Dangerous escrita por Karina A de Souza


Capítulo 44
Manipulação




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O mundo havia virado de ponta cabeça de repente.
Red havia matado minha equipe, mentido pra mim e me usado pra matar pra ele. Me fazendo ser presa, ainda por cima. Porém, o desgraçado havia cuidado da minha mãe, me levado até ela, me tirado dos meus sequestradores e salvado minha vida uma série de vezes. O que eu devia fazer? Como reagir? Odiar Raymond Reddington ou amá-lo? Matá-lo ou deixá-lo viver? No momento eu queria esganá-lo, ou esfaqueá-lo, metralhá-lo, afogá-lo, atropelá-lo, queimá-lo... Eram tantas opções...
Bem... Eu ia pensar em alguma coisa.
Poucos dias depois me contaram algo interessante. Miguel, meu pai biológico, havia sido pego, e estava preso ali, na mesma prisão especial que eu, mas no bloco masculino. Era uma pena, eu não ia encontrá-lo no refeitório para socar a cara dele. Era outro que eu queria matar. Matar, na verdade, era pouco.
Pra não pirar, presa ali dentro, comecei a pensar em várias formas de matar Reddington e Miguel. Isso estava me mantendo sã. A falta de bebida, de espaço e de ter o que fazer estava me deixando maluca.
Muitos dias após a visita de Red, ele voltou.
Eu estava sentada na pequena cama, olhando para a parede oposta (e me imaginando atirando em Miguel) quando alguém se aproximou das grades que haviam na parte superior da porta. Não repararia no visitante, se não tivesse falado.
—Toc toc. –Ergui a cabeça, então levantei.
—Então se atreveu a voltar.
—Te trouxe um presente. –Mostrou uma garrafa de Whisky, com um laço vermelho. Me aproximei das grades. –Ma só te dou se falar comigo.
—O que é?-Cruzei os braços. –Estou ouvindo.
—Estou trabalhando para tirá-la daqui. –Ri, mesmo não achando graça.
—Você está tentando me libertar? Não acredito em uma palavra do que disse.
—É a verdade.
—Você estava só me usando, esse tempo todo. Nunca se importou comigo de verdade. Eu era só uma arma na sua mão. E se ficar aqui vai me deixar longe de você, então prefiro morrer nesse lugar.
—Não, você não prefere.
—Parece que não me conhece tão bem assim. –Suspirou.
—Jenna, o que eu fiz foi extremamente necessário...
—Mentir pra mim, me manipular e me fazer ser presa?
—A parte da prisão não foi planejada. Isso não teria acontecido se você não tivesse tentado se matar...
—Eu não tentei...
—E o que fez foi necessário. Os homens que matou precisavam ser eliminados antes que viessem para cá, atrapalhar toda a operação da lista.
—Não acredito em nada do que está falando.
—É por que é uma cabeça dura igual sua mãe. –Miguel me disse algo assim uma vez. Então devia ser verdade. –Lamento ter manipulado você, mas isso seria por pouco tempo.
—Ah, seria, é?
—Quando estivesse perto de concluir todas as missões, eu começaria a trabalhar para provar sua inocência. Quando terminasse as missões, já estaria com o nome limpo e poderia voltar.
—Que pena que eu não acredito em você. Estava me usando, nunca ia me ajudar a ficar livre.
—Ia. Era uma troca.
—Você não faz trocas, faz as coisas do seu jeito e elimina as pessoas depois. Ia me matar também? Provavelmente mandaria Demetri me dar um tiro ou algo assim.
—Se eu a quisesse morta você estaria em baixo da terra há muito tempo. –Ia retrucar, mas parei. Isso podia ser verdade. Mas eu não ia deixar Reddington ganhar tão fácil.
—Talvez isso não tenha acontecido porque precisava de mim. E agora que não precisa mais...
—Preciso, ainda preciso. –Me recusei a perguntar o motivo.
—Posso entregá-lo ao FBI, dizendo que quebrou o acordo e me fez matar pra você. Tenho boa memória e posso dizer os nomes dos caras que eliminei pra você na Rússia.
—Caso não se lembre, tenho imunidade.
—Aposto que tem muita gente que odeia isso, e faria qualquer coisa pra mudar isso e enfiá-lo atrás das grades.
—Sim, realmente tem. Mas nesse caso não me prenderiam. Já deixaram bem claro que não vão me prender, e sim me matar.
—O que?
—Qualquer passo em falso, e eles farão questão de contratá-la pra me matar. Desaparecer, e não prender.
—Não sabia disso. –E não mesmo. Achei que o FBI estava mesmo ligando muito para o acordo, e jamais fariam qualquer coisa contra Red, afinal, ele estava solto, mas muitos outros criminosos tinham sido pegos por causa de sua lista. Parece que me enganei.
—Claro que não. Meu contato com o FBI começou antes de você ser transferida da Dangerous. A “amizade” que tenho com eles já passou por muita coisa. Pergunte a qualquer um naquela base. –Dessa vez ele tinha me pegado, eu não sabia o que responder. Suspirou de novo e passou a garrafa pelas grades. Me aproximei e a peguei. –Vou tirá-la daqui, pode ter certeza disso.
—Red...
—Não faça besteiras. Volto para te ver outro dia. –Então sumiu da minha linha de visão.
***
—Red disse que vai tirá-la daqui.
—Não sei se confio nele.
Keen veio me ver no dia seguinte, no horário em que as outras presas tomavam banho de sol. Eu, como era um “perigo para sociedade”, tinha outro horário, e saía da cela para isso apenas duas vezes por semana, e sem o acompanhamento das outras presas. Minhas visitas tinham que vir nesse horário, e ficar do lado de fora da minha cela.
—Acho que dessa vez ele está falando a verdade. –Ela disse. –E realmente quer tirá-la desse lugar.
—Talvez. Sabe, às vezes eu quero dar um tiro na testa daquele desgraçado, mas em outras... É como se ele fosse meu amigo.
—Me sinto exatamente assim.
—O que é que a gente faz com ele, Lizzy?
—É uma boa pergunta. Se formos matá-lo... Temos que ser muito cuidadosas.
—Presa aqui eu comecei a fazer uns planos para acabar com ele. Sabe, é incrível como a mente de uma pessoa trabalha num lugar desses. –Ela riu. –O FBI já quis eliminá-lo depois do acordo?
—Já. Perdi a conta de quantas vezes o prenderam e o soltaram, e então tentaram matá-lo... Tem sido uma confusão desde que ele se entregou.
—Achei que o FBI tentar matá-lo e vice-versa seria contra o acordo.
—E deveria, mas as coisas são bem diferentes na prática. Eles mantêm essa relação falsa de “amizade e cooperação”, mas sabemos que na primeira oportunidade, vão fazer Red sumir.
—Acha que vão fazer isso quando a lista terminar? Que estão usando Red?
—Se estão, ele com certeza sabe e tem um plano. Reddington não é o tipo de pessoa que é pega facilmente. Depois de tudo o que vi... Percebi que ele está preparado para uma guerra, contra qualquer um.
—Eu queria atirar na cabeça dele, mas não quero que o FBI o mate. Ele... É um imbecil, desgraçado, manipulador, assassino e filho da mãe... Mas... Ele pode ser...
—Útil. Eu sei.
—Temos que sair da teia dele. Não dá pra continuar com isso.
—Não. Mas quanto mais se tenta fugir de Red, mas ele te prende. Já aprendi isso, acredite em mim. Não dá para escapar dele. –Bufei.
—Que maravilha.
***
A conversa com Keen não saiu da minha cabeça. Ela estava certa sobre não poder fugir de Red, e o que disse sobre a relação dele com o FBI estava me incomodando. Tinha muita coisa errada acontecendo.
O FBI manipulava Red. Red manipulava o FBI de volta, Elizabeth e eu. Isso, considerando que Lizzy era (supostamente) filha dele e eu sua afilhada. Era muita gente sendo manipulada e manipulando. Era muito confuso e errado.
Isso acabou me impedindo de pegar no sono, então eu acabei tirando minha bela garrafa de Whisky de seu esconderijo (em baixo da minha cama) e comecei a beber. Talvez isso acalmasse meus pensamentos.
Disse pra mim mesma que só ia beber um pouco, o suficiente para ficar sonolenta e apagar. Poucos minutos depois descobri que não ia dar certo. E que ia ficar completamente bêbada. Terminei a garrafa antes que me desse conta.
Um guarda veio me buscar, era hora do meu banho de sol. O engraçado era que o sol sempre estava se pondo quando eu estava saindo.
Sem saber o que estava fazendo, acertei a cabeça do carcereiro com a garrafa, fazendo-o cair. Peguei a chave da porta e saí.
—Liberdade!-Gritei.
As presas das celas próximas correram para espiar o que estava acontecendo. Foi uma confusão só. E foram elas que acabaram me entregando. Tá, como se eu não tivesse feito isso sozinha.
—Vai garota! Foge!
—Ei, alguém pega ela ali!
—Foge! Foge!
—Solta a gente!
—Prisioneira fugindo! Prisioneira fugindo!
—É uma Dangerous! Alguém dê um tiro nela!
—Foge, garota! Vai! A gente tá torcendo por você!
A farra acabou assim que fui cercada por cinco policiais. Alguém se aproximou por trás de mim e me algemou. Era Ressler.
—Ress?-Tentei me soltar.
—Jenna, por favor. Não reaja.
Minha fuga já era.
***
—O que estava pensando, dando bebida pra uma presa?-O grito foi alto, e foi isso que me acordou. Abri os olhos, estava na enfermaria do prisão, os dois pulsos presos nas laterais da cama estreita. Não reconheci quem estava gritando, mas reconheci a segunda voz.
—Pensando em dar um presente a ela. Você a deixou trancada aqui, separada até das outras presas. A coitadinha não pode nem jogar futebol com as outras. –Red. Tinha que ser. O deboche era forte. A indignação fingida.
—Essa aqui não é sua casa, Reddington, fique longe daqui.
—Estou pagando o advogado dela, posso vir aqui quando quiser. E você não é o diretor desse lugar.
—Não, eu não sou, mas se não controlássemos Jenna Mhoritz, ela colocaria fogo nos quatro blocos dessa prisão. –Que exagero! Quatro blocos numa prisão, pra que? Ok, parei.
—Está exagerando. Como ela colocaria fogo sem um fósforo ou um isqueiro?
—Pode continuar com suas gracinhas, Raymond, mas essa mulher vai continuar presa aqui.
—Não por muito tempo. O advogado dela é bom.
—Primeiro a agente Keen, agora uma ex-Dangerous. Qual o seu interesse nelas?
—Não acho que isso seja da sua conta. Agora pode ir, não acho que Jenna gostaria de conhecer você. –Segundos de silêncio. –Anda, pode ir. Se essa perseguição ainda for por causa daquele soco...
—Você não vai continuar brincando de mandar em tudo, Reddington, estou avisando. –Som de passos. A porta abriu e Red entrou.
—Droga, Mhoritz, você tinha mesmo que dar aquele show?
—Quem era?-Perguntei.
—Ninguém que vale a pena conhecer. Ele acha que manda em alguma coisa, mas não manda em nada. Como está?
—Ah... Bem. Eu acho. De ressaca, mas bem. –Olhei para as algemas de novo. –Precisava mesmo disso?
—Pra eles, é como se você fosse um tipo de máquina de matar.
—Estão bem perto da realidade.
—O que é que deu em você?
—Ficar presa é... Sabe como é? Horrível. A nossa mente trabalha muito, e... Tinha tanta coisa pra pensar...
—Como o que?
—Manipulação, traição, FBI, você... –Olhou pra mim, curioso e confuso. –O FBI está te manipulando, e você está o manipulando de volta, e manipulando Keen e eu. Além disso, acho que querem te matar quando a lista terminar. Acho que é só isso.
—Primeiro: o FBI acha que está me manipulando, e sim, eu estou fazendo isso. Sobre Keen e você... Não é bem isso que está acontecendo.
—Então é o que?
—Esqueça isso. –Me segurei pra não mandá-lo ir para o inferno. –O que falei sobre não fazer besteiras?
—Eu estava bêbada, criatura! Não sabia o que estava fazendo.
—Pareceu que sim. Você nocauteou um guarda.
—Ele deveria estar mais atento. –Riu.
—Não me divirto tanto com alguém desde que fiquei três meses numa tribo indígena no Brasil. Eles são bons anfitriões. –Ergui uma sobrancelha. –É uma longa história. Agora, você tem que parar com isso.
—Você me deu aquela garrafa!
—Não imaginei que beberia e tentaria fugir.
—Eu também não. Não foi planejado.
—Claro que não foi. –Não entendi se ele estava falando sério ou não. –Te tirar daqui será muito difícil se não parar com isso.
—Vou parar. Contanto que não me traga mais bebidas.
—Não vou trazer, isso eu garanto. –Suspirei.
—Vai ser uma estadia muito longa...
***
Quando vieram me soltar, eu quase não acreditei. Red havia falado sério e me tirado dali. Um mês presa naquela droga, e finalmente estava indo embora.
—Não vá ficando muito animada, Mhoritz. –Reddington avisou, em tom baixo. –Daqui vai pra casa, e então para um grupo de alcoólatras. Vai largar esse vício de uma vez. –Me segurei para não xingá-lo. Não consegui.
—Velho desgraçado.
—Quer voltar pra cela?
—Tava só brincando.
Um agente deveria assinar uns papéis na minha saída. Alguma coisa sobre o FBI não se responsabilizar por mim, ou algo assim. Eu só não sabia que o agente era Ressler.
O encontramos na sala do diretor da prisão. Ele esbarrou em mim ao sair, parecendo não me ver, então se afastou como se eu tivesse o empurrado e se foi, sem olhar pra mim. Ele ainda devia estar bravo comigo.
Red e eu saímos. Estava entrando no banco de trás do carro quando Keen apareceu correndo, quase sem fôlego.
—Vocês souberam?-Perguntou.
—O que houve?-Esse foi Red.
—Miguel fugiu da prisão.
—Não tive nada a ver com isso. –Declarei, dando de ombros e entrando no carro.


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Notas finais do capítulo

Se coloquem no lugar da Jenna por uns instantes: o que você sentiria por Raymond Reddington?



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