As coisas na base sempre ficavam calmas quando poucos heróis estavam lá, principalmente quando Grace não estava, e aquele silêncio todo chegava a ser preocupante. Damian e Yuki se encontravam no refeitório, onde comiam uma sala de frutas que Kate havia preparado e esperavam algo acontecer. Desde que o Wayne havia chegado, ele não havia falado muito, mas parecia um pouco menos inclinado a matar Tony depois de alguns minutos longe do detetive.

— Quantas vezes vou ter que dizer para não entrar na pilha do Tony? — ela o encarou, vendo-o continuar concentrado na TV que ficava presa na parede ao lado da mesa em que eles estavam.

— Por que não diz para ele parar de encher o meu saco ao invés de falar comigo?

— Acha que já não tentei? Vocês dois são as pessoas mais teimosas que conheço, mas sei que pelo menos você me escuta — ela pôs a mão sobre a dele, fazendo o moreno olhar em sua direção, ainda sério. — Só tenta… Por mim, por favor. Odeio vê-los discutindo quase tanto quanto odeio o clima chato que fica na sala quando a Mel e a Kate estão por perto.

Antes que Damian pudesse responder, a porta do elevador se abriu e Natasha entrou, segurando uma cabeça grande de algo que parecia ser uma mistura de tubarão com crocodilo. Ela estava com a armadura dourada um pouco suja, assim como sua espada, porém não estava ferida.

— Onde conseguiu essa coisa, Nat? — Yuki logo perguntou, surpresa com a aparição da thanagariana e com o fato de ela estar levando a cabeça para a geladeira.

— Acabei de voltar de uma missão em que esse monstro tentou comer minhas asas. É um troféu pessoal, mas preciso de um lugar para deixar ele até que arranje outra câmara criogênica portátil — Natasha abriu espaço e colocou a cabeça ali dentro. — Tentem não deixar a Grace brincar com isso.

— Quero só ver a reação de quem for o primeiro a abrir essa geladeira — a oriental deu uma risada.

A garota alada ia sugerir que ela colocasse uma câmera ao lado da cabeça, quando Damian aumentou o volume da televisão e a atenção de ambas foi voltada para a televisão, onde uma repórter falava, parada na frente de uma loja de roupas com a vitrine completamente destruída.

— ...Não houveram mortes durante o incêndio no edifício Hartford, mas a polícia teme que a luta entre três meta-humanos possa deixar muitos feridos se continuar assim. As autoridades e bombeiros já evacuaram a área, esperando que a luta não se estenda até onde a maior parte dos civis busca abrigo…

— Esse não era o prédio em que Apolo, Scott e Grace estavam ajudando com o incêndio? — Yuki perguntou para Damian, que assentiu e se levantou.

— Vamos ver o que está causando essa luta e impedir que esses três meta-humanos acabem por ferir alguém seriamente  — Natasha disse e  entrou no elevador com os outros dois.

— Yuki, fique aqui e acorde a minha irmã, precisamos que monitorem a situação dos civis para que possamos manter a luta longe deles.

— Por que logo eu preciso ficar? — Yuki cruzou os braços e olhou desconfiada para o namorado.

— Não sabemos se a Shi estará lá.

— Shi não é uma meta-humana, e mesmo se estivesse, eu posso enfrentá-la sem ser morta! — a oriental franziu o cenho e cerrou os punhos. — Não sou feita de vidro.

— Faça o que eu pedi, por favor. Enquanto discutimos se você é capaz ou não de lutar contra a Shi, pessoas correm perigo, não temos tempo para isso agora — assim que as portas se abriram, Damian correu para a sua sala para vestir seu uniforme.

— Vou esperar no teletransporte — Natasha subiu na plataforma e ficou esperando pelo Wayne.

Yuki bufou, mas se deu por vencida e foi até a sala que Batgirl dividia com Superboy, uma das primeiras do corredor.

Damian correu de volta para a sala de comando um minuto depois, já equipado, então pediu que Scava teletransportasse ele e Natasha para a localização dos outros três membros do DS que estavam em Gateway City. Assim que chegaram a uma loja de carros completamente destruída e com alguns poucos automóveis não amassados, viram Speedy caída em cima de um carro. O amassado abaixo dela indicando que não havia sido jogada ali com gentileza.

— Goldfire para base do DS, — Natasha pôs a mão no comunicador e aproximou-se de Grace, que estava desacordada. — Temos um membro da equipe ferido.

— Dois — Batclaw andou na direção de Scott. O atlante também havia perdido a consciência e estava caído no meio dos destroços de uma parede. — Seja lá quem fez isso, é extremamente forte.

— Não quero atrapalhar o Superboy, mas se ele estiver livre, pode mandá-lo aqui para me ajudar com esse oponente extremamente forte enquanto Batclaw leva os feridos para um lugar seguro — Goldfire se preparou para pegar Grace em seus braços, parando ao ouvir o som de um carro destruído sendo arrastado para o lado. Ela, então, viu Apolo andando tranquilamente em sua direção. — Pelo menos você não foi atacado. O que aconteceu com esses dois?

— Não tenho certeza, mas deve ter sido algo parecido com isso — com um movimento rápido, ele acertou um soco muito forte no rosto da thanagariana,  lançando-a para longe de forma que ela passasse por cima de Damian e por pouco não o acertasse.

Batclaw se levantou de onde estava ajoelhado ao lado de Scott e seu raciocínio rápido o fez deduzir que quem havia atacado Speedy e Aquaboy fora Apolo, então o semideus não seria nada amigável com ele também. Com esse pensamento, o moreno lançou dois batarangues no mais forte, que os desviou usando seus braceletes e avançou contra o Wayne.

— Seus amigos foram inúteis para mim, mas talvez você não seja  — Apolo o segurou pelo ombro e o empurrou contra uma parede que ainda não havia sido destruída. — Que tal chamar seu colega Superboy antes que eu perca a minha paciência de novo?

Damian já estava com a mão em seu cinto, pronto para soltar uma das bombas de fumaça no rosto dele, quando Natasha segurou Apolo por trás e o jogou com toda a sua força para cima de um carro. O semideus usou o automóvel para pegar impulso com os pés e voou para cima da thanagariana, que prontamente se abaixou e acertou um chute no rosto do companheiro de equipe.

Só então Batclaw notou um cabo verde ligado à nuca de Apolo, provavelmente o motivo para ele estar agindo daquela forma. Cortá-lo seria a melhor opção e ele sacou dois batarangues para fazer isso, mas Natasha voltou a lutar contra o semideus, e onde ele ia, o cabo ia também, movendo-se a todo momento.

— Tente cortar o cabo que está ligado a ele — Batclaw gritou e seus olhos seguiram o fio verde até onde ele sumia atrás de uma parede.

Natasha sacou sua espada e a lâmina foi rapidamente coberta por chamas. Apolo também desembainhou a sua e bloqueou os golpes dados pela alienígena, que eram todos direcionados para o cabo verde. Quando finalmente conseguiu uma abertura, ele segurou o braço direito dela e a puxou para que ficasse de costas, acertando uma joelhada na parte inferior de seu torso e a jogando com toda a sua força em cima de Damian, que estava quase chegando ao outro lado do cabo conectado ao Prince quando foi atingido.

— Acha que esse cabo é o motivo de ele estar agindo dessa maneira? — Natasha saiu de cima do Wayne e voltou a apontar sua espada na direção de Apolo.

— Não tenho certeza, mas é a única explicação lógica que tenho no momento.

— É tão difícil acreditar que seu amigo passaria para o lado dos vilões por livre e espontânea vontade? — Apolo guardou sua espada, como se não precisasse mais dela para lutar e Goldfire não fosse uma ameaça.

— Extremamente. Ele tem mais honra do que qualquer um de nós, nunca nos trairia — a thanagariana avançou contra ele, desferindo um golpe de cima para baixo que o semideus bloqueou com um de seus braceletes. — E se você quer o Superboy aqui, pode apostar que ele vai ser a última pessoa que você vai ver!

— Quer apostar? — ele desviou a lâmina em chamas para o lado e voou com toda força na direção dela, empurrando-a até que atravessassem duas portas de vidro e caíssem do outro lado da loja, em cima de um carro. — Talvez se eu a fizer gritar bem alto, ele venha te socorrer. Arrancar suas asas deve fazer o serviço.

Natasha usou ambos os pés para empurrar a barriga dele, criando uma certa distância entre os dois. Apolo se abaixou e deu uma rasteira na garota alada bem quando ela recuperou o equilíbrio e, antes que ela caísse, acertou um soco em seu estômago e uma cotovelada de baixo para cima em seu queixo, jogando-a novamente em cima do carro já destruído. Ela percebeu que ele havia começado a flutuar acima dela e descia rapidamente para esmagá-la contra o automóvel, então rolou para o lado e saiu da área do impacto.

Batclaw seguiu o fio, querendo saber com o que estavam lidando antes de simplesmente sair cortando o mesmo, e viu um homem, que parecia uma máquina, pular de trás de uma parede e começar a andar por ela na direção do teto.  Ele andou como uma aranha até mais perto de onde Natasha e Apolo lutavam, o herói não perdeu tempo e lançou dois batarangues explosivos na direção do vilão.

Cypher percebeu e saltou para o chão a uma velocidade impressionante, apontando sua mão livre na direção de Damian e deixando que outro cabo verde saísse da mesma. O moreno ia dar um salto para o lado, quando uma luz azul brilhou ao lado dele e duas lâminas surgiram do nada, cortando o cabo antes que chegasse a ele.

— Não sei o que acabei de cortar, mas espero que seja algo ruim — Kodachi falou, parando na frente do namorado em posição defensiva enquanto apontava suas espadas na direção de Cypher.

— Três centímetros para o lado e teria feito picadinho do seu namorado  — Questão também estava com ela e tinha sua besta em mãos.

— Falei para ficar na base — Damian saiu de trás da oriental e se colocou ao lado dela.

— Batgirl mandou o Questão vir, e ele pediu que eu viesse com ele. Os dois disseram que você não manda em mim, e eu concordo.

Damian pensou em responder, mas ficou calado. Viu que Cypher havia recuado seu cabo quando ele foi cortado e voltou a se concentrar na luta entre Apolo e Natasha.

— Estou entrando em contato com o Kevin nesse momento, tirem os feridos daí — Batgirl disse pelo comunicador.

— Não, é isso o que esse ciborgue quer. Não sei o motivo, mas não podemos deixar o Superboy perto dele — Batclaw disse. — A menos que queira os dois seres mais poderosos da equipe sendo controlados.

— Se Apolo está sendo controlado, o único que pode impedi-lo é o Kev, então a menos que vocês todos tenham um desejo secreto de serem mortos, ele vai e ponto final.

Apesar de frustrado, o Wayne percebeu que ela não mudaria de ideia e resolveu não argumentar mais.

— Questão, me ajude a tirar o Aquaboy e a Speedy daqui. Kodachi, nos dê cobertura — Damian se aproximou do atlante, que ainda não havia recobrado a consciência.

Tony foi até a velocista e a sacudiu para que acordasse.

— Mais cinco minutos… — a loira murmurou, sem acordar.

— Speedy, levanta — o detetive falou, sacudindo seus ombros e a jovem foi obrigada a abrir os olhos. Levou instantaneamente uma mão a cabeça, onde sentia uma dor latejante.

— Eu tive um sonho super estranho em que o Apolo atacava a gente, dava uma tremenda surra no Scott e ainda me jogava de um lado para o outro em cima de dois carros… Preciso parar de comer tanto açúcar.

Nesse momento, Natasha caiu no meio daquela parte da loja e permaneceu no chão, fazendo Grace gritar por conta do susto. Apolo pousou bem ao lado dela e direcionou sua espada na direção do peito da garota alada.

Sem pensar muito, Yuki usou suas duas kodachis para dar um golpe lateral na lâmina do semideus, a tirando da mira de sua colega de equipe instante em que a mesma ia penetrar o peito dela, e consequentemente acertando o chão. Isso fez Apolo voltar sua atenção para a oriental, não parecendo nem um pouco contente. Antes que pudesse atacá-la, porém, precisou desviar uma flecha que foi lançada em sua direção usando seu bracelete.

— Por que não luta com alguém do seu tamanho? — Tony falou, atirando mais flechas com sua besta e vendo-as serem todas desviadas pelos braceletes.

— Que tal não procurar briga com alguém que pode te mandar para a China com um tapa — Damian retrucou, saiu de perto de Scott e correu na direção de Apolo.

O semideus se virou logo que sentiu Batclaw se aproximar, segurando a perna dele quando tentou desferir um chute alto em seu rosto, porém não prevendo que ele usaria a outra perna para dar outro chute e, dessa vez, não conseguiu impedir que este o acertasse com força, fazendo-o soltar a perna do Wayne.

— Que tal você parar de ser um pé no saco e cortar logo esse cabo verde, que obviamente está fazendo ele se voltar contra nós — Tony, assim como Yuki, agora estavam na frente de Grace, caso Apolo tentasse atacá-la novamente, já que a velocista ainda parecia desorientada.

— Ah, sim, cortem o cabo e fritem o cérebro do seu amigo — Apolo disse, segurando o fio com uma das mãos. — Posso encontrar outra marionete, mas se cortarem isto, ou se for tirado a força, vão poder comparar os miolos dele com um pudim amassado. Só eu posso libertá-lo de forma segura.

— Agora sim estamos numa situação complicada — Yuki sentiu-se aliviada por não ter cortado o cabo quando teve a chance. — O que quer com ele?

— Por mais estranho que pareça, seu amigo é só um intermédio para eu conseguir o que quero — Apolo nem precisou virar para trás para saber que Damian ia atacá-lo, então apenas virou parte do corpo e jogou o herói por cima de seu ombro, jogando-o no chão com violência.

— Não vamos conseguir derrubá-lo… — Kodachi sussurrou para o amigo ao seu lado.

— Espero que o Super chegue logo, então.

§

— Estamos quase lá? — Kate perguntou, olhando para cima, onde Kevin escalava a montanha na sua frente.

— Já está cansada? — ele sorriu e olhou para baixo, vendo-a cutucar sua perna com o dedo.

— Não são todos que tem super força, para a sua informação — ela o viu flutuar para baixo e ficar parado ao seu lado, sem nem encostar na pedra.

— Para a sua informação, senhorita, eu nunca uso meus poderes enquanto escalo.

— Vou fingir que acredito — a loira continuou a subir, porém foi impedida quando ele segurou sua cintura e a levou até o topo. — Assim não vale.

— Só queria que chegássemos aqui antes do sol se pôr, e você estava indo muito devagar — ele implicou, sorrindo ao vê-la fingindo estar ofendida.

— Ainda falta bastante tempo para o pôr do sol, abusado — ela se aproximou do namorado, como se fosse beijá-lo, mas o deixou esperando quando só tirou a bolsa das costas e pegou sua câmera. — Segura, por favor.

Ele deu uma risada e fez o que ela pediu, esperando até que a Queen tirasse suas fotos da paisagem abaixo deles.

— Não são todos os caras que trazem a namorada para escalar o Monte Khuiten no aniversário de namoro — ela virou a câmera para si e aproximou-se do maior, tirando uma foto dos dois de forma que a paisagem atrás deles ficasse bem clara.

— Você é a primeira que posso trazer aqui — ele falou, sem pensar e só percebeu o que havia falado quando ela o encarou com uma sobrancelha arqueada. — Não que já tenham havido muitas… Quero dizer, você é a primeira que realmente sabe sobre os meus poderes então é a primeira que trago aqui.

— Bela saída — ela brincou, achando graça na forma como ele ficara sem graça tão rapidamente. Ele era, sem dúvidas, o cara mais fofo que ela conhecia, e ela adorava isso nele.

O casal estava prestes a se beijar, quando o som do telefone de Kate foi ouvido. A loira deu um grunhido, aborrecida por ter que atender, e pegou o aparelho, estranhando o nome que apareceu na tela.

— Por que ela está me ligando?

— Porque deve estar desesperada para falar comigo e eu deixei o meu celular na base — ele a viu entregar o telefone em sua mão e atendeu. — Mel, algum problema?

— Vou teletransportar vocês para a base agora, precisam ver uma coisa — dizendo isso, a Wayne desligou e Kevin ficou sem entender nada com o telefone no ouvido.

— Por que você…? — ele mal terminou a frase e já havia aparecido na sala de comando do DS, Kate ao seu lado.

— O que aconteceu? — a loira olhou confusa para o namorado e ele apenas lhe entregou o celular antes de andar até onde Melissa estava parada na frente de um dos computadores.

O líder da equipe ouviu atentamente conforme a amiga explicava o que estava acontecendo e mostrava imagens gravadas com a câmera na lateral do capacete de Batclaw, mostrando Apolo atacando os outros membros e sendo controlado pelo homem-máquina.

— Se essa coisa quer o Kev, é porque pretende controlá-lo também — Kate disse, logo depois de ouvir o relato.

— Sou mais rápido do que aqueles tentáculos verdes, não vou deixar que cheguem perto de mim. Aparentemente sou o único que pode tirar o Apolo dessa, então vou fazer o que for necessário — ele usou sua super velocidade para colocar seu uniforme e voltar para a sala de comando em poucos segundos. — Mas se, por acaso, ele consiga me controlar, quero que usem o Dread Swipe.

— O quê?! — Kate ainda não tinha visto o automóvel, mas havia visto Melissa, Tony e Ethan trabalhando nele durante meses, usando o mesmo material que eram feitas as naves kryptonianas, sabia para o que ele servia. — Ficou maluco se acha que vamos usá-lo contra você.

— Se ele conseguir me pegar, é a única forma de me pararem — ele evitou olhar para a namorada, virando-se para Mel. — Ele pode virar um pequeno jato também, não é?

— Sim, ele se adapta a qualquer ambiente — Batgirl, assim como Kate, detestava a ideia de ter que atacar seu melhor amigo, porém sabia que esse era, talvez, a única forma de salvarem Apolo.

— Então o usem para voarem até Gateway e fiquem de olho em mim — Superboy subiu na plataforma de teletransporte e Melissa o mandou para a cidade.

A Wayne olhou para Kate e percebeu que a loira a fuzilava com o olhar.

— O que foi? Acha que quero mesmo jogar uma bomba de kryptonita no meu amigo? Você não é a única que se importa com ele.

A meta-humana não respondeu, apenas se virou e foi para a sua sala colocar seu uniforme.

§

Kevin apareceu no meio da concessionária e a primeira coisa que viu, foi Apolo segurando o pescoço de Batclaw e batendo com a cabeça dele várias vezes contra um carro, o capacete do herói quase que completamente destruído àquele ponto. Olhou para o lado e viu que Grace e Yuki arrastavam uma Natasha inconsciente para fora da loja e Tony estava ajudando Scott a se levantar.

— Não me lembro de ter tomado uma surra tão grande na minha vida — o atlante massageou a nuca, sentindo que ali havia sido o local da última pancada que recebera.

— Todos vocês, saiam daqui. Eu cuido dele — Superboy disse, em alto e bom tom, chamando a atenção de Cypher, que soltou Damian e se virou para o herói.

— Finalmente você chegou, já estava ficando entediado  — o moreno viu o homem trajando uma roupa verde e eletrônica sair detrás dos resto de um carro, mas quem havia falado foi Apolo.

— Você me queria, estou aqui — Kev se virou para ter certeza de que seus amigos haviam saído do local. — Deixe-o ir.

— Deixá-lo ir? Meu trabalho acabou de começar — Apolo desferiu um soco na direção do rosto do outro, porém teve o golpe bloqueado quando Kevin segurou sua mão, conseguindo apenas fazê-lo dar um passo para trás.

Superboy o fez se virar, o prendendo em um mata-leão e conseguindo mantê-lo parado por dois segundos, antes que o semideus começasse a dar várias cabeçadas para trás com toda a sua força, acertando em cheio o rosto do outro. Kevin, apesar de sentir a dor dos golpes, não o soltou de primeira, o erguendo no ar e o jogando até o outro lado da concessionária, vendo que Cypher havia sido puxado junto e também caíra perto de sua marionete.

Apolo colocou-se de pé e Cypher subiu em suas costas, ficando com as mãos e pés grudados no moreno como fazia nas paredes. Kevin sabia que não poderia arrancar o fio preso na nuca de seu amigo e não queria feri-lo, mas sabia que o Prince aguentava o tranco e que não precisaria se segurar tanto.

Rapidamente, Apolo voou na direção de Superboy e o empurrou, o impulso os lançando para fora da loja e fazendo com que passassem através de dois prédios. Kevin ouviu alguns gritos assustados, porém sabia que ninguém havia se ferido… Ainda. Precisava manter aquela luta sob controle, ou a cidade pagaria um preço alto.

Superboy conseguiu pará-lo no ar antes que atravessassem outro prédio e o jogou com força na direção do solo. Infelizmente aquela área não havia sido evacuada por estar um pouco mais afastada do local em que a polícia acreditava ser perigoso, então haviam alguns carros passando e poucas pessoas andando na calçada, todos ficaram assustados ao verem o semideus atingir o solo e criar uma pequena cratera ao seu redor.

Apolo flutuou até estar de pé novamente, Cypher ainda preso em suas costas e não parecendo afetado por quase ter sido esmagado por sua marionete. Ele olhou para frente e viu um carro quase o atingir, freando bem na hora, então olhou para cima e teve uma ideia. Se não podia competir com a força de Kevin, usaria o ponto fraco de qualquer super-herói. Sem demora, ele pegou o carro onde havia um homem e o lançou na direção de Superboy.

O herói segurou o carro a tempo, mas o soltou no momento em que um carro vazio acertou suas costas. Não pôde nem se virar para devolver o golpe, desceu em um rasante e pegou o automóvel e o colocou em segurança na rua. Estava pronto pra voltar sua atenção para Apolo e afastá-lo da cidade, quando o viu aparecer na sua frente e lhe acertar um soco de baixo para cima com tanta potência que o fez sair do chão, em seguida desferindo um chute com ambas as pernas que mandaram o Kent na direção do asfalto. Quando caiu, várias pessoas gritaram e correram para longe, boa parte da calçada havia sido destruída com o impacto.

Apolo pousou em cima de Superboy, afundando-o ainda mais no solo e o deixando sem ar. Ele estava pronto para começar a dar vários socos no rosto do oponente, quando Kev segurou suas pernas e o jogou na vidraça de uma loja como se ele não pesasse mais do que um saco de uvas. Quando se levantou, viu que carros de polícia se aproximavam do local em que eles estavam e logo pensou que precisava sair do meio da cidade o mais rápido possível para evitar ferir os civis.

— Acho que está amolecendo, Super — Apolo saiu de dentro da loja. — Ou só está com medo de machucar seu amigo?

Kevin não respondeu, preparando-se para voar para longe e levar o vilão junto com ele. Nesse momento, Apolo segurou um carro de polícia, que estava em movimento, e o lançou na direção do oponente, então ele precisou segurá-lo e acabou sendo empurrado para trás e atingindo a parede de um prédio com suas costas. O herói colocou o carro em segurança no chão e olhou para todos os lados, percebendo que os dois haviam sumido.

Ele começou a voar sobre os prédios mais altos a procura deles, os avistando flutuando ao lado de um enorme prédio comercial.

— Apolo, não faça isso! — Superboy gritou e voou o mais rápido que pôde na direção dos do semideus.

— Ele não pode ouvi-lo, mas darei o recado — ele cerrou o punho e acertou um soco tão forte na lateral do prédio que todas as janelas se quebraram. Quando o segundo soco foi dado, com a mesma intensidade, Kevin conseguiu chegar até ele e empurrá-lo para longe do prédio. — Cuidado com a cabeça.

O comentário do outro fez o herói olhar para cima e ver que a metade superior do prédio começava a desabar para o lado e centenas de pessoas gritavam. Kevin tentou voar para, pelo menos, tentar segurar aquela parte do edifício que caía, mas recebeu um chute nas costas e foi lançado para o final da rua, batendo com as costas em dois carros em movimento. Apolo pousou bem acima dele e o ergueu pelo pescoço.

— Acho que alguém vai estar encrencado quando isso acabar — ele disse e o som do prédio atingindo o chão foi ouvido, a fumaça cobrindo toda aquela parte da cidade.

Naquele instante, Kevin perdeu toda a paciência que tinha. Desvencilhou-se de Apolo e arrancou Cypher das costas do amigo, o puxando para que ficasse entre os dois heróis.

— Tem cinco segundos para tirar essa coisa do Apolo, antes que eu o obrigue a fazer isso de uma forma muito desagradável — os olhos de Superboy ficaram vermelhos, ameaçando usar sua visão de calor.

Ele sentiu que havia alguém atrás de si e se virou rapidamente, sentindo um dispositivo ser lançado em seu peito e ficar preso ali. Em seguida, ondas fortes de choque foram emitidas dele e o herói sentiu seu peito queimar, precisando soltar Cypher para conseguir removê-lo de seu corpo e destruí-lo com uma mão. Olhou para frente e viu Titânia, com a pele coberta por chumbo, parada com as mãos na cintura.

— Há quanto tempo não nos vemos, Kev — ela deu um sorriso.

Kevin ainda estava sentindo uma boa quantidade de choques percorrendo seu corpo, mas se forçou a não ceder à dor e continuou de pé, até Apolo acertar um chute em seu rosto e jogá-lo dentro de uma loja de roupas fechada na esquina da rua. O herói ficou caído de rosto no chão por alguns segundos, antes de levantar o rosto e ver que havia um homem de pé bem ao seu lado. Ele usava uma máscara marrom de espantalho e o encarava.

— Segurem ele — a voz do tal espantalho era grave e claramente modificada por algum aparelho.

Apolo pisou firmemente nas costas do moreno, o empurrando com vontade para que ficasse parado no chão, enquanto Titânia jogou outro dispositivo de choque nas costas dele, fazendo-o gritar de dor.

— Quer que eu o controle também? — Cypher perguntou.

— Não, isso só serviria para atrair ainda mais a atenção da Liga. E nós não queremos eles atrapalhando nossos planos quando ainda mal começamos — Cataclismo se ajoelhou ao lado de Kevin.

— Claro, porque sequestrar o filho da Mulher-Maravilha não vai atrair a atenção deles o suficiente — Amanda revirou os olhos.

— Só vamos pegá-lo emprestado por algumas horas, nem vão dar falta.

O Crane colocou sua luva, que possuía uma seringa em cada dedo e estava cheia dos mais diversos tipos de substâncias. Ele usou seu indicador, onde havia uma agulha feita de kryptonita, para penetrar o pescoço do herói e isso o fez abrir os olhos no mesmo segundo. Kevin, no entanto, continuou sendo pressionado contra o chão por Apolo, que o mantinha completamente parado.

— Isso é só uma dose bem grande de etomidato. Em um ser humano normal, ela é uma droga usada em cirurgias como uma anestesia geral, mas em você é mais como um anestésico para os seus sentidos — Crane explicou.

Kevin começava a sentir a droga percorrendo o seu corpo rapidamente e logo podia ouvir o som de tudo, desde um avião passando há quilômetros de distância até uma barata sendo esmagada há dois quarteirões dali. O som do mundo ao seu redor era ensurdecedor e ele precisou fechar os olhos com força para tentar concentrar-se em algo, falhando e acabando por sucumbir a todo o barulho.

Amanda pegou uma pequena maleta que continha um tubo especial com uma agulha, também feita de kryptonita, e a colocou em uma veia no braço direito do herói. Não demorou muito até a bolsa ficar cheia.

— Acho que isso é o suficiente — ela retirou o tubo braço dele e colocou a bolsa com um litro de sangue dentro da maleta.

Ela acionou um botão em seu comunicador articular e foi teletransportada. Jeffrey se colocou de pé e Apolo, ainda controlado por Cypher, tirou seu pé de cima do herói caído.

— Vamos deixá-lo aqui?

— Vão encontrá-lo, eventualmente. Ainda há etomidato o bastante no corpo dele para deixá-lo desnorteado por algumas horas — o Crane olhou através do buraco gigante na parede e deu um leve sorriso sob a máscara, virando-se, então, para Arqueira Noir e Wolf. — Fiquem de olho neles e me contem o que acontecer, prevejo que vai ser bem interessante.

Com isso, Cataclismo, Cypher e Apolo foram teletransportados. Os outros dois vilões correram para o andar de cima do prédio para que os heróis, que já corriam na direção do amigo caído,  não os vissem.