De Janeiro a Janeiro escrita por Arii Vitória


Capítulo 16
Capítulo 15 "O que raios está acontecendo comigo?"


Notas iniciais do capítulo

Olá, caros leitores!
Não tenho muito a falar hoje, a não ser que eu espero que vocês gostem e se divertem com a Bia de líder-de-torcida tanto quanto eu me diverti escrevendo sobre isso. Nos vemos lá em baaixo!



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—Mãe, você se candidatou a prefeita? Você disse que não faria isso, por que fez isso? -comecei a gritar, mesmo não sabendo em que canto da casa minha mãe está, mas sei que me escutou. -Eu vi os cartazes, fiquei sabendo por cartazes, como foi que isso aconteceu?

—Drama… -ela murmurou quando finalmente a achei na cozinha.

—Explica! -pedi, cruzando os braços, esperando pacientemente.

—O Almeida Campos iria ganhar se eu não fizesse alguma coisa, não iria deixar isso acontecer, se fosse com você, também não deixaria. Somos iguais. -ela disse calma, como se ainda esperasse ganhar as eleições, mas eu sabia que ela não teria tempo para cuidar dos assuntos da cidade, caso se tornasse prefeita, ela já tinha um trabalho!

—Olha mãe, foi um dia e tanto pra mim. Aparentemente, eu me tornei líder de torcida, e quando ando de volta pra casa vejo um cartaz dizendo que minha mãe quer ser prefeita.

Ela arregala os olhos ao ouvir as palavras “líder de torcida”, como se nem se quer tivesse ouvido o resto da frase.

—Eu não acredito! -seu sorriso me irrita.

—Ahhhh! -soltei o grito que está entalado em minha garganta desde que fui obrigada a aceitar aquilo, andei impaciente para meu quarto.

—Não acredito, minha filha líder de torcida. Quem conseguiu essa maravilha? -ela me seguiu.

—Não ouse chamar de maravilha! -afirmei, jogando-me na cama em seguida.

Meu celular toca no mesmo instante, impedindo minha mãe de continuar seu show com direito a bis. É a Vivi, atendo apenas para me livrar de minha mãe.

—Não acredito! -a voz dela ainda soa com mais empolgação do que a da minha mãe. -Eu fiquei sabendo, Beatriz Gomes, líder de torcida, é o dia mais feliz da minha vida!

—Vivi, você me ouviu falar mal das líderes por toda a minha vida. Sabe que eu sou em desastre em questões como dar estrelinha e subir em cima de outra garota, me recuso a ir de saia para escola, você já me viu usar saia alguma vez na vida? Por favor, me tira dessa. -meu breve discurso a faz ficar calada por alguns instantes.Sei que se alguém pode me livrar de me tornar uma líder de torcida, esse alguém é ela, como chefe de torcida. 

—Você só é um pouco desleixada, mas vai ficar uma gracinha de saia. Tem que começar hoje? -desisto da Vivi, me levantei na cama, tirando aquela roupa horrorosa da mochila, a joguei no chão e pisei em cima dela com força. 

—Eu teria que ir com essa roupa ridícula de líder de torcida hoje, mas infelizmente eu estou pisando em cima dela nesse exato momento e estragando a roupa. -continuei pulando em cima da roupa, até o saco plástico rasgar.

—Não faça nada, eu estou indo para aí. -ela desligou o telefone no mesmo momento.

Dez minutos depois, ouço as batidas da porta. Minha mãe atende, e as duas dão um daqueles gritinhos ridículos juntas.

Seus olhos se arregalam quando ela vê minha situação, já que estou realmente com lágrimas nos olhos, e com uma tesoura na mão, prestes a cortar aquela saia.

—Biiiiiia. -ela prolongou o “i” como se estivesse em um daqueles desenhos infantis, e em seguida pulou em cima de mim, retirando a tesoura da minha mão. -Vai ser um pouco complicado. -Vivi me olhou de cima á baixo, exatamente como faz com suas “experiências de moda”, aquelas garotas doidas que deixam que Vivi a encham de lacinhos e acessórios. -Mas nada é impossível para a Cinderela aqui. -ela completou apontando para si mesma.

Eu definitivamente odeio minha vida.

(…)

Fui para o fim da arquibancada, no último degrau, o lugar onde ninguém poderia me ver. Mas é claro que ele me acha e dá uma daquelas risadas exageradamente altas, quase forçadas, mas eu sei que não são, porque até eu riria de mim se me visse daquele jeito, e com aquela roupa...

—Se disser uma palavra sobre minha roupa eu te esmago. -digo a Samuca assim que ele chega perto o suficiente, mas ele não consegue parar de rir nem para soltar uma daquelas piadas que nunca tem graça. -Já chega, eu já entendi. -ele continua rindo.

—Você é líder… de torcida. -os risos nem se quer o deixam falar. -Você!

—Está dizendo que eu não consigo ser uma líder de torcida? -perguntei.

—Olha pra si mesma. -ele disse, e bom… ele tem razão.

Nada daquilo é confortável, a saia é curta e cor-de-rosa, eu uso uma blusa de manga longa tamanho GG só para ver se consigo tampar todo o look, mas de alguma maneira sei que piorei as coisas, consegui fazer com que Vivi me deixasse vir com o cabelo preso em um coque desleixado com fios por todo lado.

—É o dia mais feliz da minha vida! -ele repetiu a frase da Vivi, fazendo-me cobrir o rosto com as duas mãos, sentindo vontade de ficar o resto da vida assim.

—Te dou dez reais se parar de rir. -tirei a nota de dez do bolso da blusa.

—Não, obrigada. -ele falou. -Como se colocou nessa situação? Não, não diz, eu adivinho… você arrumou outra briga, estou certo?

Afirmei com a cabeça.

—E por que não está junto com elas? -ele apontou pro canto da quadra onde está Vivi e as outras.

—Estou em treinamento.

—Aposto em como é o dia mais feliz da vida de Vivi também. -ele comentou. 

—Você não tem ideia no quanto a Cinderela pulou.

No mesmo momento os jogadores entram em cena, o time da nossa escola estava animado, até mesmo Duda, e geralmente tudo dependia da animação dele. “Era um jogo muito importante”, ou pelo menos foi o que Vivi disse por toda a semana. O barulho das torcidas eram alto, mas eu sabia que teria me acostumar com tudo aquilo, já que teria que vir a todos os jogos a partir daquele. 

Avistei Duda olhar para a arquibancada, e uma parte de mim torcia para que ele estivesse procurando por mim. E a outra torcia para que ele nunca encontrasse. Mas o destino realmente me odiava: Janjão me achou, apontou para mim e Duda levou os olhos na minha direção.

—Vai, me esconde, por favor. -eu disse e me enfiei atrás de Samuca.

—Não quer que o namoradinho te veja assim, princesa? -Samuca perguntou me irritando, mas deixando que eu me escondesse atrás dele.

—Se me chamar de princesa de novo, eu literalmente quebro a sua cara.

Mas era tarde, ele já havia me visto. Levantei as duas mãos como quem se rendesse, ele sorriu imediatamente. Mas daquela vez eu sorri junto. Mas ele voltou a prestar atenção no jogo, que logo iniciou-se, portanto, nada aconteceu nos primeiros minutos. Observei as líderes por algum tempo, elas cantavam músicas repetitivas, daquelas que grudam na cabeça, e apenas balançavam-se para um lado e para o outro.

O clímax do primeiro tempo, aconteceu quando a bola estava com Duda, ele atravessou toda a quadra com ela no pés, driblando todos os jogadores do time oposto, quando chegou perto do gol, me lançou outra olhada, meu corpo inteiro gelou, droga, o que estava acontecendo comigo? Mas em seguida ele chutou a bola, gol na certa.

—GOOOOOOOOOOL! -a multidão toda gritou, todos se levantaram. Os outros rapazes do time correram para abraçar Duda, me surpreendi quando também me vi de pé, comemorando. As líderes de torcida já estavam subindo em cima uma das outras, como no filme “As Apimentadas” só que em uma versão complicada.

—Como elas conseguem fazer aquilo?

—Algumas pessoas nascem sabendo, outras passam todo o fundamental ensaiando.

Olhei para Samuca, só no meu olhar ele percebe que era uma pergunta retorica.

—Seu namoradinho arrasou. -ele disse, mudando de assunto.

—Ele não é meu namoradinho, mas... realmente! -afirmei.

Final do primeiro tempo, não demorou muito para começar o segundoo, os jogadores logo estavam na quadra novamente, e começaram a jogar, todos queriam mais gols.

Mas quando Duda estava prestes a fazer o segundo gol, as coisas aconteceram muito rápido: a maneira como algum jogador do time oposto simplesmente chutou com força o tornozelo de Duda, o fazendo cair e não levantar mais, e como ainda assim, de algum jeito a bola parou dentro do gol.

E alguns até chegaram a comemorar, mas ele não conseguiu se levantar sozinho.

(…)

—Ele está bem? -perguntei a Cinderela pela terceira vez, o jogo tinha acabado de terminar e ainda não tínhamos noticias do Duda.

—Eu já disse, acho que sim. Mas eles não querem deixar ninguém entrar lá. -ela explicou, Samuca estava bem atrás de mim, mas os dois não trocaram nenhuma palavra.

Depois de Duda se machucar, o carregaram para fora dali, para a sala de enfermagem, dentro da escola, e o jogo continuou como se nada tivesse acontecido. Nem se quer o pai do garoto tinha parado de assistir o jogo para vê-lo, e logo depois, desapareceu.

—Vivi, vai lá descobrir se ele está bem. Qual é a vantagem de ser líder de torcida se nem isso se pode fazer? -perguntei a ela, que se surpreendeu ao ouvir a preocupação na minha voz.

—Não. -ouvi a voz de Janu atrás de mim. -Ela não vai ser líder, vai? -ela virou-se para Vivi, como se pudesse ficar ainda mais chateada com aquilo do que eu.

Vivi murmurou algo, mas eu nem se quer conseguia ouvir as duas. Alguém tinha se machucado, como elas conseguiam pensar em qualquer outra coisa?

—Bia, você está bem? -Samuca perguntou, ainda atrás de mim.

—Estou… -olhei para a porta, onde Duda estava e que não deixavam ninguém entrar.

—Eu tive uma ideia. -ele disse, e começou a andar a caminho de lá, fui atrás dele, e quando percebi, Janu e Vivi também estava lá.

Samuca bateu na porta, quando o médico atendeu, ele deu um sorriso inocente e disse:

—Eu esqueci um livro no armário, a entrada da frente da escola está trancada, tem como nos deixarem entrar só por alguns minutos? -ele pediu, e o doutor pensou na ideia.

—Tudo bem, mas eu vou precisar acompanhar vocês. -ele disse com a expressão de tédio. -Espera. Todos os quatro esqueceram livros? -o homem de meia idade perguntou, franzindo as sobrancelhas, enquanto olhava para mim, Janu e Vivi.

—Eu não. -Janu respondeu, e rapidamente se virou e começou a andar até o portão da escola.

—Ei! -eu gritei, e ela se virou para me olhar. Ela realmente não queria vê-lo? Tinha passado mais de um ano sendo a namorada dele, e não queria saber se tinha sido algo grave?

—Tanto faz. -ela disse, sem que eu perguntasse nada e voltou a andar.

—Eu e ela esquecemos. -Samuca disse, cobrindo Vivi.

—Tá, entrem logo. -o médico disse, os dois entraram e Samuca fez um sinal pra mim antes de fecharem a porta na minha cara. Ouvi os passos dos três indo para longe, e então entrei pela porta.

Eu sabia que Duda estava na sala de enfermagem, que era a primeira porta que víamos no corredor ao entrar pelo portão da quadra. Então, simplesmente entrei nela também.

E lá estava ele, deitado sobre uma cama que não parecia nada confortável. Quando conseguiu virar a cabeça para me ver, pude ser a surpresa em seus olhos, ficamos nos olhando por um tempo, mas quando voltei a mim dei alguns passos em sua direção.

—Desculpa, estou atrapalhando sua recuperação? -foram as palavras que saíram. -Quer dizer… -me embolei, gaguejando. -Você está bem? O que aconteceu?

—Parece que não é tão minha inimiga quanto pensa né?! -foi a única coisa que ele disse, o que me fez respirar fundo de alívio. Ele estava bem!

—Até os maiores vilões tem coração, só que eles só mostram quando o mocinho sofre um acidente. -continuei a brincadeira, me aproximando dele.

—Era a última pessoa que eu esperava ver. -ele disse, parecendo realmente estar sendo honesto e eu não duvido que esta. O que raios está acontecendo comigo? 

—Eu sei. É que eu vi o que aquele cara do outro time fez com você, e pareceu um machucado grave na hora.

—E então você decidiu vir me ver. -ele completou minha história.

—Não que eu me importe… -revirei os olhos.

—Mas você está aqui. -Ok, eu estava sem argumentos!

—Então não foi nada grave?

—Vou ter de que parar de jogar por uns dois dias. Mas não doí muito. -ele respondeu.

—E onde está seu pai? Ele nem se quer veio ver se você está bem?

—Toda vez que eu me machuco, ele ignora o acontecimento, porque lembra a vez que ele se machucou e não pode mais jogar, e se acontecesse o mesmo comigo, seria o fim pra ele. Então ele só fala no assunto depois que eu me recupero. -ele explicou, me fazendo pensar em até onde o senhor Almeida Campos iria por toda aquela besteira de futsal, e em como talvez seria mesmo bem melhor se minha mãe ganhasse as eleições e se tornasse prefeita.

—Entendi. -falei, continuando a olhar para ele. 

—E você é líder de torcida? Por causa de toda aquela besteira na sala de aula hoje?

—Aproveite enquanto eu visto esse uniforme ridículo porque não ficarei com ele por muito tempo.

—Se importa em dar uma rodadinha? -ele perguntou rindo. 

—Eu tenho que ir, Samuca e Vivi estão tentando enrolar seu médico, ele não me deixou entrar. Mas só vim saber se você não estava, tipo, na beira da morte. -falei e ele afirmou com a cabeça, entendendo, mas continuou me olhando, como se estivesse acabado de perceber que algo estava rolando ali. Me virei, indo em direção a porta, ao mesmo tempo que pensava em que aquilo estava errado: nada poderia estar rolando ali!

—Ei, Bia. -ao ouvir sua voz, me viro novamente. -Obrigada por vir, por se preocupar… -Incontrolavelmente soltei um sorriso.

—Eu não estava preocupada, só achei que estivesse a beira da morte, e você sabe que eu teria que presenciar sua morte, sou má! -brinquei, e em seguida sai pela porta.

Me esbarrei com alguém assim que sai, e ao olhar para o rosto, vi que se tratava do pai do Duda. Ele franziu as sobrancelhas ao me ver ali, e meu corpo treme, mas no mesmo instante avisto Samuca, Vivi e o médico voltando. 

—Ei, essa garota não devia estar aqui. -o médico disse, como se estivesse se explicando para o pai do Duda.

—Mas ela está.

—Só precisava ver se meu livro estava com o Duda. -me expliquei, inventando uma desculpa.

—Tá. -ele responde, desconfiado.

—Vamos? -digo para Vivi e Samuca e nós três finalmente saímos da escola. 

 


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Notas finais do capítulo

Espero que não tenha parecido "apressado" demais, ou algo assim a maneira como Bia e Duda estão se aproximando agora, o que estão achando?
Comentem aí, Beijões! :*



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