KATE POV.

Assim que a porta se fecha eu me arrependo de tudo o que eu disse. Castle não merece isso. O que ele me pediu não algo que eu possa fazer, e mesmo discordando de tudo, mesmo estando com raiva por ele sequer pensar que eu possa aceitar, ele não merece que eu o trate assim.

Lágrimas involuntárias começam a descer pelo meu rosto e eu não consigo impedi-las. Ele foi embora porque eu pedi. Eu fui idiota o bastante por achar que ele queria ficar em outro lugar que não ao meu lado hoje. Por mais que não tivéssemos nos falado muito desde nossa briga mais cedo, saber que ele estava na sala me deixava mais segura.

Eu nunca me senti tão frágil como agora, tendo que decidir entre o caso que fez quem eu sou e o homem que eu amo. Eu queria deixar Rick feliz, e aceita me afastar do caso da minha mãe era a melhor forma de agradecer a ele por tudo o que ele tem feito por mim, mas eu não seria feliz se isso acontecesse. E como eu poderia fazer ele feliz se eu não estou feliz?

Eu senti que estava me fechando novamente, que o muro que ele tinha conseguido, com tanto trabalho, derrubar, estava subindo de novo. Não queria que isso acontecesse, mas eu não podia evitar. Algo dentro de mim dizia que eu estava fechado para o amor novamente.

Parece que eu voltei no tempo. Parecia que eu estava novamente deitada numa cama, depois de levar um tiro, e eu tinha acabado de pedir um tempo ao Castle, que como hoje, foi embora. Eu estava vivendo tudo de novo, e definitivamente, eu não queria isso. Não mesmo!

Mas como fazer ele entender que eu não quero desistir dele e nem do caso da minha mãe? Eu entendo o lado do Castle, ele não quer me perder, mas eu não queria ter que escolher entre os dois, porque sempre, sempre, o caso da minha mãe viria em primeiro lugar.

Ninguém mais veio me ver o resto do dia, e eu agradeci mentalmente por isso, não sei se conseguiria conversar com alguém e nem queria que me vissem chorando. A casa está um completo silencio, o que me faz ter certeza de que ele realmente foi embora. E só de pensar nisso novamente eu volto a chorar, e como uma criança pequena, eu adormeço depois de tanto chorar.

CASTLE POV.

Ela me pediu para sair e eu fiz. Não pensei duas vezes antes de sair daquele quarto, deixando ela sozinha com suas neuroses e inseguranças. Kate era sempre assim, me afastava quando tudo ficava complicado pra ela, e ao contrário do que eu pensei, ela não mudou em nada.

Quando ela me mandou embora eu tive a certeza de que eu estava mesmo voltando no tempo, e meu maior medo aconteceu. Kate me mandou embora, mais uma vez. A diferença é que dessa vez eu não fui embora, não consegui.

Fiquei mais de uma hora parado de frente a porta do meu quarto, onde ela estava trancada desde cedo. Não tinha coragem de ir em frente, nem de entrar para termos algum tipo de conversa, e nem sair para longe dela. Não conseguia nem penar direito, tudo o que eu via em minha frente era o olhar dela, seus olhos verdes indecifráveis grudados em mim, e eles me diziam que ela não queria me mandar embora, mas ainda assim ela me mandou sair.

As horas passaram e eu não fiz nada, apenas sentei na parede de frente a meu quarto. Qualquer distância maior que essa era grande demais para eu suportar. Já é noite e está tarde, novamente ela não saí do quarto pra nada, nem para jantar.

— Pai? – ouço a voz da Alexis próxima, e pela primeira vez desvio o meu olhar daquela porta.

— Oi, filha. – tento sorrir, mas ela me conhece bem demais para saber que tem algo errado acontecendo.

— O que aconteceu? Porque você está aqui?

— Nada. Eu só sentei aqui, pensando em algumas coisa e perdi a noção do tempo.

Ela me olha desconfiada, mas aceita o que eu digo e muda de assunto.

— A vovó fez uma sopa. Vamos jantar?

— Claro. – sorrio e estendo minha mão pra ela, que me ajuda a levantar do chão. – Eu vou chamar a Kate, vai indo na frente.

— Tá. – ela beija meu rosto e saí.

Alexis não tem saído de casa desde que levaram ela, é uma espécie de medo e trauma, eu tinha que conversar com ela sobre isso, ela não podia deixar a vida passar por medo. Mas eu tenho adiado essa conversa por um único motivo, eu também estou com medo!

Encaro a porta do quarto novamente, receoso de entrar e ela me mandar embora de novo. Lentamente abro a porta, vendo o quarto iluminado apenas com a luz que vinha da cidade, que batia delicadamente no corpo de Kate deitada na cama. Virada de costas pra porta, com uma respiração lenta e profunda. Ela estava dormindo e eu não acordaria ela, eu só queria vê-la por um minuto novamente, admirar ela enquanto ela dormia era o que mais gostava, e eu tinha que fazer isso nem que seja uma última vez.

Me aproximo a passos lentos, ela parecia dormir profundamente, mas quando eu chego ao lado da cama ela abre os olhos, me encarando com se não entendesse o porquê de eu estar aqui.

— Castle? – sua voz é baixa, talvez o sono.

— Desculpa, não queria te acordar... – ela começa a se sentar na cama.

O quarto estava pouco iluminado, mas ainda assim, seu rosto era claro pra mim. Eu sento ao seu lado na cama, lutando contra a vontade de tocar sua mão.

— Você não me acordou... não consegui dormir direito. – ela para um segundo e me olha nos olhos, e eu sinto que ainda somos nós. Eu e Kate, Kate e eu. – como foi a reunião?

— Não sei. Eu não fui, então... – ela dá um leve sorriso, e meu coração se derrete de amor.  – eu não suporto a ideia de ser afastado de novo, Kate.

— Eu não... – ela respira fundo. – eu não te afastei Rick. Você tinha marcado algo, e não é só porque eu estou aqui que você precisa desmarcar seus compromisso. Você não é obrigado a ficar comigo vinte e quatro horas, eu sei me cuidar.

MAS EU QUERIA CUIDAR DE VOCÊ VINTE E QUATRO HORAS POR DIA. Era difícil dela entender isso?

— Você acha que se eu estivesse aqui obrigado, eu teria ficado atrás daquela porta desde que saí daqui, apenas criando coragem para entrar?

— Não.. – ela admite depois de pensar um pouco. – Porque você não entrou?

— Porque eu estava com medo de você me mandar embora novamente.

— Eu não ia te mandar embora. – ela sussurra de cabeça baixa. – mas eu não quero ser um peso pra ninguém.

— Você não é um peso pra mim. Nunca foi e nunca será. – toco seu rosto levemente e ela fecha os olhos, apenas sentindo meu carinho. – eu te amo, Kate.

Ela abre seus lindos olhos verdes, que agora estavam escuros, e quase sem brilho.

— Eu também te amo, Rick. Mas eu não quero ter que escolher entre você e minha mãe. Não é justo.

— Eu só quero te ver bem. – agora ela acaricia meu rosto, levando seus dedos até meus cabelos e deixando eles por lá.

Nós estávamos próximos o bastante para escutar qualquer sussurro um do outro.

— Você já parou pra pensar no que está fazendo? – não respondo, apenas espero ela concluir o pensamento. – Você está me pedindo para escolher. Não diretamente, mas está. Do mesmo jeito que a Alexis pediu para você escolher entre ela e eu.

— Não estou! – elevo um pouco a voz. Eu não estava fazendo isso! Eu só queria que ela entendesse meu lado... do mesmo jeito que Alexis queria que eu entendesse o dela. Assim que entendo o que ela está querendo dizer eu suspiro, abaixando minha cabeça por um segundo. – eu estou.

— Sim, você está. E isso não é justo, é?

— Não. – murmuro quase derrotado.

— Então porque você está me pedindo isso? Eu sei que você tem medo, mas eu também tenho. E nós temos que enfrentar isso juntos, e não ficar me pedindo para escolher entre duas coisas que eu amo e sou incapaz de decidir.

Como sempre, Kate estava certa. Era injusto eu pedir para ela escolher, era impossível ela se afastar do caso da mãe dela e os medos sempre estaria presente em nossas vidas, mas nós iriamos conseguir isso, de algum jeito.

— Juntos. – digo olhando pra ela. – eu e você vamos resolver isso juntos, como fizemos até agora.

Kate abre um sorriso que enche meu coração, e se inclina, acabando com os poucos centímetros que existia entre nós. Nossos lábios se tocam lentamente, sem pressa para acabar. Nada está entre nós agora. Medo, barreiras, raiva, decepção. Nada disso existia mais entre nós. A briga já não importava mais, só o que importava era que eu tinha minha Kate agora, em meus braços, sendo acariciada como deve, e sendo mais amada que nunca.

Depois do nosso longo beijo, eu quase não queria mais sair do quarto. Mas a barriga de Kate insistia em roncar, avisando o quanto ela estava com fome. Sendo um bom anfitrião, eu a levo para jantar a sopa que minha mãe fez, que por incrível que pareça estava uma delícia. Jantamos nós quatro, eu, Kate, minha mãe e a Alexis. Como se fossemos uma família de verdade. Alexis contava como estava indo na escola, e os testes que estavam fazendo e Kate contou sobre sua época da escola, claramente inspirando minha filha. E eu queria passar o resto da minha vida tendo noites assim, alegre e cheias de histórias pra contar. E Kate certamente faria parte delas.