Morto ou vivo para viver uma mentira escrita por Senhorita Ellie


Capítulo 2
Mal posso esperar para dançar sobre sua lápide


Notas iniciais do capítulo

Passa-se paralelamente ao Soldado Invernal, com referências a Primeiro Vingador.



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Quando estava congelado no intervalo entre suas missões, o Soldado Invernal não pensava em nada. Era um sono sem sonhos e que não lhe trazia nenhum descanso, mas não era como se ele precisasse descansar. Era um supersoldado a ser guardado enquanto não era útil, esperando por uma missão que o retirasse do estupor e que, assim que cumprida, o colocasse lá novamente.

Contudo, os sonhos que o Soldado tinha quando estava em ação — aqueles breves cochilos enquanto esperava uma brecha para atirar, por exemplo — não eram tão pacíficos. Uma vez acordado, era como se sua vida tivesse começado no momento em que dizia Pronto para servir, sim, mas sempre havia lampejos, cheiros e sons que o faziam se perguntar se houvera algo antes. E em seus sonhos, eles se tornavam ainda mais pronunciados.

Estava no topo de uma árvore esperando que o sol se pusesse para que pudesse se movimentar mais livremente pelas janelas da casa onde estava seu alvo da vez; não via problema em matá-lo de dia, mas seus chefes tinham pedido discrição máxima, e por mais que a ordem fosse tediosa, era para ser obedecida. Nas últimas cinco horas, tinha visto o futuro cadáver ir ao banheiro, sair coçando a cueca, arrumar um copo d’água, bocejar algumas dezenas de vezes, escrever cartas, coçar a cueca. Ele era tão previsível que fazia a sequência de coisas sempre na mesma ordem. Ir ao banheiro, coçar cueca, beber água...

Fico me perguntando qual é o seu problema em aprender que a melhor coisa a fazer quando alguém irritar você é manter a boca calada, Steve!

— Manter a boca calada é sinal de fraqueza.

— E custa sair correndo quando alguém for bater em você?

— Todos eles estavam no papo, Bucky. Você só interfere porque gosta de bancar o herói.

O Soldado sobressaltou-se, piscando rapidamente, mas o alvo ainda estava no estágio de escrever cartas e o sol não tinha mudado de posição no céu, o que significava um cochilo breve. Nenhum dano feito, missão não comprometida, tudo estava bem. Ótimo. Coçar cueca, ir ao banheiro, coçar cueca...

É só você socar assim e manter as pernas firmes, senão o impacto vai desestabilizar você e o oponente vai usar isso como uma brecha.

— Você já viu a grossura das minhas pernas, Bucky?

— Essas toras de madeira?

— Só se forem palitos de catavento, né? Não me sustentam direito nem quando vem uma ventania mais forte, porque me sustentariam ao levar um soco de alguém?

— Vou te ensinar o jeito certo, Steve.

— Vamos aceitar você é o boxeador aqui e eu sou o saco de pancadas, tudo bem? Cada um com a sua função e todo mundo fica feliz.

— Steve!

Sobressaltou-se novamente e dessa vez concluiu que seu sono tinha durado mais tempo; o crepúsculo já tinha chegado, colorindo o céu em tons laranja e vermelho. Estava quase na hora. Ficando de pé sobre o galho em que estava, estralou o braço orgânico, o pescoço e as pernas e manteve-se alerta desta vez, decidido a não dormir novamente, revivendo aquelas conversas em sonho com uma ponta de dúvida. Quem eram aquelas pessoas? Com certeza não eram da HYDRA e nunca tinham lhe dado ordens antes — até porque um superior da HYDRA nunca falaria com aquela... ele perdeu a palavra... aquela leveza. Eram sempre objetivos no que queriam e nunca se demoravam mais do que dois segundos após passarem suas ordens. As pessoas do sonho, ao contrário, pareciam estar...

Ele precisou de quase dois minutos para encontrar a palavra dessa vez: se divertindo. Analisou-a: que palavra estranha para se existir! Não conseguia associá-la a qualquer lembrança que tivesse da sua existência e não entendia exatamente o que significava, mas parecia caber perfeitamente naqueles diálogos.

— Soldado. — Imperativa, a voz veio dos fones que usava no ouvido. — Em posição?

— Sim, senhor.

— A hora está chegando.

— Sim, senhor.

— Não queremos marcas de balas em janelas ou nenhum outro vestígio visível, o que significa que você vai ter que entrar na casa para atirar. Estamos entendidos?

— Sim, senhor.

— Depois que atirar, há um avião esperando por você a dois quilômetros no norte. Esteja lá em meia hora após darmos o sinal.

— Sim, senhor.

O sol já tinha se posto e uma escuridão morna cobria a casa e a floresta.

— Os comandos de energia estão perto de você. Vai ter dois minutos até que o nobreak seja ativado e a luz volte.

— Sim, senhor.

— Ótimo. Está liberado para começar.

Dado o comando, o Soldado desceu da árvore, caminhou pelo jardim da casa até o painel de controle de energia e abriu-o. Deveria cortar os fios certos, mas, sem paciência, deu-lhe um soco com o braço metálico — e foi bastante funcional. A casa toda escureceu e o Soldado escalou as paredes até a única janela que permanecia aberta, a mesma janela pela qual tinha assistido o alvo horas antes, deslizando por ela e aterrissando no carpete fofo sem fazer nenhum som.

— Quem está aí? — gritou o alvo. — É você, Nick? Isso não tem graça!

O carpete abafava seu rastro e o soldado moveu-se com liberdade pela casa, tirando as facas do cinto e ajeitando-as na mão de forma que uma investida fosse suficiente para terminar seu serviço.

— Quem é? Tem alguém aí! Eu vi você entrando pela janela! Quem é você?

Sentia o calor do alvo próximo e conseguia quase farejar seu medo. Por que tinham se dado ao trabalho de matar um peixe pequeno como aquele? O Soldado nunca saberia.

— Me fala quem é você!

Dois golpes cruzados e o alvo já não falava mais nada. O Soldado ainda se deu ao trabalho de ajoelhar-se e checar seus batimentos cardíacos, mas não havia mais salvação para o alvo. Tinha sido abatido com cinqüenta segundos de sobra, que o Soldado usou para deslizar para fora da casa e se embrenhar entre as árvores, indo em direção do lugar que tinha lhe sido indicado.

Correu e, enquanto corria, deixou que a mente vagasse, revivendo sua execução da missão em busca de falhas a serem aprimoradas. Tinha deixado que o alvo o visse entrando — não era recomendável — e também tinha permitido que ele gritasse. Como a casa era isolada, aquilo não tinha sido um problema, mas podia sê-lo em missões futuras. Decidiu que trabalharia naquilo.

Não é não! É um nome bem comum! James-Buchanan-Barnes!

— Me chama de Bucky. Todo mundo me chama assim.

— Soldado Invernal — declarou, entrando na clareira onde o helicóptero lhe esperava e batendo continência aos que o aguardavam. — Pronto para servir.

 

 

 

 

 

Quando descongelado, era sempre como acordar de uma curta noite de sono; os intervalos de tempo entre suas ações causariam confusão caso sua memória não estivesse sempre sendo alterada. Fora acordado na divisão da Coréia, na crise de mísseis, no final da década de oitenta, múltiplas vezes na década de noventa e então dormira por quase dez anos até ser acordado para o plano final da HYDRA, já plenamente sobre controle da SHIELD e seus recursos.

Enquanto suas armas e recursos eram atualizados para a tecnologia presente nos anos dois mil, o Soldado não tinha notado pouca diferença. Mas, no momento em que colocou o pé para fora da base da HYDRA e olhara para as ruas, para os prédios, para as pessoas, para o barulho e para o frenesi, concluiu que o mundo estava diferente. Não sabia como poderia deduzir isso, uma vez que sua vida novamente começara no momento em que abrira os olhos e recebera sua ordem, mas ainda assim, algo não se encaixava.

Sentindo-se um pouco perdido, caminhou por Nova York, olhando para as pessoas e para os lugares. Não se lembrava de ter estado ali antes, mas conhecia os lugares e passagens; sem se dar conta, pegou atalhos e caminhos que os mapas não mostravam, embrenhando-se na cidade como quem a conhece na palma da mão, as ruas se tornando cada vez mais familiares, embora ele tivesse certeza que nunca estivera ali. Havia uma escola, bela como um castelo...

— Bucky, elas estão olhando para você.

— Por que estariam? Sou grande, forte e bonito, não é nada demais.

— Claro que não. Elas estão olhando para mim, então.

— Um belíssimo pau de sebo, tenho que concordar com elas.

— Por que é que eu te agüento mesmo?

— Ninguém nunca te deu outra opção, senhor Rogers.

E também um beco em um quarteirão próximo, onde o lixo se amontoava em pilhas; o Soldado franziu os olhos para ele, sentindo um incômodo mental comparável a uma coceira, e seguiu caminho, ciente de que estava indo a algum lugar, mas sem saber exatamente qual era. Seus passos tornaram um pouco mais velozes ao fim da rua, e ele virou a direita, de forma que estava quase correndo quando parou em frente a um escritório comercial de advogados chamado Bartholomew Cubbins & Associados.

Aquele escritório não deveria estar ali.

Será que vai ter biscoito de gengibre hoje? Estou com saudades deles.

— Sim, porque o intervalo de ontem para hoje foi muito doloroso para o seu estômago, né, Bucky?

— Obviamente. Aqueles biscoitos são o amor da sua mãe condensado com gengibre e farinha.

— Você não acabou de insinuar que está comendo o amor da minha mãe.

— Não acabei mesmo.

— É claro que acabou, seu maldito! Por que não pede a sua mãe para fazer esses biscoitos também?

— Ela é alérgica a gengibre, seu insensível. Além disso, qual é a graça de comer biscoitos de gengibre se eu não puder elogiar sua mãe e te irritar no processo?

Não deveria, deveria? Sua cabeça começou a doer. O que eram aqueles diálogos? Ele nunca tinha dito aquelas coisas, e aqueles flashs não vinham com rostos para que o Soldado pudesse analisá-los melhor. Seriam coisas ditas por pessoas que ele já matara? Sabia que tinha uma lista longa de vítimas, pois era isto que estava em seu arquivo na HYDRA, embora não se lembrasse de nada. Será que, enquanto estivera de tocaia, analisando a cidade e o modo de vida de um alvo, tinha ouvido aquelas conversas e mantido-as no inconsciente?

— Com você até o fim da linha, você se lembra?

— Claro que lembro.

— Então leve a sério. Pois eu falei sério.

Apertou as têmporas com o dedo orgânico, sentindo a dor de cabeça evoluir para uma leve vertigem. Por que aquele escritório não deveria estar ali, afinal? Quem era ele para saber o que deveria estar ali? Tinha uma missão a fazer, alguém a matar; um tal de Nick Fury. Aquilo não era importante, afinal — e junto com esta conclusão, a vertigem esmaeceu até tornar-se novamente uma dor de cabeça, que diminuiu de intensidade à medida que o Soldado deixava o escritório para trás, ainda funcionando, inconsciente das memórias que tinha soterrado em sua construção.

 

 

 

— Quero que capture Steve Rogers, ou Capitão América, pode chamá-lo como preferir, contando que esteja capturado, entendido?

­— Meu nome é Steven Rogers.

— Eu sei. Mamãe me...

Soldado. Soldado. Soldado!

O oficial que repassava as ordens franziu as sobrancelhas para ele, e o Soldado precisou piscar por um minuto para retomar a linha de raciocínio; o homem esperava por sua resposta.

— Sim, senhor.

— Hm, bom. — Deu de ombros. — Ele tem uma bagagem de gente com ele. Não dê atenção. Foque no próprio Steve. Nossas forças vão capturar os outros.

— Sim, senhor.

— Preciso que isso seja feito em vinte e quatro horas.

— Sim, senhor.

— Ótimo. Está liberado para ir.

— Sim, senhor.

O homem saiu da sala e o Soldado se levantou, ciente de que tinha que se reunir com o resto dos oficiais designados à missão para receber os detalhes práticos da ação. Nada fora da rotina. Seus relatórios diziam que ele já tinha capturado homens antes, embora não se lembrasse disso, e que essas missões não tinham sido nada difícil para suas habilidades. Aquele nome, porém — Steve Rogers, Capitão América —, não lhe era estranho. Teria encontrado-o em alguma de suas missões passadas?

— Eles vão atravessar a ponte em menos de uma hora — disse um oficial da inteligência, um mapa aberto sobre a mesa de reunião, os dedos deslizando sobre o contorno que representava a ponte. — Tudo o que precisamos fazer é cercá-lo. Ele vai resistir, claro, e é aí que o Soldado entra; queremos atrasá-lo o suficiente para a segunda onda de reforços chegar, e então eles vão ser soterrados pelos nossos números. Teoricamente, nada difícil. O problema é que estamos lidando com o Capitão, e além de ser sortudo como o diabo, ele ainda está acompanhado. Viúva Negra, os registros dela estão aqui...

Achei que você estivesse morto.

— E eu achei que você fosse menor.

—... E temos também o Sam Wilson. Os registros dizem que ele estava administrando palestras motivacionais para veteranos de guerra, mas parece que ele teve acesso ao seu antigo equipamento e voltou à ativa. Assim como a viúva, ele também não tem super poderes, mas conhece as táticas e pode ser uma dor no rabo, porque ele pode voar. Tentem desestabilizar o equipamento dele para mantê-lo no chão.

Doeu?

— Um pouco.

— Todos ouviram? Sabem de suas devidas posições? Ótimo. Estão dispensados. Soldado, você também! — o oficial chamou sua atenção, quando percebeu que a arma não se movia. — Seu papel nesta missão é fundamental. Entendido, soldado?

Ai, agora eu sou que nem você! As meninas já não olham mais para mim!

Sim, senhor.

E se foi. Uma hora depois, apesar de todos registros que diziam que missões de captura eram relativamente fáceis para o Soldado, ele concluía que as coisas não estavam sendo tão fáceis quanto deveriam ser; o tal Capitão América tinha um escudo irritante e sabia lutar, assim como também a sua bagagem insignificante, subitamente se revelando como não tão insignificante assim. A ruiva, principalmente.

O fone em seu ouvido o avisou que faltavam dez minutos para os reforços chegarem; ele só precisava segurar o Capitão por mais um tempo e então dar sua missão como concluída. Não tinha dúvida em nenhum momento de que seria bem sucedido, mas não era como se estivesse sendo simples; fora obrigado a apelar para suas facas, uma arma que só usava em missões específicas, porque a tecnologia não deixava de ser, através dos anos, a máquina a serviço do homem.

— Dois minutos — avisaram-lhe. — Continue mantendo-o ocupado, Soldado.

Quis xingar o oficial, mas a linha já tinha sido desligada e o escudo estava cravado bem em seu braço mecânico e aquele um segundo que ele se deixou distrair pelo fiapo de dor envolvido — as terminações nervosas artificiais funcionavam, afinal — foi o suficiente para que o Capitão fizesse um ataque mais inteligente, conseguindo despi-lo de sua máscara.

Um segundo de silêncio.

— Bucky?

­— Bucky?

Ele hesitou por um minuto, e então retomou o foco.

­­­— Quem é esse Bucky?

­­— Sim, Steve?

A bala da ruiva veio em sua direção e o Soldado mal conseguiu acordar a tempo de desviar-se, aproveitando-se da fumaça para fugir. Os reforços já chegavam e não precisavam mais dele. Quando se colocou em uma distância segura, passou a correr.

­As lembranças que surgiam agora tinham também rostos — um rosto, na verdade — e aquilo era assustador. O Soldado viu um menino de nariz inchado e enfaixado como uma múmia, um adolescente pequeno e tão magro quando um tronco de bambu, um homem usando aquele mesmo escudo, mas não para machucar, e sim para proteger.  E o via dizendo Bucky de todas as maneiras possíveis: como um doce na boca, como um chamado, como um pedido de socorro, como uma carícia, como um lamento, como uma manifestação de desespero.

Ele conhecia aquele homem. Steve Rogers.

Mas quem era Bucky?

 

 

 

Abriu os olhos, memórias vazias. Acabava de renascer novamente:

— Pronto para servir.

— Há um homem chamado Capitão América nas naves do Projeto Insight. Você vai achar todas as informações necessárias no sistema. Impeça-o.

— Sim, senhor.

Esperou-o na última ponte, a única que ainda tinha seu chip original no lugar, e não foi decepcionado: poucos minutos depois, o Capitão estava lá.

— Não me obrigue a fazer isso, por favor.

— Eu não acredito que você coloca papel jornal nos seus sapatos. Não acredito!

— É porque não tem sapato que me serve. Eu sou pequeno, sabe?

— Olha, vou te dizer, nunca tinha reparado.

O sistema tinha dito que a luta provavelmente penderia em favor do Soldado, embora não disse o porquê, e estava se revelando errado; a determinação do Capitão em conseguir o que queria era ferrenha e o Soldado sentia que havia algo de errado com ele, algo que o freava, e aquilo o estava irritando. Ele não tinha sido criado para falhar. Armas defeituosas eram jogadas fora, mas não ele; ele tinha sobrevivido ao longo das décadas, adaptando-se ao ambiente e à tecnologia, porque o Soldado Invernal era a arma perfeita, e a perfeição não é feita de tempo ou espaço. É feita de si mesma.

Aquelas eram as palavras do sistema sobre ele. Deviam estar corretas, mas ele não se sentia perfeito, não se entendia como feito de si mesmo; à medida que lutava, escutava palavras, via gestos e sorrisos que não eram dele, se retraía com piadas que não se lembrava de ter contado e doía-se por um sentimento que não conhecia, porque armas não eram feitas para sentir. Só para matar.

Quando deu por si, estava sendo estrangulado e seu corpo, que brigava por oxigênio, começava a ceder. A escuridão veio, e com ela fragmentos de lugares onde ele nunca tinha estado, lembranças de sentir frio, muito frio, e o branco reluzente da neve. Um grito de horror e uma queda. Um rosto que sorria satisfeito, a dor excruciante de uma cirurgia, você será o punho da HYDRA.

Abriu os olhos e tentou se mover, mas descobriu que não podia; havia uma viga em cima dele e o Capitão — sua missão — procurava retirá-la. Ele era burro ou o quê? Já tinha completado sua missão e conseguido colocar o maldito chip no lugar dele; por que não tinha ido embora? Não era inteligente ficar rondando o local de uma missão após concluí-la. O que ele queria?

— Você me conhece.

O Soldado sentiu um assomo de desespero.

— Não conheço!

­— Bucky... — disse o Capitão. — Você me conhece sua vida toda!

Steve...

­— Sim?

— Seu nome é James Buchanan Barnes...

— Cala a boca!

Se essa guerra realmente chegar, o que faremos?

— Vamos nos alistar. E vamos lutar juntos, um pelo outro. Sempre foi assim, não foi?

— Eu não vou lutar com você. Você é meu amigo.

— O que teria sido de você se eu não tivesse te salvado naquele dia, hein, Steve?

— Não se ache. Eu já disse, ele estava no papo.

— E você é a minha missão. VOCÊ. É. A MINHA. MISSÃO!

Sim, claro. Eu acredito.

— Se você não tivesse me salvado, eu não teria o meu melhor amigo. Acho que eu ia sobreviver.

— Então finalize. Vou estar aqui até o fim.

Ah, admite logo que você me ama!

— E eu amo.

— Ah... Eu não esperava por essa.

— Eu sei que não. Quem seria você sem me ter para te colocar em saias justas o tempo todo, afinal?

E o Soldado jurou para si mesmo que quis terminar aquilo, não mais por causa de missão qualquer e sim porque precisava provar para si mesmo que era mais forte do que a sua própria confusão, porque ele era uma máquina e máquinas não podiam sentir as coisas, mas não conseguiu. Assistiu inerte o vidro se quebrar, o capitão inconsciente despencando em direção ao rio Hudson, e pela primeira vez em setenta anos perguntou a si mesmo o que queria fazer, sem a interferência de missões ou ordens, sem relatórios, informações ou sistemas.

Realmente. Você é mestre nisso. Pois bem, que fique dito: eu te amo também.

— E qual era a novidade, realmente?

Soltou-se do avião e deixou-se cair também.


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