Problem escrita por LelahBallu


Capítulo 4
Capítulo 03


Notas iniciais do capítulo

Hey!!
Então, aqui vai mais um capítulo de Problem, quem acompanhou Redenção sabe que eu cheguei a questionar se a fic deveria continuar (Devido a baixa resposta dos leitores). Eu já avisei lá, mas vou avisar aqui também, já há uma grande possibilidade de quem acompanha Problem, não ter lido RED... Então, eu vou continuar com Problem, ao menos por enquanto, e quero agradecer isso a aqueles que manifestaram o desejo disso nos comentários de REdenção, no tt e nos comentários do capítulo anterior. Quero agradecer também a: Ka Duarte, Mrs smoak Queen, Maia Smoak e a MelinhaPereira. Pelas adoráveis recomendações. Obrigada de coração.

Agora deixo vocês com o capítulo. ;)



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OLIVER QUEEN

Joguei-me pesadamente sobre minha cama.

Eu estava exausto. Normalmente um dia como o de hoje poderia ser considerado um dia tranquilo, não houve mortes, sequer passei muito tempo dentro de uma sala de operação. Eu até mesmo pude almoçar com Thea e seu namorado, o dia de hoje deveria ser considerado com um dia tranquilo, mas devido ao estresse acumulado dos últimos dias, eu ainda não estava 100% renovado. O que significava que eu precisava dormir, muito. Então não foi nenhuma surpresa quando poucos instantes após deitar em minha cama eu senti o sono se arrastar pesadamente em mim, deixando-me levemente embriagado antes de por fim me dominar completamente.

O sonho me pegou de surpresa. Eu não esperava por isso, eu não conseguia lembrar a última vez que sonhei... Quando era uma criança, talvez? Eu fiquei tão surpreso que por um momento eu achei que fosse real, mas havia uma qualidade diferente, nas cores, nos sons, até mesmo na forma que tudo parecia estar em câmera lenta, que me levou a questionar a estranheza do que se passava, tudo aquilo me levou a questionar se eu estava sonhando.

Encontrar Felicity deitada ao meu lado e sorrindo me fez ter certeza. Foi apenas isso, estávamos deitados em um cobertor no meio do nada, a estrelas acima brilhando de forma quase ofuscante, enquanto sua mão erguia até meu rosto lentamente, deixando-a ali. E ela sorria. Seu sorriso me surpreendeu. Por que ela não estava flertando, ela não estava me provocando, ela apenas estava feliz.

Eu não tinha certeza do que me acordou, se foi a sensação de mãos se arrastando pelo meu peito, quando a sua visivelmente ainda se matinha em meu rosto, ou a voz chamando por meu nome, enquanto seus lábios ainda formavam um sorriso e nenhuma palavra havia saído de sua boca, mas despertei apenas para em vez de encarar os diferente dos azuis que eu havia sonhado, acordei para despertar diante de Laurel.

— Que inferno... – Murmurei enquanto me afastando da figura feminina que estava sentada  na cama. Ela emitiu um suspiro exasperado.

— Por falar em recepção calorosa... – Murmurou aborrecida.

— O que diabos vocês está fazendo aqui, Laurel? – Perguntei passando uma mão pelo meu rosto e notando que já era manhã.

— Eu vim te ver. – Deu de ombros. – Eu senti sua falta, eu...

— Nós terminamos! – Gritei me levantando. Estava cansado da mesma velha discussão. Parte disso era minha culpa, por que nosso relacionamento vivia em uma constante montanha russa, onde o número de términos era grande. Terminávamos, passávamos um tempo sem nos vermos, nos relacionávamos com outras pessoas e então um dia a gente acabava se encontrando por acaso, ela começava uma conversa decente, sem atrito e eu me via diante a oportunidade de fazer diferente, fazer com que nosso relacionamento desse certo, mas nunca dava certo. Era um ciclo vicioso, era doente e tóxico. Fazíamos mais mal do que bem.

— E quantas vezes isso já aconteceu? – Perguntou com deboche.  – Nós sempre voltamos Ollie, é assim que acontece, dessa vez eu cansei de esperar o momento oportuno. Eu senti sua falta, eu queria conversar com você e...

— Pare. – Falei entredentes. – Não há dessa vez, está acabado.

— Você precisa de mais tempo? Ou...

— Eu não preciso de mais tempo. – Neguei. – Eu quero acabar com isso de vez.

— Você está sendo tolo. – Falou se aproximando. – Ollie...

— Laurel, por favor. Vá embora. – Pedi segurando minha respiração. – Eu... Apenas vá. Eu quero que você deixe minhas chaves no aparador, e vá.

— Você não pode fazer isso conosco. – Meneou a cabeça irritada. – Isso é sobre alguma garota, você está vendo alguém?

— Eu não acho que eu deva responder a isto. – Murmurei a afastando de mim. – Não é mais de sua conta.

— O que diabos está acontecendo Oliver? – Perguntou-me sua voz se elevando.

— Eu não quero brigar. – Falei tentando soar o mais convicto o possível, não querendo deixar nenhuma dúvida no que dizia, eu já estava cansado disso. – E é por isso que eu vou entrar no me banheiro e tomar um banho, eu preciso trabalhar, e você também. Então volte para sua casa e mantenha em sua mente que acabou... – Eu queria dizer que eu mantive meu tom calmo, mas o fato de que ela entrou em meu apartamento sem meu consentimento e que em sua mente esse não passava mais do que um jogo de pig pong finalmente caiu em cima de mim, eu estava enfurecido por sua invasão de privacidade e por não ser levado a sério, era minha culpa sim, mas também era dela. Então a esse ponto eu não mais falava calmamente, minha voz se elevava gradualmente fazendo com que ela recuasse. -... Eu não quero um tempo, eu não estou brincando, e não é por outra garota, eu apenas estou cansado do que temos, e não tenho a menor vontade de continuar com essa estupidez que chamamos de relacionamento! – Ela estremeceu visualmente. – Saia da minha casa. – Exigi antes de lhe dar as costas e entrar no banheiro. – E deixe as malditas chaves no aparador!

Eu não escutei nenhum som vindo do quarto por um longo tempo. Então eu desisti de esperar e realmente tomei meu banho e tentei afastar qualquer pensamento relacionado a Laurel ou Felicity. Uma me deixava irritado por sua insistência em algo que nunca daria certo, outra me confundia e me deixava irritado apenas estando em sua presença. Eu ainda não poderia entender o que levou minha mente a trazê-la em um sonho, mas provavelmente estava ligado ao fato de que Tommy não havia me deixado em paz com seus comentários estúpidos desde o momento em que falei que havia visto novamente no dia seguinte a sua saída do hospital.

Quando saí do banheiro soltei um suspiro de alívio ao notar que Laurel não estava mais lá. Eu não gostava de ser duro com ela, eu raramente perdia minha paciência, mas chega um momento em que você não pode mais assentir educadamente e esperar que tudo passe. Quando vesti minha roupa para minha corrida eu hesitei, mais uma vez me vi pensando em Felicity. Eu não gostava da forma como ela flertava comigo, que deveria ser a mesma maneira que fazia com qualquer outro, e havia a possibilidade de encontrá-la novamente no parque, eu queria evita-la, mas eu não podia mudar minha rotina por conta de uma pessoa que importava tão pouco, ela me irritava, mas eu precisava apenas ignora-la. Ontem conversei com ela apenas pelo princípio de ser cortês, mas após nossa conversa ontem estava claro que eu não a suportava, não havia mais razão para ser cortês, então se eu a encontrasse novamente, eu poderia apenas ignora-la.

De qualquer forma as chances eram mínimas. Eu arriscaria.

Eu estava na minha segunda volta quando a vi. O alívio já tinha me dominado e a raiva pelo encontro com Laurel mais cedo tinha lentamente se dissipado. Então, eu deveria estar mais tranquilo, tolerante, mas apenas a vendo eu senti uma onda de irritação me dominar, e ela sequer estava olhando para mim. Seus olhos estavam fixados na tela do seu celular, estava parada em frente a um banco, fones de ouvidos colocados, fazendo com que eu deduzisse que procurava por uma música antes de começar a correr.  Contrariado notei que eu estava parado a admirando, e que se ela percebesse ela ficaria muito feliz, então eu estava entre dar meia volta ou passar por ela e ignora-la, quando ela ergueu sua cabeça e seus olhos colidiram com os meus. Ela sorriu, e mais uma vez eu me vi surpreso porque não era um sorriso de flerte. Ela franziu o cenho brevemente como se percebesse que eu estava prestes a ignora-la e se aproximou fazendo com que eu me arrependesse por não ter dado meia volta no momento em que a vi.

— Você realmente precisa para de me encarar como se eu fosse a peste negra. – Murmurou cruzando os braços atraindo meu olhar até seus seios. Soltei um palavrão em minha mente quando notei que ela havia percebido, um sorriso de apreciação feminina assumindo sua expressão. Eu não queria ir nessa direção, eu não queria começar uma discussão sem sentido, eu não estava com humor para isso.

— Eu já estava indo. – Murmurei me endireitando. – Tenha um bom dia. – Falei ao passar por ela, mas ela tomou minha frente, sua mão pousando em meu peito.

— Já? – Perguntou em falso tom simpático.

— Alguns de nós temos mais o que fazer do que passear pela cidade e mais tarde ir às compras. – Murmurei me surpreendendo com minha própria agressividade. Ela piscou surpreendida, ao que parecia hoje eu não conseguiria sequer dominar minha irritação.

— Eu sinto que eu realmente preciso vasculhar meu quintal e ver se eu não enterrei seu cachorro e esqueci. – Murmurou tirando sua mão do meu peito, mas ainda mantinha-se em minha frente, voltando a cruzar seus braços dessa vez mais parecia de forma protetora do que inquisitiva como havia sido antes. Pela primeira vez desde que a conheci me senti mal por trata-la tão rudemente.

— Meu dia começou uma merda. – Murmurei fazendo com que franzisse um cenho. Sua surpresa havia mudado de foco agora, por que ela assim como eu, percebeu que este era o início de um pedido de desculpas. – E pela minha experiência quando o dia começa uma merda, tudo o que vem depois também será, eu estou irritado pelo o que aconteceu e com o que ainda irá acontecer... – Respirei fundo antes de dizer a palavra seguinte com certa contrariedade. – Desculpe.

— Me ver aqui o irrita ainda mais? – Perguntou sincera. Não respondi sua pergunta, o que acabou sendo uma resposta. – Entendo. – Murmurou em tom baixo fixando seu olhar na altura do meu peito.

— Onde está sua sombra? – Perguntei notando que seu segurança não estava por perto.

— Chegando. – Murmurou segurando um sorriso. O que me dizia que ela havia o deixado para trás.

— Eu preciso ir. – Murmurei após um incômodo silêncio ter se espalhado entre nós dois.

— Eu preciso correr um pouco. – Murmurou com um sorriso de canto. – Você sabe, antes de fazer minhas compras. - Eu devia pedir desculpas por isso, o meu bom senso dizia que sim, mas a verdade é que não imaginava quaisquer outras preocupações que ela teria fora isso. Então tudo o que fiz foi acenar de forma afirmativa antes de dar um passo para o lado e passar por ela. Eu pretendia ir embora antes que acabasse envolvido em uma conversa sem nexo em que falávamos apenas para cobrir o silêncio constrangedor, ou antes dela voltar a sua atitude provocativa e eu respondesse de forma errada e mais uma vez me visse diante uma discussão acalorada. Eu tinha apenas essas opções em minha mente, em nenhum momento pensei que ela seguraria meu braço fazendo com que eu voltasse meu corpo para ela com o semblante demonstrando confusão, não esperava que antes que eu pudesse falar qualquer coisa ela se ergueria colando seu corpo ao meu, sua mão segurando a parte de trás do meu pescoço e seus lábios chocando-se junto aos meus com ímpeto.

Eu não previ nada disso vindo.  Muito menos que eu corresponderia.

Ou talvez eu estivesse apenas mentindo para mim mesmo. Eu sabia que no momento em que seus lábios estivessem próximos aos meus eu acabaria perdendo o controle. Talvez fosse isso que me instigou a me manter afastado, e tê-la flertando comigo tornava impossível resistir a uma aproximação, mas agora ela estava em meus braços e em vez de empurra-la para longe como o meu bom senso dizia, eu fiz o contrário, meus braços a circundaram e curvei meu corpo sobre o seu fazendo com o espaço entre nossos corpos fosse quase inexistente.

Seu gosto explode em minha boca quando deslizo minha língua sobre a sua, um suspiro sexy saindo por entre seus lábios quando me afastei apenas para mudar o ângulo e beija-la ainda mais profundamente, sua cabeça se inclinou em sincronismo enquanto meus dedos se espalhando por sua pele em suas costas, penetrando o tecido de sua blusa. Eu havia perdido minha mente completamente.

Ela foi a única a se afastar, mas não completamente. Seu rosto ainda estava muito próximo do meu quando ela me encarou aturdida, um sorriso lento se espalhando em seus lábios, minhas mãos ainda a mantinha contra mim, e minha respiração ainda se mesclava a sua. Eu pensei por alguns instantes que ela me beijaria novamente, como eu tive vontade fazê-lo, mas ela recuou, suas mãos alcançando as minhas atrás de si e me afastando.

— Eu suponho que isso responda minha própria pergunta. – Murmurou. Demorei alguns segundos a sair parcialmente do torpor que havia me dominado.

— Que pergunta? – Perguntei ainda um pouco aéreo.

— Eu me perguntava se você era gay. – Confessou. Com uma última olhada virou as costas e se afastou, eu estava chocado demais para impedi-la, e depois quando o pensamento chegou a minha a mente, eu me perguntei por que deveria. Por quê? Essa garota é um problema.

 

FELICITY SMOAK

Parei ao lado do meu carro no exato momento em que Diggle estacionava o seu na vaga ao lado.  Ele usava óculos pretos e ainda assim, ou talvez por conta deles, eu podia dizer que ele estava irritado. Minha culpa, eu suponho.

Eu gostava de Diggle. Eu realmente amava Diggle, mas eu também não queria que ele me seguisse para tudo o que era lado, não era como quando eu morava com meus pais, eu entendia que deveríamos estar sempre protegidos e com Diggle ao meu lado, mas esta era uma outra cidade, não uma cidade pequena, mas que não apresentava tantos perigos e que eu não matinha tanto contato com políticos, não ia a eventos, nem nada do tipo, então eu queria pegar a droga do meu carro e dirigir sozinha, como uma pessoa autossuficiente. Então, por mais que eu amasse Diggle, eu não precisava passar meu dia grudada a ele, por isso que acordei mais cedo e fiz minha caminhada sem ele. Eu posso também ter escondido as chaves do seu carro para atrasa-lo um pouco mais.

E eu acabei encontrando o Dr. Queen. Que eu agora percebia não ter conseguido roubar seu primeiro nome. Eu o havia beijado e ainda não tinha ideia se ele se chamava Charles, ou Rafael ou algum nome esquisito, “e ele já tinha uma imagem tão boa de mim”. Pensei amargamente. Ele provavelmente agora estava envolvido em sua onda de repulsa e arrependimento, enquanto eu não conseguia me arrepender de tê-lo surpreendido com um beijo. Eu pensei que ele me afastaria, que ralharia comigo sobre aborda-lo dessa maneira e expressaria seu desagrado. Nada havia me preparado para a forma como ele correspondeu o beijo, como mesmo tendo sido eu a beija-lo, foi ele quem ditou o ritmo e tomou o controle do beijo.

Ele conseguiu me incendiar com apenas um beijo.

“Eu me perguntava se você era gay.” Ri internamente com essa minha última provocação, dita apenas para deixa-lo ainda mais atordoado. Tudo nele gritava masculinidade. E seu beijo certamente havia confirmado isso.

— Felicity?  -Despertei de meus pensamentos quando a voz de Diggle cheia de impaciência soou ao meu lado. – No que você estava pensando? – Perguntou irritado. Abri minha boca para responder sua pergunta quando percebi que não estava relacionada com o agora, ele estava furioso sobre eu tê-lo deixado para trás.

— John. – Sorri tentando acalma-lo.

— Não venha com esses sorrisos.  – Negou rapidamente. – Você sabe muito bem que não deveria ter feito o que fez.

— O quê? – Perguntei aborrecida. – Exercer meu direito de cidadã de ir e vir? Não seja hipócrita, você sempre falou como eu deveria ter minha própria vida, aproveitar que estava longe do meu pai, e ter um pouco de independência. Por que justo você quer mudar isso?

— Se você queria vir sozinha tudo o que você precisava era dizer. – Murmurou estendendo as mãos. – Eu não preciso ficar sempre ao seu lado, eu preciso saber onde você está...

— Então, eu não preciso estar sempre com um segurança? – Perguntei estreitando meus olhos.

— Depende. – Falou sem ceder completamente. – A situação, o lugar e vários outros fatores, eu vim com você ontem, esse é um lugar público, não é isolado ou deserto. É claro que você pode vir aqui à vontade...

— Faculdade? – Testei.

— Não vejo por que não. – Deu de ombros. – Mas em festas eu estarei por perto, e eventos, principalmente se Cooper estiver neles.

— Eu não vou discutir com você sobre isso. – Concordei indo até meu carro.

— Quando você vai me contar o que aconteceu? – Perguntou me sondando.

— Nunca. – Murmurei o encarando. – Por que nada aconteceu Diggle, mas você está certo, eu não confio nele, sendo assim eu não vou facilitar as coisas para ele. Podemos ir para casa?

— Você o encontrou? – Perguntou me surpreendendo.

— Quem? – Perguntei sabendo que a pergunta havia sido tola. Seu olhar como resposta me disse isso.

— Dr. Queen. – Falou sem paciência.

— Eu não vim por ele. – Neguei com tanta convicção que até mesmo eu quase acreditei no que disse. Eu não tinha como saber se ele estaria aqui hoje, isso é certo, mas não me impediu de ter esperanças. Diggle meneou a cabeça mostrando-me que não acreditava no que eu havia dito, mas não disse mais nada, se limitou a se afastar e ir para o próprio carro.

Segurei uma risada e entrei no meu, quando cheguei em casa tomei meu tempo me arrumando para ir a faculdade, sem me dá o trabalho de tomar café eu passei por Diggle meio que esperando que ele mudasse de ideia, mas tudo o que ele fez foi me lançar um olhar por cima do jornal. Ele estava na sala, ainda parecendo chateado, embora eu o conhecesse o suficiente para saber que não. Hesitei quando passei ao lado do piano e não resisti, acabei levando uma mão tremente por cima dele o acariciando levemente, nostalgia me dominando. Evitei as teclas, eu não ousaria escutar qualquer som preenchendo o silêncio que havia dominado o ambiente.

— Você poderia voltar a tocar. – A voz de Diggle me assustou, recolhei minha mão como se tivesse tocado em fogo e o encarei meneando a cabeça.

— Acho melhor não. – Neguei.

— Eu nunca entendi o que a fez parar. – Murmurou sério. – Você é muito boa.

— Nada. – Neguei dando de ombros. – Eu apenas não gostava mais de tocar.

— Você amava tocar. – Retrucou. – Passava horas, eu tive que afasta-la do piano muitas vezes.

— E agora você não precisa mais. – Murmurei repetindo o gesto vago. – Até mais tarde Diggle.

— Faça-me um favor e mande uma mensagem dizendo que está tudo bem. – Pediu. Assenti embora achasse um exagero. Diggle estava tendo dificuldades em não ser meu segurança em tempo integral, então eu lhe daria um desconto.

— Pode deixar papai. – Sorri saindo rapidamente antes que ele pudesse colocar em palavras a carranca que se formou. Quando cheguei à faculdade estacionei em uma vaga perto do lixo e franzi meu nariz ao notar que isso poderia ser um problema, eu me lembro muito bem do dia em que Cooper presentou meu carro com um verdadeiro banho de porcarias, foi no dia em que eu disse que nosso namoro estava acabado, infelizmente essa não foi sua única atitude infantil. Abandonando os pensamentos de lado eu saí do carro passando a alça na bolsa por sobre o ombro, e ignorando o prédio em que teria aula apenas uma hora mais tarde, eu caminhei até o grande prédio que Thea havia me dito ontem ser a biblioteca.

Após fazer meu cadastro eu caminhei lentamente entre as prateleiras, estudei as sessões com cuidado, e decidi que em breve eu estaria levando um ou outro livro para me familiarizar com os assuntos antes de ser trucidada pelos deuses doutorandos. Eu estava caminhando entre algumas prateleiras aleatórias quando Roy surgiu de repente fazendo com que eu me sobressaltasse. Tive certo déjà vu quando notei que vestia o mesmo casaco vermelho que usava na primeira vez que o vi.

— Deus. – Murmurei levando uma mão ao coração.

— Roy, na verdade. – Sorriu abertamente. – Mas eu não sou contra que me chame de graça divina. – O encarei sem humor.

— Ok, graça divina. – Murmurei com desdém. – Talvez você deva andar com um chocalho.

— Não combina com meu look. – Brincou.

— Homens não falam look. – Estreitei os olhos. Ele soltou um suspiro aborrecido.

— Estou tentando deixar você à vontade. – Falou. – O que parece ser inútil, eu estava procurando você.

— Por quê? – Perguntei mesmo já sabendo sua resposta.

— Precisamos falar sobre a outra noite. – Falou em tom baixo. O que quase não me deixou ouvir, estávamos em uma biblioteca, então não era como se tivéssemos gritando antes.

— Eu acho que não. – Murmurei me afastando. Ao que parecia, o garoto não tomava uma dica, pois ele me seguiu.

— Eu notei ontem que você não queria que falássemos sobre o que aconteceu...

— E o que torna incapaz de entender isso hoje? – Perguntei com acidez ainda sem me voltar.  Ele, no entanto me alcançou puxando meu braço forçando uma parada brusca. Eu petrifiquei quando tocou em mim, ele notando minha reação soltou meu braço com rapidez.

— Desculpe, eu não devia tê-la puxando assim depois do que vi...

— Eu não quero falar sobre isso. – Falei entredentes.

— Eu entendo. – Assentiu. – E é isso que vim dizer, eu não falarei disso com ninguém, mesmo Thea. Você pode confiar em mim.

— Por alguma razão eu duvido que isso seja uma atitude altruísta. – Murmurei fazendo com que ele franzisse o cenho em confusão.

— Eu não vou pedir nada em troca. – Negou rapidamente.

— Você também não quer que eu fale sobre o assunto na frente de Thea. – Falei direta. – Por que ela pensa que você estava com sua tia. – Acusei. – Ouça, não é da minha conta...

— Não, não é. – Concordou.

— Mas ela parece ser alguém legal. – Continuei. – E você não parece um idiota total, então se você estava com outra garota, apenas seja sinc... – Parei bruscamente ao escutar sua risada. – Eu o divirto?

— Eu não estava traindo Thea. – Negou. – Ela sabe disso também, ela sabe que eu estava na festa. – Franzi o cenho quando escutei o que disse. - Olhe, eu estava lá a negócios. – Falou se aproximando, seu tom ficando ainda mais baixo. – Você sabe, eu não sou como Thea, ou você, eu preciso pagar aluguel, contas e me manter aqui, eu estava vendendo.

— Vendendo. – Murmurei sem entender de primeira, então percebi ao que ele se referia, e indignação preencheu minha mente. – Eu estava errada, você é um idiota total.

— Não é o que você está pensando. – Falou rapidamente.

— São drogas. – Murmurei com irritação. – A razão pela qual eu me encontrei naquela situação primeiramente, eles me drogaram, sabe Deus se foi com algo que você vendeu, eu devia te entregar...

—Não seja estúpida, eu não mexo com nada desse tipo. – Falou segurando meu braço e puxando-me para mais longe. – Eu sinto muito pelo o que aconteceu com você, mas eu não tenho nada haver com isso ok? Eu vendo maconha e só.

— Ainda é...

— Eu sei, mas eu tenho que pagar minhas contas de alguma maneira. – Deu de ombros. – Eu não peço sua aprovação, só não me dedure por aí.

— Eu não vou. – Assenti. – Mas não por você. Por Thea.

— Eu sei. – Olhou para sua mão que ainda segurava meu braço e o soltou. – Desculpe. – Pediu mais uma vez.  – Você não deve me dedurar, mas eu acho que aqueles caras deveriam ter alguma punição.

— Eu sei lidar com eles. – Dei de ombros.

— As coisas iam ficar muito feias, Barbie. – Falou sombriamente. – Já estavam.

— Não quero voltar a falar sobre isso. – Falei sem abalar minha decisão. – E pelo amor de Deus, não me chame de Barbie você também. – Ele sorriu com minha indignação.

— É difícil res...

— Aí estão vocês!! – Girei meu rosto encontrando o olhar animado de Thea. A garota praticamente dançava quando nos alcançou. – Por favor, não me diga que vocês vão se tornar ratos de biblioteca na primeira semana.

— Nop. – Roy murmurou meneando a cabeça, um sorriso pequeno nos cantos dos lábios. – Você me conhece melhor. – Falou recebendo um beijo rápido de Thea. – Eu vim procurar por sua amiga.

— Oh ela é retraída demais para nos considerar amigos na primeira semana. – Thea murmurou feliz. – Somos colegas, certo? – Perguntou-me fazendo com que eu meneasse a cabeça e me afastasse. – Rabugenta também. – Escutei falar atrás de mim. – Você deveria conhecer meu irmão. – Falou quando saímos dos corredores formados pelas prateleiras e entramos no vasto salão cheio de mesas, não tinham tantas pessoas, mas recebi alguns olhares inquietos, Thea não era bem uma pessoa silenciosa.

— Por que essa fixação em eu conhecer... Como você disse? – Perguntei girando-me. – Ollie? – Murmurei ridicularizando o apelido, era mais uma brincadeira do que para irrita-la, querendo ou não, Thea me divertia. E mesmo que eu tivesse tentando irrita-la não teria atingindo meu objetivo, a garota parecia inabalável. Na verdade meu tom fez com que ela risse, uma risada alta que chamou a atenção de todos, o que atraiu uma onde de sucessivos “Shiuus”.

— Oh, tenha paciência. – Resmungou de volta. – Estamos no segundo dia, não sejam idiotas. – Como resposta uma garota de trança grossa e delicados óculos vermelhos voltou a fazer o som irritante. Thea sorriu para ela e caminhou até seu lado. – Você precisa de sexo.

— Ela não quis dizer isso. – Murmurei em tom de desculpas e puxando seu braço, infelizmente ainda tive o vislumbre de Roy tocando o ombro da menina em tom simpático.

— Ela quis dizer isso. – Falou.

— O que torna vocês diferente de Alex mesmo? – Perguntei quando já estávamos fora da biblioteca.

— Ele é um idiota. – Thea deu de ombros.

— Um babaca. – Roy concordou.

— Não somos maus. – Thea continuou.

— Nem arrogantes. – Roy apontou. – E eu duvido que ele tenha parado a brincadeira em apenas um comentário.

— Somos divertidos Felicity, a garota era irritante, mas nunca teríamos zombado dela como Alex faria. – Deu de ombros. – Alex é um babaca, e honestamente me sinto ofendida por ter sido comparada a ele, ele disse que queria ver seus seios ontem. – Lembrou-me.

— Sério? – Roy perguntou em tom sério. – Vocês duas, mantenham-se afastadas dele. –Advertiu. – Nunca se sabe direito a linha que separa um babaca de ser apenas um babaca, ou ser um criminoso.

— Obrigada, mas eu sei me cuidar. – Murmurei.

— Esse tipo de pensamento é perigoso. – Seu tom mais uma vez era de advertência, seus olhos me indicavam que não falava apenas de Alex. Thea alheia a essa breve troca abraçou a cintura do namorado e beijou sua bochecha o acalmando.

— Eu amo quando você fica todo protetor. – Murmurou com um sorriso terno. – Mas tente não entrar em confusão com Alex. – Pediu. – Você sabe que não pode chamar muita atenção para si.

— Desde que ele mantenha-se longe da minha garota. – Roy murmurou com uma piscada. Vendo seu olhar eu entendi por que ele riu tão abertamente sobre minha sugestão de que a estava traindo. Com um olhar apenas eu podia afirmar que ele era louco por ela.

— Ei. – Murmurei chamando sua atenção quando sentamos em nossos lugares e aguardávamos a chegada do professor. – Por que você riu naquela hora? – Ela franziu o cenho lembrando-se do motivo.

— Foi seu tom. – Sorriu. – Quando chamou meu irmão.

— Eu não estava tentando ser engraçada.

— Eu sei. – Assentiu. – Mas foi quase que uma réplica da forma como a namorada dele o chama. Ou ex, eu não tenho certeza em que pé eles estão agora. É confuso. – Falou colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. – É meio enjoativa, a forma que ela o chama. E você fez perfeitamente igual.

— Você não parece muito animada com sua cunhada. – Observei.

— Eu gostaria que ela não fosse. – Deu de ombros. – E é por isso que você vai jantar conosco hoje.

— Eu? – Murmurei incrédula.

— De novo? – Roy perguntou do outro lado. – Ele não é sempre super ocupado?

— Ele está se esforçando. – Ela o respondeu. – Ele sabe que meu relacionamento com nossa mãe não está exatamente o ideal.

— Por que você quer que eu conheça seu irmão? – Questionei sem entender. Nós mal nos conhecíamos, não era possível que ela já me quisesse como cunhada. Talvez fosse desespero, talvez seu irmão fosse o patinho feio da família, não encontrasse namorada com facilidade, baixinho com barriga saliente talvez?

— Por que agora, minhas amigas tem idade para namora-lo. – Respondeu dando de ombros. – E por que eu realmente sinto que preciso livra-lo dela.

— Eu sinto muito, mas eu não tenho quaisquer planos de me envolver com seu irmão. – Falei séria. Ela abriu a boca com o que imagino ser um protesto ou argumento. – Nem encontra-lo hoje à noite.

— Mas... – Felizmente para mim, a chegada da professora Lyla interrompeu qualquer novo protesto, com um sorriso arrogante destinando a Thea eu me concentrei na aula.

OLIVER QUEEN

Saí da UTI neonatal sentindo um peso esmagador pressionando meu coração e se espalhando por minha garganta. Eu sabia que esse dia ia ser um dia de merda, mesmo antes de chegar ao hospital eu podia sentir isso.

Eu odiava quando eu estava certo.

— Ollie. – Tommy se aproximou com um grande sorriso.

— Agora não Tommy. – Murmurei erguendo uma mão indicando que ele não se aproximasse. Ele havia passado o dia me atormentando pelo beijo que Felicity havia me dado, roubado, compartilhado. E sem dúvida ele vinha por mais. Algo em meu rosto deve tê-lo alertado, pois ele se aproximou com cautela. Segurando uma respiração me afastei até encostar minhas costas contra a parede fria, ele caminhou até a parede oposta e encostou-se a ela e não disse nada por um longo tempo, apenas aguardando enquanto eu encarava meus pés, meus pensamentos indo e voltando para os pais que eu havia deixado para trás com um corriqueiro “Eu sinto muito”.

— Quem você perdeu? – Perguntou por fim. Ele sabia como médico que por mais que tentássemos parecermos frios e inalcançáveis, cada perda nos atingia de forma diferente, que estando pediatria podia ser mil vezes pior. E que sem dúvida nenhuma era disso que se tratava agora.

— O bebê Campbell. – Murmurei por fim. – Scott. – Falei mais preciso. – Eles iam chama-lo de Scott. – Tommy aquiesceu um assentimento. Ele reconhecia o sobrenome, na verdade ele os conhecia, Tommy havia tratado Rose, a mãe que na época estava grávida. Ela havia chegado ao hospital vítima de um acidente de carro, múltiplas fraturas, e quase por um milagre o bebê até então ainda em sua barriga seguia seguro. Por algumas semanas esta foi à casa de Rose, até que ela foi liberada, apenas para voltar no dia seguinte com as dores usuais de um parto. Scott nasceu com pulmões frágeis e muito pequenos para seu tamanho, não haviam se desenvolvido da forma correta, logo cedo teve que passar por uma longa cirurgia que eu mesmo fiz, e por uma semana ficámos de olho nele, esperançosos, mas hoje ele teve outro colapso, não havia nenhuma cirurgia que fosse salva-lo e estava claro que ele viria a óbito. 

— Hoje eu vi uma mãe embalar seu filho esperando por sua morte. – Murmurei encontrando os olhos de Tommy. – Não é a primeira vez que algo do tipo acontece, mas...

— Nunca se torna fácil. – Assentiu compreendendo. – É o que nos torna humanos, Ollie.

— Eu sei. – Assenti vagamente. – É o que eu repito para os internos.

— É o que repetimos para nós mesmos. – Completou. – Vamos. – Chamou-me se endireitando. - Vamos beber algo. Eu já estava prestes a ir para casa, você também estava saindo certo?

— Eu não quero beber. – Murmurei também me ajeitando. – Terei que voltar logo. – Dei de ombros. – Eu estou bem.

— Você vai jantar com Thea hoje? – Perguntou quando começamos a andar lado a lado.

— Droga. – Murmurei fechando meus olhos brevemente elevando uma mão até meus cabelos. – Eu esqueci. – Confessei. – Não posso engana-la com pizza novamente.

— Cancele. – Aconselhou-me. – Seria bom ter uma noite só para você hoje. - Balancei a cabeça em concordância, eu estava com o tipo de humor que deixa as pessoas desconfortáveis, Thea tentaria me animar e eu acabaria fingindo um sorriso.  No caminho para casa mandei uma mensagem pedindo desculpas e menti estar entrando em uma cirurgia de emergência. Ela respondeu logo em seguida dizendo que estava tudo bem.

Com surpresa dei-me conta que não havia conduzido para minha casa, eu havia dirigido para o parque que ficava a poucas quadras do meu apartamento. O parque em que eu corria sempre que possível, o parque em que Felicity havia me beijado. Ainda sem entender o que havia me levado até ali eu desci do carro, era estranho estar aqui à noite e quando entrei no campo aberto onde usualmente crianças jogavam baseball, eu me perguntei se minha mente cansada não estava pregando uma peça.

Ali no centro, eu podia identificar Felicity deitada e encarando o céu.

Como que por vontade própria minhas pernas me guiaram até entrar em seu campo de visão. Mas ela não estava encarando o céu, não realmente. Seus olhos estavam fechados, sua expressão leve e suave. Inalcançável. Intangível. Como se qualquer escuridão, ou tristeza fosse incapaz de toca-la.

Anjo.

— Quem quer seja, eu aviso que tenho um soco certeiro. – Murmurou segundos antes de abrir seus olhos, e me encarar surpresa.

— Obrigado. – Falei com certo sarcasmo. – Por me avisar antes.

— Dr. Delí...

— Oliver. – Murmurei incapaz de ouvir o maldito apelido. – Prefiro que me chame pelo meu nome a esse apelido ridículo.

— É uma opção. – Sorriu, então acenou com a cabeça para o seu lado. – Pegue um assento. A encarei incerto. Não era uma boa ideia.

Eu queria protestar, queria dizer que já estava indo e ralhar com ela por ser imprudente e estar sozinha em um parque escuro. Eu queria beija-la quase tanto queria afasta-la, queria provoca-la como ela fazia comigo, queria repudia-la. Queria muitas coisas, mas me surpreendi com a escolha que fiz. Optei por questiona-la.

— Por que você me beijou? – Eu pude notar em sua expressão que ela estava tão surpresa quanto eu com a pergunta. Eu esperava por uma nova provocação, esperava que dissesse algo como “Eu queria ter certeza de que você não é gay.” Pensei que era diria alguma tolice do tipo, mas mais uma vez ela me surpreendeu.

— Eu não queria que seu dia fosse um dia de merda. – Murmurou em uma só respiração. – Ao menos não completamente. – Seus olhos me avaliaram com atenção. – Eu falhei?

A pergunta mostrava insegurança, algo de que ela ainda não mostrado desde que nos conhecemos, não para mim. Mas então eu não a conhecia, não realmente. Ainda sob seu olhar inseguro e até mesmo um pouco confuso eu sentei ao seu lado, com uma pintada de coragem me deitei, meus olhos alcançando as estrelas enquanto os dela eu podia sentir em meu rosto, talvez ela ainda estivesse confusa por meu comportamento, ou talvez ela ainda esperasse uma reposta, um ou outro eu acabei lhe dando algo que eu não esperava fosse dar, a resposta. Uma resposta que surpreendeu a mim tanto quanto a ela.

— Não.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!! Como sempre, fico no aguardo do feedback.
Xoxo, LelahBallu.



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