Problem escrita por LelahBallu


Capítulo 3
Capítulo 02


Notas iniciais do capítulo

Hey!!
Estou de volta :) Desculpe pela demora, eu quero agradecer a "Má" por ser a primeira recomendação de Problem, obrigada flor, esse capítulo é dedicado em especial a você.
Espero que gostem!!



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POV OLIVER

Só poderia ser uma brincadeira.

 De todos os lugares, de todos os parques, de todas as pessoas que eu poderia encontrar em minha costumeira corrida matinal, eu tinha que encontrar justamente Felicity Smoak.

Não, Felicity Smoak não. Eu tinha que me lembrar...

Felicity Darhk.

 Esse era o seu verdadeiro nome, por mais que ela tivesse escondido e não parecesse feliz ao dizê-lo. Era incrível que ela estivesse em minha frente agora, quando ontem mesmo Thea só foi embora após me provocar mais algumas vezes e tentar tirar mais de mim sobre ela, afinal minha convicção em não falar mais sobre a garota que havia desmaiado em meu braço fez com que ela ficasse ainda mais interessada no assunto. Mas eu evitei o assunto, embora eu não soubesse por quê... Eu evitei. Eu costumava conversar abertamente com Thea sobre qualquer caso no hospital, mas evitava especificamente falar sobre ela.

Era ridículo.

E agora ela me encarava com seu sorriso provocativo.

O cabelo estava amarrado em um rabo de cavalo, mostrando seu rosto e pescoço esbelto, vestia roupas simples, uma blusa folgada e um short leve para caminhada. A blusa escondia suas formas, o que apenas alimentava a mente masculina, mas o maldito short exibia suas pernas, deixando minha mente ainda mais agitada.

Droga! Por que eu tinha que ser um homem de pernas?!

— Você não vai fingir que não me conhece, vai? – Perguntou-me franzindo o cenho. Respirei fundo afastando meus pensamentos pelo caminho que haviam seguido e me permiti me aproximar alguns passos dela. Ela tinha parado de se aproximar e me analisava como se eu fosse má ideia. Como se ela mesma não fosse. No que diz respeito a minha opinião, ela era uma péssima ideia, ela é era desastre pronto para acontecer.

— Eu gostaria. – Murmurei deixando escapar, isso arrancou um som de surpresa de sua boca.

— Whoa. – Exclamou admirada. – Quando foi que eu matei seu bichinho de estimação e escondi em meu quintal? – Questionou-me fazendo com que eu tirasse meu olhar de pessoas aleatórias que estavam correndo e voltasse a encara-la.

— Desculpe? – Perguntei sem entender.

— Por que é assim que você está agindo. – Murmurou erguendo os ombros. Seu olhar enfrentando o meu. – Como se eu tivesse matado seu maldito filhote. Você está todo rabugento, lançando-me olhares desconfiados e assassinos, mas doutor, eu não estou fazendo rituais satânicos com animalzinhos esse mês.

— E é dessa má atitude que eu não gosto. – Murmurei antes que pudesse me conter. – Você é impertinente, e não tem consideração por aqueles que a ajudaram, ontem você saiu e sequer se lembrou de dizer “obrigada”. Era de se esperar que a filha de um senador soubesse uma ou outra regra de boas maneiras.

— Esse é seu problema? – Encarou-me com um sorriso divertido. – Está chateado por que não o procurei para me despedir? Para agradecer ao nobre doutor? – Meneou a cabeça com divertida descrença. Não tomei meu tempo analisando que mesmo que ela houvesse me procurado, o que não era o que eu queria, ela não me encontraria. A final eu saí antes que ela recebesse sua alta. – Não, não você. Provavelmente está preocupado com minha falta de educação mesmo.  – Sorriu. - Estou um pouco enferrujada com boas maneiras, mas eu acho que ainda há tempo para aprender. Você quer me ensinar? – Perguntou em tom sugestivo. – Eu sou uma boa aluna.  Dr. Delícia.

— Pare com isso. – Murmurei entredentes. Seu flerte aberto e direto me irritando na mesma medida que me desconsertava. – Eu não tenho o mínimo interesse em me envolver com uma garota mimada como você. Então pare com o flerte, pare de me chamar de “Dr. Delícia.” Apenas pare.

— É engraçado.  – Meneou a cabeça me observando. – Geralmente eu levo mais tempo antes de receber tanto ódio gratuito. Eu pensei que vocês médicos eram mais receptivos aos pacientes, é uma boa coisa que você não precise gostar de mim para me atender. Ou eu estaria perdida. – Seu cenho franzido não fazia mais do que parte de uma cena. - Não é antiético você agir assim? Com tanta agressividade a uma ex-paciente? Não deveria ao menos tentar sorrir em um cumprimento?

— Você nunca foi minha paciente, anjo. – Deixei o apelido escorregar e me arrependi imediatamente. Então voltei minha atenção para a outra parte de sua pergunta. – Não estamos no hospital. – Dei de ombros. – Eu posso te tratar como eu bem entender.

— Mesmo? – Sorriu erguendo uma mão para acariciar meu rosto. Segurei seu pulso impedindo que concluísse a ação, mas não a soltei. O que sem dúvida alguma era o que eu deveria ter feito, mas não o fiz. – Essa é uma promessa? – Meus olhos seguiram as linhas do seu rosto e o contorno de seus lábios, percebi vagamente que havia a aproximado ainda mais de mim ao segura-la daquela forma, e que nossos rostos não estavam mais em uma distância que seria aceitável. Notei-a respirar profundamente, seus olhos também tomando seu tempo me observando.

— Às vezes eu acho que faz de propósito. – Murmurei em tom baixo ainda observando seu rosto. – Me irritar. – Esclareci.

— Você já está irritado comigo. – Retrucou. – Desde o começo. Talvez tenha escutado uma ou duas histórias minhas, então não importa a maneira que eu fale com você hoje, você já tem sua opinião formada, então não há muito que eu possa fazer mudar isso, mas não se preocupe, bonito. Eu não poderia me importar menos com ela. – Deu de ombros, o movimento saindo desajeitado por que eu ainda segurava seu pulso. Seu rosto que tinha ficado sério nesse breve momento, se quebrou em um sorriso coquete. – E você ainda será Dr. Delicia para mim. – Concluiu se soltando e olhando para trás de mim, acompanhei seu olhar e notei que seu segurança se aproximava nos encarando com um olhar desafiador. Sem dúvida nenhuma que o olhar era para mim, mas se manteve em silêncio, a aguardando. – Vamos? – Perguntou o encarando.

— É melhor. – Assentiu sem tirar sua atenção de mim.

— Foi um prazer. – Murmurou voltando sua atenção para mim e tocando seu indicador em meu nariz apenas por milésimos de segundos antes de se juntar ao seu parceiro e tomarem seu caminho deixando-me ligeiramente inquieto e surpreso. Minha mão foi até meu nariz sem que eu percebesse. Passei a me questionar sobre a natureza de sua relação com ele novamente.

Mais uma vez ele vestia casualmente e enquanto outro segurança andaria um passo mais atrás prevendo talvez alguma abordagem inesperada e mantendo-se a parte, John Diggle andava lado a lado com Felicity e próximo, mostrando-se íntimo dela. A sugestão de Tommy encheu minha mente, mesmo enquanto eu repetia para mim mesmo que não era da minha conta.

POV FELICTY

Resisti à vontade puramente feminina de olhar para trás e verificar se ele ainda seguia me encarando.

— Por que você está sorrindo? – Escutei a voz grossa de Diggle perguntar. Eu não era ciente de que estava sorrindo até o momento em que ele havida dito, segurei minha resposta até que chegamos ao nosso carro que felizmente estava estacionado desse lado do parque. Diggle me lançou um olhar impaciente mostrando que ainda estava esperando.

— Eu gosto dele. – Dei de ombros. Diggle me lançou um olhar inquieto. Não havia dúvida que eu o tinha surpreendido com minha confissão.

— Do “Dr. Delícia”? – Repetiu o apelido com certo deboche. – Por quê? Ele obviamente não gosta de você.

— Eu não estou dizendo que quero me casar, ou até mesmo transar com ele. – Murmurei percebendo que por trás do seu deboche havia certa cautela, certa preocupação. – Eu gosto de sua honestidade. Ele não gosta de mim, você está certo, mas ele também não perde tempo com falsos sorrisos, ou tentando ser algo perto do educado. Ele não gosta de mim e não se preocupa em esconder isso.

— Deve haver em algum lugar, um manual explicando que você não deve gostar de pessoas que deixam claro que não te suportam. – Falou abrindo a porta do carro para mim e aguardando que eu entrasse, aguardei que ele entrasse no carro para prosseguir com a conversa.

— Diggle, eu apenas gostei de sua honestidade. – Ele me lançou um olhar preocupado através do retrovisor enquanto dirigia. – Eu não vou me apaixonar pelo Dr. Delícia.

— Então você devia parar de chama-lo assim. – Retrucou.

— Eu não posso. – Neguei com um sorriso. – Ele odeia.

— Você gosta de alguém que deixa claro que não gosta de você, e o chama por um apelido constrangedor por que sabe que ele odeia. Quando foi a última vez que fez seus exames srtª Smoak? – Perguntou-me soando divertido.

— Eu não consigo me lembrar. – Murmurei buscando em minha mente. – Obrigada.

— Pelo quê? – Perguntou confuso.

— Por ter me dado mais uma desculpa para visita-lo no hospital. – Pisquei.

— Ele é cirurgião. – Cortou-me. – Ele não estará te atendendo.

— Você realmente precisa ser um estraga prazeres não é mesmo? – Suspirei.

— Sim, srtª Smoak. – Sorriu.

— Leve-me para casa. – Pedi um pouco rabugenta. - Eu preciso de um banho antes de ir para a faculdade. – Murmurei com um suspiro, meu bom humor se esvaindo um pouco. Eu estava e não estava ansiosa pela faculdade ao mesmo tempo, eu estava ansiosa por conhecer pessoas que não vão determinar onde eu vou, com quem eu estou e o que esperam de mim, mas eu estava com medo também, todos os jovens da minha idade que eu conhecia eram como eu, filhos de políticos, alguns já se comportavam como os pais. Todos criados em colégios particulares, internatos, aulas particulares em casa... Aulas de etiquetas. O mundo em que eu ia entrar agora não era bem ao que eu estava acostumada.

Eu havia conseguido ir para uma Universidade pequena em uma cidade que até então não possuía vínculo com meu pai. E sim, eu estava vibrando com isso. Mesmo que eu provavelmente estaria sendo a caloura mais velha. Eu provavelmente deveria me sentir um pouco constrangida por isso. Todo mundo atribuía esse fato ao meu lado inconsequente que não se preocupava com o futuro e que gostava de depender do papai.

Era engraçado como todos viam uma Felicity selvagem quando eu não tinha feito 10% do que acreditavam que eu fazia.

Eu não me drogava, não mais, também não bebia tanto quanto diziam por aí e até o incidente publicado com tanto alarme nas revistas, eu era virgem. Sim, eu dormi com o cara, sim, foi totalmente legal, eu não fui forçada a nada, mas foi um capricho. Um capricho pelo qual eu não queria pensar muito agora. Pensar em como eu havia sido tola me deixava um pouco depressiva.

Chegando em casa ainda cheia de pensamentos sombrios, eu subi apressadamente as escadas deixando Diggle atônito e gritando que ainda tínhamos tempo de sobra. Ele estava certo, o encontro com o aborrecido Dr. Queen, não fez mais do que estragar minha corrida, mas eu não me arrependia de tê-lo abordado. Parte de mim adoraria fazer isso mais vezes. Dr. Delícia estava certo, eu gostava de irrita-lo, na verdade essa poderia se tornar rapidamente minha droga, eu realmente gostava de sua reação honesta, eu vivia rodeada de mentiras e falsos sorrisos, não receber isso dele chegava a ser refrescante. Eu queria que ele me visse diferente do que as pessoas geralmente me encaravam, eu sabia que não conseguiria isso continuando a provoca-lo, e era certo que provavelmente eu nunca mais o encontraria, afinal não havia uma razão para isso, mas ainda assim, eu me via constantemente deixando cair na tentação de provoca-lo, de irrita-lo, de ganhar sua atenção. Isso me fazia uma tola, eu sei, mas eu não conseguia impedir a mim mesma.

Quando chegamos ao estacionamento medo me consumiu. Eu odiava meu pai por isso, fazer-me sentir como uma adolescente no seu primeiro dia de aula, não havia mais espaço isso em minha vida. Eu fui criada de certa maneira “super protetora” alguns poderiam ver isso como carinho e preocupação, eu via isolamento, inibição. Eu me rebelei algumas vezes, eram mínimas, mas as pessoas as tornavam gigantes e depravadas. Histórias contadas por mentes pequenas e bocas grandes.

— Você planeja sair do carro ainda hoje? – Escutei a pergunta feita com humor. Encarei Diggle o fuzilando. Eu havia insistido em sentar ao seu lado e não atrás, mas agora eu estava arrependida, com mais espaço talvez eu não sentisse tão tentada a apagar aquele sorriso a força.

— Vejo que está se divertindo. – Murmurei saindo do carro, poucos segundo depois ele parou ao meu lado. Algumas pessoas nos encaravam com interesse, outras pouco se importavam, passavam apressados sem nos dirigir um segundo de sua atenção, eu esperava que minha turma fosse composta por pessoas desse último tipo. Eu estava cansada de ser o foco.

— Você não tem ideia. – Murmurou tocando minha cabeça em um gesto paternal, antes de me entregar minha bolsa. Eu não era estúpida, eu sabia que algumas pessoas encaravam meu relacionamento com Diggle da maneira errada. Eles não poderiam estar mais errados. Diggle hora agia como um irmão mais velho, algumas vezes sua atitude chegava até mesmo a ser meio paterna apesar da diferença de idade não ser a esse ponto. Ele se preocupava comigo, ele era bom, na verdade ele era a única pessoa que me conhecia de verdade, que ia a minha defesa, que era carinhoso comigo, Diggle antes de qualquer coisa era um amigo. Eu imagino que não tenha sido essa a intenção do meu pai quando o contratou. – Vá até lá Felicity, você mesma disse que estava ansiosa para provar um pouco de liberdade, você merece isso. Você merece ter amigos, vários deles, não esses babacas como Cooper que seu pai insiste que você namore, nem mesmo eu. Você precisa de mais do que seu segurança.

— Você é mais do que meu segurança. – O corrigi franzindo o cenho. – Não fale bobagens. - Empurrei seu ombro. – Vá para casa, eu não quero saber que você esteve aqui o tempo todo, ok?

— Não se preocupe. – Piscou. – Eu faço outras coisas além de ser sua babá.

— Haha. – Murmurei ironicamente. – Eu estou falando sério, eu não quero você aqui até que eu ligue. – Falei apontando o dedo para ele, ele apontou de volta com um sorriso zombeteiro e finalmente entrando de volta ao carro.

Eu queria dizer que encontrei minha sala de primeira, que sentei no auditório e que minha primeira aula foi incrível. Mas eu sou Felicity Smoak, eu sou propensa a desastres. Eu passei cerca de 15 min rodando até admitir a mim mesma que eu estava perdida e mais outros nos quais gastei sendo feito de tola quando perguntei a uma garota para onde eu deveria ir, ela me mandou para a sala errada, quando abri a porta e olhei para todos os cálculos escritos na lousa, eu sabia que havia cometido um erro, pedindo desculpas envergonhada eu dei meia volta e saí. Eu poderia desistir dessa primeira aula, mas infelizmente ela tinha a duração de três horas, forcei-me a encontrar a sala certa e quando finalmente cheguei até ela meu bom humor, resultando do breve momento com Diggle, já havia se desvanecido.

— Ora. – O que eu tinha certeza ser o professor Wells comentou em tom alto no momento em que eu entrei. – Qual é o nome de quem nos honra com sua presença? – Eu planejava entrar sorrateiramente e humilde, mas minhas intenções foram por água a baixo quando ele chamou a atenção de todos em mim.

— Felicity. – Murmurei. Estava claro que ele esperava que eu dissesse algo além, mas tudo o que fiz foi dar de ombros e procurar o lugar mais afastado possível. Caminhei sem pressa até a penúltima fileira do auditório, minha vontade era ficar colada a parede, mas a última fileira infelizmente já estava completa. Ignorando os olhares que infelizmente eu havia atraído eu sentei deixando meu olhar cair sobre o professor Wells.

— Ótimo. – Escutei uma voz masculina murmurar com certo deboche atrás de mim. – Temos uma Barbie na turma. - A garota sentada ao meu lado me dirigiu um olhar avaliativo, talvez estivesse se perguntando se eu reagiria à provocação.  Mas eu s ignorei, inclusive a ela e segurei minha língua com certa dificuldade, eu tinha um temperamento explosivo, principalmente quando se tratava de estúpidos como o cara atrás de mim.

— Tem que haver um equilíbrio. – Escutei a garota ao meu lado murmurar virando-se para encara-lo. – A quantidade de idiotas estava ficando desproporcional. E insuportável. – Mordi um sorriso e a encarei rapidamente, ela me lançou um sorriso cúmplice. Por um momento eu me vi dividida, ela havia sido legal, havia me defendido sem me conhecer e havia calado a boca do cara que eu sequer me dei o trabalho de encarar, mas eu não queria ser aquele tipo de garota carente de amizade que confia a primeiro momento e quebra a cara, então voltei minha atenção para o professor Wells que seguia discursando sobre o programa de disciplina, forma de avaliação, cronograma e a bibliografia. Eu estava um pouco decepcionada, eu havia perdido um pouco da aula, mas ainda assim parecia que hoje não estaríamos vendo nada de extraordinário. Ainda assim me vi tomando notas de tudo o que ele dizia. As horas seguintes seguiram sem muito alarde, o idiota atrás de mim seguiu fazendo piadas ridículas sobre tudo e nada junto ao seu amigo, eu o escutei analisar cada aluno presente e se referir a mim mais uma vez como “Barbie” por algum motivo eu sabia que se tornaria um hábito e não haveria muito que eu pudesse fazer contra.

Era tão ridículo.

E tudo por que eu sou loira?

Quando a aula acabou eu me forcei a me levantar com rapidez e me apressar em sair da sala, suspirando pesadamente notei que infelizmente eu precisaria ir até a mesa do professor e assinar a ata de presença. Por sorte como eu havia me apressado eu era uma das primeiras, quando me curvei e terminei de assinar com um simples “Felicity Smoak.” Eu notei olhar firme do professor em mim.

— Que o atraso de hoje não se torne um hábito, Srtª Smoak. – Murmurou cruzando os braços. – Hoje eu relevei, mas apenas por que se trata do seu primeiro dia, não sou conhecido por ser simpático ou solidário a qualquer desculpa, mesmo se envolver sua mãe morta. – Alertou-me. Ergui uma sobrancelha, mas me limitei a assentir, ou entraria em apuros no primeiro dia. Todo mundo sabia que qualquer que tivesse um doutorado agia como se na verdade tivesse que ser glorificado, como um Deus. Senti seu olhar pesado até o momento em que saí da sala, andei apenas alguns passos antes de me encostar a parede e mexer em minha bolsa, procurando meu horário querendo saber qual seria minha próxima aula e onde seria.

— Felicity? – Levantei minha cabeça mais espantada por meu nome estar sendo chamado do que por vontade responder ao chamando. A garota que havia sentado ao meu lado me encarava novamente com hesitação, e com certa expectativa. – É Felicity, certo? – Assenti automaticamente. – Que bom, temi ter entendido errado e acabar ficando te chamando repetidamente, apenas para descobrir que esse não seria o seu nome.

— Eu confesso que no momento eu estou mais preocupada em qual seria o seu. – Murmurei endireitando-me e afastando minhas costas da parede, ela abriu seu sorriso deixando-me perplexa com sua simpatia imediata.

— Desculpe.  – Pediu erguendo sua mão para um cumprimento. – Eu sou Thea. – Encarei sua mão considerando ignora-la. O certo seria me manter afastada dela por agora e a observar antes de aceitar qualquer amizade gratuita que me oferecia. Porém descobri que era extremamente difícil ser antipática com alguém assim, ela percebeu minha hesitação, mas nem por isso fechou a cara ou fez careta, ela sabia que eu a encarava desconfiada, e ainda assim não me encarou com desdém, então eu percebi que seu sorriso se tornou ainda mais largo e só então notei que eu havia estendido minha mão e aceitado o cumprimento.

— Eu estou perdida. - Murmurei soltando sua mão. E ergui o papel que ainda estava na mão oposta. – Na verdade, não ainda. Mas eu não sei como chegar à próxima aula, então provavelmente eu estarei perdida em alguns momentos.

— No primeiro período todos temos horários iguais. – Murmurou tomando seu tempo para se aproximar e encarar o meu horário, apenas como se quisesse confirmar. – Exceto por alguma optativa, mas é difícil alguém querer optativa no primeiro período, então nossos horários são iguais. – Assentiu ainda observando o papel amassado, resultado de pega-lo inúmeras vezes e aperta-lo nervosamente. – Exatamente iguais. Você não pegou nada extra. Podemos ir juntas, eu conheço esse lugar de um extremo ao outro.

— Por quê? – Perguntei confusa.

— Meu irmão estudou aqui e o visitava cons...

— Não. – Neguei. Eu realmente não havia gastado muito do meu tempo me perguntando como ela conhecia a faculdade tão bem estando em sua primeira aula. – Por que você está sendo tão...

— Simpática? – Sugeriu. – Nem todo mundo é um idiota como Alex.  – Deu de ombros.

— Alex? – Repeti bobamente. Ela se virou e encarou o rapaz que ria junto com seus amigos, ele era muito bonito, não havia como negar.

— O idiota que a batizou de Barbie. – Murmurou dando de ombros. – Vamos?  - Passei a andar junto a ela que continuou conversando. – Você não é de se enturmar muito, não é mesmo?  - Sondou. - Ou rapidamente.

— Não. – Concordei.

— Eu meio que percebi. – Assentiu. – Para sua sorte, eu sou totalmente o oposto. – Piscou.

— Não acho que isso seja algo do que se orgulhar. – Comentei antes que eu pudesse cortar as palavras. – Digo, ser tão aberta as pessoas dessa forma? Pode ser perigoso.

— Não sou aberta a todo mundo. – Negou. – Eu sei escolher com quem me envolver. Por exemplo, eu jamais me envolveria com Alex.

— Você já o conhecia? – Perguntei confusa.

— Não. – Negou. – Mas demorou apenas 30 segundos nos quais eu cheguei à sala e ele sentou ao meu lado, para eu perceber que ele é completamente um idiota. Chute qual foi à primeira frase que ele soltou para mim.

— Ele lhe deu algum apelido? – Sugeri. Ela meneou a cabeça em negativa. – Ele deve ter dado em cima de você. – Concluí.

— “Topa uma rapidinha no armário?” – Meneei a cabeça quando ela disse isso

Deus, onde eu ia parecia que levava comigo esse tipo de cara.

— Seguida por: “Apenas para fortalecer a confraternização na faculdade”.  – Continuou ignorando minha careta. - Ainda bem que Roy perdeu essa primeira aula, ele é esquentado e teria conseguido uma confusão no primeiro dia. Mas ele chegará para a próxima.

— Seu irmão? – Franzi o cenho, ela tinha mencionado um irmão, mas pensando bem ela havia dito que ele já tinha estudado aqui, passado. Não havia motivo para ele estar na aula hoje. A observei balançar a cabeça em negativa.

— Meu namorado. – Explicou. – Você vai conhecê-lo hoje. Ele não pôde vir mais cedo, mas tudo bem, por que para ser honesta a primeira semana de aula é sobre tudo, menos aula.

— Você está muito por dentro de tudo. – Murmurei admirada. – Algum conselho que possa me dizer? – Perguntei enquanto saíamos do prédio em que estávamos e entravamos em outro, os corredores desse sendo mais fechados, fazendo-me notar que este era exclusivamente um prédio de salas e banheiros. Nada de cantina ou áreas abertas, recreativas.

— Sei que você nunca em hipótese nenhuma deve arriscar almoçar aqui. – Respondeu sorrindo.

— Hummm. Obrigada. – Franzi o cenho. Eu não queria ter que me preocupar em procurar um lugar para almoçar para dias como o de hoje, em que eu teria aula após o almoço e o mais viável seria almoçar por aqui, mas com essa nova de Thea eu provavelmente deveria procurar um lugar por perto. – Vou precisar me contentar com a comida daqui por hoje.

— Você pode almoçar conosco. – Sugeriu entrando em uma sala. Eu pensei que chegaríamos atrasadas, ou que pelo menos o professor estaria já em sala, mas havia apenas alguns poucos alunos que pareciam pouco dispostos a sentar em seu lugar. Thea me lançou um olhar notando que eu não havia respondido a sua sugestão, ela mais vez foi para os fundos e eu a segui. – Então?

— Então o quê? – Perguntei confusa ainda observando como todos conversavam alegremente. - Todo mundo aqui já se conhece é isso?

— Não. – Murmurou divertida com minha observação. – As famílias se conhecem, ou algo assim, maioria aqui frequentou as mesmas escolas particulares e eventos, claro que aqui não é o colegial em uma cidade pequena e que todo mundo já sabe o primeiro nome do outro, mas certeza que aqueles que tem interesse em comum ou em alguma família, já sabe a quem abordar ou a se unir.

— Qual o nosso interesse em comum? – Perguntei erguendo uma sobrancelha.

— Fugir deles. – Brincou. – Me dê sua bolsa. – Pediu.

— Por quê?

— Eu quero garantir que seja Roy e não Alex a sentar ao meu lado. – Deu de ombros. Tirei meu celular e joguei minha bolsa para ela que se apressou em coloca-la na cadeira ao seu lado. - Você não me respondeu. – Murmurou me encarando furtivamente. – Não quer almoçar conosco?

— Você e seu namorado? – Perguntei incerta. – Eu não sei, você parece ansiosa para vê-lo, eu acho melhor dar um tempo a sós para vocês.

— Eu não o vejo há uma semana. – Explicou. – Ele foi visitar uma tia e voltou ontem à noite.

— Eu acho melhor deixar vocês almoçarem sozinhos. – Repeti.

— Mas não vamos estar sozinhos. – Negou. – Sempre que posso eu almoço com meu irmão, e eu preciso apresentar Roy a ele. Oficialmente.

— Eu acho que essa é mais uma razão para deixarmos isso para outro dia. – Falei hesitante. – Soa como algo em família.

— Tem razão. – Concordou. – Eu estava pensando em usa-la para acalmar Ollie, mas...

— Como eu poderia acalmar seu irmão? – Perguntei divertida. – Ele sequer me conhece.

— O que forçaria ele a ser educado e evitar perguntas constrangedoras para Roy em sua frente. – Concluiu com um sorriso brilhante.

— Desculpe, mas eu vou ter que recusar. – Ri.  – Eu confesso que estou um pouco confusa. Como você já tem um namorado no primeiro dia de aula, no mesmo curso, e seu irmão ainda não o conheceu? – Eu pensei que eram namoradinhos de escola, que escolheram o mesmo curso e faculdade, e contrariando todas as chances passaram para o mesmo lugar. Mas isso significaria que esse tal de Ollie já teria o conhecido, presumindo que todos eram daqui.

— Eu meio que venho escondendo Roy do meu irmão. – Confessou. – Ollie é certinho demais, julga demais e Roy, bem, Roy era o oposto até começarmos a namorar.

— Esse Ollie soa como alguém que conheço. – Murmurei pensando no encontro com o Dr. Delícia, mais cedo.

— Problemas com um garoto? – Perguntou curiosa.

— Algo do tipo. – Murmurei desviando minha atenção para a figura masculina que entrava na sala, segurei um suspiro exasperado quando percebi que Alex vinha direto em minha direção, um sorriso arrogante dominando seus lábios, ele lançou um olhar rápido antes de se concentrar completamente em mim. Ele ficou uma fileira a nossa frente, seus assento bem em frente ao meu, apoiou um joelho em sua cadeira e se curvou me encarando diretamente.

— Hey Barbie. – Murmurou fazendo com que eu comprimisse meus lábios em sinal de irritação, eu estava certa, ele estaria me chamando assim de agora em diante. Eu tinha certeza de que se eu reclamasse isso só o faria mais obstinado a continuar a me chamar assim, então me limitei a encarar seu rosto sem, no entanto, conseguir esconder meu desprezo, ainda me lembrando do que Thea havia dito. Esse Alex soava como uma versão do Cooper. Ele notou que eu o ignorei, mas isso não o fez recuar, ele exibiu um sorriso pequeno antes de murmurar as palavras seguintes. – Eu quero ver seus seios.

— Idiota! – Thea exclamou soando surpresa e incrédula. Eu mesma estava em choque. Ele havia sido direto com Thea, mas isso agora parecia diferente. O encarei duramente.

— E como vivo para fazer suas vontades eu devo fazer o que quer. – Murmurei ironicamente.

— Não faça isso, Barbie. – Sorriu ainda mais abertamente. – Eu pesquisei sobre você. – Abri meus olhos surpresa. Ele percebeu é claro. – Bem, não eu, mas minha amiga Iris... – Murmurou olhando por seu ombro segui seu olhar e encontrando uma morena nos encarando com curiosidade, eu não tinha certeza até onde ela achava que estava indo essa pequena conversa com Alex, mas eu já a odiava por fazer parte disso. Raiva me dominou quando percebi que esta era a mesma garota a quem eu pedi ajuda para encontrar a sala. -... Ela meio que reconheceu você de uma dessas estúpidas revistas de garotas, e quando ela me disse isso eu tive que ver por mim mesmo.

— Saia daqui Alex. – Thea murmurou entredentes.

— Calma, linda. – Murmurou encarando Thea. – Eu só preciso mostrar a foto que encontrei. – Ele tirou seu celular do bolso e me mostrou uma foto estúpida de alguns anos atrás. Eu estava em minha propriedade, tomando sol na beira da piscina e de topless, que esse babaca achasse que pudesse achar isso uma vantagem, apenas mostrava o quanto eu estava cercada por idiotas. – Você parece mais nova aqui, eu gostaria de saber como estão agora.

— Claro. – Murmurei o surpreendendo.

— Felicity... – Thea murmurou confusa ao meu lado. Alex me encarava com o cenho franzido, seu sorriso congelado.

— Mesmo? – Murmurou ainda em tom e surpresa.

— Claro. – Repeti. – “Mostre-me o seu e eu mostro o meu”. Não é assim? – Perguntei. Ele se endireitou se desencostando e ficando em pé. A essa altura percebia que eu não estava respondendo como ele planejava a sua provocação. – Você quer que seja aqui? – Perguntei descendo meu olhar até sua calça.  – Quer tirar primeiro? – Voltei meu olhar para seu rosto, sua expressão me dizia que estava furioso por eu não ter começado a chorar ou pedir que não mostrasse a ridícula foto a ninguém. Ele queria me humilhar e me deixar envergonhada.  – Saia da minha frente, e procure alguém mais fraco para provocar. – Falei quando estava claro que ele não diria mais nada, e apenas seguia parado me encarando.  – Mais uma coisa... – O chamei antes que se afastasse. – Isso que você fez pode muito bem ser considerado assédio, e eu sei que não é a primeira vez, faça novamente e terei que prestar alguma queixa aqui mesmo na faculdade.

— Que seja. – Murmurou antes de se afastar.

— Nossa. – Thea exclamou, a encarei apenas para notar um olhar de admiração. – E eu achando que você é do tipo que aguenta tudo quieta. – Não era tão longe da realidade. Eu gostaria de ser mais como fui agora com Alex, quando eu me via diante de Cooper, mas com Cooper era como se eu tivesse com as mãos atadas, eu poderia cortar o mal pela raiz com Alex, agora que estava no começo. Com Cooper já estava enraizado demais. – Fico feliz que tenha se defendido de Alex, ele foi um...

— Idiota. – Completei. – Eu sei, tome cuidado com Alex, Thea. – Murmurei em advertência. – Ele parece ser apenas um idiota inofensivo, mas ele pode não ficar apenas nas provocações.

— Eu também sei lidar com caras assim. – Murmurou me tranquilizando.

— Essa aula já não devia ter começado?- Perguntei confusa.

 - Daqui a 8 minutos. – Murmurou olhando em seu relógio de pulso.

— Mas...

— Eu notei que seu horário não está atualizado. – Comentou. – Haviam esquecido de colocar os intervalos entre uma aula e outra. Alguns são de apenas 15 minutos, alguns de meia hora, como esse de agora por que foi após uma aula de 3 horas, e é claro tem o horário de almoço. Mas você só pode contar com esse tipo de organização agora, por que os próximos períodos serão uma bagunça, tem eletivas, optativas, você pode acabar perde... – Parou de repente fazendo com que eu franzisse o cenho. Notei que ela abriu um sorriso e eu tive que olhar em direção à porta novamente, dessa vez fui eu que me vi chocada quando observei o rapaz que se aproximava, ele vacilou um passo ao me notar. Nos dias anteriores eu tinha ficado confusa, e insegura com algumas coisas que aconteceram naquela maldita festa, mas seu rosto não saia da minha cabeça, não havia dúvida que estava encarando o mesmo rapaz que havia me ajudado a escapar de Cooper.  – Este é Roy, meu namorado. – Escutei Thea falar alegre.

Eu não estava certa sobre o que ela havia dito.

O encarei passar por mim até chegar ao assento do lado de Thea que se ergueu, e após me lançar um segundo olhar confuso voltar sua atenção para abraça-la e receber seu beijo efusivo. Ela estava feliz com esse reencontro, enquanto eu estava tensa, eu não queria que ele falasse nada sobre aquela noite, eu não queria que ninguém soubesse, por mais idiota que soasse, eu não queria.

— Roy, esta é Felicity. – Thea murmurou assim que se soltou de seu abraço apaixonado e virou-se para mim, Roy pareceu estar pronto para falar algo quando notou que eu praticamente implorava com um olhar.

— Prazer. – Murmurou erguendo uma mão. Suspirei de alívio, mas logo me veio à mente algo que Thea havia dito. Ela tinha dito que estava há uma semana sem vê-lo e que ele havia voltado ontem à noite de sua viagem, mas eu sabia muito bem que essa não era a verdade. Antes que eu pudesse devolver o cumprimento o professor entrou na sala, enquanto pessoas se espremiam para passar em nossa frente e sentar em seus lugares, eu me limitei a rebobinar aquela noite em minha cabeça, eu tinha certeza que havia sido Roy a derrubar a estante, tinha certeza que ele havia estado na festa. Então, será que Roy estava tão aliviado quanto eu por não trazer essa noite à tona?

Será que ele estava escondendo algo de Thea?

O que ele estava fazendo na festa de Cooper?


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Notas finais do capítulo

Eu espero que tenham gostado do capítulo!! Nos vemos nos coments.
Xoxo, LelahBallu.



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