Will tinha chegado mais cedo do hospital, então ele e Nico foram receber Maeve quando ouviram o barulho da porta.

— Mae... – Nico começou a dizer num tom alegre, mas parou. - Maeve?

Eles viram que os olhos dela estavam úmidos e vermelhos. Maeve fungou e saiu correndo para o quarto sem dizer nada. Sem perder tempo, Will e Nico a seguiram. Ela tinha se atirado na cama, onde agora chorava com o rosto escondido no travesseiro.

— O que houve? – Will tocou a mão dela, tentando saber se estava machucada ou doente.

— Maeve, qual o problema? – perguntou Nico, aflito.

Nenhuma resposta.

— Querida, por favor, fale conosco. Estamos preocupados. Só queremos ajudar.

Talvez porque o tom calmante de Will era bem eficiente, Maeve virou um pouco o rosto depois de uns segundos, e começou a se esforçar para dizer entre soluços:

— Tínhamos... Tínhamos que fazer uma redação hoje sobre a importância da família... Julie Brown... Ela começou a dizer que tinha pena de mim porque eu não sei o que é ter uma família já que... nem mesmo tenho uma mãe... Ela e as amigas estavam logo atrás de mim e Lily no caminho de volta e ela... Ela começou a dizer que minha mãe... devia me odiar, por isso me deixou com... – Maeve voltou a esconder o rosto no travesseiro e o resto saiu abafado: - Eu não quero repetir o que ela disse.

Will e Nico trocaram um olhar abatido. Não era bem a primeira vez que precisavam lidar com esse tipo de coisa vindo de outras crianças, mas era a primeira vez que Maeve parecia tão abalada. Os punhos de Nico cerraram-se instintivamente. Ele odiava vê-la chorar... Como meninas de nove anos podiam ser tão cruéis?

— Vamos, Mae – Nico disse, acariciando os cabelos da filha. – Não chore por isso.

Inesperadamente, ela se virou totalmente e voltou a falar, erguendo o tronco e esfregando os olhos com as costas das mãos.

— Não é por isso que estou chorando!

— Não é? – perguntou Will.

— Julie é uma bobona... Mas... - Maeve baixou os olhos. – O nariz dela estava sangrando...

— Quê?

— Depois do soco que eu dei... Do jeito que o papai ensinou. – Ela olhou rapidamente para Nico que estava sem fala com a boca meio aberta. – As amigas dela fugiram e ela disse que a mãe dela vai fazer com que eu seja expulsa... A Sra. Brown é presidente do conselho...

Ela continuou de olhos baixos. Assim que Nico entendeu tudo, não pôde deixar de sorrir. Procurou mais uma vez o olhos de Will, que o repreenderam, embora o brilho deles mostrasse que ele se esforçava para não fazer o mesmo.

Nico pigarreou e forçou uma expressão séria antes de erguer o queixo de Maeve.

— Maeve... Eu estava tentando ensiná-la a se defender. Acho que isso é importante. Mas não é uma desculpa para você sair batendo em colegas da escola.

— Eu sei.

Nico não resistiu à expressão de culpa naqueles olhinhos tão azuis que eram quase violeta. Seu sorriso voltou. Ele afastou uns fios de cabelo e limpou as lágrimas que ainda escorriam pelo rosto dela.

— Não se preocupe. Se essa senhora não sei das quantas tentar alguma coisa, não vamos deixar barato. Ela que primeiro dê alguma educação para a própria filha.

— Então... Vocês não estão zangados? – Maeve olhou de Nico para Will, que suspirou e disse:

— Não, não com você. – Ele beijou o alto da cabeça dela, antes de continuar: - Só não faça mais, está bem?... Sabemos que algumas coisas são difíceis de ouvir, mas essa não é a melhor maneira de reagir. Além do mais, não se deve dar importância para mentiras, não é?

Maeve assentiu.

— Agora... o que você quer para o jantar? – Nico perguntou, procurando animá-la.

A menina finalmente abriu um sorriso. Quando faziam essa pergunta, queria dizer que ela podia escolher qualquer coisa, tipo:

— Panquecas?

— Panquecas, então!

— Com calda de chocolate e morangos?

Nico riu.

— Com o que quiser, milady. Depois que você for lavar o rosto e as mãos.

Depois que ela correu para o banheiro, Will comentou em voz baixa, rindo e esfregando a testa:

— Ai, meus deuses, você é uma péssima influência para crianças...

— Calado – Nico retrucou, jogando na direção dele um unicórnio de pelúcia.