De Janeiro a Janeiro escrita por Arii Vitória


Capítulo 29
Capítulo 28 "Resolvendo Conflitos"


Notas iniciais do capítulo

Hey, hey, heey!
Foi realmente complicado preparar esse capítulos, por conta dos acontecimentos do final. Espero que gostem!



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Beatriz

—Acordei, já acordei! -murmurei enquanto desligava o alarme do meu celular, mal acreditando que teria que encarar o colégio novamente. Depois do dia anterior, eu definitivamente ainda não estava pronta para novos dramas escolares.

—Finalmente! -a voz de Vivi surge do nada me assustando, só então levantei os olhos para ela, que estava sentada na minha cadeira mexendo no meu computador.

—O que está fazendo aqui? -perguntei obviamente estranhando, afinal, nem lembro mais da última vez que Vivi me buscou em casa para ir ao colégio, mas só depois de fazer a pergunta é que me lembro do drama adolescente da minha melhor amiga: seu namorado estava prestes a se tornar uma estrela.

—Eu e Samuca terminamos! Quer dizer, eu acho que terminamos, não tenho certeza. -ela disse, só então girando a cadeira para olhar para mim.

—Não. -me sentei na cama, ainda mais surpresa, não esperava que eles terminassem, não é do feitio da Vivi deixar que isso acontecesse, ela é mais do tipo que iria com ele até o inferno se pudesse. 

—E ele disse que me ama.

—Ele não fez isso! -exclamei em choque. Como o cara diz que vai viajar para longe em breve e diz que a ama no mesmo dia?

—Ah, ele fez. Aí eu disse que ele não poderia dizer uma coisa dessas e simplesmente sumir no dia seguinte, depois sai correndo. É considerado um término? -Cinderela perguntou curiosa para saber minha opinião, e nesse mesmo momento o toque do meu celular interrompe nossa conversa. Silenciei e escondi o celular para que ela não visse que se tratava de Samuca.

—Eu não sei. -respondi, mas no mesmo momento vi que haviam mais quatro ligações perdidas dele.

—E por que você tá com essa cara de quem não conseguiu dormir direito?

—Você não soube? Seu baile foi um fiasco!

—Ah, sim, eu fiquei sabendo da briga entre pai e filho que parou o lugar.

—Não foi simples assim, foi eu que vi o Almeida Campos agarrando a própria assistente, e foi eu quem contou ao Duda. -respondi, a atualizando, ao mesmo tempo em que me lembro do resto da noite, a parte em que fui atrás do Duda, mas ninguém atendeu a porta.

Eu precisava vê-lo o mais rápido possível! Me levantei rapidamente enquanto fazia uma tentativa falha de organizar meu cabelo, e Vivi perguntava:

—Por que não me contou? Parece que ninguém mais me conta as coisas por aqui. -ela disse e logo em seguida se jogou na minha cama, estranhei o ato imediatamente. Ela costumava ter que me puxar para que eu pudesse sair da cama, ela colocou meu travesseiro em cima de sua cabeça.

Cinderela não estava mesmo bem.

(...) 

Era meu aniversário de nove anos, na minha primeira lembrança boa do Duda. Ele morava em outra cidade, mas já chegou na escola sendo considerado o novato, bonito e popular, mesmo quando criança. Não lembro do dia em que o vi pela primeira vez, mas me lembro da minha primeira lembrança dele. Eu tinha acabado de conhecer a Vivi, ou seja, só agora minha existência parecia realmente válida na escola.

Na quarta série sempre que alguém fazia aniversário, seus amigos -o que era basicamente toda a turma, já que ninguém se odiava na quarta série- traziam rosas e colocavam na mesa do aniversariante na hora do recreio. Já tinha dois anos que eu havia perdido meu pai, o que significava que eu já era bastante fechada nessa questão de amigos, então não esperava nenhuma rosa.

Mas assim que cheguei do recreio, acompanhada da lancheira com desenho de alguma Barbie que eu adorava na época, avistei as rosas na minha mesa. Ambas com bilhetes.

Da sua nova melhor amiga”, dizia o da Vivi, que me fez sorrir instantaneamente. 

Você é bonita”, dizia o outro bilhete, rodeei a sala com os olhos, e lá estava ele: Duda. Olhando pra mim, na quarta série, com um sorriso banguelo que ainda assim já era lindo, me trazendo uma alegria a mais no dia do meu aniversário.

Ninguém mais disse nada, logo as garotas pararam de implicar com os garotos e começaram a beijá-los e as panelinhas começaram a se formar.

Mas era nisso em que eu pensava, enquanto estava sentada no meu lugar na sala, no meio da aula de ciências, olhando para a porta, esperando que o Duda pudesse chegar atrasado a qualquer segundo, com os cabelos bagunçados por ter dormido demais depois da noite estressante.

Mas não foi o que aconteceu, Eduardo não apareceu no colégio, fazendo com que toda minha preocupação da noite passada voltasse em dobro, eu tinha que ter certeza de que ele estava bem. Afinal, não deve ser fácil pra nenhum filho descobrir que o pai idiota trai a mãe com a própria secretária. Precisava fazer alguma coisa, já que eu causei todo o estrago. 

No intervalo entre as aulas, fui até meu armário para trocar os livros, quando o fechei, lá estava Samuca, escorado no armário ao lado do meu, olhando para o teto, com os cabelos mais bagunçados que o normal.

—Sinto o cheiro de alguém que ficou a noite inteira tocando Coldplay, enquanto assistia a Titanic na TV.

—Estou perdido! -foi apenas o que ele respondeu, só então me fitando e surpreendentemente ignorando meu comentário. 

—E sua mãe? -perguntei curiosa, ainda não havia conhecido a mãe aparentemente interesseira do Samuca. 

—Ontem ela me perguntou quanto eu ganhava nas ruas.

—Você está pegando pesado com ela, Samuca.

—Bem, ela não merece que eu pegue leve, merece?

—Você tem razão. -dou de ombros, sem argumentos para defende-la e nem um pouco afim de fazer isso, ela abandonou o filho. -Mas a Vivi foi me buscar em casa hoje, sabia? Ela estava arrasada, perguntando se ViMuca estava oficialmente acabado.

—Eu não vou desistir dela, se é isso que você quer saber. Mas também não posso ficar aqui, meu voo está marcado para daqui a uma semana. -ele informou determinado. 

—E qual seu plano infalível?

Ele me olhou como se eu estivesse falando grego, e eu sustentei o olhar impaciente. 

—Você tem sete dias para reconquistá-la e ainda não tem um plano? Um á zero para Los Angeles!

—Eu não tinha pensado desse jeito. -agora ele me parecia desanimado. Não eram bons sentimentos para quem estava tão perto de voar para Los Angeles realizar o grande sonho.

—Vou falar com ela pra você! -resolvi após pensar um pouco sobre o assunto, apesar de odiar me meter entre os dois, Samuca definitivamente precisava de uma trégua, afinal, já seria difícil demais enfrentar toda a mudança da próxima semana sozinho.

—Acha que pode resolver isso? -ele perguntou, fazendo com que eu franzisse as sobrancelhas.

—Tem certeza que me conhece, garoto?

(…)

Infelizmente, era dia de treino das líderes de torcida, Viviane me lembrou logo depois que Samuca se afastou de mim no intervalo. Ela estava com aquela famosa expressão de cachorrinho na chuva sem dono, então eu fui mesmo com ela até o treino. Mesmo que todo o blá-blá-blá de Janu fosse dez vezes mais entediante sem o Duda lá. 

Quando anoiteceu, eu estava na frente da casa do Duda, pensando em como resolver o problema de Vivi e Samuca era bem fácil perto do que eu estava prestes a lidar, e depois me perguntei o porquê de estar fazendo tanto drama com isso. Era só o Duda.

Atropelei meus pensamentos e finalmente toquei a campainha, em menos de um minuto a porta se abriu.

—Duda! -eu disse em um suspiro assim que o vi. Ele sustentou meu olhar por um segundo, parecia surpreso por me ver ali. Continuava com o olho esquerdo enxado, mas antes que eu pudesse examiná-lo melhor, sua expressão se fechou.

—Ah, é você, Bia! -ele disse e voltou a andar por sua casa. Entendi isso como uma deixa para entrar, então o segui.

A casa era realmente dos Almeida Campos, uma das famílias mais ricas da cidade. Tinha dois andares, e depois de dar uma rápida olhada já tinha contado mais de sete cômodos.

—Duda! -o chamei enquanto ainda o seguia por sua casa, mas ele apenas caminhou até um sofá cheio de roupas espalhadas, e começou a colocá-las dentro de uma mala grande e preta.

—O que está fazendo? -perguntei, enquanto alternava o olhar entre ele e a mala, e tentava encontrar alguma resposta para minha própria pergunta.

—Vou me mudar. -ele disse calmamente, como se fosse uma dessas coisas que a gente faz todos os dias.

—Do que está falando, Eduardo? -questionei novamente, enquanto mais perguntas invadiam minha mente, mas ele não respondeu, apenas continuou colocando suas roupas lentamente, me irritando.

Então fui até ele e o forcei a olhar pra mim, agarrando suas mãos. Ele me encarou após hesitar um pouco.

—Por isso faltou no colégio?

—Não estive muito preocupado em ir ao colégio hoje. 

—E onde está sua mãe? E seu pai? Pra onde você vai? -continuei minha série de perguntas, soltando sua mão.

—Minha mãe está viajando desde ontem, então ainda não sabe de nada. Meu pai também não apareceu por aqui, imagino que ele só vai vir depois que minha mãe chegar de viagem. E eu não faço a menor ideia de pra onde vou, mas não posso continuar aqui e fingir que nada mudou, Bia. -ele explicou, e em seguida respirou fundo, sentando-se do lado de sua mala, definitivamente exausto.

—Pode ficar na minha casa. -respondi rapidamente, sem pensar muito.

—Sua mãe me odeia.

—E na casa do Janjão?

—Ele meio que está com raiva de mim porque o expulsei aos socos ontem à noite.

—De qualquer forma, não pode deixar sua mãe aqui, Duda. Ela não tem culpa. -falei e me sentei ao seu lado.

—Acho que ela já sabe. Já sabe do meu pai e de todas suas maldades. Eu me sinto um idiota por conviver no meio de tanta hipocrisia.

—Ei! -peguei em seu braço, o fazendo me fitar novamente. -Você não é um idiota, é muito corajoso por conseguir lidar com todo esse caos. Por ter conseguido aguentar ele por todos esses anos. -completei, conseguindo que Duda abrisse um meio sorriso e me olhasse com carinho.

—Não acho que eu consigo aguentar mais tempo. -ele concluiu.

—Mas você não pode fugir, Duda. Não pode simplesmente abandonar a escola, sua mãe, seus amigos e… eu. Principalmente eu. Eu não conseguiria ficar longe de você agora. -declarei com honestidade nas palavras. -Sinto muito por ter sido a causa de toda essa bagunça. 

Duda sorriu novamente. Mas ele continuou me encarando, eu pagaria para saber seus pensamentos ali. Levou sua mão ao meu rosto, acariciando-o e colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. Só pensei em como eu desejava beija-lo, e cuidar dele para que nada nunca mais o magoasse. 

—Você não é a culpada, aliás, ao contrário disso. Só você, sabia? Só você consegue me deixar bem até nos meus piores momentos. -ele contou, ainda me olhando daquele jeito, repleto de carinho.

—Eu fiquei tão preocupada com você.

E é nesse momento que não consigo me segurar, principalmente diante daquele olhar, me aproximei ainda mais dele, e o beijei com precisão, como se o mundo fosse mesmo acabar dali alguns segundos. Finalmente conseguindo sentir o peso daquele segredo e dos últimos dias ir embora.

Enlacei minhas mãos no seu pescoço, o trazendo ainda mais para mim, enquanto ele descia as suas até minha cintura. Pensei em me afastar, mas não conseguia.

—Isso pode não ser uma boa ideia. -ele diz quando finalmente paramos para tomar ar, ainda deixando nossos narizes colados.

—Eu não me importo! -dessa vez é Duda quem vem para cima de mim, como se nossos corpos não pudessem mais obedecer nossas mentes, como se ele não resistisse aquele encontro de desejos.

Não sei como, mas agora estamos de pé, e consegui ouvir minha respiração ofegante enquanto Duda me escorava na parede mais próxima, pressionando meu corpo com uma das mãos e percorrendo meus cabelos com a outra, prendendo-me a ele. Me perguntei se ele sabia o quanto mexia comigo.

Voltamos a caminhar, sem conseguir cessar os beijos. Quando me dei por mim novamente, já estava dentro de um quarto. Mas eu não me importava, nada além de nós dois importava. E eu o queria, o queria tanto que não me importava do meu juízo estar completamente perdido.

Eu o tinha de uma maneira que nunca havia tido ninguém. Nada mais importava.

 (...)


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Notas finais do capítulo

Ouvi um "finalmente!"? hahah.
Espero que gostem, no próximo capítulo teremos tretas marcantes!
Beijõões!



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