Nobre Amor escrita por DennyS


Capítulo 15
Regras De Convivência


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!! ^^



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~*§*~

 

Capítulo 15 – Regras De Convivência

 

—Você pode me soltar agora? – Perguntou Sasuke com a voz meio estrangulada. A cada nova trovoada, Sakura o apertava mais forte e estava ficando difícil respirar.

Ao perceber que ela estava agarrada ao Sasuke como uma planta trepadeira, o constrangimento da veterinária foi mais forte que o seu medo de trovões. Ela pulou para o chão rapidamente, soltando-se do Uchiha com o rosto vermelho como um tomate maduro.

—Oh, minha nossa! – Disse ela nervosamente puxando a barra de seus shorts para baixo. Estava usando uma blusa cinza folgada e shorts desbotados, que eram curtos demais para usar em outra parte da casa que não fosse o quarto.

—Qual é o problema? Por que toda essa gritaria? – Perguntou Sasuke sentindo-se estranhamente tenso. Sem poder evitar, seus olhos desceram até as pernas nuas de Sakura e um choque intenso percorreu seu corpo.

—Eu estou bem agora. – Disse Sakura envergonhada antes de se virar e praticamente correr de volta até o quarto para que não precisasse se explicar.

Mas de nada adiantou sua fuga, pois Sasuke a seguiu até o quarto. Ele entrou no aposento, acendeu as luzes e procurou a coisa que poderia ter assustado Sakura daquela maneira, quando outro raio cortou o céu. Sakura gritou novamente e se aproximou de Sasuke quase o abraçando novamente.

Então o Uchiha se deu conta de que ela estava com medo dos trovões. Ou estava fingindo. Ponderou ele com um olhar estreito. Uma mulher crescida como Sakura não poderia ter medo de trovões.

—Você está sendo rápida. – Disse ele sério e Sakura novamente se afastou como se ele tivesse uma doença infecciosa.

—Não é nada disso! – Protestou a rosada irritada. Ela sentia seu corpo tremer e o pânico provocado pelo seu trauma quase sufoca-la. Mas a insinuação daquele homem era mais insuportável. Como ele tinha coragem de pensar que ela estava... Estava... O que? Se jogando para cima dele? Ah, esse idiota convencido!

—Tudo bem. Então eu vou sair agora. – Disse Sasuke com uma expressão de quem não acreditava nela.

Sakura o observou deixar o quarto com vontade de socar o seu rosto bonito e arrogante, mas não pôde se mover do lugar. Ela ainda tremia de medo e precisava encontrar uma maneira de ficar quieta até que a chuva passasse.

Forçando-se a permanecer na cama sob as cobertas, ela abraçou um travesseiro e tentou ignorar o máximo que pôde o barulho assustador da chuva.

 

~*§*~

 

—Mas que droga... O que foi aquilo? – Perguntou Sasuke a si mesmo soltando um longo suspiro ao voltar para o seu escritório.

A situação era toda confusa, não fazia sentido Sakura agir daquela maneira já na primeira noite. Alguma coisa estava errada, algo que ele não conseguia ver. No entanto, toda essa confusão não era capaz de retirar da sua mente a imagem de Sakura com aquela simples roupa de dormir.

Ela tem pernas bonitas... Pensou Sasuke com um olhar pervertido. Como não as tinha notado antes? Sasuke ainda podia sentir seu coração acelerado ao se lembrar da sensação de ter o corpo de Sakura contra o seu. Ela era tão leve e delicada... Tão macia e suave... Tão cheirosa e...

Sasuke se levantou bruscamente da cadeira, sacudiu a cabeça e decidiu que era hora de encerrar o trabalho e ir dormir. Já passava da meia-noite e embora fosse sábado, ele tinha que trabalhar.

Mas dormir depois do que tinha acontecido naquela noite foi praticamente impossível. Os pensamentos que passavam por sua cabeça não eram os pensamentos mais puros que sossegariam uma mente cansada pelo trabalho.

Sakura não saiu de sua cabeça e por isso Sasuke viu o dia amanhecer. Antes que enlouquecesse esperando seu despertador tocar, decidiu que era hora de se levantar e liberar um pouco de toda aquela tensão em seu corpo.

Ele vestiu sua roupa de ginástica e correu pelo bairro, dando algumas voltas no quarteirão. O asfalto ainda estava molhado pela chuva da madrugada e ele odiava correr na rua molhada, mas precisava mesmo se exercitar ao ar livre e não na academia de sua casa. Sentia que precisava de alguns minutos sozinho para colocar os pensamentos em ordem.

Desde a última noite, mesmo antes de Sakura agarra-lo sem nenhuma explicação, ele se sentia confuso a respeito do real motivo de querer morar com ela. Inicialmente, o Uchiha acreditava que era para acabar com a ilusão sobre o que sentia por ela. Sasuke percebeu que estava começando a gostar da companhia de Sakura e isso não era nada bom. Ele acreditava que morar junto, faria com que a conhecesse melhor e que assim o encanto acabaria.

Mas na última noite, ele percebeu que nada daquilo era verdade. Foi apenas uma desculpa. Sasuke realmente queria que eles morassem juntos. Então, aquilo só poderia significar uma coisa:

Ele não estava apenas gostando da companhia dela. Ele estava gostando dela.

Sasuke parou de correr e voltou o resto do caminho para casa andando. Tentou não se perturbar por seus pensamentos ou tentar lutar contra o que estava sentindo. Decidiu que, assim como tinha combinado com Sakura na outra noite, ele iria arriscar e apenas deixar as coisas acontecerem.

Quando chegou em casa, Sasuke tomou um banho rápido, se vestiu para o trabalho e preparou o café da manhã. Ele fez bacon, ovos fritos, torradas e café preto. Normalmente, Sasuke tomava o café da manhã no trabalho, mas naquele dia resolveu ele mesmo preparar.

Cinco minutos depois de preparar a mesa, Sasuke aguardou impacientemente pelo aparecimento de Sakura, mas ela não deu as caras. Sasuke soltou um bufo de irritação e consultou seu relógio. Teria que sair em trinta minutos, mas não queria tomar café da manhã sozinho.

Irritado por ter ficado mais de cinco minutos esperando por ela, ele subiu até o segundo andar e foi até o quarto de hóspedes.

—Ei, Haruno Sakura! Quando é que você vai levantar? – Perguntou ele impaciente batendo na porta.

Após um longo minuto e mais três batidas na porta, Sakura abriu uma fresta e colocou a cabeça para fora. Sasuke a fitou com um olhar confuso. Ela já estava vestida, mas seus cabelos estavam desarrumados e ela estava usando enormes óculos escuros que tapavam quase todo seu rosto.

—O que está havendo?

—Eu não consegui dormir noite passada. Meus olhos estão inchados. – Respondeu Sakura com a voz rouca.

Sasuke quase revirou os olhos. Mulheres e suas vaidades...

—Você não vai trabalhar? Saia já desse quarto. Vamos tomar café da manhã. – Disse ele em tom de ordem, mas Sakura não se moveu do lugar. – Te dou trinta segundos para descer.

Sakura bufou de irritação, Sasuke lhe deu as costas e seguiu na direção das escadas.

—Se não o que? – Ela gritou para o Uchiha que a ignorou.

Sakura entrou de volta no quarto, penteou os cabelos e tentou disfarçar um pouco de seus olhos inchados com maquiagem. Não estavam tão inchados assim, na verdade ela estava com vergonha de encarar o Uchiha depois do que aconteceu na última noite. Por isso quando ele a chamou, ela escondeu sua expressão atrás dos óculos de sol.

Sakura tinha passado a noite em claro xingando-se por não ter conseguido se controlar. Como iria explicar ao Sasuke o que tinha acontecido? Como iria dizer a ele que tinha medo de tempestades? Sakura não queria revelar o motivo do seu trauma e estava apavorada, porque não conseguiu pensar em alguma desculpa que justificasse seu comportamento.

Sasuke gritou por ela do andar de baixo e ela se apressou. Pegou Marie, o pratinho dela, a lata de comida para gato e saiu do quarto. Quando chegou à cozinha, Sasuke esperava por ela sentado à mesa e falando ao celular com alguém do trabalho.

Sakura aproveitou seu momento de distração e serviu a ração de Marie, colocando seu pratinho cor-de-rosa no chão ao lado do balcão da cozinha.

—Hum... Isso é bacon? – Perguntou Sakura ao se sentar à mesa de frente para o Sasuke.

Ele encerrou a ligação e guardou o celular no bolso, enquanto avaliava o rosto sorridente de Sakura. Ela não estava com os olhos tão inchados como ele pensava. Estava tão bonita que chegava a deixa-lo sem fala.

—Isso sim é um verdadeiro café da manhã! – Disse Sakura animada passando geleia numa torrada.

O cheiro de bacon e ovos estava tão apetitoso que fazia a boca dela salivar. Fazia um bom tempo que não tomava um café da manhã como aquele. Ela nem se lembrava da última vez. Seu apertado orçamento não lhe permitia ter mais de duas refeições no dia. Interiormente, Sakura era grata pela sua situação difícil finalmente ter acabado.

—Eu te disse para manter esse animal fora do meu campo de visão. – Disse Sasuke interrompendo seus pensamentos e gesticulando para Marie.

Sakura olhou para sua gata comendo a ração de salmão, depois de volta para o Uchiha carrancudo.

—Na hora da refeição ninguém deve ser interrompido. Nem mesmo um pobre animal. – Disse Sakura antes de se servir de café. – *Itadakimasu!

Sakura comeu um pouco de tudo antes de se decidir se deveria ou não elogiar Sasuke por seus talentos culinários. Tudo estava realmente muito gostoso. Se não tivesse visto as panelas sujas e sentido o cheiro delicioso do bacon e dos ovos, ela não acreditaria que Sasuke sabia cozinhar. Afinal, ele era rico. Com certeza tinha crescido com vários empregados à sua volta fazendo tudo por ele.

—Hum, você cozinha bem! – Disse ela depois de engolir a última garfada.

—Eu vou te tratar como visita apenas por hoje. – Disse Sasuke antes de dar um gole em seu café. – Começando por hoje à noite, você toma conta do jantar.

—O que?

—E da limpeza e das roupas.

Sakura largou os talheres e o encarou.

—Espere um pouco. Você me chamou para cá para ser sua empregada?

—Bem, isso foi parte do motivo. – Disse Sasuke desviando seus olhos dela. Claro que aquilo era uma mentira deslavada. – Você achou que ficaria aqui de graça, Srta. Haruno?

Sakura cerrou os punhos enquanto Sasuke lançava a ela aquele meio sorriso cretino.

—Eu prefiro pagar o aluguel!

—Não preciso do seu dinheiro insignificante. – Sasuke deu mais um gole em seu café.

—Pode ser insignificante para você, mas não é para mim. – Esse homem consegue me tirar do sério. Pensou Sakura irritada o encarando com um olhar estreito.

Sasuke olhava de volta para ela com um olhar tão intenso e enigmático, que Sakura ficou constrangida. Por que ele está me olhando desse jeito? Parece até que me provocou de propósito e está se divertindo... Pensou ela desconfiada.

Como Sasuke continuava olhando para ela daquele jeito estranho, Sakura decidiu dizer a ideia que teve na sua noite de insônia.

—Podemos criar algumas regras em relação a vivermos juntos? – Ela perguntou após terminar o café da manhã.

—Regras?

Sakura não esperou o Uchiha concordar. Ela retirou a louça suja da mesa, depois correu até o quarto e pegou seu notebook. Sasuke não tinha se movido do lugar, embora estivesse quase atrasado para o trabalho. Sem entender o porquê, Sakura conseguia atrair sua atenção, atiçar sua curiosidade por coisas simples. Sasuke reconheceu que quando estava com ela, não dava tanta prioridade para o trabalho. Aquilo era muito novo. Nunca outra coisa foi mais importante em sua vida do que o trabalho. Nem mesmo sua família conseguia distraí-lo dele.

—Primeiro, acordo de confidencialidade. – Disse Sakura enquanto digitava no computador.  – Você sabe muito bem que ninguém pode saber sobre nós, então esse acordo não é novidade.

—Certo. – Concordou Sasuke concentrado. Sakura se perguntou se ele estava agindo seriamente ou tirando sarro dela. Por que ela podia ver que seus olhos sorriam, apesar de seu semblante sério? Sakura deveria estar ficando louca, só pode. Não se lembrava se alguma coisa podia divertir aquele homem. Ele nem gostava de pipoca, pelo amor de Deus!

Sakura espantou os pensamentos e continuou a ditar as regras de convivência.

—Segundo, dentro de casa não podemos manter contato físico algum. Por último, sem invasão de privacidade. – Disse ela rapidamente enquanto digitava.

—Sem contato físico? – Perguntou Sasuke arqueando uma sobrancelha.

—Sob quaisquer circunstâncias. – Alertou Sakura com firmeza.

Sasuke se debruçou sobre a mesa e se aproximou dela com aquele olhar estreito mais uma vez.

—Engraçado... Fico aqui pensando quem foi que abraçou primeiro ontem à noite. – Disse ele franzindo os lábios, como se segurasse o riso.

Sakura ficou pálida e abriu a boca duas vezes antes de responder. Sasuke não pôde mais se conter e sorriu. O rosto corado dela era adorável. Assim como seus olhos verdes arregalados.

—Aquilo foi um erro. É que eu abraço as coisas quando fico com medo. – Disse Sakura envergonhada.

—Entendo. – Ele murmurou duvidando.

—Geralmente abraço a Marie, mas ela fica com mais medo que eu e me arranha. Então abraço um travesseiro, mas ontem à noite não encontrei um grande o bastante. Então você foi um substituto.

—Substituto de um travesseiro? – Repetiu Sasuke ofendido. – Quantos anos você tem, afinal? Não está velha demais para ter medo dos trovões?

Sakura não disse nada, apenas desviou seu olhar dele. Sasuke não sabia dizer se ela estava mentindo sobre essa história toda, mas podia ver o constrangimento dela. Sakura não tentou dar outra explicação e Sasuke também não insistiu. Acreditava que algum dia iria entender o que tinha acontecido ali.

—Vamos voltar às nossas regras? – Disse Sakura tentando agir normalmente e esquecer o ocorrido da outra noite. Ela não queria mais pensar naquele abraço. Só de lembrar seu estômago revirava. – Quanto às tarefas, elas precisam ser divididas igualmente.

Enquanto Sakura falava, Sasuke acabou se distraindo para os lábios rosados dela. Sem poder evitar, lembranças mais antigas vieram à tona todas de uma vez.

—Por exemplo, se eu cozinho, você lava a louça. – Sakura continuou dizendo enquanto Sasuke, transportado para outra dimensão se lembrava da primeira vez que a beijou. – Se você fizer o café da manhã, eu faço o jantar. Entendeu? Sasuke?

Sakura olhou para o Uchiha que parecia hipnotizado. Ele agora estava se lembrando da sensação intensa que teve ao beijá-la pela segunda vez.

—Ei! Você está me ouvindo? – Perguntou ela batendo o punho na mesa.

Sasuke limpou a garganta e a fitou com a cara séria.

—Vamos apenas concordar e eu darei uma sugestão. – Disse ele sério como se aquilo fosse uma negociação entre empresas. – Eu quero que você pare de dançar.

Sasuke deu o ultimato, se levantou e vestiu seu paletó cinza. Sakura o seguiu para o lado de fora após colocar Marie na bolsa de transporte e pegar suas coisas.

—Por quê? Por que tenho que parar de dançar? – Questionou a veterinária inconformada seguindo o Uchiha até a garagem da casa.

—Se eu quiser que desista, você desiste. – Disse Sasuke por cima do ombro sem interromper seus passos.

—Mas é um bom exercício! – Retrucou Sakura correndo atrás dele.

—Posso manda-la para a academia se é por causa do exercício.

Sakura cerrou os punhos e apertou o passo atrás dele.

—Sou uma pessoa noturna e essa é minha vida pessoal, você não pode...

Sasuke parou de andar e virou-se de repente, fazendo com que Sakura esbarrasse nele, batendo a cabeça em seu peito.

—Estou te avisando, Sakura. Você estará encrencada se dançar com outro cara. – Disse ele bem perto do rosto dela. Seu olhar implacável a desafiava a retrucar de novo, mas embora tivesse ficado calada, Sasuke podia perceber que ela não tinha aceitado a derrota. Ele podia ver aquele brilho de teimosia nos olhos dela. – Vou te dar uma carona já que é sua primeira manhã nesta casa.

Sasuke se afastou e abriu a porta do carro para ela com aquela expressão de quem conseguia tudo o que queria. Relutantemente, Sakura caminhou até ele e entrou no carro com a cara amarrada.

 

~*§*~

 

Sakura permaneceu emburrada durante toda viagem de carro até a clínica. Ela se recusava a parar de dançar só porque aquele homem queria. Eles nem eram um casal de verdade! Como ele se atrevia a dizer a ela o que fazer?

Sasuke parou o carro no acostamento em frente à clínica veterinária. Por incrível que pareça, ele sorria diante daquela situação, que em outra era ele consideraria extremamente irritante. Uma mulher emburrada era pior que uma criança fazendo birra. Mas por causa de Sakura, ele estava achando graça.

Sakura saiu do carro e pegou suas coisas. Sasuke abaixou o vidro da janela do carona e acreditando que ele queria lhe dizer algo importante, ela se abaixou para escutá-lo.

—Não adianta fazer esse bico e sabe disso. – Disse Sasuke sério. Ele estava usando óculos escuros, por isso Sakura não pôde interpretar direito sua expressão. – Pode sorrir para mim?

Sakura revirou os olhos e esboçou um sorriso forçado. Foi então, que algo incrível aconteceu. Sasuke sorriu. Um sorriso de verdade que Sakura ainda não tinha visto. Mesmo usando óculos de sol, a pureza e sinceridade daquele sorriso a tocou profundamente.

—Te vejo mais tarde. – Disse Sasuke fechando a janela e saindo com o carro do acostamento.

Sakura, ainda desnorteada pela visão daquele sorriso, acenou fracamente para o carro que se afastava sentindo seu coração tão acelerado que chegava a doer.

—Sakura-chan?

Sakura virou-se para a calçada e ficou surpresa ao encontrar Sasori esperando por ela.

—Sasori-kun? O que está fazendo aqui?

 

~*§*~

 

Enquanto se afastava, Sasuke também sentia seu coração bater mais forte e uma sensação indescritível inundar todo seu corpo. O desejo de vê-la mais uma vez o impulsionou a olhar pelo retrovisor do carro e a breve visão que teve, o fez pisar no freio violentamente, correndo o risco de provocar um acidente de trânsito.

—Mas que porra é essa de novo? Droga! – Gritou ele furioso ao reconhecer o homem que estava conversando com Sakura na calçada, há uns cem metros de onde ele estava.  – Merda!

Sasuke queria retornar até lá e finalmente poder quebrar a cara daquele homem, mas a avenida em que estava era apenas de uma mão e o retorno estava há um quilômetro de lá.

Os carros atrás dele começaram a buzinar e Sasuke não teve outra escolha senão dirigir. Ele apertou os punhos e inutilmente tentou conter a raiva que estava sentindo.

 

~*§*~

 

Sakura preparou um chá para o Akasuna depois de abrir a clínica. Eles se sentaram no sofá da sala de espera para conversar.

—Você parece bem. Eu te vi lá fora e você parecia bem feliz. – Disse Sasori após um silêncio incômodo.

Sakura sorriu envergonhada. O que será que Sasori tinha visto? Nem mesmo ela sabia explicar o que foi aquilo. Como uma pessoa podia se sentir tão bem por causa de um sorriso sincero? Isso era normal?

—Ino me contou o que aconteceu no meu último ano da faculdade, naquela noite que te convidei para sair. – Disse Sasori interrompendo os pensamentos dela. – Eu queria explicar a você que não tive nada a ver com os planos da Karin. Eu jamais transformaria meu encontro com você em uma piada. Voltei à Tóquio com a intenção de poder recomeçar com você, mas acho que cheguei tarde demais.

Sakura o fitou surpresa e confusa. Foi um choque receber aquela notícia, mas o sentimento que ela teve não foi o esperado. Sasori foi seu primeiro amor. Foi algo real. Se ela realmente sentia algo por ele, aquele era o momento de dizer que ela não tinha namorado, que seu relacionamento com Sasuke era uma farsa. Ela perderia tudo se fizesse isso, mas em nome do amor verdadeiro valia a pena, não valia? Os bens materiais não eram importantes.

Mas então, por que ela não se sentia segura sobre isso?

—Eu... Sinto muito. – Disse Sakura desviando o olhar. Ela não amava mais o Sasori. Os sentimentos que nutria por ele tinham ficado no passado há muito tempo. Se ela os aceitasse agora, estaria enganando a si mesma.

—Não sinta, Sakura-chan. – Disse Sasori colocando sua xícara sobre a mesinha de centro. – Voltarei para a América no mês que vem para retomar a minha pesquisa. Você viria comigo?

Sakura o fitou com os olhos arregalados.

—O-o que? – Gaguejou ela nervosa.

—Estou brincando. – Sasori sorriu. – Já consigo ouvir seu namorado vindo atrás de mim.

Sakura não sabia mais o que dizer. Eles ficaram em um longo silêncio perturbador, antes de Sasori o cortar.

—Eu gostava muito de você, sabe... – Disse ele pensativo.

—Sasori-kun, eu...

—Só vim aqui me despedir. – Disse ele levantando-se do sofá. – Se cuida, Sakura-chan.  

Sem poder evitar, Sasori se aproximou dela e lhe deu um beijo no rosto antes de ir.

Sakura o observou partir em silêncio, mas antes que ele pudesse sair pela porta de vidro, ela o chamou e ele se virou.

—Obrigada por gostar de mim quando estávamos na faculdade. – Disse Sakura gentilmente.

Sasori esboçou um leve sorriso e a fitou por um momento.

—Adeus, Sakura-chan.

 

~*§*~

 

Poucos minutos depois que Sasori foi embora, um cliente chegou na clínica e Sakura ficou ocupada pelas próximas duas horas. Enquanto trabalhava, ela viu que em seu celular, que estava no silencioso tinha quase cem ligações perdidas, mas não podia interromper o que estava fazendo.

Quando o cliente foi embora, ela teve um tempo livre e ao invés de pegar seu celular, ela foi pesquisar receitas na internet para fazer no jantar daquela noite. Enquanto anotava as receitas dos pratos que imaginava que Sasuke gostava, seu celular vibrou sobre a mesa e ela atendeu.

—Alô?

COMO VOCÊ PÔDE?— Berrou uma voz do outro lado. – Por que você não atendeu as minhas ligações? Por que sua educação ao telefone continua péssima? Tem certeza que sabe como lidar com seus clientes?

—Por que está gritando? Quer começar outra briga? – Perguntou Sakura calmamente afastando o celular do ouvido. O que foi que deu nele?

Você está se fazendo de idiota? Seu QI é 20?— Perguntou Sasuke com uma voz assustadoramente baixa agora. – Eu disse para você não se encontrar com outro cara, droga! Por que não atendeu as minhas ligações?

—O celular estava no silencioso e além do mais eu não podia atender. Estava ocupada. – Respondeu Sakura revirando os olhos. – Espera aí! Outro cara? Por acaso você viu o Sasori-kun mais cedo?

Sakura podia ouvir a respiração pesada de Sasuke do outro lado da linha.

 

~*§*~

 

Sasuke estava descontrolado desde que tinha chegado ao trabalho. Ele tinha cancelado todos seus compromissos daquela manhã, porque não conseguia pensar em outra coisa que não fosse Sakura sozinha na clínica com o Akasuna.

—Explique por que ele estava aí te esperando de manhã tão cedo! – Disse Sasuke em tom de ordem.

Ele disse que vai para o exterior retomar sua pesquisa. Ele só veio dizer adeus. – Respondeu Sakura calmamente, sem se alterar pela raiva de Sasuke.

—O que?! – Sasuke tinha entendido direito?

Ele veio se despedir.

Sasuke sentiu como se um peso tivesse sido tirado de cima dele e só então pôde respirar aliviado.

—Nossa... Isso merece até uma comemoração. – Disse ele afrouxando a gravata.

Sakura, aparentemente fingiu que não ouviu e mudou de assunto num tom animado.

Ah, que horas você vai chegar em casa?

—Por que quer saber? – Perguntou Sasuke com uma voz mais calma.

Bem, é que você fez o café da manhã, então quero fazer o jantar. Eu esqueci de perguntar hoje mais cedo. Que horas você para de trabalhar?

—Eu não sei.

Como não sabe?

—Esse é o destino de um CEO. Alguém como você não entenderia.

Ei, como assim “alguém como eu”? Você acha que não estou ocupada?

—Não foi o que eu... Alô? – Sakura desligou na cara dele. – A péssima educação ao telefone, de novo. – Murmurou o Uchiha sacudindo a cabeça lentamente.

Ele estava no meio de seu escritório e tinha alguma coisa quebrada no chão que ele não sabia o que era. Com certeza tinha quebrado durante as tentativas de entrar em contato com Sakura e ele acabou tendo um ataque.

Arg! Como aquela mulher o tirava do sério! Ele esteve à beira da loucura nas últimas duas horas em que não conseguia falar com ela. Por conta disso todo o seu trabalho estava atrasado.

Sasuke caminhou até sua mesa sem se importar com o trabalho acumulado. Afinal, ele tinha recebido uma ótima notícia. Aquele imbecil do Akasuna Sasori não seria mais um problema. Animado, Sasuke começou a cantarolar, enquanto analisada as pastas sobre a sua mesa.

—Para onde vai aquele idiota? Para o exterior. Para onde? Não tenho ideia! Mas ele vai. E sumirá para sempre! Não retorne, idiota! Suma!

O secretário Lee e a recepcionista daquele andar, que tinham ouvido os gritos de fúria do chefe, estavam observando a cena da fresta da porta do escritório e ambos tinham os olhos arregalados e os queixos batendo no chão. Nunca, em um milhão de anos poderiam imaginar que assistiriam Uchiha Sasuke, o maior acionista da U.C.I. Produções, o herdeiro da corporação Uchiha cantando daquele jeito em seu escritório.

Havia alguma coisa errada no mundo naquele dia ou o Uchiha Sasuke tinha enlouquecido. Era a única explicação lógica.

 

~*§*~

 

Sakura finalizou o expediente às cinco da tarde. Ela pegou um taxi e foi para a casa de Sasuke. No caminho, ela tinha passado no mercado e comprado os ingredientes para fazer o jantar. Sakura escolheu um prato fácil, porque talvez não desse tempo de preparar algo mais complicado antes de Sasuke chegar.

Mas, como ele mesmo tinha dito, um CEO não tinha horário para terminar seu trabalho, pois deu tempo de Sakura preparar o jantar e ainda limpar a cozinha e a enorme sala de estar.

Movida por uma curiosidade incontrolável, Sakura foi até o quarto de Sasuke com um aspirador de pó nas mãos.

—Ele me pediu para limpar, então isso deve ser o bastante, certo? – Disse ela entrando no quarto.

Ao acender as luzes, percebeu que o quarto era amplo e moderno. As paredes eram brancas e tinham alguns quadros em preto e branco. A cama, a cômoda e os criados mudos eram todos de cores escuras, e o que mais chamava a atenção era o piso de madeira vernizado.

—Então assim é o quarto de um homem? – Perguntou Sakura impressionada.

Ela aspirou o quarto, que na verdade parecia muito limpo. Sasuke pediu para ela cuidar da limpeza, mas Sakura tinha certeza que ele pagava alguém ou uma empresa especializada que cuidava de toda sua casa.

Ainda curiosa como um gato, Sakura entrou no enorme closet e ficou admirada pela quantidade de camisas, paletós e sapatos que havia lá dentro. Por acidente, ela encontrou uma camiseta familiar que estava pendurada em um dos cabides.

—Oh? O que isso está fazendo aqui? – Ela pegou a camiseta amarela que era vendida na sua antiga clínica. Na frente havia o desenho de um cachorro lambendo a cabeça de um gato e abaixo estava escrito: Eu Amo Meu Pet.

Sakura saiu do closet e se sentou na cama com a camiseta nas mãos. Ela lembrou-se que na noite em que salvou a vida dele, Sasuke teve sua camisa arruinada. Ele deve ter pego aquela camiseta antes de ir embora quando acordou de manhã.

Mas, por que Sasuke tinha guardado aquilo?

Sakura levou a camiseta até o rosto e fechou os olhos ao absorver o familiar perfume de Sasuke impregnado no tecido. Ela foi inundada por um sentimento tão forte e inebriante que nem percebeu quando caiu no sono agarrada à camiseta.

 

~*§*~

 

Devido ao trabalho atrasado daquela manhã, Sasuke precisou ficar até mais tarde na empresa. Quando chegou em casa passava das oito da noite. Quando entrou, a casa estava estranhamente silenciosa e um cheiro delicioso de comida caseira pairava no ar. Ele viu que a mesa estava arrumada para o jantar, mas não havia sinal de Sakura por perto.

Sasuke sacudiu a cabeça e subiu as escadas em direção ao seu quarto. Sakura provavelmente estava irritada por ter feito o jantar e ele ter demorado muito para chegar. Ela deveria estar emburrada em seu quarto.

Quando ele entrou no próprio quarto, levou um susto ao encontra-la deitada em sua cama agarrada a uma camiseta amarela. Sasuke olhou para ela por um longo momento antes de resolver se aproximar.

Ele se sentou suavemente na cama ao lado dela e sem poder evitar, roçou de leve os dedos no rosto delicado.

Naquela tarde, quando saiu para um almoço de negócios com seu chefe de finanças, Sasuke tinha encontrado a amiga de Sakura, a Yamanaka Ino em um restaurante do centro.

Sasuke a cumprimentou, como a formalidade mandava e a Srta. Yamanaka perguntou como Sakura estava e disse que tinha ficado preocupada por causa da última noite. Sasuke não tinha ideia do que ela estava falando, então a loira explicou.

Estou preocupada com ela, porque durante essa semana o clima será chuvoso. Ela não te contou sobre o trauma?

Sasuke não sabia de trauma nenhum. Na verdade, havia muita coisa ainda para se descobrir sobre Haruno Sakura. Por isso ele pediu que Ino lhe contasse. Mesmo parecendo relutante em revelar o segredo da amiga, Ino lhe contou o que aconteceu.

Quando Sakura era muito pequena, seus pais sofreram um acidente de carro numa noite tempestuosa. Ela também estava no carro, mas não perdeu a consciência ou se machucou gravemente. Ela apenas ficou presa nas ferragens. Ela ficou com muito medo dos trovões e gritou por ajuda, mas seus pais já estavam... Você sabe... Desde então, ela tem muito medo de tempestades. É uma fobia. Ajuda se você não a deixar sozinha.

Sasuke tinha ficado em choque com aquela revelação. E depois de ficar muito tempo pensando naquilo, tentou entender porque Sakura não lhe contou ontem à noite ou naquela manhã.

Decidiu que ela deveria ter seus motivos e por isso não a deixaria descobrir que ele sabia.

Ainda roçando os dedos no rosto dela, Sasuke fitou o semblante sereno e inexpressivo, notando as marcas de cansaço sob os olhos. Sentiu um aperto no coração ao se dar conta de que ela não tinha dormido bem na última noite por conta da chuva e ele poderia ter feito alguma coisa.

Sakura remexeu os olhos e acordou de repente, sentando-se rapidamente sobre a cama. Sasuke não se afastou dela, incapaz de deixa-la ir.

—Você deveria ter me acordado quando chegou. – Disse Sakura ajeitando os cabelos. Estava tão envergonhada de ter sido pega dormindo na cama dele que nem conseguia olhar em seus olhos.

—Você estava dormindo profundamente. – Disse Sasuke fitando-a com intensidade.

—Eu cochilei um pouco. Eu estava limpando e... Desculpe.

Sakura se levantou e caminhou rapidamente na direção da porta. Mas antes que pudesse sair do quarto, Sasuke chamou por ela e lhe perguntou se poderia esquentar o jantar.

 

~*§*~

 

Enquanto jantavam, Sakura não conseguia olhar para o Uchiha. Ela estava com receio do que ele pudesse estar pensando ao encontra-la em sua cama e o pior de tudo era que podia sentir os olhos dele sobre ela.

Por que ele estava olhando para ela tão profundamente? Por que ele não dizia nada ou fazia piada da situação como normalmente faria?

Uma fraca trovoada ecoou nos ouvidos dela interrompendo seus pensamentos. Sasuke percebeu que o corpo dela ficou tenso e seus olhos foram para cima por um breve momento.

Pelo jeito, uma nova tempestade estava vindo e aquela noite seria como a anterior.

Ainda com metade da comida no prato, Sakura deixou os hashis de lado e tomou um gole de água.

—Bem, como eu fiz o jantar, a louça é sua. – Disse Sakura levantando-se da mesa rapidamente. Ela precisava se aprontar para dormir e procurar seus fones de ouvido antes que a tempestade começasse.

—Não seria mais justo se você lavasse louça e eu secasse? – Perguntou Sasuke antes que ela pudesse ir.

—Não, isso não é nada justo. – Ela murmurou virando-se para correr até seu quarto, mas Sasuke segurou-a pela mão e a impediu.

A mão dela estava fria, suada e tremia levemente. Sasuke se levantou e se aproximou lentamente, enquanto Sakura o encarava confusa e nervosa.

—Por que parece que está fugindo? – Perguntou Sasuke bem próximo dela ainda segurando em sua mão. Ele sabia o motivo, mas queria ver se ela contaria a ele.

Antes que Sakura lhe respondesse, a chuva começou a cair e era possível ver das portas de vidro que davam no jardim dos fundos. Sasuke novamente sentiu seu peito se apertar ao ver os olhos dela se desviarem dele em pânico para a chuva.

—Por que acha que estou fugindo? Ninguém gosta de lavar louça. – Disse ela tentando soltar a mão dele, mas Sasuke a segurou com firmeza.

Um relâmpago cortou o céu e quando o estrondoso barulho do trovão veio, Sakura gritou e fez o possível para não abraça-lo como na outra noite. Sasuke viu o medo nos olhos e no corpo dela que tremia. Viu o esforço que ela fazia para não abraça-lo e procurar a segurança que desejava.

—Me solta, Sasuke! – Ela pediu em pânico tentando soltar sua mão.

Mas Sasuke não podia deixa-la sozinha de novo. Ele sentia algo dentro dele doer, sentia seu peito se apertar cada vez mais forte ao imaginar a dor e o medo que ela estava sentindo. Ele queria fazer a dor passar e mandar embora todo o medo. Ele queria que ela se sentisse segura com ele.

—Se você quiser posso ser novamente o substituto do seu travesseiro. – Disse ele olhando intensamente nos olhos dela. – Pode me abraçar até que não sinta mais medo, Sakura.

 

 

 

 

(*Itadakimasu: é uma expressão japonesa utilizada antes de qualquer refeição.)


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