Draco Malfoy POV ON

Desde a batalha em Hogwarts passei a ser um fugitivo, não só eu, mas meus pais também. Alguns partidários de Voldemort continuaram unidos caçando os que haviam "traído" o Lord das Trevas. Fugimos durantes os meses em que Hogwarts estava em reforma, todo dia estávamos em um lugar diferente. Meus pais desconsideraram a ideia de voltar para Hogwarts várias vezes, porém, perceberam que seria mais seguro se eu estivesse aqui. Boa parte da minha arrogância se perdeu no dia da batalha, quando Potter e seus amiguinhos me salvaram na sala precisa, mas, uma boa parte do Malfoy ignorante ainda mora em mim.

Tive vários pesadelos durante esses meses, na maioria deles, eu morria, mas houve alguns em que meus pais estavam em apuros e eu tentava frustradamente salvá-los. Acordei aos gritos várias noites, fazendo com que minha mãe passasse o resto da noite a afagar meus cabelos para que eu pudesse me acalmar, nunca pensei que chegaria a esse ponto, mas parece que essa explosão era inevitável.

Ao voltar para Hogwarts fui recebido com carinho por meus amigos, o que me deu certo conforto e confiança. Pansy ainda está apaixonada por mim, o que não é novidade, ela não desiste mesmo quando digo que não pode acontecer nada entre nós.

O Trio de Ouro (como ficaram conhecidos) também retornou, obviamente, recebendo todas as honras por terem derrotado Voldemort, de certa forma, os agradeço por isso, eu nunca conseguiria viver sendo um comensal, nunca quis isso pra mim.

***

— Draco, preciso de ajuda com o dever de poções - Pansy pediu durante o almoço.

— Acontece que tenho um compromisso, Pansy - respondi tentando me esquivar dessa tarefa.

— Eu juro que não vai demorar - ela pediu quase que suplicante- Por favor, Draco - ela seria capaz de beijar meus pés em troca desse favor.

— Tudo bem, eu te ajudo - eu disse revirando os olhos e ela abriu um largo sorriso.

Durante o almoço pude perceber que Granger estava, de certa forma, solitária. A ruiva Weasley nem olhará para a amiga, parecia estar com raiva ou algo do gênero, bem diferente da Weasley que costuma dar altas gargalhadas com Granger. Hermione estava com a cabeça baixa e remexendo em seu prato com o garfo, e eu fico me perguntando porque diabos ela se afundou nessa imensa tristeza só porque o namorado esqueceu que eles namoram.

Depois de Granger ter me dado um tapa moral (o melhor termo que pude encontrar para definir a situação), comecei a vê-la com "outros olhos nem tão diferentes", ela continua sendo uma sabe-tudo irritante, mas me fez perceber que o sangue dela não é tão imundo se comparado a marca que carrego em meu braço. Ela com certeza é mais digna que eu, e gostaria de alguma forma reparar os erros do passado, por esse motivo havia convidado ela para voar novamente.

Após o almoço, fui para a torre da Sonserina pegar os materiais necessários para ajudar Pansy, que estava grudada em mim para que segundo ela "eu não fugisse", como se eu tivesse essa opção. Fiquei revirando o malão por uns dois minutos, procurando os materiais no meio daquela bagunça toda, até que os achei e Pansy me arrastou para a biblioteca. Chegamos e nos sentamos em uma das últimas mesas, para que fosse mais tranquilo e conseguíssemos terminar logo. Começamos a fazer o dever dela, porém, parece que ela enrolava de propósito, demorava vários minutos para entender o que eu dizia, e eu sei muito bem que ela entendia de poções. Decidi que não iria me alterar com Pansy, afinal, eu tinha aceitado me prestar a esse papel ridículo.

— Bom, acho que terminamos - eu disse analisando a última página sobre o tema abordado no dever e logo depois fechando o livro.

— É, acho que sim - ela batucava com os dedos na mesa.

— Que horas são? - perguntei guardando os livros na mochila.

— 16:20, por ai - ela respondeu também guardando seu material.

— Por Merlin, estou atrasado - Talvez a Granger entenderia o atraso de 1 hora e 20 minutos se eu dissesse que tive um desarranjo intestinal.

Guardei tudo na mochila e sai apressadamente da biblioteca, deixando Pansy para trás. Passei por alguns corredores e escadas e logo estava fora do castelo, andei a passos largos até o campo de quadribol, mas ao chegar lá minha suposição foi consolidada, estava vazio. Andei até o meio do campo e vi que havia um taco com um bilhete em baixo. Abri o pequeno papel e o li.

"Não pude esperar mais. Obrigada pelo convite."

Amassei o papel e sai do campo. Voltei para a torre da Sonserina e decidi que iria pedir desculpa a Granger assim que a visse.

Draco Malfoy POV OFF

***

Hermione Granger POV ON

Harry ainda não havia perguntado o porquê de Gina não estar falando comigo, o que era bom, não estava disposta a explicar que estava com Draco Malfoy. A única parte ruim era que eu não tinha com quem conversar nos intervalos, Harry estava concentrado demais ultimamente, principalmente nos estudos e nas estratégias de quadribol, e eu não sou lá de atrapalhar as pessoas. Na hora do almoço, Gina nem se quer olhou para mim, e eu estava louca para conversar com ela, mesmo que fosse pra falar de algo extremamente bobo e desnecessário. Malfoy nos encarou algumas vezes durante o almoço, provavelmente estranhando a situação tanto quanto eu, pois sempre estamos muito animadas e arrancando olhares curiosos por conta das risadas.

Não tive ânimo para comer, apenas mexi na comida como se a estivesse analisando minuciosamente. Havia dias que eu não sentia fome, e isso piorou de três dias pra cá, como somente quando é extremamente necessário.

Após a tortura silenciosa do almoço, fui para a torre da Grifinória e decidi dormir um pouco, para estar bem disposta a tarde. Deitei-me com a barriga virada para cima e fiquei analisando o cortinado cor de vinho que fazia a cobertura da cama, como se estivesse procurando algum sentido naquilo tudo, Ron se esquecendo que é meu namorado, Gina estando brava comigo porque alguém foi gentil e Malfoy sendo esse alguém.

***

Acordei depois de umas duas horas e vi que já eram 14:10, me levantei e coloquei uma roupa mais confortável, me livrando do uniforme. Desci até a sala comunal, haviam alguns alunos ao canto estudando e outros dormindo. Analisei as fotos que se mexiam e sorri ao ver o sorriso de Fred, Fred seria uma boa companhia nesses momentos, com certeza falaria alguma bobagem ou faria alguma geminialidade para me alegrar, ele realmente era bom em trazer alegria para as pessoas.

Sai pelo buraco do retrato e desci as escadas, dando de cara com um corredor vazio, que segui até o final. Ao longo dos outros corredores e escadas encontrei alguns alunos, alguns nem me reparavam, já outros, me cumprimentavam com acenos de cabeça ou até paravam para um aperto de mão, isso acontecia as vezes, depois que ganhamos a fama do “Trio de Ouro”.

Pude sentir a uma leve brisa soprar em meu rosto quando já estava fora do castelo e me dirigindo para o campo de Quadribol, era uma tarde extremamente agradável, não há como negar. Cheguei ao campo e estava vazio, porém, eu havia chegado antes da hora marcada, então era normal estar vazio.

Subi até uma das arquibancadas e me sentei, me sentia menos tensa desfrutando do vento e ouvindo o barulho dos pássaros, chegar mais cedo definitivamente foi uma boa escolha.

***

Já haviam se passado uma 1 hora e 10 minutos do horário combinado, e não havia nem sinal de Malfoy. Continuava o mesmo sem palavra de sempre, não sei como me deixei levar.

Levantei-me e desci a arquibanca, mesmo ele não tendo aparecido, deixei um bilhete para ele, apenas para agradecer pelo convite, por mais que ele tenha sido totalmente faltoso com seu compromisso.

Voltei para o castelo e subi os andares em direção a torre da Grifinória. Quando estava lá pelo 5º corredor, esbarrei fortemente em alguém.

— Me desculpa, estava distraído – o rapaz falou em um tom grave.

— Tudo bem, também não prestei atenção – nunca havia visto aquele rapaz, nem olhos tão verdes quanto os dele. – É novo aqui? – perguntei em um mero impulso.

— Não – ele sorriu – Sou Kieran Monhouser, aluno da Lufa-Lufa, desde 1991 – ele estendeu a mão para me cumprimentar.

— Hermione Granger – eu disse apertando sua mão.

— Sei bem quem é - ele disse divertido.

— Nunca havia visto você por aqui – eu disse até meio constrangida.

— Não sou muito notado mesmo – ele deu de ombros – De qualquer forma, foi um prazer te encontrar – ele disse e saiu andando.

Continuei meu caminho e fui para a torre da Grifinória, ao chegar na torre a mulher gorda pediu a senha e eu a disse, porém, não a acertei. Ela ficou discutindo comigo dizendo que eu era mal informada e devia prestar mais atenção.

— Não liga pra ela, está mais azeda que o normal – Neville disse se aproximando de mim e do retrato – Grindylow – Neville disse e o retrato se abriu, e eu apenas me indignei com o fato da senha ser tão estúpida.

Entrei na sala comunal e fui direto para o dormitório. Subi as escadas e lá estava Gina, sentada em sua cama. Não disse nada a ela e fui até minha cama, onde me joguei com a cara no travesseiro.

— Me desculpa, Mione – ela disse se sentando na ponta da cama.

— Como disse? – tirei a cara do travesseiro e me sentei rapidamente

— Eu pedi desculpa.Sabe, por criticar Malfoy – ela disse respirando fundo.

— Talvez você estivesse certa – deixei a frase no ar – Mas eu te desculpo, na verdade, nem tenho esse direito, você não fez nada errado – eu completei e a puxei para um abraço.

Após a reconciliação, ficamos conversando durante o pouco tempo que restou da tarde. Fomos para o jantar e Ron já não estava zangado também, Harry havia se animado a conversar conosco depois que o clima pesado cessou.

No jantar eu estava mais alegre, então, comi um pouco para forrar o estomago. Tudo estava normal, a conversa entre nós quatro fluiu naturalmente e as risadas também. Não me arrisquei a olhar para a mesa da Sonserina, não iria arriscar ser flagrada encarando a mesma por Malfoy.

Após o jantar, quando estávamos retornando para a torre, vi novamente os olhos verdes e o seu dono, que abriu um largo sorriso e deu um pequeno aceno, apenas abaixei a cabeça e segui meu caminho ao lado de Harry, Ron e Gina.