma roda de conversa entre os três, Lily fazendo uma ou outra pergunta de vez em quando. Ela tinha uma preocupação maior naquele momento: de algum jeito, suas memórias estavam desaparecendo.

Ela não conseguia lembrar-se de quando recebeu sua carta de Hogwarts, era como se todo o passo que ela desse para frente fosse acompanhado de dois passos para trás. Era cada vez mais difícil lembrar-se das perguntas que ela havia feito à McGonagall na primeira vez que tudo isso havia acontecido.

“E esse Beco Diagonal?” A voz do Sr. Evans tirou Lily de seus pensamentos. “É um mercado?”

Uma dor de cabeça estava incomodando os pensamentos da jovem bruxa. Esfregando os olhos com ambas as mãos, Lily tentou impedir que suas mãos tremessem – ela estava entrando em um ataque de pânico e aquela não era a melhor hora para isso acontecer.

Murmurando uma explicação aceitável, ela correu da sala de estar e trancou-se no banheiro. Seu coração estava acelerando e suas mãos não paravam de tremer, tornando quase impossível que Lily conseguisse abrir a torneira da pia. Quando a agua começou a correr, ela tentou jogar um pouco de agua gelada no rosto, mas seus tremores tornavam impossível que ela conseguisse segurar o líquido entre as mãos. Resmungando um palavrão, Lily colocou a cabeça por inteira em baixo da torneira, deixando que a agua molhasse seu cabelo e escorresse pelo seu rosto e pescoço.

Quando a agua começou a molhar suas roupas, Lily desligou a torneira e escorou o rosto na pedra gelada de mármore da pia. Sua respiração ainda estava acelerada, mas suas mãos haviam parado de tremer.

Uma batida na porta fez com que ela desse um pulo.

“Lily?” A voz abafada de seu pai soou através da porta. “Está tudo bem?”

Sabendo que não tinha para onde fugir, Lily abriu a porta do banheiro, olhando diretamente para os olhos verdes de seu pai.

“Eu fiquei nervosa.” Murmurou, sentindo os cabelos molhados grudarem em seu rosto.

Seu pai sorriu e a abraçou, esticando-se para pegar a toalha de rosto e começar a enxugar os cabelos curtos de Lily.

“Ficamos preocupados quando você demorou...” Ele comentou, momentos depois, quando a maior parte da agua havia sido absorvida pela toalha. “Professora McGonagall quer lhe entregar mais alguns panfletos e combinar a nossa ida ao Beco Diagonal...”

O tom de voz que o Sr. Evans usava era de animação, empolgação, e Lily tentou forçar um sorriso ao fazer a pergunta que ele estava esperando.

“Beco Diagonal?”

“Um centro de lojas mágicas!” Sr. Evans apertou seus ombros, empurrando a filha pelo corredor. “Há um banco, comandado por goblins e há também uma loja de varinha e...”

Era estranho para ela toda essa empolgação de seu pai – ela lembrava-se vagamente do Sr. Evans ser um homem contido de sorrisos fáceis, mas poucos comentários.

“Fantástico, papai!” Lily murmurou, entrando na sala de estar, onde sua mãe acompanhava McGonagall.

“Srta. Evans” A antiga professora apressou-se, suas roupas farfalhando enquanto ela andava. “eu quero lhe entregar este livro também” A capa verde floresta decorada com letras douradas fez o estomago de Lily embrulhar. “por ser uma nascida-trouxa, é importante que você conheça o suficiente da sociedade bruxa para poder interagir bem com seus colegas de classe.”

Lily segurou o livro como se sua vida dependesse disso, sentindo-se extremamente mal ao lembrar de todo o preconceito de sangue que a sociedade bruxa britânica carregava. Sua cabeça girou um pouco, mas por sorte seu pai estava bem atrás de si e ela pode apoiar-se nele para equilibrar-se.

“Eu só tenho mais uma coisa para discutir com os senhores antes de partir” Professora McGonagall sorriu para todos. “há alguma data disponível para que possamos realizar a visita ao Beco Diagonal? Preferencialmente nas próximas semanas...”

O Sr. e a Sra. Evans entreolharam-se e Lily sabia que não deveria concordar com o que seria dito.

“Bem...” A Sra. Evans começou. “Acredito que seja melhor realizar a visita na sexta à tarde...” O Sr. Evans concordou silenciosamente, apertando os ombros de Lily. “Posso trabalhar no escritório apenas pela manhã e meu marido-”

“Não!” Lily ouviu-se gritando e virando-se para olhar no fundo dos olhos de seu pai. “E Tunney?!”

Ela não podia deixar isso acontecer! Não podia deixar Petúnia de lado! Não dessa vez!

“Querida...” Seu pai coçou a barba, um tanto desconfortável.

“Eu quero que Petúnia vá conosco! Sexta à tarde ela tem aula!” Sua voz infantil ressoou por todo o cômodo.

Seus pais entreolharam-se mais uma vez.

“Vamos pedir que a liberem na sexta à tarde então, meu bem.” Sua mãe sorriu. “Se é tão importante assim para você.”

McGonagall concordou e as despedidas foram feitas, a senhora pedindo que a esperassem as 13h. Quando a Sra. Evans ofereceu-se para levar a velha bruxa até a saída da casa, a professora negou e falou que poderia ir embora dali do meio da sala de estar mesmo.

E sem nem mesmo um único barulho, Minerva McGonagall aparatou – deixando o Sr. e a Sra. Evans desconcertados.

V.

Naquela noite, após o jantar, Lily e Petúnia trancafiaram-se no quarto da segunda menina e conversaram até a hora de dormir – conversaram sobre serem irmãs, sobre Lily ir para outro colégio, sobre como elas queriam continuar unidas. A conversa só foi interompiado quando a Sra. Evans bateu na porta do quarto cor de rosa de Tunney e arrastou Lily até o seu quarto, do outro lado do corredor. Depois de beijos de boa noite, eu te amo e durma bem, Lily enrolou a cabeça no seu cobertor infantil e esperou até que sua mãe saísse do quarto e ela conseguisse escutar o barulho da fechadura da porta dos seus pais.

Somente após ter certeza de que estavam todos dormindo, Evans empurrou o seu cobertor para longe, trancou a porta de seu quarto e ligou a luz de seu abajur – que ficava na penteadeira de madeira herdade de sua tia-avó. Munida de papel e caneta, ela sentou se na mesa e começou a escrever.

Lily teve muito tempo ao longo do dia para pensar.

Pensou no principal motivo de suas lembranças estarem sumindo, pensou em Petúnia, pensou em Severus, pensou em James e Harry. E pensou em Lord Voldemort.

Pressionando com mais força que necessário a caneta contra o papel de carta, Lily começou a anotar tudo o que sabia. Sua primeira lista fora com todos os nomes conhecidos de Comensais da Morte. Era óbvio para ela que no futuro ela precisaria desses nomes, seja para proteger a si mesma, seja para proteger sua família.

Severus S, Regulos B, Bellatrix L, Rodolphus L, Rabastan L, Evan R, Lucius M, Theodore N...

A mandíbula de Lily apertou quando ela chegou no trigésimo nome.

Ela passara a tarde lendo aqueles panfletos idiotas que Hogwarts entregava aos alunos nascidos-trouxas todos os anos. Panfletos que o Conselho de Hogwarts achava que auxiliavam-os, mas na realidade apenas piorava tudo. Não era à toa que muitos de seus amigos nascidos-trouxas sentiam-se tão inferiores a todos os outros alunos de Hogwarts. Toda essa propaganda puro-sangue deixava-a enjoada.

Virando a folha, Lily continuou listando os nomes. Havia alguns nomes de políticos influentes, dois ou três jogadores de quadribol, alguns bruxos estrangeiros e dezenas de colegas de Hogwarts de Lily.

Thorfinn R, Yolanda T, Antony D, Henryan S, Walden M...

Com frustração, ela largou a caneca e encostou-se na cadeira, cruzando os braços. Diversos nomes estavam faltando. Toda vez que ela tentava lembrar-se com mais precisão de certos rostos, eles começavam a desaparecer de sua mente. Decidindo deixar a lista para outro momento, Lily juntou as duas folhas que ela havia reunido com nomes e prendeu-as com um clips, enfiando-as no fundo falso de sua penteadeira.

Pegando outro de seus papéis cartas, Lily escreveu a profecia que havia destruído a sua vida. Por uns segundos ela havia hesitado, receosa por escrever algo tão importante e sigiloso assim em um pedaço de papel que poderia se perder. No entanto, o medo de que sua memória esquecesse das palavras e a determinação venceram o seu receio.

Sua vinda ao passado tinha que significar alguma coisa. Os Deuses deveriam querer alguma coisa com isso – e Lily estava determinada a descobrir a sua missão. Voltar ao passado, antes de toda a guerra bruxa contra Voldemort começar, carregando suas memórias consigo, era um grande sinal de que Lily, de alguma forma, estaria ainda mais envolvida do que antes na luta contra a supremacia puro-sangue.

A freada de um carro na rua ao lado fez com que Lily pulasse de sua cadeira – sua mão esquerda procurando automaticamente por sua varinha, na base de suas costas. Frustrada, a garota sentou-se novamente e guardou o papel com a profecia no mesmo fundo falso em que havia guardado a lista de comensais da morte.

Pegando mais um papel, Lily agora começou a anotar as datas dos ataques de Lord Voldemort e o máximo de detalhes sobre esses eventos que ela conseguia lembrar. Alguns foram estudados a fundo pela Ordem da Fênix, em uma vã tentativa de entender o estilo de luta do Lorde das Trevas. Outros foram apenas saques no comércio ou em casas de famílias bruxas, apenas com o intuito de assustar a população.         

A garota decidiu que começaria de trás para frente, sendo o primeiro ataque que ela escrevera o do dia 31 de Outubro de 1981, em Godric's Hollow, Inglaterra.

VI.

“A professora McGonagall deve chegar a qualquer hora.” Lily ouviu-se dizendo, tentando tranquilizar seus pais e irmã. “Ela disse que chegaria agora, não é?”

Seu pai arrumou pelo o que pareceu a vigésima vez o casaco de tweed e sua mão descruzou as pernas.

“Às 13h, mais precisamente.” A Sra. Evans comentou, os olhos fixos no local onde a Professora McGonagall havia desaparecido na semana anterior. “Você acha que ela vai aparecer na nossa sala, querido?”

O Sr. Evans fora impedido de responder pela aparição da velha professora. Ela usava roupas bruxas desta vez, vestes verde-escuro e um cachecol negro enrolado no pescoço. Professora McGonagall não sorriu, mas Lily havia convivido com a mulher por mais de dez anos e conhecia algumas de suas expressões.

“Boa tarde.” A bruxa guardou a varinha. “Como foi a semana de vocês?”

Enquanto os adultos jogavam papo fora, Lily virou-se para Petúnia - que não havia estado ali na primeira vez que isto tudo tinha acontecido.

“Animada?” Sussurrou Lily.

“De-mais!” Petúnia sussurrou de volta, com a cumplicidade de irmã. “Aquele garoto estranho falava a verdade, afinal.”

A ultima frase continha um pouco de desprezo, mas Lily deixou passar.

“Severus também é um bruxo, Tunney.” E com um pouco mais de dificuldade, completou a ruiva: “E ele é meu amigo, tente ser um pouco mais agradável.”

“Se ele é seu amigo, porque não quis vê-lo durante toda a semana, Lis?” As sobrancelhas loiras de Tunney arquearam-se, com toda a sabedoria de irmã mais velha. “Vocês brigaram?”

Lily pensou em todas as brigas que seu eu mais velho havia tido com Severus Snape e não soube o que responder para a irmã. Ela não estava preparada para encarar o rapaz que a havia traído, mesmo que agora ele seja apenas um garotinho inocente.

“Tivemos um desentendimento…” Respondeu, por fim.

“De que tipo…? Podemos parar de falar com ele de vez?”

Graças aos Deuses, Lily foi salva pela Professora McGonagall.

“Meninas, iremos ir agora.” A bruxa retirou um pedaço de mais ou menos 30cm de corda de dentro das vestes. “Esta é uma chave de portal, você deve ter lido sobre elas nos seus livros, senhorita Evans.”

A ruiva concordou, distraída.

“Todos devem segurar a chave com firmeza, ela vai nos levar para o Caldeirão Furado, que fica na entrada do Beco Diagonal.” Todos seguiram as instruções de Professora McGonagall, cada um segurando um pedaço da corda. “Certo, segurem-se, a palavra de ativação é Beco Diagonal.

E com um turbilhão de cores, luzes e sons, todos os cinco desapareceram da sala de estar da casa dos Evans e apareceram centenas de quilômetros dali, em um jardim coberto nos fundos do Caldeirão Furado.

“Hey-a, professora.” Tom, o dono do bar, veio cumprimentar quem havia chegado. “Senhores.” Ele inclinou a cabeça, tocando de leve na ponta do chapéu.

“Estes são os Evans.” Professora McGonagall apresentou-os à Tom. “Lily irá começar Hogwarts no próximo ano letivo.”

O sorriso desdentado de Tom assustou um pouco os pais de Lily, mas o coração da garota encheu-se de saudades ao ver o velho senhor que tanto contribuiu para a Ordem da Fenix.

“Boa sorte, garotinha.” Desejou Tom, antes de voltar para dentro do bar para atender os clientes do meio-dia.

Petúnia procurou pela mão da irmã, apertando os dedos magros ao redor do pulso da ruiva. As duas voltaram-se para a Professora McGonagall, que agora havia parado ao lado de uma parede de velhos tijolos expostos.

“Este é o portal para o Beco Diagonal” Ela pegou a varinha de dentro das vestes e tocou em oito tijolos, formando um círculo, no sentido anti-horário. “para abri-lo, é necessário que um bruxo toque com a ponta da varinha as doze runas que estão gravadas nos tijolos, em sentido anti-horário.”

E - como se fosse mágica - os tijolos foram dobrando-se e movendo-se, transformando o que antes era uma velha parede em um portal com um arco, do outro lado podia-se ver o movimento do comércio.

“Nas próximas vezes que vierem, os senhores podem pedir para Tom, ele não importa-se de abrir o portal para os familiares de alunos nascidos trouxas.”

“E Lily?” O Sr. Evans perguntou, empurrando os óculos no nariz. Havia assumido o tom que ele usa quando começa a fazer pesquisas para as histórias que ele escreve. “Ela vai ter uma varinha, não pode abrir para nós?”

Professora McGonagall guardou a varinha dentro das vestes e virou para a família Evans, seu rosto sério.

“Bruxos menores de idade não podem usar magia fora de Hogwarts.” Ela olhou por cima dos óculos, seus olhos fixos em Lily. “O descumprimento dessa lei pode acarretar em expulsão.” Seu tom era sério e a última frase foi falada diretamente ao Sr. e a Sra. Evans.

“Vamos prestar atenção nisso.” A Sra. Evans apertou o ombro da filha mais nova.

“Otimo.” O tom de Minerva McGonagall mudou e tornou-se mais leve. “Agora vamos começar o nosso passeio…” E sorrindo pela primeira vez no dia, ela virou-se para Lily. “Seja bem vinda ao Beco Diagonal, senhorita Evans.”


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Notas finais do capítulo

E é mais ou menos assim que começa a aventura!
Eu pretendo explorar nessa fanfic todas as coisas que faltaram nos livros de HP (como os nascidos-trouxas são apresentados ao mundo bruxo, o sistema de governo, as classes sociais, como funciona a magia...), claro, nunca inventando demais ou fugindo muito do universo cânon.
Sobre JILY: Em breve o James aparece e veremos o comportamento da Lily sobre ele.
Sobre SNILY: Essa não é uma fanfic snily, a Lily sentirá apenas uma grande vontade de salvar o amigo de infância.
Beijos e abraços!
Até logo :D



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