Rock the baby escrita por Nanahoshi


Capítulo 7
Algo insuportável


Notas iniciais do capítulo

Olá meus leitores lindooooos! Tudo bem com vocês?
Demorou um pouquinho, mas a sequência saiu! E agora as coisas vão ficar realmente complicadas pra Mika x.x Tadinha da minha bichinha!
Espero que gostem desse capítulo ♥ Eu pessoalmente achei que foi um dos capítulos mais difíceis e complicados que eu já escrevi na vida, já que todas as palavras tiveram que ser meticulosamente escolhidas. Estou tão feliz que botei toda minha alma nesse cap ♥ Bom, sem mais delongas, o capítulo!
Notas:
1500 ienes ~ R$40,50
500 ienes ~ R$ 13,00



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Assim que Mika colocou os pés no corredor do segundo andar, o sinal da escola tocou. A garota ergueu a cabeça, levemente sobressaltada, e depois voltou os olhos para o chão vincando as sobrancelhas de forma melancólica.

“Ah, acabei saindo tarde demais de casa. Só vou poder falar com o Mitsui no intervalo”.

—Oh! – ela soltou uma exclamação baixinha ao se lembrar da raspadinha que o amigo pagara para ela no dia anterior. Começou a caminhar lentamente pelo corredor, agora cheio de alunos indo para suas respectivas salas. Mika puxou sua pasta e, de forma meio afobada buscou sua bolsinha na qual guardava o dinheiro para conferir se tinha o suficiente para pagá-lo. Suspirou aliviada ao ver que trazia 1500 ienes*, que era bem mais do que devia a Mitsui.

Fechando a pasta e levantando a cabeça, Mika ergueu os olhos e olhou adiante. Foi então que aquela sensação tão desagradável, mas tão familiar, a atingiu. A garota inclinou a cabeça para frente para que seu cabelo escondesse parcialmente seu rosto, e seus olhos ocultados pela cortina de fios negros correram pelo corredor. Algumas pessoas aqui e ali a encaravam de uma forma nada amigável. Isso sempre acontecia quando um novo boato surgia ou quando ela se metia numa confusão por causa de arruaceiros. Porém, nos últimos meses, por causa da companhia de Mitsui, ela não se metera em nenhuma briga. Além disso, também não se lembrava de ter feito algo que as pessoas pudessem usar para espalhar um novo boato.

Então por quê?

Mika prosseguiu pelo corredor, ignorando os olhares antipáticos o melhor que pôde. A dúvida ainda martelava em sua cabeça, e ela tentava puxar em sua memória qualquer coisa que poderia ter desencadeado essa nova onda de aversão. Ao passar pela sala de Mitsui, Mika deteve-se por um segundo, ficando na ponta dos pés para procurar o amigo. Porém, assim que conseguiu ter uma visão clara do local onde Mitsui sentava, viu que sua carteira estava vazia.

“Será que o Mitsui se atrasou? Ou será que ele não vem na escola hoje?”, pensou com uma pontada de preocupação.

Mika retomou a caminhada, agora direto para sua sala. Contudo, ao passar pela porta da sala seguinte, ela viu pelo canto do olho algo que a fez diminuir drasticamente o passo. Havia um grupo de seis garotas conversando no canto oposto ao da porta. Uma delas estava sentada no meio, e Mika não conseguiu ver seu rosto. As outras cinco estavam de pé conversando de forma afobada com caretas de raiva e obstinação. Havia uma que estava apoiada na parede, e foi essa que fez Mika quase estacar no meio do corredor. Assim que seus olhares se cruzaram, a testa da garota se vincou profundamente numa expressão de puro ódio. Ela imediatamente fez um sinal para as outras amigas, que voltaram-se para a porta, seguindo a direção que ela apontava sem nenhum cuidado de ser discreta. Quando as outras quatro fixaram o olhar em Mika, a mesma expressão intensa de raiva marcou três dos rostos. A restante apenas a olhou de forma sombria.  

“Quem são elas?”, perguntou-se Mika. “Não consigo reconhecer nenhuma...”

A ginasial desviou os olhos para o chão, fixando seus sapatos. Foi só nesse momento que ela percebeu o quanto seu coração estava acelerado. Tentando relaxar, expirou e sentiu seus ombros relaxando. Ficara tão tensa que até seus ombros haviam enrijecido.

Mika estava acostumava com olhares de aversão e antipatia, mas nunca havia sido encarada com um ódio tão intenso.

Ainda nervosa por causa do ocorrido, a estudante entrou de cabeça baixa em sua sala. Balançou-a levemente enquanto andava até sua carteira, e o movimento fez com que ela olhasse para sua bolsa. O rosto de Mitsui apareceu imediatamente diante de seus olhos, substituindo os olhares reprovadores do corredor. Sentindo-se mais leve, ela passou a pensar em seu treino do dia com o amigo.

“Vou falar com ele no intervalo. Ele não me disse o que íamos treinar hoje... Ah, não posso esquecer o dinheiro...”

***

—Ah, anda logo!

Mika sapateou, desconfortável. Estava morrendo de vontade de ir no banheiro, e como estava próximo do intervalo, os alunos não tinham autorização para sair. A estudante cruzou as pernas e tentou se concentrar na moeda de 500 ienes* que girava entre os dedos.

Quando o sinal do intervalo tocou, a menina voou de sua carteira, sendo a primeira a sair. Caminhando a passos rápidos, Mika seguiu pelo corredor cegamente, o que a impediu de ver as cinco garotas que, já estando do lado de fora, apontaram para ela e a seguiram.

Yumi, Noriko e as outras três seguiram Mika a passos rápidos. Precisavam chegar ao banheiro antes que outra garota entrasse além de Mika. Yumi encarou as costas da estudante à sua frente e sentiu seu coração acelerando e a raiva borbulhar dentro de sua barriga. Aquele seria o fim do demônio vermelho. A Akoni não conseguiria mais nada usando o medo sobre as pessoas.

“Você nunca mais... vai fazer Anri-chan ou qualquer pessoa de bem chorar”, pensou Yumi trincando os dentes.

Enquanto isso, Noriko ruminava sobre suas dúvidas. Olhava de esguelha para Yumi, que carregava um ar preocupantemente sombrio e agressivo. A visão de Mika conversando e rindo com Mitsui surgiu diante de si por um instante, fazendo seu estômago se embrulhar.

“Será que não estamos cometendo um erro?”

Mas, quase que de imediato, a visão do rosto assustado de Anri subsistiu o sorriso dos dois estudantes. Noriko fechou os olhos com força por um instante, para depois abri-los sob sobrancelhas bastante franzidas. Ela engoliu e pensou:

“Precisamos ajudar a Anri-chan... Nós só vamos conversar com ela. Podemos resolver isso.”

Ao alcançarem a entrada, Yumi e uma delas entraram e Noriko, junto com outras duas ficaram na porta, sinalizando para as meninas que tentavam entrar para que procurassem outro banheiro. As estudantes arregalavam os olhos, assentiam e seguiam seu caminho de cabeça baixa. Ninguém em momento algum cogitou em chamar algum professor ou funcionário, mesmo sabendo o que provavelmente estaria acontecendo dentro do banheiro.

Afinal, garotas resolverem determinados problemas no banheiro era algo bastante corriqueiro.

Depois de meio minuto, Yumi chamou as duas que estavam com Noriko e, em seguida, a instruiu a bloquear a saída. As outras quatro se posicionaram dentro do banheiro num arco ao redor da entrada do box na qual Mika estava.

Ela com certeza não fugiria.

Enquanto isso, a garota remexia os pés à medida que o alívio tomava conta de seu ventre. Levantou-se, ajeitou a roupa e pegou de volta o dinheiro que deixara numa pequena prateleira que havia ali. Distraída, a garota empurrou a porta do boxe, olhando para seus sapatos enquanto refletia sobre onde Mitsui estaria. Foi por isso que ela demorou alguns segundos para perceber que haviam quatro pares de pés fazendo um arco no corredor do banheiro entre os boxes e as pias. Mika ergueu os olhos lentamente, e assim que fixou o olhar nas estudantes que a rodeavam, seu estômago se embrulhou.

Eram as mesmas meninas que a haviam encarado mais cedo.

Sentindo o coração disparar dentro do peito, Mika voltou a baixar a cabeça e fez o que aprendera a fazer nesses dois anos sendo chamada de “Akaoni”: ignorou-as. Avançou para a pia como se estivesse sozinha no banheiro, mas preparou-se para caso uma delas barrasse seu caminho. Entretanto, ninguém se mexeu de início. Elas apenas a acompanharam com o olhar, virando-se para voltar a cercá-la. Mika ligou a torneira, e o som da água escorrendo era o único que se ouvia acima do burburinho do corredor apinhado de alunos, adensando ainda mais a atmosfera agressiva que se formava. Quando o chiar aquoso foi interrompido, uma voz cortou o silêncio:

—Então, você é a famosa “Akaoni”.

O corpo de Mika enrijeceu. Seus punhos automaticamente se fecharam com força e ela arregalou os olhos até que ficassem vidrados, não de medo, mas sim de raiva.

“Ah, não. De novo não.”

Yumi, que soltara o comentário, observou a reação de Mika pelo espelho. Quando os olhos dela se arregalaram, um frio correu por sua espinha e seu coração voltou a se acelerar. A raiva que viu ali quase a fez arfar de medo.

Era realmente como todos diziam. Ela parecia mesmo um demônio.

Pelo canto do olho, Yumi percebeu que não fora a única a ver a reação através do espelho. Agora as meninas prostravam-se mais encolhidas, olhando receosas para a nuca da estudante parada no centro do arco. Temendo que elas recuassem àquela altura, Yumi endireitou a coluna, estufando o peito e deu um passo na direção de Mika, fechando o cerco de forma intimidadora.

Mika sentiu a aproximação e, fechando os olhos, concentrou-se em respirar fundo. Quando teve certeza que não responderia movida pela raiva, a garota pegou as moedas que deixara sobre a pia e dirigiu-se para a saída ainda fingindo que estava só. Mal tinha dado o segundo passo, uma mão a segurou firmemente pelo ombro, apertando-o com força exagerada. Mika virou o rosto para trás, fulminando com os olhos quem quer que a tivesse agarrado e rosnou em voz baixa:

—Me solta.

Yumi sustentou o olhar agressivo da outra, e nesse meio tempo, Mika pôde enfim reparar nela com um pouco mais de atenção. O cabelo era castanho, ondulado com cachos nem um pouco naturais. O rosto era anguloso, os olhos estreitos, a boca cheia ressaltada por um gloss rosa.

—Ora, ora, pela reação é você mesma. – Yumi riu de forma debochada. – Nem pense em sair agora. Precisamos ter uma conversinha com você.

Mika apertou os olhos, voltando o rosto para a frente. Seus punhos cerraram-se novamente, as moedas que segurava machucando a palma de sua mão. Não queria perder tempo ali, mas pelo visto, só sairia do banheiro à força. Fazendo um movimento brusco com o ombro, Mika se livrou facilmente do aperto da menina e avançou para a saída, mas um vulto barrou-lhe o caminho. Noriko estava ali, de frente para o lado de dentro, e encarava-a com uma expressão de desafio. Mika estacou e devolveu o olhar. Se tentasse forçar passagem, aquela garota com certeza faria uma cena para chamar a atenção de alguém no corredor, ou seja...

Mika havia sido perfeitamente encurralada. Não poderia sair dali sem manchar ainda mais a sua reputação.

Endireitando a coluna, a garota voltou-se novamente para Yumi.

—Quem são vocês?

A expressão receosa das quatro garotas desapareceu e deu lugar a uma de animosidade. Yumi aprofundou ainda mais o vinco que se formou em sua testa e respondeu:

—Pode-se dizer que somos representantes de um grupo bem maior. Quem somos não interessa agora.

As sobrancelhas de Mika se abaixaram ainda mais e ela tornou a cerrar os punhos com força. Seria inevitável fazer a próxima pergunta se quisesse sair dali.

—O que vocês querem? – perguntou tentando soar o mais ameaçadora possível. Sua paciência para lidar com aquele tipo de situação já havia se esgotado há tempos, e ela sabia por experiência própria que a saída mais rápida, infelizmente, era usar a agressividade.

Yumi trocou olhares com suas amigas e depois com Noriko. Elas assentiram em silêncio, e seus rostos sombrios incitaram-na a continuar. Tentando endurecer a voz o máximo que pôde, respondeu:

—Você ainda pergunta? Tenho certeza que sabe o motivo de estarmos aqui, Akaoni. – ela enfatizou o apelido como se dissesse uma maldição. – Sabemos o que anda fazendo com o Mitsui-kun. Você está chantageando-o para fazê-lo sair com você... – ela fez uma pausa, fechando os olhos, para depois abri-los com o olhar mais furioso possível. – Você não desconfia não?

Demorou alguns segundos para Mika processar a fala de Yumi, mas assim que as palavras se encaixaram em uma ordem que fazia sentido, seu corpo congelou. Seus olhos se arregalaram e ela sentiu como se um grande bloco de chumbo tivesse sido colocado sobre seu tórax. Porém, segundos depois, ela sentiu a garganta formigar, como se ela tivesse recuperado o movimento naquela região, e involuntariamente deixou escapar uma exclamação:

—O quê!?

O olhar vidrado de Mika e o desespero em sua voz fez brotar um sorriso malicioso no rosto de Yumi. Rindo, ela disse:

—Parece que pegamos você, não é?

Mika não respondeu. Ela apenas encarava a garota diante de si com o olhar ainda vidrado, o que reforçou em Yumi o sentimento que a havia encurralado... Mas Yumi estava errada. O que paralisara Mika não fora medo.

Fora a incredulidade.

“Não.”, pensou ela, ainda paralisada. “Elas não podem estar... me acusando... disso.”

Até aquele dia, Mika já tinha ouvido acusações horrorosas e completamente mentirosas. Muitas dessas acusações surgiam logo depois que ela acabava se metendo em uma briga. Porém, praticamente todas as vezes que Mika brigava envolviam algum tipo de injustiça. Ela simplesmente não conseguia desviar os olhos e seguir caminho enquanto via alguém inocente encurralado por arruaceiros, ou quando presenciava uma falsa acusação contra alguém. Não importava para ela se a pessoa a odiava, se era um desconhecido... Ela simplesmente não conseguia ficar de braços cruzados.

Para Mika, se existia algo insuportável... Era qualquer tipo de injustiça.

Entretanto, de todas as pessoas, Mika era aquela que mais lidava com injustiças. No começo, ela tentou enfrenta-las, mas era inútil. Os boatos falsos e as mentiras infames que se espalhavam sobre ela se fortaleceram a tal ponto que Mika decidiu parar de lutar. Seria mais conveniente abaixar a cabeça e aceitar em silêncio, tentando seguir em frente.

E então, surgindo completamente do nada, Mitsui se prostrara ao seu lado e lhe dera a os três melhores meses de toda a sua vida. Em um canto de sua mente, Mika sabia que sua imagem não havia mudado... mas aquilo não importava mais. Enquanto estivesse com Mitsui, o que os outros diziam não tinha mais efeito ou valor. Pela primeira vez ela experimentara a tranquilidade, mas agora, a sombra de sua falsa reputação voltara para assombrá-la, e da pior forma possível.

Retomando consciência do seu corpo após o raciocínio, Mika sentiu um gosto amargo em sua boca e percebeu que havia se curvado para frente. Seu cabelo comprido escorria tampando as laterais do rosto, e seu braço esquerdo, agora trêmulo, se apoiava na pia. As outras não haviam se mexido, mas aguardavam em estado de alerta uma reação de Mika.

A garota curvou-se ainda mais para frente e voltou a cerrar o punho direito, sentindo novamente as moedas pressionarem sua pele. Diante da movimentação, Yumi deu mais um passo em sua direção e voltou a provocar:

—É, pelo visto, nós realmente pegamos você.

Mika trincou os dentes e reuniu forças para controlar o tom da voz. Sem confiar por completo em seu autocontrole, a garota respondeu bem baixinho:

—É mentira.

—O quê? – rebateu Yumi com certa incredulidade nítida em sua voz.

Apertando os lábios, Mika levantou o tronco de súbito, encarando Yumi com um olhar tomado pela raiva e repetiu em alto e bom som:

—É mentira!

Todas as presentes arregalaram os olhos. Yumi demorou alguns segundos para reagir, mas assim processou duas vezes a fala de Mika, suas sobrancelhas se abaixaram numa expressão de pura raiva.

—Você ainda tem a cara de pau de dizer que é mentira!? Tenha dó! Todos sabem quem você é! Você não é chamada de Akaoni à toa!– ela fez pausa na qual sua fala ressoou na mente de Mika, e uma frase se destacou.

“Todos sabem quem você é!”

“Sabem?...”, pensou Mika sentindo um desconforto horrível tomando conta de seu estômago. A frase continuava a ressoar, o que só piorava tudo. Em questão de instantes, a sua respiração se tornou ofegante, e o desconforto se espalhara por suas veias.

Naquele ponto, Mika finalmente reconheceu a sensação.

Raiva.

Só que não era a raiva que sentia no seu dia-a-dia. Aquele sentimento era de um nível completamente diferente, que ela experimentara poucas vezes na sua vida. Mas ela sabia que em todas as vezes que sentira aquilo, estava na mesma situação. E aquela... não era diferente. 

— Sabemos que você só consegue as coisas por meio da violência. – continuou Yumi, possessa. - Usa o medo para manipular as pessoas e se elas não fazem o que você quer, você acaba com elas.

Mika trincou os dentes com tanta força que a dor se espalhou até atingir suas têmporas. A raiva borbulhava cada vez mais furiosamente, e agora todo o seu corpo tremia. A que ponto chegaram aqueles malditos boatos? Em que tipo de monstro aquelas mentiras a haviam transformado?

Percebendo as perguntas que pululavam em sua cabeça, uma nova dúvida surgiu. Já havia escutado tantas acusações como aquela, então porque estava se importando tanto? Por que sua reação estava sendo tão violenta? Por que ela sentia que aquela... era a pior acusação que poderiam fazer?

A voz de Yumi voltou a ecoar dentro do banheiro arrancando Mika de suas dúvidas internas:

— Você não está nem aí para os outros, só se importa consigo mesma. – a voz da ginasial subia de tom a cada frase que cuspia. – Você parou pra pensar que, enquanto utiliza o medo para ter o Mitsui-kun para você, tem uma garota que deu todo o amor que tinha para se aproximar dele? Todo o esforço que ela fez... foi esmigalhado. Esmigalhado pelo capricho de uma nojenta feito você.

A situação exposta por Yumi deixou Mika desnorteada por alguns segundos, já que, para ela, soou completamente à parte do assunto que discutiam. Só que uma coisa Mika sabia: ela não havia tirado Mitsui de ninguém... e isso só fez com que sua raiva aumentasse ainda mais.

— E o pior é que você sabe exatamente o que usar contra qualquer um para conseguir o que quer. – retomou Yumi antes que Mika tivesse tempo para pensar em mais alguma coisa. - Eu sei porque o Mitsui-kun não conseguiu fazer nada. Se ele te enfrentasse, correria o risco de ter alguma lesão grave que o tiraria do clube de basquete. Está vendo o quão mesquinha v-

Cala a boca! – berrou Mika num tom completamente diferente que jamais usara.

Todas as que estavam dentro do banheiro congelaram onde estavam, e um silêncio aterrador tornou o ar estranhamente pesado. Yumi sequer piscava, encarando a garota diante de si com os olhos tão arregalados que eles podiam saltar para fora das órbitas.

Enquanto isso, uma tempestade se formava no peito de Mika. Seu corpo havia perdido o efeito de paralisia causado pela incredulidade que sentira minutos mais cedo, e agora a garota tremia convulsivamente. Sua respiração era ainda mais ofegante, e ela encarava o chão de forma que ninguém ali conseguia ver sua expressão. Ainda ouvindo seu próprio grito ressoando em seus ouvidos, Mika enfim encaixou as peças para entender o porquê de sentir aquela raiva tão intensa.

Já ouvira tantos absurdos sobre si mesma, que em um determinado ponto, as acusações pararam de feri-la. Mika sabia que aquilo estava muito distante dela, e por isso, as mentiras sequer soavam ultrajantes mais. Nenhuma das pessoas envolvidas nos boatos era importante para Mika, e muito menos suas opiniões.

Mas, daquela vez... haviam envolvido Mitsui.  

Conscientemente, Mika sabia que aquilo soaria ridículo para ele. Era uma mentira escabrosa, e os dois sabiam. Porém, não era a reação de Mitsui que incomodava Mika. 

“Eu sei porque o Mitsui-kun não conseguiu fazer nada. Se ele te enfrentasse, correria o risco de ter alguma lesão grave que o tiraria do clube de basquete.”

Ser acusada disso era... insuportável.

—Cala a boca. – repetiu Mika num tom mais baixo. – Já fui acusada injustamente de muitas coisas, mas disso— ela fez uma pausa e, ao continuar, soou ainda mais firme – eu não vou ser acusada.

Mika cerrou ainda mais os punhos, pressionando-os contra suas coxas. O movimento colocou todas ali em estado de alerta.

“Já cansei de abaixar a cabeça.”, pensou Mika sentindo um grito subir por sua garganta. “Não vou mais aceitar... nenhuma injustiça. Minha paciência acabou”.

Erguendo o tronco vagarosamente, Mika separou os pés e aprumou-se, erguendo a cabeça. A expressão que viram em seu olhar fez com que as três que acompanhavam Yumi dessem um passo para trás, e essa só não recuou por estar paralisada.

O olhar de Mika estava imerso na mais pura cólera.

A garota puxou o ar, e o grito que ela segurava finalmente saiu, alto, firme e permeado da mais pura indignação:

—Falem o que quiser de mim, me chamem do que for, mas eu não vou aceitar que me acusem de ameaçar o Mitsui! Eu jamais, jamais, faria qualquer mal a ele!

Mika parou por instante, a respiração pesada arranhando sua garganta. A raiva ainda borbulhava em seu estômago e suas veias, mas agora ela ganhava novos contornos. No fundo do peito, Mika sentiu uma angústia, uma necessidade enorme de gritar uma verdade que fosse ouvida. Ouvida e assimilada, porque ela não queria deixar dúvidas em relação àquele fato. Concentrando essa sensação no fundo de sua garganta, Mika apertou os olhos e gritou ainda mais alto que antes:

— Porque o Mitsui... é meu melhor amigo!

Três reações aconteceram simultaneamente. Noriko, parada na entrada de forma que ainda pudesse ver o que estava acontecendo, cobriu a boca com a mão e abafou uma exclamação de horror. O sentimento de incerteza que trazia desde aquele dia na cafeteria agora tomara conta de sua mente por completo. Elas realmente haviam cometido um erro, porque ninguém que estivesse mentindo gritaria com toda aquela convicção. Por outro lado, as outras três que ladeavam Yumi permaneceram imóveis, os olhos arregalados agora vazios e completamente confusos. E Yumi... encarava Mika com ainda mais raiva que antes.

Em questão de segundos, a ginasial já tinha avançado sobre a outra, agarrando a gola de seu uniforme. A mão de Mika subiu instintivamente e agarrou a de Yumi com força, fazendo-a apertar os olhos de dor. Porém, esse gesto não intimidou a que atacara. Pelo contrário: qualquer músculo que Mika mexia só fazia o ódio de Yumi aumentar.

—Yumi-chan! – exclamaram as outras quatro presentes em uníssono.

A garota ignorou-as completamente, os olhos fixos em Mika.

—Você não tem vergonha, não!? – berrou Yumi puxando a gola com violência para a direita. – Agora vai partir para a estratégia da vítima? Vai se esconder atrás dessas mentiras deslavadas? Ninguém vai acreditar em você!

Mika trincou os dentes e estreitou os olhos.

“É sempre assim”, pensou ela. “Ninguém nunca... me escuta...”

E foi essa frase que fez uma ideia surgir em sua cabeça. Se aquelas meninas não iriam escutá-la... Escutariam, pelo menos, Mitsui.

Tomando fôlego, a garota voltou a fixar os olhos furiosos no rosto de Yumi e gritou:

—Se acha que estou mentindo, por que não pergunta pra ele!?

O grito de Mika ressoou contra as paredes ladrilhadas, e o único som que se ouviu por longos segundos foi o burburinho do lado de fora e a respiração ofegante das cinco meninas ali dentro. Yumi havia abaixado a cabeça, e agora Mika era incapaz de ver sua expressão. Quando silêncio se adensou até ficar insuportável, Noriko avançou um passo para dentro do banheiro e exclamou:

—Yumi-chan! – sua voz soou alarmada por trás das costas de Mika. – Para com isso! Você não ouviu o que ela disse? Ninguém afirma uma mentira desse jeito! E além disso, nós podemos tirar isso a limpo com o Mitsui-kun!

Pegando todos de surpresa, Yumi fez um movimento brusco com o pescoço, virando os olhos na direção da amiga. Seu olhar faiscava de ódio.

—Você é idiota ou o quê, Noriko!? – ela cuspiu quase rosnando. – Você se esqueceu com quem estamos lidando? É a Akaoni! Você sabe muito bem que ela é capaz de tudo para manipular alguém... Vai mesmo cair na dela? Já se esqueceu que ela está chantageando o Mitsui-kun!? É óbvio que ele não vai arriscar entregá-la!

Noriko não respondeu. Estava tão chocada com a atitude de Yumi que sequer conseguia se mexer. Porém, ela não era a única que se encontrava em estado de choque. Pelo canto do olho, Yumi viu a hesitação e a confusão no rosto das amigas. Por um instante, sentiu o pânico engolfar sua garganta, mas logo, a imagem do rosto choroso de Anri piscou em sua mente.

“Não podemos recuar agora... Não quando a Anri-chan precisa tanto de nós. Eu não posso deixar ela na mão... Não depois de tudo o que ela fez por mim”.

Apertando os dentes, Yumi tornou a segurar a gola do uniforme de Mika com mais força e puxou-a violentamente para a direita, jogando-a contra a pia. A beira da placa de mármore bateu na base da coluna de Mika, fazendo a soltar um gemido de dor.

—Vocês vão ficar paradas aí!? – berrou Yumi olhando para as amigas através do espelho. – Vão desistir a essa altura, que estamos quase colocando essa daqui em seu devido lugar? Vocês já se esqueceram que estamos aqui pela Anri-chan!? Vão mesmo deixar uma amiga como ela na mão!?

A hesitação no rosto das outras três vacilou, dando lugar a um ar timidamente mais hostil.  Depois de alguns segundos, deram um passo para frente, fechando o cerco. Yumi sorriu, voltando a fixar os olhos de Mika. A garota ainda apertava sua mão, mas sua raiva já havia atingido um nível que qualquer dor lhe parecia um leve incômodo distante em sua mente.

—Já deu pra perceber que essa aqui não vai escutar na base da conversa. – cuspiu Yumi estreitando os olhos. – Não vai ter outro jeito.  

Assim que a última frase ressoou no banheiro, Noriko soltou uma exclamação de puro horror e se precipitou na direção de Yumi inconscientemente. Noriko só parou pois o que viu no rosto de sua amiga quando ela se virou deixou-a apavorada: um olhar afiado, faiscando em fúria.

—Por quê? – perguntou a ginasial com a voz trêmula. – Por que está fazendo isso? Você mesma disse que só iríamos conversar com ela! Porque está indo tão longe!?

Yumi franziu ainda mais as sobrancelhas e dirigiu um olhar de desprezo para Noriko. Voltando o rosto para frente para encarar Mika, respondeu:

—Você não entenderia... Já que a Anri-chan não precisou te salvar. – ela fez uma pausa, trincando os dentes. – Se você não quer ajudar, saia daqui.

Noriko apenas encarou Yumi com um olhar atônito, sem conseguir assimilar o que ela dissera. Irritada, a outra esticou o braço livre e deu um empurrão no peito da amiga.

—Já disse pra sair! Quem ajuda não atrapalha! – Yumi baixou o rosto melancolicamente e completou. – Que grande amiga você é, hein?

Enquanto as duas discutiam, Mika observava tudo com o cenho franzido. A base da sua coluna ainda latejava um pouquinho, mas a pancada só servira para deixa-la ainda mais irritada. Só queria sair daquela confusão e ir encontrar-se com Mitsui. Não faria diferença nenhuma discutir com aquelas garotas: elas, assim como todos os outros, nunca a escutariam.

Seu cérebro automaticamente dedicou-se a montar uma sequência de movimentos que imobilizariam e derrubariam as garotas por tempo suficiente para que ela fugisse dali. Estava tão absorta em seus pensamentos que não percebeu a mudança de movimentação das quatro garotas à sua volta. Ela só caiu em si quando Yumi puxou violentamente a gola de seu uniforme, aproximando o seu rosto bruscamente do dela.

—Hoje vai ser o dia que você vai se arrepender de ter feito tudo o que fez. – silvou Yumi num tom ameaçador. – Vamos fazer você provar do próprio remédio.

Mika arregalou os olhos, mas a hostilidade de seu rosto não vacilou.

“Do meu próprio... remédio?”, ela pensou franzindo a sobrancelhas. “Mas o quê...”

Nesse instante, as outras três garotas deram mais um passo para frente, fechando completamente qualquer saída do arco. E, enfim, Mika entendeu. Porém, ao invés de sentir seu estômago se revirar de pânico, ela sentiu o borbulhar da raiva intensificar-se ainda mais. Aquelas garotas realmente pensavam ser uma ameaça para ela? Elas realmente iriam partir para cima dela ali?

Correndo os olhos rapidamente pelas quatro, a facilidade com que achou uma sequência de golpes que as derrubaria em questão de segundos fez sua impaciência fervilhar juntamente com a raiva.

“Isso é sério?”

Repassando novamente a sequência de golpes, Mika tencionou os braços e as pernas para começar. Yumi deu um último sorriso malicioso e perguntou:

—Está pronta... Akaoni?

Mika estreitou os olhos, mas assim que processou a última palavra dita por Yumi, seu corpo todo congelou. Sua expressão, antes tomada pela impaciência, agora trazia o mais puro choque. Aproveitando aquela visão, Yumi ergueu a perna direita e puxou a gola do uniforme de Mika para frente, desferindo uma joelhada dolorosa em seu estômago.

Com um gemido nauseante, Mika curvou-se para frente, abraçando a barriga. As quatro deram um passo para trás, admirando a cena. Ainda em choque, Mika só conseguia pensar em uma coisa: se levantasse um dedo contra qualquer uma delas, tudo estaria acabado. Mika já havia se metido em muitas brigas, mas todas haviam sido fora dos muros da escola. Uma vez ali dentro, qualquer movimento em falso acabaria de vez com sua vida escolar. Ela seria expulsa e carregaria sua reputação para qualquer lugar que fosse.

Em suma, naquela situação, só haviam saídas desfavoráveis para Mika.

Aquelas garotas haviam armado uma armadilha perfeita.

Concentrando-se em seu corpo, a ginasial Mika buscou todas as lições que seu pai lidera sobre minimizar os danos de um golpe recebido em sua memória. Respirando fundo, a garota fechou os olhos e se preparou.

“Se eu quiser sair dessa... Eu vou ter que apanhar.”


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Notas finais do capítulo

Ai meu Deus socooorrro! Esse capítulo deu uma agonia horrorosa de escrever por causa da atmosfera de tensão, mas nada se compara ao próximo ♥ Espero que tenham gostado e aguardem ainda mais tretas *-*
Muuuuito obrigada a todos os meus leitores divos que me apoiam, me enchem de carinho e me acompanham até nas fics mais floppadas do mundo o/ AMO VOCÊS ♥
Beijos da Nana-chan!



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