Sacrifício escrita por Mrs Moon


Capítulo 19
Lágrimas derramadas


Notas iniciais do capítulo

Voltando com um novo capítulo. Esse tem um pouquinho de tudo e admito que derramei algumas lágrimas escrevendo ele. Espero que gostem.



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O quarto de Melissa na casa dos Stuart era muito aconchegante, porém um tanto singular. Joshua e Mary Stuart eram um casal de intelectuais,  ele lecionava literatura no colégio e ela era professora de pré escola. Por isso, ao decorar  o quarto para o futuro filho, eles optaram por um visual neutro com tons de amarelo e verde, evitando o azul e o rosa. 

Quando decidiram adotar uma criança não tinham uma preferência por sexo e idade. Escolheram Melissa depois de ler seu arquivo, ambos ficaram entusiasmados em criar uma “menina gênio” e sentiram pena dela por ter sido devolvida outras vezes. Acreditavam que conseguiriam dar uma boa vida para a orfã. 

Mel já não tinha tanta certeza assim, principalmente durante a noite quando ficava sozinha no quarto. De dia, ela ia para a escola e  passava o tempo na biblioteca da casa que realmente era legal. Quando Joshua chegava do trabalho, ele ficava estudando e ela era obrigada a ficar no quarto ou assistindo televisão com Mary. 

A mãe adotiva era legal, mas muito grudenta e adorava ver filmes e séries românticas. Então, Melissa preferia se refugiar no quarto depois do jantar. Porém a cada dia ficava mais entediada. Além dos livros de colorir que ela não via graça, só tinha alguns contos de fada, bola, jogos educativos e duas bonecas. Ela gostava de brincar de boneca, mas elas não tinham longos cabelos para pentear como as crianças do orfanato. 

Deitada no escuro apertando sua garça de pelúcia ela murmurou:

— Passarinho, a sra. Mason e Jenny estão erradas. - ela sentiu um calor ao apertar o velho brinquedo. - Aqui não é melhor que a Casa Verde. 

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Vinte e cinco dias depois do casamento, Kimberly se mudou  definitivamente para a sua casa na Alameda dos Anjos. Ao invés de aproveitar as férias em Nova York, ela voltou para a Flórida para finalizar seus compromissos e trazer a sua mudança. Os últimos dias foram exaustivos, mas estava feliz.  

— Cansada querida? - indagou Carol, ajudando-a com as malas na porta.

Quando Kimberly contou à mãe que ficaria na Alameda, Carol adiou seu retorno a Nova York para ajudá-la com a mudança. Graças a isso, Kimberly achou a casa limpa e a geladeira lotada no seu primeiro dia de sua nova vida.

— Muito, mais aliviada que a mudança acabou - disse jogando-se no sofá. 

— Você precisa fazer compras querida - comentou Carol olhando para as três malas que a filha trouxe da Flórida. - Você tem pouca coisa. 

— Bobagem… - murmurou Kimberly. - Estou faminta, vamos pedir pizza?

— Já pedi quando ligou do aeroporto - pegou uma das malas para levar para  o quarto. - Todas são de roupa?

— A branca fica aqui embaixo - Kim ergueu os olhos do sofá mostrando a mala. - Aí estão as coisas do apartamento, espero que não tenha quebrado nada. 

— Ok! - disse a mãe já do meio da escada. Kimberly suspirou e se levantou do sofá pegando a outra mala e levando-a para o novo quarto. 

Antes de voltar para a Flórida, ela escolheu uma grande cama com uma cabeceira branca trabalhada, uma penteadeira e um baú para o quarto novo.  Ainda faltavam alguns móveis, mas já era mais aconchegante que seu quarto na Flórida. 

— Podíamos deixar isso para amanhã - reclamou Kim abrindo uma das malas em cima da cama.

— Imagina, em uma hora já colocamos tudo no lugar, seu closet é gigante- comentou Carol levando uma pilha de roupas para lá.  - Amanhã vamos fazer compras. 

— Mamãe! - reclamou Kimberly colocando a outra mala sobre a cama.

— Kimberly, você precisa de roupa de cama, pratos, copos, uma cortina, uma mesa e algumas roupas novas não seria má ideia- comentou olhando os uniformes do ginásio da filha. 

— Não preciso de tanta coisa - resmungou Kimberly colocando alguns objetos sobre a penteadeira. 

— Precisa sim, você tem três pares de sapatos! - exclamou Carol visivelmente horrorizada.  

— Eu deixei muita coisa na Flórida, Susan vai doar para mim - justificou-se Kimberly. 

— Mais um motivo para comprar novos e eu vou embora no domingo.

A  campainha tocou interrompendo a conversa das duas, Kimberly deixou a mala e desceu:

— A pizza chegou, eu vou pegar. 

Carol terminou de esvaziar a mala e levou a mais coisa para o closet, então, foi até a cama e começou a trabalhar na outra mala. Kimberly no andar de baixo pagou o entregador e levou a pizza para a cozinha:

— Mãe, chegou! - gritou abrindo a caixa e sentindo o cheiro do queijo. Abriu os armários e viu que realmente não tinha pratos e resmungou baixinho. - Ela está certa… 

Achou alguns copos descartáveis,  pegou refrigerante e água da geladeira e colocou sobre a mesa. Viu que a mãe ainda não tinha descido e chamou:

— Mãe! - revirou os olhos e subiu as escadas para procurar a mãe. Chegando no quarto ela continuou. - Vamos comer!

Kimberly parou atordoada, Carol estava parada ao lado da mala olhando para o chão. Assustada com a expressão da mãe, ela chegou mais perto e viu sua caixinha no chão, as cartas e as fotos espalhadas no chão. Deixou um soluço de medo escapar e instintivamente se abaixou e encontrou o sapatinho rosa. Pegou-o rapidamente e apertou-o contra o peito. 

— Estava arrumando a mala e caiu… - justificou-se Carol ao ver a filha pálida, ajoelhada com o sapatinho na mão. 

Kimberly continuou quieta, apertou com força o sapato entre suas mãos, pegou a caixa e começou a colocar as cartas e fotos dentro dela novamente com cuidado. 

— Filha.

— É a única coisa que eu tenho dela - Kimberly levantou os olhos molhados para a mãe. Acariciou o sapatinho com a ponta dos dedos enquanto uma lágrima escorreu de seu rosto. Era a primeira vez que deixava que alguém a visse chorar. 

— Oh, querida! - murmurou Carol abraçando a filha consternada.

Deixando a sua armadura rachar, Kimberly deixou as lágrimas caírem soluçando alto nos braços da mãe. Agora, todas as emoções que reprimiu durante todos aqueles anos vinham à tona.  Carol segurou a filha, embalando-a e chorando com ela. Sabia que esse dia chegaria e sofria com o desespero da moça.

— Eu sinto tanta falta dela… - murmurou entre as lágrimas. Em sua agonia, ela sentia saudades da filha que nunca a chamaria de mãe. Saber que ela estava mais segura longe dela não apagava a sua dor. 

— Todas as meninas que eu via podiam ser ela… - colocando as mãos no rosto em desespero ela continuou. - Eu precisava sair de lá. 

— Por isso você aceitou voltar?

— Eu não podia mais… - soluçou Kimberly. - Eu sei que ela está melhor longe de mim, mas eu a queria tanto. 

— Por quê filha? 

— Eu não posso falar mamãe… eu prometi. - apesar da dor, ela não podia quebrar a promessa que fizera a Zordon quando aceitou se tornar a ranger rosa. 

— Tudo bem… - Carol abraçou a filha, beijando sua cabeça. - Eu acredito em você querida, algum dia voltaremos a vê-la Kimberly. O mundo parece grande… mas no fundo é pequeno. Tão pequeno 

— Será? - Kimberly enxugou as lágrimas com a mão e cometou amargurada. - Ela vai me odiar!

— Não pense assim… - tentou consolar a filha. - Mas para ela você vai ter que contar o seu segredo. 

Kimberly balançou a cabeça concordando, se algum dia voltasse a ver a filha, ela merecia conhecer a verdade. 

— Espere! - o rosto de Carol se iluminou e ela sorriu e deixou a filha sozinha no quarto com a expressão assustada. Ela voltou logo em seguida com a bolsa nas mãos.

— Eu nunca te mostrei - abrindo a bolsa ela pegou a carteira e pegou uma foto nas mãos. - Eu achei que você não queria nenhuma lembrança… mas agora eu sei que você quer. 

Vendo a expressão triste da filha, ela lhe estendeu uma foto antiga e gasta. Kimberly pegou em suas mãos e novas lágrimas brotaram de seus olhos. 

— Eu não resisti e a fotografei no berçário - a voz saiu estrangulada pelas lágrimas. - Eu queria uma lembrança da minha netinha. 

Sem palavras, Kimberly olhou avidamente a foto da filha no berço da maternidade, com a sua roupinha rosa dormindo tranquilamente. A foto reavivando as memórias do único dia em que viu a filha. 

— Posso ficar com ela?

— Claro… - Carol respondeu prontamente. - Eu tenho mais duas iguais em casa, essa eu carrego comigo. Agora é sua querida.

— Obrigada mamãe! 

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Tommy estacionou apressado em frente ao ginásio, olhou para o relógio e pulou do carro notando que estava trinta minutos atrasado para a reunião. Entrou correndo para encontrar os amigos. 

Jason e Trini acabaram de voltar da lua de mel e convocaram uma reunião com os sócios e Tommy estava atrasado para variar.  Ao contrário dos amigos, Tommy morava em Reefside, a cidade vizinha da Alameda e ainda ia para faculdade dois dias por semana. Em mais alguns meses, ele  defenderia sua tese e se tornaria um doutor em Paleontologia. 

— Desculpe pessoal, peguei um congestionamento no caminho - ofegou Tommy, ao chegar no escritório onde seria a reunião. 

— Sem problemas irmão - respondeu Jason apertando a mão de Tommy. 

Recuperando o fôlego, Tommy olhou para a sala e viu uma pilha de papéis sobre a mesa e Trini e Kimberly olhando para eles. Não conseguiu se conter e encarou a antiga namorada, Kim estava com os cabelos presos em um rabo de cavalo, grandes brincos de argola e um suéter rosa claro sobre uma calça legging branca. Ela estava linda, a moça sentiu o olhar dele e corou sorrindo.

— Que bom que chegou - disse Trini, olhando para a interação dos amigos. - Vamos começar!

— Claro - ele se sentou ao lado de Jason. 

— Está quase tudo pronto - Trini continuou. - Só falta contratarmos uma recepcionista e decidir o que fazer com a piscina. 

— Os equipamentos de ginástica já chegaram? - perguntou Tommy interessado.

— Chegaram ontem no final da tarde - Kimberly sorriu animada. - Vou poder fazer a seleção de uma assistente, já entrei em contato com as outras escolas de ginástica da cidade. 

— Por quê? - perguntou Jason meio confuso. 

— Preciso de uma ginasta de bom nível para fazer as demonstrações. Eu não posso fazer mais isso. 

— Então não vamos mais te ver nos aparelhos? - perguntou Tommy um pouco surpreso. 

— Só nas horas de folga - Kimberly sorriu. - Nos treinos, eu preciso estar atenta às alunas. 

— Voltando pessoal! - cortou Trini. - Precisamos decidir sobre a piscina. Vamos mantê-la fechada ou contratar um professor.

— Já estamos sem dinheiro - disse Tommy. 

— Isso é verdade, mas é um desperdício uma piscina tão grande fechada. - disse Jason. - Uma pena que nenhum dos nossos amigos quis assumir as aulas. 

— A melhor nadadora é a Kat - concluiu Tommy. - Mas ela não tem planos de voltar para o país. 

— Pessoal, não podemos fechar a piscina. Todo mundo precisa aprender a nadar. - disse Kimberly animadamente pegando uma caneta na mesa. - Se colocarmos um anúncio vamos encontrar um bom professor. Mesmo não sendo ranger.

Jason e Trini riram com o comentário da amiga, Tommy enrugou um pouco a testa contrariado. Por ele só teriam conhecidos no ginásio. 

— Ok, então amanhã vamos colocar os anúncios procurando funcionários e segunda-feira começamos a seleção.

— Eu tenho aula segunda - queixou-se Tommy.

— Não se preocupe - interveio Kimberly, apertando o braço de Tommy. - Trini e eu ficamos responsáveis pelas contratações. 

— Vocês não queriam mesmo a nossa ajuda  né? - Tommy disse contente com a volta da antiga intimidade com Kimberly. 

— Não mesmo - Trini riu. - Nós só queríamos que vocês estivessem de acordo. Mas vocês podem entregar os anúncios aos jornais. 

— Sim, senhora! - Jason disse beijando a mão da esposa. 

Tommy e Kimberly trocaram olhares vendo o casal e sorriram pelos amigos. 

— Então já acabou a reunião? - perguntou Tommy. 

— Não - Jason disse sério para os amigos. - Temos uma novidade que queremos contar para vocês dois juntos. Disse se levantando e passando os braços em volta da esposa. 

— Qual novidade? - perguntou Kimberly curiosa. 

— Nós vamos ter um bebê - disse  Trini com um grande sorriso no rosto. 

Kimberly ficou livida de surpresa. 

— Mas já? - murmurou confusa.

— Que legal pessoal! - Tommy se levantou e abraçou Trini e apertou as mãos de Jason. - Parabéns irmão. 

Kimberly notou a diferença da sua reação com a de Tommy e forçou um sorriso nos lábios e abraçou a amiga. 

— De quanto tempo está? - perguntou sem pensar. 

— Estou de oito semanas - respondeu Trini colocando as mãos na barriga. - Eu parei de tomar pílula quinze dias antes do casamento. Queríamos um bebê logo. 

— O primeiro bebê ranger - Tommy estava muito animado. - Precisamos comemorar! Jantar por minha conta! 

Kimberly sentiu seu coração se despedaçar ao ver a animação do antigo namorado. Manteve o sorriso forçado nos lábios a noite toda e imaginou o quanto Tommy teria ficado feliz com a filha nos braços e o quanto a odiaria quando soubesse que o primeiro bebê ranger da Terra já tinha nascido e era sua filha. 


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Notas finais do capítulo

Mais um capítulo finalizado. Ficou grande, mas tem um pouquinho de tudo. Parece que vocês comentavam mais quando eu lançava um capítulo por ano, talvez a história esteja muito longa. Mas estou adiantando as coisas.
Prometo o próximo capítulo ainda esse mês e só acho que os fãs do casal vão gostar e a Melissa também vai aparecer viu.



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