Ao adentrar na casa dos Weasley, Harry notou que Gina já estava sentada à mesa, e que desviou o olhar no momento em que seus olhares se encontraram.

O café da manhã seguiu com muita alegria, sendo certo que todos evitavam o assunto “Fred”, pois ainda surgiam lágrimas nos olhos de todos quando o gêmeo era mencionado.

Depois que todos finalizaram seu café da manhã, e que na mesa já não havia mais comida alguma, a família Weasley começou a separar-se. O Sr. Weasley foi para o trabalho, a Sra. Weasley foi cuidar das galinhas, Rony e Hermione foram desgnomizar o jardim, e Gina ia subindo as escadas quando Harry a interrompeu.

— Eu gostaria de conversar com você. – disse o garoto, em um misto de nervoso e excitação.

— Hm... certo. Aqui? – questionou Gina, com uma expressão indecifrável.

— Lá fora... de preferência um pouco distante da casa.

Harry e Gina saíram, sorrateira e rapidamente d’A Toca. Quando estavam em uma distância adequada, Harry decidiu tomar coragem e falar, nada mais nada menos, do que a verdade.

— Eu terminei com você no enterro de Dumble...

— Eu me lembro bem. – interrompeu a garota, agora com uma expressão levemente chateada no olhar.

— E quando voltei à Hogwarts, quando achei que fosse a última vez que fosse ver você...

— Eu também me lembro desta parte, Harry.

Harry percebeu que as palavras fluíam melhor em sua cabeça, pois nela Gina não o interrompia em nenhum momento. O garoto então decidiu falar o que realmente estava sentindo, sem ensaios nem rodeios.

— Gina, escute: eu entendo que tenha ficado chateada comigo, pois qualquer um ficaria! Mas... eu gostaria que entendesse que tudo o que eu fiz foi pra te proteger! Eu jamais teria me perdoado se alguém tivesse torturado você para obter informações sobre mim!

— Harry, eu entendo seus motivos. Ocorre que, mesmo diante da sua ausência, houveram castigos e torturas. Hogwarts não era mais um bom lugar para ficar. Todos fomos torturados e massacrados em sua ausência, e nunca houve nada que você pudesse ter feito para alterar essa realidade, senão o que de fato fez durante a batalha. E também, Harry - a garota agora olhava para baixo, e Harry teve a impressão de ver um lágrima - a pior parte nem foi o termino no enterro de Dumbledore, e sim o fato de você não ter me procurado no momento em que acabou a batalha. Você simplesmente passou por mim, consolando e ajudando a todos, menos a mim!

Harry, que agora se sentia envergonhado, não sabia o que dizer. Certamente não poderia dizer que estava com receio de conversar com a garota, temendo que ela fosse responsabilizá-lo pela morte de Fred.

— Escute Harry, eu sei que deve ter sido difícil para você, com tanto a fazer, mas eu precisava de você naquele momento. Rony tinha Hermione, eu não tinha ninguém.

Sem palavras novamente, e decidido a não cometer o mesmo erro duas vezes, Harry abraçou Gina e disse, baixinho:

— Me desculpe por não estar lá quando precisou de alguém. Prometo que não vai acontecer novamente. – e beijou a testa da garota, da forma mais carinhosa e solidária que pode encontrar.

Os dois foram fazendo o caminho de volta para À Toca muito devagar, como velhos amigos, conversando sobre quadribol e sobre a reconstrução de Hogwarts. Harry aproveitou a oportunidade para contar à Gina todos os detalhes sobre as lembranças de Snape, que o garoto tinha visto na penseira.

— Quem diria, não? Severo Snape na realidade tinha afeição pelo garoto Potter... – comentou Gina, em tom descontraído.

— Pois é. Jamais pensei que fosse me deparar com essa situação. – disse Harry.

Quando estavam quase chegando n’A Toca, Harry ouviu Rony contando à Sra. Weasley e à Hermione algo muito engraçado, pois as duas não paravam de rir.

Enquanto Harry se aproximava, junto com Gina, ele encontrou o olhar de Rony, que passou de algo amigável e descontraído, para irritado e enciumado.

Gina foi ao encontro de Hermione e da mãe, e as três logo se distraíram com alguma conversa alheia ao conhecimento de Rony e Harry. Rony, por outro lado, andou decididamente até Harry, que se antecipou e começou a falar:

— Rony, já tivemos essa conversa. Eu sei que não a idéia de terminar com Gina não foi a mais brilhante do mundo, e que ela ficou muito chateada comigo, mas eu preciso que você saiba que ela é uma das melhores coisas que já me aconteceram, e que nos dois últimos anos da minha vida, eu tenho pensado regularmente nela, de modo que não vejo motivos para você se rebelar com a situação que está acontecendo entre nós. – Harry deveria ter dito tudo isto com incrível rapidez, pois Rony demorou alguns segundos para assimilar tudo o que ouvira.

— Eu vou te dizer uma coisa Harry, e vou dizer calma e claramente, para que fique bem claro o que eu quero dizer, de modo que não restem dúvidas: Gina tem cinco irmãos e já passou por muito nessa vida. Se eu a ver sofrer por você novamente, eu esqueço que sou seu melhor amigo, e iremos fazer com você o que fazemos com os gnomos. Está claro? - Perguntou Rony, erguendo os pulsos para Harry, com um olhar agressivo no rosto.

— Cristalino.

Rony deu as costas ao amigo, deixando óbvio que realmente iria machucar Harry, se encontrasse motivos para tanto. De fato, a opinião de Rony sobre o assunto sempre fez muita diferença para Harry.

Não querendo ficar para trás, e, agora decidido que deveria buscar uma solução para sua história com Gina, Harry correu para acompanhar Rony, cruzando, acidentalmente, com um olhar furtivo e sorridente da Sra. Weasley, que, pela primeira vez, parecia estar tão por dentro da situação quanto os próprios amigos de Harry.