Six Feet Under escrita por Kaya Levesque


Capítulo 8
The welcome wagen


Notas iniciais do capítulo

Eu queria começar essas notas com um pedido de desculpas por sumir. Esse fim de ano foi muito apertado pra mim, muito cansativo, e eu não tive tempo de fazer quase nada. Espero que me perdoem. Enfim, feliz 2017! Espero que continuem acompanhando SFU esse ano! Além disso, quero dar a feliz notícia de que batemos a marca das 3000 visualizações! Muito obrigada a cada um de vocês que tornou isso possível, eu tenho os melhores leitores do mundo! Sobre os reviews pendentes, prometo que irei respondê-los assim que encontrar um tempo, ok?
Pessoas, o que vocês acharam da season finale da sétima temporada? Eu particularmente gostei muito da última cena com todos reunidos, achei importante para reforçar a ideia do grupo e dei graças que finalmente todos os núcleos se reuniram.
Por fim, quero dedicar esse capítulo a Mrs Dreams, Amélia, Agatha e En Sabah Nur, muito obrigada, gente ♥
Boa leitura!



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Eles chegaram ao seu destino no fim da tarde do dia seguinte. Durante aquele período, o grupo havia perdido sua van, que lhes levara até pouco menos da metade do caminho, e Tara descobrira que “Ginger” não passava de um apelido, destinando a maior parte do seu tempo para azucrinar Moore, numa tentativa de descobrir seu verdadeiro nome. Os trilhos de trem pareciam não ter mais fim, e o ar frio (que não era tão frio para a própria Daisy) castigava os demais sobreviventes.

Apesar de tudo isso, a garota tivera algum tempo para conhecer melhor seus novos companheiros de viagem. Maggie era calma e focada, e parecia o tempo todo estar presa em algum tipo de torpor de felicidade, o que não a tornava muito diferente de Glenn, cujo sorriso estava agora sempre aberto – mesmo depois de terem perdido seu carro. Sasha e Bob conversavam bastante entre si, por vezes incluindo o asiático e sua esposa; porém, na maior parte do tempo, tudo que fizeram foi jogar algo chamado “o lado bom do ruim”, que foi irritante para Moore no começo, porém que logo começou a agradá-la.

Após um dia de caminhadas sem parar, Daisy podia sentir suas pernas cansarem mais e mais a cada passo, porém ao ver a fachada do local tornar-se cada vez mais nítida, a garota ganhou um novo ânimo. Os nove integrantes do grupo caminharam hesitantes em direção à construção. Do lado de dentro dos portões, havia um grande prédio com as letras T-E-R-M-I-N-U-S pintadas separadamente em janelas do último andar. No pátio, vários jarros com flores coloridas enfeitavam a visão que era um colírio para os olhos dos sobreviventes.

Maggie, Glenn e Sasha seguiram à frente, com os outros logo atrás e Abraham e Rosita fechando a retaguarda ao fundo. Daisy caminhou flanqueando Eugene pela direita com seu revólver em mãos, nervosa; ela mantivera o taco guardado na mochila uma vez que o objeto não serviria de ajuda alguma em um tiroteio. No entanto, à visão do que os esperava, a menina ia baixando a arma centímetro por centímetro, a expressão suavizando cada vez mais.

Glenn abriu os portões de um amarelo enferrujado sem dificuldade alguma, uma vez que as correntes estavam somente passadas entre os buracos na grade, o que fez com que Moore voltasse a se preocupar; e se estivessem daquele modo porque todos ali já haviam deixando o lugar? Aquela perspectiva a assustou, mas a ruiva continuou andando, agora um pouco mais alerta.

Eles caminharam juntos em direção a um segundo portão, adentrando cada vez mais no grande terminal. O último cartaz que encontrariam trazia uma mensagem reconfortante: “Abaixe suas armas, pois será recepcionado. Você chegou ao Terminus.

Seguiram um caminho entre dois prédios de tijolos vermelhos que se encontrava agradavelmente cheio de tranqueiras, o que indicava que pessoas ainda viviam ali. Aquilo fez com que Daisy se lembrasse da escola, onde os corredores estavam sempre cheios de cestas de roupa, brinquedos ou malas que não cabiam nas salas de aula, onde as pessoas dormiam; ela sorriu com o pensamento.

Mais adiante, o cheiro de carne na chapa os atingiu; era tão arrebatadoramente bom que mais pareceu um soco no estômago vazio de Moore. A russa sentiu sua a boca salivar imediatamente e passou a fitar a responsável pela comida, uma senhora de cabelos castanhos arrumados em uma trança e que usava agasalhos, assim como o resto deles. Ela estava sozinha ali, aparentemente, e de costas para o grupo, que se encaminhou em sua direção.

A mulher pareceu sentir sua aproximação e se virou, encarando-os com surpresa por alguns segundos, mas logo suavizando a expressão, e andou até estar bem diante deles.

— Olá — cumprimentou. — Meu nome é Mary. Vocês estiveram na estrada por algum tempo — observou, seus olhos se demorando no ferimento na perna de Tara, ainda não completamente recuperada, e usando uma espécie de bengala para auxiliá-la na tarefa de andar.

— Estivemos — concordou Maggie. Mary sorriu.

— Então vamos acomodá-los e traremos comida para vocês — prometeu ela. — Bem-vindos ao Terminus.

Aquela frase foi como um um sopro de esperança no rosto de Daisy, e ela mal pode conter um sorriso, devolvendo seu revólver ao coldre enquanto Mary sacava um walkie talkie para informar a chegada do grupo ao resto dos moradores. Pelo canto do olho, Moore notou o semblante de Abraham ficar mais sério com a ação da mulher e franziu os lábios; não faria mal dar algum crédito àquelas pessoas.

— Antes que possam entrar de fato, precisamos ver suas armas — explicou Mary no mesmo tom de voz calmo. — Não iremos tirá-las de vocês, mas faz parte do protocolo.

Ela olhou diretamente para Daisy ao concluir, e lhe lançou um sorriso brilhante que foi devolvido com entusiasmo. Logo, todos ouviram uma porta abrir-se atrás do grupo, e dois homens saíram do prédio, suficientemente parecidos para serem irmãos. Atrás deles, uma mulher loira e sardenta apareceu com um sorriso cheio de covinhas no rosto.

— Olá — cumprimentou o homem de cabelos castanhos que ia à frente. — Sou Gareth — apresentou-se e então indicou as pessoas atrás de si. — Estes são Alex e Callie. — Ele os examinou por alguns instantes, com um semblante preocupado. — Vocês estiveram na estrada por algum tempo — comentou, assim como Mary fizera.

— Estivemos — concordou Abraham, tomando a palavra e caminhando até ficar frente a frente com o homem. — No entanto, precisamos falar de um assunto mais urgente que churrasco.

— Sou todo ouvidos — garantiu Gareth. — Mas precisamos olhar suas armas antes. Alex irá...

— Não — interrompeu Rosita. — Você vai querer ouvir isso.

O homem hesitou, e por alguns instantes, a tensão se fez presente no grupo. No entanto, ele logo cedeu, assentindo para o soldado com as sobrancelhas.

— Sou o sargento Abraham Ford — apresentou-se o ruivo, como de praxe. — Estes são Glenn, Eugene. Rosita, Maggie, Bob, Ginger, Sasha e Tara — o homem ruivo indicou cada um deles individualmente ao dizer os nomes. — Estamos em uma missão muito importante que requere nossa ida a Washington imediatamente.

— Entendo — disse Gareth, com algo que a menina identificou como pesar. — Neste caso...

Ele acenou com a mão. Moore ouviu uma comoção no terraço do prédio atrás de si e sua felicidade evaporou no segundo que percebeu os snipers apontados para o grupo. Atrás deles, no chão, outras pessoas apareceram armados de revólveres a rifles – e ela sabia muito bem que nenhuma delas estaria mirando nos moradores do Terminus a sua frente.

— Não tentem reagir, por favor — pediu Gareth num tom frio. — Quero armas, mochilas e agasalhos no chão.

Daisy só lembrava de uma ocasião na qual tivera tanto medo: quando sua antiga morada fora invadida, resultando, mais tarde, na morte de seus pais e vários amigos. Ela podia sentir o sangue pulsando com força em suas veias e fugindo de seu rosto enquanto suas pernas bambeavam, e forçou-se a respirar fundo diversas vezes. Foi a primeira a jogar sua mochila aos pés dos veteranos, fazendo o mesmo com seu coldre e casaco logo depois. Mary assentiu, aprovando sua atitude.

Logo, um a um, todos repetiram seu gesto, e Gareth sorriu.

— Pronto — disse, quando Rosita jogou a bolsa que levava a seus pés com brutalidade. Ele os olhou com uma falsa simpatia, encarando os olhares furiosos de cada um como se o divertissem. — Não é mais fácil assim? Sem sangue, sem perdas, sem ressentimentos. Por aqui.

Ele começou a caminhar para dentro de um dos prédios, e os outros, sem opção, o acompanharam. Enquanto atravessava o pátio em marcha lenta, Daisy tentou controlar sua respiração e o tremor em suas mãos para que pudesse concretizar o que planejava fazer a seguir. Seria arriscado, ela sabia, não somente para si mesma quanto para seu grupo, mas seu instinto de autoproteção falava mais alto, gritava para que saísse dali o mais rápido que pudesse.

Moore sabia que não deveria correr agora; seria fuzilada antes que pudesse dar três passos. Ela contou os atiradores a seu redor: três à direita, três a esquerda, incluindo Callie e Alex. Teria mais chances de escapar dentro do prédio, onde deveria estar suficientemente escuro. A menina correria o máximo que pudesse para achar um lugar onde pudesse sacar o canivete que Maggie lhe dera e então buscaria um jeito de fugir do terminal.

Assim, no momento em que adentraram no prédio Daisy buscou rapidamente com os olhos e registrou um corredor à sua direita alguns metros à frente antes que a porta fosse fechada. Moore encarou o mais completo nada enquanto seus olhos se acostumavam ao negrume, e, embora soubesse que os guardas do Terminus deveriam conhecer aquele ambiente muito bem, era a melhor situação que a garota podia pedir. Eles provavelmente não acenderiam nenhuma luz para desorientá-los, e a ruiva contava com isso.

Antes de tentar qualquer coisa, ela pensou se não deveria seguir em frente com seus companheiros ao invés de deixá-los. Aquela era uma possibilidade. Poderia ir com eles até onde quer que ficariam, e então sofrer as consequências... não. Flashes de suas primeiras semanas sozinha, do grupo em McDonough e da garota alemã inundaram sua mente, e Daisy engoliu em seco, mais certa ainda de que devia ir embora e nunca mais olhar para trás. Ela lidaria com o resto – culpa, ressentimento, o que fosse – depois.

Alguém – ela supôs ser Callie – a cutucou nas costas com violência para que continuasse andando. Moore deixou que a ponta de seus dedos roçasse na superfície fria da parede de pedra à sua direita enquanto caminhava, à procura do corredor que vislumbrara. No instante em que sua mão perdeu o contato com a amurada, ela correu, empurrando cegamente a pessoa à sua frente e então avançando corredor adentro.

A primeira bala fez um estrondo absurdo no espaço apertado, abafando o que quer que fosse que Glenn houvesse gritado, e passou zunindo por cima da cabeça da russa para se chocar na parede do lado esquerdo da passagem. Moore cambaleou com os braços estendidos para aparar uma possível queda, quase perdendo o equilíbrio por alguns instantes, mas logo voltou a correr o mais rápido que pôde, o coração disparado de medo.

O segundo disparo devia tê-la pego em cheio nas costas, mas a garota fez uma curva súbita para um corredor adjacente à esquerda, de modo que tudo que o projétil fez foi raspar a carne logo acima de seu cotovelo e arrancar-lhe um grito, mais de susto que de qualquer outra coisa.

Daisy mal sentiu enquanto seu braço inteiro explodia em dor, tamanho era o jorro de adrenalina em seu corpo, e continuou correndo sem saber aonde ia. Atrás de si, ela podia ouvir Gareth gritando com os outros para que não atirassem. Ao invés disso, a garota ouviu passos se aproximando rapidamente, porém não muitos; seriam duas ou três pessoas no máximo.

Ela dobrou mais uma vez, agora para a direita, e, ao abrir uma porta pesada, se encontrou numa sala do tamanho de um ginásio repleta de velas e escrituras no chão. A garota mal pôde reparar no ambiente, ajoelhando-se logo em seguida para tirar o canivete de Maggie de dentro de sua bota com dificuldade e abri-lo, as mãos tremendo.

Após examinar o cômodo, passando os olhos pelas palavras pintadas nas paredes e lendo alguns nomes no piso, Daisy viu que do outro lado da sala havia uma porta por cujas frestas entrava a luz do dia. No entanto, ela sabia que não podia sair a céu aberto desarmada, portanto se encostou agachada na parede ao lado da porta e esperou os passos que a seguiam se aproximarem.

A primeira pessoa a passar da porta foi Callie, já com a arma em punho, e Daisy não lhe deu tempo para examinar o cômodo antes de enfiar o canivete em sua coxa. A mulher loira berrou, um som tão gutural que mal soou humano, e por um instante, Moore hesitou. O sangue jorrou da ferida, suficiente para ensopar a calça jeans que a terminiana usava, e o cheiro do líquido pareceu impregnar-se nas narinas de Moore. Ela sentiu o remorso queimar seu peito pelo que fizera, a garganta apertando, e viu-se torcendo para que a mulher loira à sua frente não morresse.

Callie apontou a arma cegamente na direção de Daisy, que conseguiu evitar a bala disparada a tempo, uma vez que a mira não fora precisa o suficiente. No entanto, o tiro ecoou em seus ouvidos, atordoando-a, e ela só pôde rezar para não ter ficado surda. De certa forma, se sentiu aliviada por ouvir mais passos vindo em sua direção enquanto os outros guardas avançavam para ajudar a colega.

Moore percebeu que não podia perder mais tempo. Uma vez que os outros chegassem, ela só sairia dali crivada de balas, isso se conseguisse tal feito. Por esse motivo, a menina agarrou o pulso da mulher e mordeu seu antebraço até sentir o gosto de sangue, na esperança de conseguir que ela soltasse o revólver. Funcionou, porém a ruiva logo sentiu um cheiro metálico e uma dor absurda quando seu nariz foi socado. Ela gritou e tentou atingir Callie com o canivete, acertando-a em cheio na lateral da barriga.

Novamente, o grito de dor encheu os ouvidos de Daisy, que reproduziu o som por puro desespero. Ela se contorceu em direção à arma que a mulher derrubara, lutando contra os arranhões, murros e outros golpes desferidos em seu corpo. Moore tinha plena consciência dos passos que se aproximavam cada vez mais, porém estes nunca pareciam chegar, como se o propósito daquele momento fosse durar para sempre.

No instante em que a garota havia tomado o revólver em suas mãos, braços de uma força descomunal a ergueram do chão, lançando seu corpo contra a parede atrás de si. Daisy bateu a cabeça e as costas, perdendo o fôlego e soltando a arma, que foi chutada para longe de si. Ela gritou, sentindo lágrimas queimarem seus olhos e escorrerem por seu rosto, pensando unicamente que estava morta.

Moore ouviu xingamentos lhe sendo dirigidos à distância, alguém chamando por ajuda e os lamentos de dor que Callie soltava no chão. Antes que pudesse se recuperar, outra pessoa tomou o lugar de seu agressor original, erguendo-a pela nuca e pelos cabelos para bater seu rosto na parede. A menina perdeu a consciência antes de serem completados três golpes.



● ● ●



Ao despertar, Daisy não foi capaz de abrir os olhos imediatamente. O interior de sua cabeça doía, assim como seu nariz e o ferimento acima de seu cotovelo. A menina tentou se situar por vários minutos, procurando combinar o frio do ambiente a seu redor com as lembranças escuras que tinha do que havia se passado, de sua fuga desesperada e da agressão que sofrera, mas não foi capaz chegar a nenhuma conclusão plausível. Não estava morta. Não sabia se era uma boa notícia.

Pontadas de dor atingiram seus olhos quando estes foram abertos, e Moore pôde ver sua respiração condensar-se no ar acima de seu rosto. Estava, pelo que podia observar, num cômodo com paredes e teto de metal. Havia um suporte no alto segurando vários ganchos dos quais pareciam pender pedaços de carne. Atrás de si, próxima ao teto, havia uma janela de vidro que deixava entrar a luz pálida da lua, revelando também uma boa quantidade de estrelas no céu. Era tarde, muito tarde.

Levou muito tempo e esforço, mas Daisy conseguiu se sentar, arrastando-se até que suas costas tocassem a parede atrás de si. Assim, ela pôde observar o cômodo com mais precisão, registrando uma grande mesa de metal vazia e uma estante com mais peças de carne, menores do que as penduradas. Na parede à sua frente, uma porta de metal com somente uma janela de vidro dava diretamente para um corredor mal iluminado no qual não existia presença alguma.

A menina tentou olhar para si mesma, passando as mãos pelo rosto e constatando que havia sangue fresco ali, uma mancha rubra que descendo do nariz até a blusa verde. Mais do líquido se espalhava em seu antebraço, partindo do ferimento que a bala causara. O chão gelado também estava sujo de vermelho, dando ao cômodo uma aparência mais macabra do que a que já tinha.

Moore não entendia o que estava fazendo ali, nem por que os habitantes do Terminus não a haviam matado ainda. No entanto, ao registrar novamente o frio que fazia no cômodo, como sua o ar que respirava era visível e as pequenas rachaduras em seus lábios que tocou com as pontas dos dedos, ela percebeu que estava presa ali, como se a sala de metal fosse sua cela solitária.

Assim, foi inevitável não pensar sobre algo que sua mãe lhe dissera tempos atrás, quando contara a história de sua cidade, sendo o assunto a Batalha de Stalingrado, conflito entre russos e alemães que fora decisivo na Segunda Guerra Mundial. Lana revelara à filha que os nazistas faziam experiências com pessoas, medindo o tempo que demoraria para que morressem de frio, procurando saber se havia algo no organismo dos russos que lhes permitia sobreviver ao clima opressor da futura Volgogrado. Entretanto, tudo que descobriram foi que a maioria dos seres humanos congela mais ou menos ao mesmo tempo, e Daisy sentiu vontade de chorar ao pensar em quanto tempo mais de vida teria.

Não estava em seus planos morrer daquela forma, e ela pensou nos outros, o que seria feito deles e se seria sua culpa. Havia se equivocado em pensar que lidaria com o resto mais tarde; se Glenn e Maggie, Eugene, ou mesmo Rosita, qualquer um deles se machucasse por sua causa, a menina sabia que não conseguiria viver consigo mesma. Para sua sorte, talvez não tivesse de fazê-lo por muito mais tempo.

Aquela foi uma das piores noites da vida de Daisy, o que não era pouca coisa. O frio não facilitava sua missão de se manter consciente, fazendo com que a menina estivesse batendo os dentes depois de pouco tempo e forçando-a a se encolher como uma bola contra o metal às suas costas, a fim de conservar algum calor. Quando cedia ao sono, encontrava-se presa em pesadelos nos quais deveria assistir à morte de sua família e de seu grupo repetidamente; várias vezes acordou aos berros, implorando para que lhe soltassem. A janela atrás de si tornou-se sua melhor amiga, e ela olhava constantemente em sua direção, buscando algum sinal de que a noite estava perto do fim, sem sorte.

No entanto, foi na alvorada que algo realmente aconteceu. Moore havia acabado de constatar que era a luz do Sol que via no chão à sua frente quando a porta se abriu com violência para que Gareth entrasse. Ela se sobressaltou quando o homem fechou a abertura após sussurrar algo para um guarda no corredor, e abraçou os joelhos com força enquanto ele se aproximava, registrando que usava um casaco pesado.

— Bom, isso é surpreendente — constatou, assentindo para Daisy. — Devo dizer que não esperava que você estivesse viva até agora, garota. Também quero deixar registrado que não dispomos desse tratamento especial para todos os nossos convidados, isto é pelo que você fez com Callie. Ela sobreviveu por pouco.

Os lábios de Daisy tremeram, não só pelo frio, mas pela necessidade de falar. Seu maxilar parecia extremamente rígido, e foi preciso um esforço descomunal para que finalmente soltasse algumas sílabas.

— M-meus amigos... — sussurrou fracamente. Gareth riu.

— Amigos? — indagou, erguendo uma das sobrancelhas. — Você não pareceu tão amigável quando fugiu, deixando-os para trás daquele jeito — observou, irônico. — Mas, se quer mesmo saber, eles estão vivos.

O homem pareceu ter notado a expressão de Daisy, nem um pouco contente com a resposta e aterrorizada com as possibilidades que esta abria. Ele olhou para a janela, examinando a luz da aurora, e estalou os lábios.

— Sabe, minha mãe... aquela senhora adorável que você conheceu lá na frente... ela gosta de dizer que todo dia sobre o chão é uma vitória. Então anime-se... Ginger, certo? — Gareth esperou até que ela confirmasse, o que não aconteceu, antes de continuar. — Anime-se, Ginger. Você está sobre o chão. Seus amigos estão sobre o chão. Isso é uma vitória.

O filho de Mary sorriu sinistramente mais uma vez antes de sair, trancando a garota ruiva mais uma vez na sala glacial.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Eu realmente espero que não tenha ninguém aí com raiva da Daisy, mais tarde vocês entenderão que as ações dela são completamente justificáveis. Não se esqueçam de comentar, viu? Tô com saudade dos meus leitores lindos!
Beijinhos e happy fucking new year!
P.S.: Mais alguém aí curte Sense8? ;)