Dangerous escrita por Karina A de Souza


Capítulo 48
Dois Últimos Esqueletos


Notas iniciais do capítulo

Quando você acha que não pode piorar...



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—É bom ser importante, Raymond. –Avisei, passando por Demetri e entrando na sala. Red olhou pra mim, e aquele olhar fez toda raiva dentro de mim evaporar. Havia algo errado.
—Demetri, por favor, nos deixe a sós. –O russo assentiu e saiu da sala. –Jenna, acho melhor se sentar.
—O que foi agora?-Meu coração acelerou. Não ia aguentar outra bomba sendo lançada sobre minha cabeça.
—Sente-se, por favor. –Me sentei ao lado dele. Sabia que devia estar seguindo o conselho de Meera (que soube por Keen o que estava me deixando estranha nos últimos dias) e ir para casa descansar, mas quando Reddington chamava... Algo aconteceu.
—Não me diga que é outra das suas informações editadas. Não aguento mais isso, essa manipulação toda. Não posso lidar com mais esqueletos saindo do armário e correndo atrás de mim.
—Há apenas dois esqueletos, Jenna, e então acabou. –Fechei os olhos e respirei fundo.
—Tudo bem. Deixe-os sair.
—Daniel e Adrian são gêmeos bivitelinos. Deve ter reparado na semelhança pequena entre eles. –Abri os olhos, confusa e surpresa.
—Mas o que eu tenho com isso? Sim, é chocante, mas...
—Eles são seus irmãos, Jen. São filhos de Maria e Miguel.
Foi como despencar. Não podia ser verdade. Daniel e Adrian não podiam ser meus irmãos. Isso era impossível. Maria teria dito e...
—Está mentindo. –Sussurrei, tentando me orientar. –Está mentindo pra mim...
—Não estou. Maria teve os dois antes de você, e os deu para adoção. Na época ela ainda não tinha se separado de Miguel, mas eles viviam brigando e se afastando, para então reatarem.
—Eles não podem... Eles... Red, eu beijei meus irmãos! Por que não me disse antes?-Agora eu estava gritando, mas não dava para evitar.
—Quando queria que eu te dissesse, ao mandá-la para a Dangerous? Quis te contar, mas quando? Contei agora, ao ver que Adrian está levando tudo para outra direção. –Minha mente começou a trabalhar, tentando, em vão, entender a situação e aceitá-la.
—Você matou Daniel, matou meu irmão.
—Jenna...
—E me mandou para São Petersburgo para matar Adrian, meu outro irmão.
—Jenna...
—Como você pode me manipular desse jeito? Como é que vou chegar em Adrian e dizer que o gêmeo dele está morto e eu sou irmã dele?-Ouvi uma respiração acelerada atrás de mim e me virei. Adrian estava na porta, pálido como um lençol novo, paralisado no ato de abrir a porta. Me levantei. –Adrian...
Ele balançou a cabeça negativamente e correu. Tentei alcançá-lo, mas ele chegou ao carro antes que eu conseguisse, e saiu acelerando feito louco. Voltei para a sala de Red, querendo matá-lo.
—Você viu o que fez?-Gritei.
—Jenna, eu lamento...
—Não, não lamenta. Nessa sua cabeça doentia isso é como uma novela, que acompanha de longe e se diverte com o horror que todos estão passando nela.
—Não é verdade.
—Matou meu irmão e quis que eu matasse o outro. Por que não me disse quem eu estava indo matar quando me fez sair com Demetri para aquela casa noturna? Ainda ficou todo revoltado por que me recusei a trabalhar e decepcionado por que não matei Adrian!
—Quando a mandei para matar Adrian, não sabia quem ele era. Descobri apenas depois que foi sequestrada por ele. Quando cheguei, sabia que ele era seu irmão. Depois disso decidi mantê-lo vivo.
—E escondido de mim. –Segundos irritantes de silêncio.
—Você queria a verdade, aí está a verdade. Acha que aguentaria se eu contasse tudo o que te revelei, de uma vez só? Acha que conseguiria lidar com tudo isso após a morte de Maria?-Se levantou. –Como teria sido se tivesse te dito no dia da morte da sua mãe, que você foi sequestrada, abusada, teve um filho que nasceu morto e dois irmãos, e, por acaso, um deles foi assassinado por mim?-Em parte, ele teria razão. Relevar tudo de uma vez fritaria meu cérebro.
—Red...
—Queria a verdade. Fiz exatamente o que queria. –Abri a boca pra falar, mas meu celular tocou. Adrian.
—Onde você está?
—Você conhece o dono desse celular?-Uma voz masculina, porém estranha, perguntou. Franzi a testa.
—Sim. É meu... Sim, conheço. O que aconteceu?
—Ele sofreu um acidente. Está indo para a sala de cirurgia agora mesmo.
***
Quando pude entrar para ver Adrian, ele estava encarando o teto, parecendo pensativo. Ele estava bem, após a cirurgia, e em poucos dias podia sair dali, contanto que não fizesse esforço. Me perguntei o que os médicos diriam se soubesse que Adrian, em poucos dias, voltaria a fazer a guarda do maior criminoso do mundo.
—Eu... Posso entrar?-Perguntei. Adrian olhou na minha direção e assentiu. Me aproximei devagar e me sentei na poltrona ao lado da cama. –Lamento.
—Pelo acidente ou por ser minha irmã?
—Soube apenas hoje, horas atrás. Não fazia ideia de que... Somos irmãos. Se eu soubesse...
—Teria feito o que? Nada pode mudar isso, Eme.
—Por que me chama de Eme, se sabe que meu nome é Jenna?-Deu um pequeno sorriso.
—Por que, pra mim, sempre será Emeraude. Sempre. Minha Eme. –Pegou minha mão. –Eu estava acostumado a ficar com garotas que conheci na mesma casa noturna onde me encontrou. Nenhuma delas importava de verdade. Nenhuma delas significou alguma coisa. Era uma distração, como assistir TV ou ler um livro. Mas aí... Teve você. E... Parece muita loucura, mas gostei de você.
—Adrian...
—Ou melhor, gostei da Emeraude. –Se corrigiu, rapidamente. –Desculpe. Isso não ajuda, ajuda?
—Não. Vai ter que esquecer Emeraude Reddington. Ela não existe. Nunca existiu.
—É. Vou ter que me acostumar com Jenna Mhoritz. Minha... Irmã. –Suspirou, voltando a olhar para o teto. –Tenho um irmão gêmeo, certo?
—Daniel. Vocês não são exatamente parecidos, mas... Dá pra ver algo em comum. Um pouco. Eu devia ter percebido.
—Ele está morto.
—Reddington o... Matou depois de... Usá-lo para matar a equipe que Daniel e eu fazíamos parte. –Sorri. –Você e Dan se dariam tão bem. Ele... Era um cara legal.
Minha mente voltou de novo para o passado. Eu era irmã de Daniel e Adrian. E havia beijado os dois. Adrian, é claro, havia estado com Emeraude, uma garota que não existia, que não era irmã dele. Mas eu havia estado com um garoto real, que tinha o mesmo sangue que eu.
Daniel... Daniel gostava de mim, de um jeito completamente oposto de fraternal. Quase seguimos adiante, e teríamos ido se dependesse dele. Talvez algo em mim tenha reconhecido o sangue que corria em suas veias... E fez com que me afastasse dele.
—Jen?
—Hum?-Pisquei, confusa, e olhei para Adrian. –Desculpe, disse alguma coisa?
—No que estava pensando?
—Algumas coisas que aconteceram. Ser sua irmã... É um choque. –Achei melhor não dizer que estava pensando no incesto cometido por ele, por mim e por Dan. –Como foi que parou na Rússia?
—Sei lá, vai ver fui adotado. Meus pais, quer dizer, o senhor e a senhora Allivan eram russos. Posso perguntar para... –A porta abriu. Reddington entrou, como se chamado pelo nome que Adrian nem chegou a pronunciar.
—Adrian, está vivo, que bom. –Comentou, parecendo ter se esquecido do quão estranho estava quando deixei, horas atrás. Ele tinha parecido ter ficado decepcionado e chateado por eu não ver as coisas do jeito dele. –Foi um grande investimento.
—Aposto que sim.
—Preciso falar com você. –Ignorou o tom ácido de Adrian. –E você, - Olhou pra mim. Ele realmente era bom ator, não havia nem sinal da decepção, ou algo assim, ao falar comigo. –Deveria ir para casa, descansar, comer alguma coisa... Lizzy me disse que Malik a dispensou por uns dias.
—Fiquei fora tempo demais. –Declarei. –Volto amanhã.
—Teimosa. –Suspirou, balançando a cabeça de forma negativa, como se falasse com uma criança. Devia ser assim quando morei com ele. –Tem que ir mesmo assim.
—Só vou se Adrian quiser que eu vá.
—Tudo bem. –Adrian disse. –Você... Pode ir.
—Volto mais tarde.
—Tá. –Apertei a mão dele de leve e saí, temendo que essa fosse nossa última conversa.
***
A caixa estava pesada. A levei até minha cama, então a abri. Muitas daquelas fotos estavam ficando arroxeadas, ou perdendo a cor. A primeira, colocada de forma errada por cima das outras, eram de Daniel, Luke, Paul, Ivan e eu. A última foto que tiramos, dois dias antes do ataque à nossa base.
Quase todas as fotos foram tiradas durante o Projeto Dangerous, na base em que fomos treinados. Tian, um dos responsáveis por nós, odiava que batêssemos fotos lá dentro, mas Collin, outro responsável, não ligava.
Selecionei todas as fotos minhas e de Daniel, colocando-as numa pilha perto do meu joelho direito, tentando não derramar lágrimas demais. A saudade estava ao meu lado, me cutucando, tentando me ferir. Estava conseguindo. Queria minha equipe de volta, e era impossível. Eles não voltariam, o único jeito de nos unirmos de volta... Bem, era a morte.
Um dia vamos nos ver de novo. Vamos todos nos encontrar do outro lado, e seremos uma família outra vez.
Guardei a pilha da esquerda, a maior, de volta na caixa. A da direita, eu coloquei na minha bolsa, então fui tomar um banho. Ia voltar para ver Adrian mais tarde.
***
—Trouxe umas fotos de Daniel. –Avisei me sentando ao lado de Adrian na estreita cama de hospital. Uma enfermeira alta passou, me lançou um olhar repreensivo, mas saiu sem dizer nada. Catei as fotos na bolsa e entreguei a Adrian.
—Quantos anos tinham nessa foto?
—Acho que quinze e dezesseis, algo assim. –Sorri para a foto, Daniel e eu lado a lado, portando armas pesadas.
—Até consigo ver semelhanças entre eu e ele. Nossa mãe...
—Maria... Morreu. Câncer. Red a colocou num hospital particular, mas... Não conseguiram salvá-la.
—Nosso pai?
—Um criminoso perigoso. Miguel Cortez.
—Acho que já ouvi falar nele. Já se encontrou com eles?
—Sim. Conheci Maria... Bem no dia que ela morreu. E... Miguel... Também. Infelizmente ele está por aí. –Não por muito tempo, é claro.
—Entendi.
Passei horas falando sobre Daniel com Adrian. Ele parecia bem interessado na desestruturada família Cortez (eu jamais assumiria esse sobrenome). Prometi que o levaria até o túmulo de Maria em breve.
Nos despedimos dez da noite, então fui para o esconderijo. Encontrei Meera após sair do elevador.
—Mhoritz, eu não disse que deveria estar em casa...
—Passei tempo demais de férias, tenho voltar. –Interrompi. Olhei em volta, havia poucos agentes ali, e Aram não estava em sua mesa. –Viu Ressler?
—Ele, Keen e alguns agentes saíram para jantar.
—Ah, certo.
—Acho que não estão muito longe daqui, e não saíram faz muito tempo, ainda pode alcançá-los. –Assenti, mesmo sabendo que não faria isso. –Amanhã pode voltar, se é o que quer.
—Ok. Nos vemos.
Enquanto saía, verifiquei meu celular. Tinha o deixado mudo depois que fui para o hospital ver Adrian. Havia cinco mensagens de texto de Ressler, e três ligações. Me senti culpada, havia corrido para Adrian e esqueci de todo o resto. Bom, nenhuma mensagem de Ressler falava sobre um jantar.
O jeito era ir para casa, e esquentar o que havia sobrado de uma pizza de dois dias atrás.
Joguei as chaves do carro e o celular sobre o sofá e tirei o casaco, me esticando e pensando seriamente em ir pra cama sem comer. Queria apenas apagar aquele dia por algumas horas e lidar com isso depois.
Alguém bateu na porta. Devia ser Ressler. Me enganei. Era Demetri.
—Eu... Aconteceu alguma coisa?-Perguntei.
—Não. Apenas... –Deu de ombros. –Adrian voltou pra casa antes do esperado, então Red me dispensou algumas horas. Vi seu namorado num barzinho no caminho pra cá, e imaginei que estaria sozinha.
—E...?-Deu de ombros de novo.
—Quer jantar?
—Entra. –Passou por mim, fechei a porta. –Vamos ter que sair, não sei cozinhar.
—Que bom que eu sei. Tem algo na dispensa?
—Acho que sim, não faço compras faz... –Calculei mentalmente. –Um mês.
—Uau. Bela dona de casa, Mhoritz. Não pode casar desse jeito. –Sorri.
—Nem estava planejando. –Se meteu na minha cozinha, abrindo os armários numa caçada rápida aos ingredientes que precisava. Me sentei no balcão. –Aprendeu a cozinhar com quem?
—Minha avó, e... Uma amiga.
—A amiga indiana dos truques relaxantes?
—Ela mesma. Espero que não se importe pela invasão.
—Tudo bem. Eu ia comer pizza velha mesmo.
***
—Você, Demetri Kozlovsky, é uma caixinha de surpresas. –Avisei, apontando o garfo pra ele. –Já gostei de você. –Riu.
—Nem tive muito o que fazer, sua dispensa está precisando ser enchida urgentemente.
—Vou pensar no assunto. É a melhor macarronada que já comi, sério. Quer quanto pra cozinhar pra mim toda noite?
—Pensarei num preço. Será alto.
—Posso pedir um empréstimo para Red. - Dei um gole no refrigerante que encontrei abandonado na geladeira minutos atrás.
—Por que não está jantando com seu namorado e seus colegas?
—Eu nem sabia que eles iam sair. Me desliguei do resto do mundo assim que Adrian enfiou aquele carro na frente de um caminhão. Aquele cabeça oca podia ter morrido.
—Ele fez isso por que ficou desesperado. Ele estava... Completamente apaixonado por você, e aí descobriu que é seu irmão.
—Como sabe sobre... Você sabe, Adrian estar...
—Conversamos bastante.
—Ah. –Suspirei. –Só queria poder fazer algo por ele.
—E você pode.
—Tipo o que?
—Aja normalmente, ignore o fato de ele estar gostando de você da forma errada. Aja como uma irmã, ele vai aprender a aceitar isso se você aceitar primeiro.
—A questão de isso me perturbar não é por sentir algo errado por Adrian. O fato é que eu não tinha um irmão, e então tenho dois. Um está morto, e o outro... Fui contratada para matar o outro. Entende como isso é... Perturbador?
—Entendo. Mas você vai superar. É muito forte, Jenna Mhoritz. –Sorri, desviando o olhar para o meu prato.
—Obrigada.


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Notas finais do capítulo

Hum... Cheirinho de shipp novo se formando?



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