Waves escrita por march dammes


Capítulo 9
Intermissão: Sucrilhos


Notas iniciais do capítulo

EU NÃO MORRI!
eu sei que digo isso sempre mas....gente, eu dependo muito da minha musa pra escrever, rip. se ela não aparece eu não consigo inspiração pra uma mísera linha ;; e esse demorou mais do que deveria porque acho que forcei um pouco...
enfim, está aqui! decidi focar mais no jeito de cada um pra esse capítulo, e finalmente concluímos com a introdução de todos os personagens envolvidos no plot principal da fic. cheers! os próximos dois capítulos já tem rascunho, e vão ter mais a ver com o desenvolvimento de klance mesmo e esse romance que já tá demorando...enfim, bora ler?



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O quarto de Pidge sempre fora uma bagunça, mas em semana de provas, ele poderia esconder o Yeti lá dentro.

Luzinhas de natal e embalagens vazias de salgadinho compunham a decoração juntamente com pôsteres de filmes de terror antigos e as paredes verde-limão, três monitores de PC (um em pedaços) e fios que serpenteavam pelo chão como uma ameaça para qualquer distraído.

Sentado no tapete, as pernas cruzadas como um índio, tinha o notebook no colo e uma colher entre os dentes. Na tela, cuja luz iluminava seu rosto na escuridão do quarto, seu irmão sorria de canto, o queixo em uma das mãos e a outra girando uma caneta azul.

—Se continuar comendo tanta pasta de amendoim, seus dentes vão apodrecer e cair -ameaçou o mais velho, e Pidge mostrou a língua à sua imagem.

—Cale a boca -disse, e suspirou- Por que você não vem, mesmo?

Matt de repente lhe pareceu triste. Baixou o olhar, e empurrou os óculos redondos para cima, como sempre fazia quando algo o preocupava.

—O Shiro foi -Pidge continuou- ver o Keith, e tal.

—Katie... -Matt mastigou o lábio inferior, e não ergueu os olhos até se corrigir- Pidge. Eu tenho muito o que estudar, não tive...tempo pra viajar até aí.

O mais novo desviou o rosto da tela, e se esticou para alcançar o vidro de pasta de amendoim sobre a cadeira. Meteu a colher para tirar uma quantidade considerável, e enfiou a coisa na boca deixando grudar seus lábios juntos. Pelo menos assim não precisaria falar tão cedo.

Matt e Shiro viviam a três cidades de distância. Matt concluía seu último semestre de curso após a faculdade (como exibiam orgulhosas as fotografias de sua formatura sobre a lareira na sala de estar) e Shiro já trabalhava, como o exemplo de juventude produtiva que era. Ambos, tendo família morando longe, tiravam qualquer chance de uma folga para visitar. Shiro, em especial, mantinha uma agenda bem organizada de viagens mensais para checar se Keith estava vivendo bem sozinho.

Devia ser difícil, Pidge pensou. Não ter um pai ou mãe por perto.

Perdido, girou a colher na boca com ar distraído para as justificativas de Matt quanto a não ter condições de ir visita-lo. “É claro que eu quero ir ver você e mamãe”, era o que sempre dizia...droga, Matt. Se quisesse tanto assim, tentaria mais.

—Mas -continuou-, eu prometo que arrumo uma folga na semana que vem. Vou te levar pra conhecer meu novo emprego, que tal?

—Eu tenho a prova de admissão na semana que vem -Pidge o cortou, a boca cheia. Matt soltou um “ah”. Tinha esquecido. O menor deixou os ombros caírem, e tirou um copo vazio de cima do livro de química- Enfim, me tira umas dúvidas de estequiometria?

X

Hunk estava jogado no sofá da sala.

Era sempre bom tirar algumas horas para não fazer nada, sempre que visitava a casa da mãe. Ser um aluno de internato era difícil – sentia falta do cheiro de incenso amadeirado e baunilha, das decorações típicas sobre a mechinha do canto e das conversas animadas das tias solteiras que chegavam pontualmente às quatro da tarde para suas aulas de culinária.

Era engraçado. Senhoras aposentadas não deveriam ter mais tempo em mãos do que para frequentar um curso nos finais de semana?

Distraiu-se de entreouvir as risadas no cômodo ao lado para focar na sua conversa com Lance, que nunca desistia de enchê-lo a paciência mesmo que passassem todos os dias juntos.

Captain Frijoles [16:15]: Hunk vc nAO TA ENTENDENDO

Captain Frijoles [16:15]: A foto de perfil do facebook dele eh uma moto

Captain Frijoles [16:15]: UMA MOTO

Captain Frijoles [16:16]: E ELE TEM ESSA CARINHA PERFEITA

Honorary Hunk™ [16:16]: Você tá sendo super gay agora, cara

Captain Frijoles [16:16]: Eu sou bi 24/7 ok

Captain Frijoles [16:16]: Me respeita

Honorary Hunk™ [16:16]: Ok...

Honorary Hunk™ [16:17]: Mas não, sério

Honorary Hunk™ [16:17]: Você tá, como eu digo isso? Crushando forte

Captain Frijoles [16:17]: Eu!!!! Nao to!!!!

Captain Frijoles [16:17]: Eu so fico irritado pq ele com ctz eh tipo

Captain Frijoles [16:18]: Pouco confiante

Captain Frijoles [16:18]: MAS ELE PARECE UM MODELO OLHA ISSO

Captain Frijoles [16:19]: [IMAGEM ENVIADA]

Honorary Hunk™ [16:19]: [IMAGEM RECEBIDA]

Honorary Hunk™ [16:20]: Já é a quinta vez que você me manda essa foto dele

Captain Frijoles [16:20]: Dsclp eh a unica q eu tenho

Captain Frijoles [16:20]: 4:20 BLAZE IT

Hunk permitiu-se rir da negação por parte do amigo. Lance não tinha escrúpulos na hora de flertar com qualquer um que achasse atraente, mas até admitir suas paixões era um longo caminho...

Resolveu dar-lhes tempo. Só precisavam conversar mais, talvez a queimadura fosse lenta – e não precisavam correr, de qualquer forma.

—Keiki! -ouviu a mãe chamar-lhe pelo jeito carinhoso da cozinha- Apareça aqui um minuto, por favor?

—Indo, mãe!

De verdade, “Keiki” não era um apelido seu, apenas a forma havaiana de chamar uma criança. Sua mãe, uma senhora gorda e alta presa firmemente às suas tradições, nunca perdia a chance de manter vivo o dialeto de sua ilha.

Metendo o celular no bolso, afastou a cortina de bambu que separava a sala da cozinha e se deparou com a visão já quase costumeira do pequeno grupo de senhoras de cabelos puxados para cima que colocavam os olhos brilhantes em sua figura logo que entrava. E os murmúrios que se seguiam, e as mãos sobre o rosto e os comentários para sua mãe sobre como estava um menino crescido.

Deu oi para as “tias”, e elas riam com o tratamento tradicional, e foi até a genitora assistir no que precisasse.

—Ajude Coran aqui com a massa folhada -pediu-, vou ensinar as outras a fazer o recheio.

—Sim, Ma. -meneou com a cabeça.

Coran era um dos poucos alunos homens no “curso” de sua mãe. Um senhor que não aparentava ser mais jovem do que quarenta anos, mas que ainda não estava em seu meio século. Tinha, no entanto, alguma energia jovial em si, apesar da teimosia em não ser capaz de fazer as coisas sozinho.

—Ora, eu consigo isto. Não pode ser mais difícil do que derrubar três guaxinins usando uma caneta esferográfica -murmurou, puxando o bigode ruivo, sem nem um pelo branco mesmo considerando sua idade. Hunk riu, paciente.

—Vamos, tio Coran. Não é difícil mesmo, eu ajudo.

Era um dos melhores assistentes da mãe durante as aulas. E sem receber cachê – não precisava, na verdade. Lhe bastava os sorrisos e agradecimentos depois que fazia um trabalho bem feito.

X

Geralmente, Lance ficava sozinho na escola, e essa era uma das vezes.

Enquanto Hunk ia visitar a família em outra cidade, como muitos de seus outros amigos, ele era deixado à mercê do tédio esmagador e monitores irritantes vez ou outra nos corredores da Garrison. Passava os dias jogado na cama, ou estudando para as aulas seguintes. Em condições normais de temperatura e pressão, deixaria tudo para última hora, mas não em um colégio militar de elite.

Vendo Hunk ficar offline no aplicativo de conversa, bloqueou a tela do celular e suspirou, fitando o teto. Resmungou para si mesmo, tão sofrido que teve pena.

Eu quero conversar com o Keith...

Será que ele já tinha acordado? Checou o horário: onze da manhã. E alguns quebrados. Keith podia estar acordado, mas seu celular havia morrido pois não via a bolinha verde ao lado de seu nome no aplicativo. Inclusive, sorriu. Aquele era um nome bobo, embora não mais que o seu, mas aprendera a gostar. E, na verdade, combinava com ele.

Rolou na cama, entediado, e parou de bruços para espiar a porta do armário aberta, sua prancha de surfe o espiando de volta detrás de algumas jaquetas penduradas no cabide. Parecia convidá-lo a fugir para a orla, rapidamente, talvez ninguém sentisse sua falta...

Então, o celular vibrou sobre a cama, e ele o puxou para si com o pé descalço – talento que vinha aprimorando desde que começara a esticar, no sétimo ano. As mensagens vinham de seu grupo de dança livre, o único curso externo que a Garrison o permitira frequentar, mesmo que tivesse de pegar o trem até a cidade vizinha duas vezes por semana.

Allurin’ [11:27]: Turma, não esqueçam do remanejamento das aulas dessa semana. Mudamos os horários devido à dificuldade de alguns alunos com a questão das provas e vestibular...boa sorte a todos, aliás!

Captain Frijoles [11:27]: Aaahh mas eu prefiro aulas de dança :(

Captain Frijoles [11:27]: N podemos remanejar as provas ao inves disso? Rsrsrsrs

Allura era sua professora, e filha do fundador da academia. Sua família era referência no assunto de administração e negócios, e talvez só perdesse para a enorme franquia que era sua inimiga. Isso já era um assunto delicado o bastante para a princesa de toda aquela herança.

Sir Tache the II [11:28]: Acredite, ate tentamos. Mas as escolas nao suspenderiam as provas jamais!

Captain Frijoles [11:28]: Bando de chatos

Virou de lado, e continuou conversando. Coran e Allura talvez fossem pessoas com quem deveria manter pose profissional, sendo seus professores e tudo, mas era natural de Lance ter uma amizade fácil com qualquer um. Principalmente depois que flertara com Allura em seu primeiro dia e fora nocauteado com um golpe marcial, talvez.

Imaginou se Keith gostava de dança. E, com as orelhas um pouco vermelhas, adicionou isso à lista mental de coisas para perguntar a ele assim que tivesse a chance.

X

Keith acordou muito, muito mais cedo do que o normal. Culpava totalmente Shiro, e o coração de manteiga que o impedira de não trazer a bola felpuda de crueldade e mentiras que agora pressionava a pata imunda contra seu rosto às sagradas oito horas da manhã.

Resmungando, afastou o gato de seu peito e foi forçado a encarar aquela carranca logo cedo, e mostrou-lhe a língua como se fosse um grande insulto.

Chutando os lençóis, se pôs de pé muito cambaleante e soltou um bocejo longuíssimo, esfregando os olhos para se acostumar com a luz que entrava pelas persianas para dentro do quarto. Quando andou até a porta, cutucou o bicho que se esfregava em seus tornozelos, a gata que soltou um chiado agressivo e saiu aos pulos em direção à cozinha, indo se acomodar entre os sapatos de Shiro logo na entrada do apartamento.

O mais velho tinha esse hábito de não usar os tênis vindos da rua dentro de casa. E passar o aspirador de pó no chão pelo menos duas vezes sempre que visitava.

—Bom dia, Keith -cumprimentou da bancada, com uma tigela de cereal cheia até a boca.

—Você tinha mesmo que trazer a droga do seu gato? -Keith esqueceu-se dos próprios modos, e foi abrindo a gaveta de cima em busca de uma colher limpa- Bom dia.

—Seja mais gentil com ela, é temperamental.

Keith olhou por cima do ombro para a angorá que o encarava hostil de junto dos sapatos do dono. Fez uma careta, que bem escondeu do “irmão” mais velho.

—E eu não tinha como deixa-la em casa. Fica muito sozinha -franziu a testa, como se uma expressão triste fosse convencer Keith. E ia.

O coreano revirou os olhos, abrindo a porta do armário para procurar algo que o ajudasse a acordar. O cheiro de café recém passado era tentador, mas não estava disposto a adicionar cinco colheres de açúcar ao café letal de Shiro.

—Ei, você comeu o resto de sucrilhos que eu tinha guardado? -virou-se para o mais velho, ofensa na voz. O outro desviou o olhar.

—Não sei do que está falando.

Keith soltou um arquejo, como se Shiro houvesse cometido a maior das atrocidades.

—Você é o pior.

—Eu visito uma vez por mês, tenho ao menos algum direito. -e bebericou de sua caneca, branca e simples, escrita “Paizão” com caneta permanente. Um presente antigo, e feito em casa por um Keith de uns catorze anos de idade.

Enquanto isso o mais novo pegou o leite da geladeira, uma tigela, e encheu-a até a metade. Mantendo desafiador contato visual com Shiro, afundou a colher, levou até a boca, e bebeu. Shiro negou com a cabeça.

—Keith Kogane, você é um animal.

—Takashi Shirogane, você é um criminoso.

Depois da terceira colherada triste de leite por parte de Keith, o mais velho apiedou-se e cedeu para seu lado pelo menos um terço de seu cereal puro, e o coreano sorriu vitorioso, metendo na boca uma colherada generosa e mastigando alto.

—Então -engoliu antes de continuar- Como vai o trabalho?

A conversa era banal e pacata, mas nada melhor para a dupla que raramente se via. Mesmo que entediantes, eram preciosos esses pequenos momentos que tinham para agir como família, no clima mais doméstico o possível, sem interrupções irritantes ou a distância de uma tela.

—...e foi aí que eu disse, chega. Por pouco não me despediram por isso, mas, nossa. -Shiro ria ao contar o pequeno caso- Eu explodi com o técnico.

—Pobre Slav -Keith negou com a cabeça- Considerando o seu tamanho, acho que ele realmente achou que fosse morrer...

Teve o ritmo da frase interrompido pelo celular vibrando sobre a bancada uma última vez antes de morrer completamente. Esquecera de carregar o pobre coitado na noite passada, principalmente indo buscar Shiro na estação de trem em plena madrugada.

—Mensagem importante? -perguntou o mais velho, levantando-se para recolher a louça suja do café e mantendo os olhos sobre Keith.

—Acho que não -respondeu- Provavelmente é só Lance.

Percebeu o erro assim que terminou a frase. Olhou para cima, e viu a sobrancelha de Shiro se erguer, só uma, como fazia quando sentia algo de suspeito em seu comportamento.

Imediatamente sentiu o rosto arder, e de repente estava muito bem acordado.

—Não é nada -apressou-se em dizer- Ele costuma me dar bom dia porque...acorda cedo. Tem escola. Acabou virando nossa coisa e...ah.

Conseguira se embaraçar mais ainda. Shiro deu os ombros e virou de costas para si, começando a lavar a louça com uma esponja em formato de estrela.

—Não precisa explicar isso pra mim, Keith. Sei bem como é namorar no ensino médio.

Keith soltou um ganido que não foi humano. Enquanto tentava inutilmente tecer protestos sobre como Lance não era seu namorado e provavelmente nunca seria, Shiro riu sacudindo os ombros, e ele percebeu, se sentindo um pouco ridículo, que ele havia dito aquilo apenas para o irritar.

—Não precisa perder a compostura. Não vou ser chato quando estiverem juntos de verdade -e sorriu sobre o ombro, fazendo Keith emburrar-se e desviar o olhar de si.

O quão chato fosse, e mesmo gastando de si, Keith tinha de admitir; era boa a companhia de uma figura fraterna de vez em quando. E ele sentia falta.

—Você não negou -sua voz tornara-se traquinas, e o sorriso, mais largo.

—SHIRO!

—Brincando, estou brincando!

As risadas não o ajudaram a se desviar do pano de prato que voou em direção ao rosto. E talvez isso tenha começado a briga de água na cozinha.

Um dia normal em casa quando Shiro estava presente...e Keith não o trocaria por nada.


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Notas finais do capítulo

achei o final meio tipo pombo, mas juro que tentei 3 mereço reviews?