Waves escrita por march dammes


Capítulo 20
Nostalgia


Notas iniciais do capítulo

cERTO. então.
se você é o tipo de pessoa que lê o capítulo novo imediatamente depois de postado, você deve estar meio confuso. pois bem, vou explicar de uma forma curta e direta: eu apaguei o último capítulo que postei, simplesmente porque não o achei bom o bastante. o dito cujo, chamado "Aquarium", foi escrito meio à força e já tinha sido planejado há MUITO tempo, e eu simplesmente não achei que interpretei minha própria ideia de um jeito satisfatório...e é isso.
os acontecimentos do capítulo excluído devem ser, então, desconsiderados - mas não se preocupem! eu vou reescreve-lo.

por ora, trago um filler diretamente ligado ao último capítulo de acordo com o canon, o tal "Give Yourself a Try"...agradeço pela fidelidade de todos e peço desculpas pela demora. minha vida tem estado...bem difícil.
enfim, me prolonguei demais aqui. bora ler?



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Keith não esperava voluntariamente lembrar-se dos acontecimentos da noite passada, o que não impedia que algo o lembrasse.

Por mais que o álcool houvesse cumprido seu papel, as memórias estavam muito bem registradas em fotos, mais especificamente, no rolo da câmera do celular de Lance.

Keith foi acordado pela vibração insistente da maquininha ao lado de seu rosto, e a eminência de um acidente (que talvez envolvesse o aparelho entrando em contato direto com a parede de seu quarto) foi o bastante para acordá-lo, quando abriu os olhos e percebeu que o celular vibrava em sua mão direita, fechada em punho e erguida no ar, preparando um lance digno das Olimpíadas.

Grunhiu e deixou o braço cair sobre a cama macia, embora seu travesseiro lhe parecesse feio de concreto – Droga, o que tinha acontecido com sua cabeça?

Keith virou-se na cama e choramingou de dor, reconhecendo a amargura de uma ressaca. Mantendo os olhos fechados e torcendo por mais algumas horas antes que o sol o forçasse a levantar da cama, desbloqueou a tela do celular, constatando que a vibração não era, portanto, de uma chamada.

Surpreendeu-se ao verificar que recebera mais de vinte mensagens na última meia hora.

Em qualquer situação em condições normais de temperatura e pressão, Keith teria bloqueado o sujeito e voltado a dormir – mas as mensagens eram de Lance. Isso já era suficiente para seu subconsciente instantânea e estupidamente abrir o chat, visualizando a corrente, e agora não tinha mais para onde fugir.

Keith demorou dois, talvez três segundos para entender o que estava acontecendo. E quando entendeu, o rubor discretamente espalhando-se por suas faces acordou-o de qualquer jeito.

A longa sequência de mensagens era composta de não textos, mas imagens, mais especificamente, fotos da noite passada. Fotos dele. Fotos de Lance. Fotos dele e de Lance.

Rangeu os dentes, sentindo a dor de cabeça cutucar a vergonha alheia – que se tornava mais insuportável por ser um embaraço alheio de si mesmo, mas um si mesmo de doze horas atrás. De quem, afinal, havia sido a brilhante ideia de tirar aquelas fotos?

(Certificou-se, então, que ele mesmo segurava o celular na maior parte das fotos. Certo. Nota para si mesmo: nunca mais beber.)

Não havia nada particularmente incriminatório quanto ao conteúdo das fotos, no entanto – salvo uma ou duas imagens que exibiam um Keith risonho e embriagado recebendo um beijo na bochecha de um Lance igualmente ruborizado, a esmagadora maioria das fotos que os dois haviam tirado na noite passada continha o intuito de perturbar a noite do colega de quarto de Lance. Fotos dos dois fazendo caretas em direção à câmera, imitando os trejeitos um do outro, virando copos de cerveja, segurando microfones, rindo ao pegar o outro de surpresa...nada particularmente incriminatório, de fato.

Keith não se viu, então, tentado a apagar nenhuma das fotos. Se limitou a rolar a tela até o final das mensagens, que terminavam com um texto de “Bom dia. Minha cabeça está me matando. E quanto a você?”. O coreano sorriu, e, antes mesmo que respondesse, foi surpreendido por mais uma foto saltando do canto inferior da tela, tendo sido enviada na mesma hora que ele abrira a conversa.

Era uma foto de Lance, apenas Lance. Provavelmente tirada entre as cobertas em seu dormitório, trazia um latino acabado, desalinhado, com olheiras escuras que contrastavam com sua pele beijada pelo sol – e, ainda assim, um sorriso bobo nos lábios. Deus, Keith queria beijar aqueles lábios.

Abriu a câmera com dois toques no botão central do celular, e endireitou um pouco a postura. Pretendia responder ao outro da mesma forma, mas ao que seus olhos encontraram seu reflexo destroçado e exausto, desistiu e voltou ao chat. Certo, sem fotos. E talvez devesse evitar olhar para o espelho quando usasse o banheiro naquela manhã.

Decidiu apenas responder com um texto.

S4D_B0Y_2001 [10:12]: Aposto um refrigerante que acordei pior do que você.

S4D_B0Y_2001 [10:12]: Bom dia. :)

Captain Frijoles [10:13]: Aaah, mas n acordou pior MESMO... Vc ta ate usando emojis!

S4D_B0Y_2001 [10:13]: Não subestime minhas habilidades teatrais.

Captain Frijoles [10:13]: Quer dizer entao q seus emojis sao tudo atuaçao?

S4D_B0Y_2001 [10:14]: É o showbiz, baby.

Keith riu para si mesmo quando uma série de rostinhos tristes saltaram na tela, chorando copiosamente suas lágrimas de pixels. Lance era tão dramático.

Digitou uma resposta rápida, alegando que provavelmente usaria o dia todo para se recuperar de sua noite de alto teor alcoólico, talvez com mais álcool. A ideia fez Lance rir, divertido, lamentando que precisaria da ajuda de Hunk e seus chás mágicos para se recuperar antes do prazo de entrega de seu relatório para a aula de físico-química. Keith respondeu com suas mais sinceras condolências, e cogitou voltar a dormir.

Deixou o celular de lado e cobriu-se até o pescoço, fechando os olhos pesados e enterrando a cabeça no travesseiro da forma mais confortável que conseguia. Talvez se tivesse mais algumas horas de sono e tomasse uma aspirina no café da manhã se recuperasse logo, e poderia passar o dia lustrando sua motocicleta para o próximo encontro com Lance, talvez fosse uma boa ideia limpar o interior do tanque também...

...Não teve tempo de completar o raciocínio. Seu torpor era cruelmente interrompido pela porta do quarto se abrindo, e, logo depois, um feixe de luz acertando-o diretamente no canto esquerdo da córnea quando alguém abriu as cortinas em um movimento brusco.

—Acorde, margarida -a voz de Shiro era irritante até quando não conseguia ver seu sorriso- É um dia lindo lá fora. E não há nada melhor para curar uma dor de cabeça do que uma longa caminhada.

Keith viu nesta situação uma necessidade enorme de cometer seppuku. Jogou os braços por cima do rosto e reclamou, alto e initeligível. Shiro argumentou lhe informando a hora e o mais novo lhe apontou o dedo médio. Sentiu as cobertas serem arrancadas de si, e se sentou imediatamente na cama, ignorando a tontura ao fazê-lo.

—Ei!

—Nada de “ei”. Hora de levantar! -Keith continuou a resmungar, chutando as roupas sujas sobre a cama, e Shiro cruzou os braços- Eu fiz café.

Uma pausa.

—E comprei mel pra você.

Keith lentamente jogou as pernas sobre a beirada do colchão e o encarou por alguns minutos, então se espreguiçou. Shiro riu baixo e se virou para sair, enquanto seu protegido se firmava sobre os próprios pés, sentindo uma dor aguda nos ombros e alguma náusea.

Às vezes, Keith esquecia o quão teimoso Shiro poderia ser, em especial quando se tratava de seu bem-estar. Ele era naturalmente um cara responsável, até superprotetor – mas superava qualquer irmão mais velho biológico que Keith poderia ter no quesito insistência.

Embora recusasse a caminhada, o mais novo aceitou o café, assistindo enquanto Shiro passava um pano molhado no chão da cozinha, o pobre obcecado por limpeza.

Keith não conseguia imaginar como seria sua vida se constantemente se preocupasse com a organização de seu espaço. Certamente miserável. Alexa, toque Despacito.

Shiro ficou até um pouco depois do almoço. Depois de tirar a poeira de sua bancada e jogar algumas roupas espalhadas pelo chão no cesto destinado à lavanderia, o mais velho sentou-se com ele para um delicioso prato rico em nutrientes, que era obviamente lasanha congelada. Keith riu quando cada garfada era um sacrifício para o estômago de Shiro.

—Pensei que você estava acostumado a comida congelada, Sr. Universitário -provocou.

—E estou -Shiro franziu o nariz- Mas nunca me arriscaria com massa. -inspecionou o prato mais de perto- Geralmente nos conformávamos com cream cracker e maionese.

—Você e Adam?

Shiro sorriu.

—Não force.

Após a refeição, o mais velho partiu da mesma forma que chegara. Keith rapidamente viu-se sozinho em seu apartamento, o que significava paz, mas também o silêncio. Sentindo-se estranhamente sozinho naquele domingo à tarde, decidiu distrair a cabeça com as coisas que gostava.

Pegou suas chaves e desceu para a garagem.

X

O resto da semana de Keith discorreu normalmente. Entre a troca de mensagens com Lance e Pidge, que era de praxe, ocupou seus pensamentos e seu coração inquieto com o trabalho na oficina, entregas de última hora e algumas melhorias em sua “fiel escudeira”. Decidiu adicionar à sua motocicleta um banco de carona mais confortável, visto que vinha tendo companhia na maior parte de suas últimas viagens.

Era uma pequena mudança, mas já era o suficiente para sentir uma pontinha de entusiasmo.

Ao decorrer da semana, marcou mais um encontro com Lance, sendo este o quarto. Ignorando blatantemente o que Shiro dissera anteriormente sobre relacionamentos depois do terceiro encontro (as coisas ficariam “sérias”), parabenizou o latino quando este relatou que seu padrinho havia lhe mandado de presente duas entradas para o Aquário Marinho municipal – mais um local turístico que Keith nunca havia visitado –, que oferecia um desconto no próximo mês. Um para si, e outro para “uma acompanhante, de preferência, bonita”.

Decidiram ir juntos em duas semanas, por fim, para desgosto de Keith e sua irremediável saudade.

Se conformaria a esperar, no entanto. Não era culpa de Lance que suas malditas folgas nunca coincidiam com as dele...e, de qualquer forma, seu sorriso faria a espera valer a pena.

Por sorte, o aquário era o único lugar com grandes quantidades de água e vida marinha onde Keith conseguia se sentir confortável – especialmente, porque toda a água e a vida marinha estavam por trás de um vidro.

Captain Frijoles [19:42]: Vou tentar pegar um taxi pro aquario, entao, e a gente se encontra la

S4D_B0Y_2001 [19:42]: Ok.

S4D_B0Y_2001 [19:43]: Te vejo lá. :)

Captain Frijoles [19:44]:

X

A cacofonia das ruas de sua cidade nunca havia sido tão insuportável.

Torcia as mãos e procurava estabilidade sobre as próprias pernas enquanto fitava o pavimento, alternando olhares ladinos sobre os trausentes com expressões aparentemente despreocupadas, e a resistência do tempo a passar mais rápido nunca o incomodara tanto.

Checou a tela do celular pela vigésima vez naquele mesmo minuto. Não estava atrasado ou adiantado. Não havia recebido nenhuma mensagem relatando algum imprevisto. O clima estava perfeito. Então, por quê...?

—Shiro.

Sobressaltou-se com a inesperada presença de uma voz familiar chamando seu nome a alguns passos de distância. Virou-se para olhar – e sua expressão imediatamente se suavizou.

—Tive medo de que não viesse.

O sorriso de Adam Wright continuava lindo.

—Me sentiria culpado se o fizesse -Shiro respondeu, desajeitadamente erguendo seu braço prostético para afagar a nuca em um gesto desligado, que denunciava um velho cacoete dos tempos do colégio. Percebeu os olhos amendoados de Adam acompanharem o movimento, algo estranho reluzindo no fundo destes. Talvez...mágoa?

Fosse o que fosse, desapareceu rapidamente. O professor (Senhor Wright não soava, afinal, nada mal para ele) abriu um pequeno sorriso, cheio de nostalgia e sentimentos esquecidos num canto qualquer de um armário.

—Vamos?

Por hábito, Shiro quase lhe ofereceu o braço. Decidiu assegurar as mãos nos bolsos e devolveu o sorriso, meneando com a cabeça.

—Vamos.

A cidade em que Shiro decidira viver e trabalhar diferia de sua cidade natal em muitos aspectos, mas principalmente no tamanho – uma das primeiras coisas comentadas por Adam, de fato, que se viu então sendo questionado pelo outro sobre o motivo de estar de mudança para a “cidade grande”.

Acontecia que a Garrison havia entrado em contato com seu condecorado formando, verbalizando uma necessidade de monitores experientes para treinar a próxima geração de cadetes. Estando no segundo período de seu mestrado em Astrofísica, foram tomadas pela academia todas as providências para que pudesse transferir sua matrícula para um campus mais próximo, onde teria a oportunidade de terminar seus estudos e uma vaga garantida como ensinador na Galaxy Garrison, dando um fim definitivo à sua carreira de piloto.

—Um piloto de aeronave militar aposentado como professor? -Shiro divertiu-se com a ideia, esboçando um sorriso- As crianças vão ficar alucinadas.

—E você poderia estar na mesma situação -Adam provocou, acertando-o de leve com o cotovelo. Também sorria, mas seus olhos pareciam tristes.

Shiro comprimiu os lábios. Então ele ainda guarda rancor daquela época, huh...

E, ainda assim, isso não o impedira de querer encontra-lo mais uma vez.

Decidiram, de passagem em uma boa lanchonete para pegar um café, que a melhor forma de degustar por completo toda a nostalgia do reencontro era visitando o Planetário local. A instituição sofrendo certa decadência diante dos avanços tecnológicos dos últimos anos, seus sistemas solares de plástico e exibições em holograma se tornando obsoletas, e talvez fecharia logo – uma oportunidade perfeita para dois velhos saudosos fazerem alusões às excursões e trabalhos de campo dos quais haviam feito parte juntos durante os anos de ouro.

E, realmente, essa era a melhor situação em que os dois poderiam estar – Shiro admitiria, apenas para si mesmo, que talvez fosse mais um trintão nostálgico do que pensava. Os projetos expostos e as apresentações audociosas com luzes trouxeram lembranças do Ensino Médio, memórias sorrateiras de uma sala de teto abobadado e completamente escura, de uma representação em holograma da nossa galáxia deixando todos boquiabertos, tão maravilhados com as cores e luzes dançantes contra o teto que sequer percebiam as mãos dadas de dois jovens secreta e silenciosamente aproveitando o calor um do outro na sala escura.

Apesar de agridoces, tais memórias não falhavam em lhe colocar um sorriso no rosto...e, quando espiava a expressão de Adam pelo canto dos olhos, se permitia concluir que o outro pensava sobre a mesma coisa.

Shiro não queria apressar-se. Não queria desrespeitar o ritmo dos sentimentos que desabrochavam em Adam depois daquele inesperado reencontro, não procurava tirar satisfações com o homem que uma vez o amara, e definitivamente não desejava reencenar a discussão que resultara em um término brusco alguns anos atrás.

Não...Shiro não esperava que voltassem, nem que agissem como se nada houvesse acontecido. Também não suportaria caso o outro decidisse se esquivar de uma conversa sincera que talvez deixasse tudo mais claro entre os dois, mas não achava que Adam fosse capaz de fazer isso. Esperava que não o fizesse.

Shiro estava disposto a esperar. Esperar por Adam, esperar por sua decisão, pois ele mesmo ainda não tinha se resolvido com a sua própria – todas as certezas eram meras suposições, e ele não se daria por vencido, não se conformaria com uma imagem idealizada de alguém que ele não via há tanto tempo.

Estava disposto a esperar. E estava disposto a oferecer mais uma vez seu coração aos cuidados de Adam, caso ele o aceitasse.

Porque o amava.

Ainda o amava.


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Notas finais do capítulo

eu sei que esse site ta morrendo mas eu ainda insisto em postar aqui........... oioioioi



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