Flores - Série de One-Shots escrita por nini


Capítulo 2
Capítulo 01


Notas iniciais do capítulo

Bem, aqui estamos.

Demorei e muito para trazer essa atualização, e peço milhares de desculpas por isso. Eu queria demais impedir que isso venha a acontecer outras vezes, mas é tudo muito incerto. A calma e a paciência serão necessários caso se arrisquem a ler isso daqui.

Estou indo devagar, porque quero tudo o mais perfeito possível. Assim são os presentes para as pessoas especiais, não?

As férias não deviam passar tão rápido...

Uma boa leitura à todos!



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Jeni

 

 

Jenifer esperava, como toda boa mulher da época. Esperava calada, mas sorrindo. Fazia algum tempo desde que ele fora para a guerra, então orava dia e noite, esperando que o pior não acontecesse.

 

Para algumas mulheres de seu bairro, aquela era a chance que tinha de arranjar um outro marido. “Ele nunca foi bom para você! Deve se casar com alguém rico, se quiser ter uma boa vida, não com o filho do padeiro!” – as senhoras mais velhas e mal amadas diziam, venenosas, na tentativa de fazer a cabeça da garota. Não conseguiram e nem conseguiam.

 

Sabe, o amor é inevitável. Jenifer sonhara diversas vezes com o dia em que seu príncipe encantado a reclamaria, em um cavalo branco, lhe trazendo um belo vestido de princesa e uma coroa. Mas a realidade foi bem diferente, e muito mais agradável.

 

 

Em um dia nublado, poucos pingos de chuva caindo, descera a rua para comprar pães na pequena padaria, pro café da manhã. Ali chegando, viu que o movimento era maior. Talvez o padeiro tivesse conseguido alguém para lhe ajudar. Foi atendida, para sua surpresa, por um garoto bochechudo, muito educado, e diferente de todos os outros garotos com quem conversara.

 

Aquela simpatia e carisma do garoto a prendeu completamente, além da imagem dos cabelos ruivos do outro que contrastavam com sua pele branquinha. O garoto lhe perguntava animado seus tipos de bolo favoritos, e ela respondia com o mesmo fervor, sorrindo inconsciente. Quando se deu conta, a manhã virara tarde, e sua mãe ficaria irritada.

 

O menino ria de seu desespero, achando graça da velocidade com que falava ao ficar nervosa, mas ajeitou rapidamente o saco com os pães, a entregando sorridente, seus dedos se encostando. Jenifer enrubescera de uma vez, e o garoto só sabia rir de sua desgraça. Se despediram cordialmente, um aperto de mão singelo, e ela saiu animada do recinto. Se virou para vê-lo através das vitrines, sorrindo ao reparar que ele continuava lhe encarando.

 

Acenou, e o outro moveu sua boca lentamente. “Volte logo, esperarei por você!” – dizia. Jenifer concordou e começou a subir a rua, o par de olhos do garoto a acompanhando em silêncio.

 

Chegara em casa naquele dia mais feliz do que o normal, não passando despercebida por sua mãe, que a olhava confusa, mas logo ignorou. Na cozinha, ao abrir o saco, começou a rir, vendo o que tinha dentro.

 

Uma pequena marmita de madeira, pintada de roxo. A pegou com cuidado, pondo em cima da mesa e lendo o bilhete escrito com uma bela caligrafia: “Por conta da casa para jovens bonitas! Ass.: Baozi. :)”. Riu da assinatura, achando divertido alguém possuir um apelido de comida.

 

Abriu a tampa da marmita com cuidado, e ali dentro haviam pequenos jaozis e baozis. Ainda estavam quentes, mas mordeu um mesmo assim, sentindo o melhor sabor que já experimentara. Sua mãe fazia uns muito gostosos, mas aqueles estavam simplesmente divinos.

 

A mulher mais velha assistia tudo quieta, sorrindo com as reações da filha. Apoiou-se na porta, vendo a garota suspirar ao morder algo que não conseguia ver. Estava feliz e acreditava que talvez, enfim, seu bebê encontraria amigos.

 

E assim se passaram os dias. A garota voltava a padaria todos os dias, bem cedo, quando o sol ainda não raiara. Descobriu a porta dos fundos do estabelecimento, sempre entrando sorrateira, esperando o garoto. Foi nesse tempo que aprendeu coisas as quais nunca imaginara aprender.

 

No primeiro dia em que aparecera na padaria em um horário tão inusitado, pegou o garoto de surpresa, que levava caixas vazias para fora, as empilhando do lado da porta.

 

— O que faz aqui tão cedo? – o garoto queria demonstrar indiferença, mas a presença de Jenifer não ajudava em nada, ainda mais quando sonhara em uma noite que pedia a garota em namoro.

 

Pensamentos impróprios para a época.

 

— Eu vim te ver oras! E além do mais, fiquei curiosa para saber como os pães são feitos. – a garota balançava o corpo de leve, o vestido que usava rodopiando. Dizia as palavras infantilmente, realmente curiosa quanto ao processo.

 

O garoto sorriu, lhe estendendo a mão para um cumprimento. Jenifer apertou a mão estendida, sendo puxada para dentro da padaria. Havia uma pequena escada de dois degraus que separava a porta da rua, e o garoto a parou em cima do primeiro.

 

— Bem senhorita, gostaria de avisar que vamos entrar em um mundo mágico a partir desses umbrais. Me chamo Minseok, e serei seu mestre. Qual a sua graça? – perguntou animado, A garota rindo do minidiscurso.

 

— Jenifer, bom senhor.

 

— Então, que comece a festa! – a puxou de uma vez, e entraram na cozinha, onde o padeiro já colocava algumas massas dentro do grande forno negro que ali tinha. Ela se escondeu atrás do garoto, que inflou o peito, em uma pose protetora. Minseok segurou sua mão, a levando para perto do outro homem.

 

— Pai, quero que conheça alguém. – gritou, o padeiro parando o que fazia para dar atenção ao filho.

 

— Ora ora, o que temos aqui, hã? – o homem olhava atento para os dois, sorrindo à garota. O homem bagunçou os cabelos o filho, lhe dando uma cotovelada de leve. – Quem é a boa moça filhote? Namoradinha? – Jenifer sentiu suas bochechas arderem, e quando olhou para o outro, suas bochechas estavam igualmente vermelhas.

 

— Não, acabei de conhecê-la! O nome dela é Jenifer, e ela será minha aprendiz! – disse animado, enquanto o outro apertava a mão da garota, que se curvou respeitosamente em frente ao padeiro, este logo a segurando para que não terminasse o movimento.

 

— Minha cara, isso não é necessário. Se é aprendiz do meu filho, é minha aprendiz também. Agora só escutem uma coisa – seu tom era misterioso, um suspense desnecessário. – Nada de usarem o forno sem que eu esteja por perto. Não me perdoaria se algo acontecesse a um de vocês. São crianças ainda, então tomem cuidado. Estamos entendidos? – apontou a colher que segurava na direção dos narizes alheios, recebendo acenos positivos em resposta.

 

— Ótimo, agora vão que pão não se faz sozinho! – e voltou a colocar as massas para assar, o cheiro característico se intensificando aos poucos, inebriando os sentidos dos pequenos.

 

Minseok a puxou de leve, a levando para uma parte isolada. Uma bancada branca, cheia de farinha e cascas de ovos ocupava a maior parte do local.

 

— É aqui que fazemos as massas e adicionamos os recheios. – Minseok dizia animado, logo separando alguns ingredientes guardados embaixo da bancada, pegando algumas colheres de madeira.

 

— Foi aqui que você preparou os baozis? – Jenifer não resistiu, e pode jurar que o garoto travou por um momento. Sorriu, pegando um banquinho dali e se sentando, observando o garoto.

 

— É, foi aqui sim. Você gostou? – perguntou, sua voz em um tom de expectativa. Se virou para a garota, que fez uma careta.

 

— Não gostei. – o sorriso de Minseok desaparecia de seu rosto. – Eu amei! – sorria de novo. Jenifer se encantou com a expressão de felicidade do outro. Ele ficava ainda mais bonito, suas bochechas aumentando.

 

— Que bom que gostou! Agora chegue aqui perto que vou lhe ensinar a fazer pizza! Meu pai disse que é uma invenção de um país chamado Itália. Pode ser feita com diversos recheios e é deliciosa. – Jenifer olhava atentamente e escutava com atenção absorvendo o máximo de informações que podia.

 

Não acreditava que uma mistura de tomates com queijo pudesse fazer algum sentido, mas para tudo havia uma primeira vez.

 

— Ei, posso te chamar de Jeni? Entendo se você não quiser, eu só queria te dar um apelido. – o garoto preparava a farinha e pegava uma tigela para preparar a massa, sem olhar para sua companhia.

 

— Pode sim, mas só se eu puder te chamar de Xiu.

 

— Xiu? Pareço tanto assim ser chinês? – ria, olhando para a garota que não entendia o motivo dos risos. Mas ele não era?

 

— Me desculpa, eu...

 

— Tá bem Jeni. Estou só te enchendo. Ah! Antes que eu me esqueça, sou seu oppa? Tenho 11. – o garoto dizia, quebrando os ovos e pondo na tigela. A garota estava impressionada com a habilidade do rapaz, embora fosse ainda muito jovem.

 

— Não, você não é. – ria, notando que não eram os únicos no recinto. Um filhote de gato miava debaixo de seus pés, o pelo laranja mal cuidado. – Tenho 12. – se agachou no banquinho, pegando gatinho e lhe fazendo carinho.

 

— Xiu, onde tem leite? – perguntou, o animalzinho miando em seu colo.

 

— Lá dentro, mas meu pai deve estar usando agora. Por que? Ah, Sr. Springles!

 

— Quem? – a garota não conseguiu reprimir a gargalhada.

 

— Ei, não ria Oppa! Esse é o nome dele. A gata teve um monte, e o Sr. Springles foi o único que conseguimos guardar.

 

— E onde estão os outros e a gata? – os olhos de Jeni brilhavam, animada com a possibilidade de haverem outros amiguinhos para aquele gatinho fofo.

 

— Mortos. Os cães os caçaram. Digamos que nem os animais estão salvos da Guerra. – deu ombros, batendo as mãos em sua roupa e pegando o bichano do colo da garota. O clima estava pesado, mas aquela era a realidade em que viviam.

 

— Ei, não chore. – colocou uma mão sobre o ombro alheio, sentindo que Jenifer tremia. Somente depois, percebeu que chorava. – Isso acontece. Mas não podemos desanimar. Venha, vamos cuidar desse pequeno. – a garota lhe deu a mão, sendo guiada para fora da padaria. Sentaram-se nos degraus da porta, e começaram a fazer carinhos no animal. Este miava menos, talvez satisfeito.

 

— Posso te contar uma coisa? – Minseok foi o primeiro a falar, e Jeni balançou a cabeça, pedindo que continuasse. – Meu pai morreu em batalha. Escutei histórias sobre sua bravura em campo, e só consigo sentir raiva. – a gatinho adormeceu, e a garota escutava atentamente, não querendo perder uma informação. – Raiva porque, essa luta não acaba. Se tivesse terminado, meu pai estaria aqui.

 

— Mas o padeiro...

 

— Ele? Foi quem me adotou, por isso o considero muito. Sabe, eu vou me alistar, e vou pôr um ponto final nisso tudo. Custe o que custar. – o garoto tinha o olhar fixo à sua frente, expressão alguma em seu rosto. Jeni sentia que havia algo de errado, então se levantou para poder ir embora. Minseok saiu de seu transe, a confusão estampada em seu olhar.

 

— Mas já vai? Ainda não acabamos a pizza. – disse baixinho, temendo ter dito algo de errado ou ter assustado a nova amiga. Talvez tivesse sido cedo demais para aquela informação.

 

— Vou, é só que... minha mãe me espera. Tenho que ir...

 

— Ah... tudo bem então. – o garoto não conseguia esconder sua tristeza, mas, mesmo assim, se despediu da garota. Jeni se levantou, batendo as mãos em seu vestido, retirando o pouco de terra que ali havia. Antes de começar a andar, se agachou novamente e selou a testa do garoto. Minseok ruborizou e abaixou a cabeça, fazendo com que Jenifer risse e fosse embora correndo.

 

O garoto ainda sentia os lábios da menina em seu rosto, mas o que não saia de sua mente era que ela estava descalço esse tempo todo.

 

 

Jenifer dobrava as camisetas dele, enquanto escutava as músicas no rádio mal sintonizado. Já perdera a conta da quantidade de vezes que trocara a estação, mas nunca achava algo decente para se ouvir. Então nesse caso, se contentaria com o pouco.

 

O relógio cuco da sala de estar anunciava a chegada do meio-dia, e Jenifer mais do que depressa, foi até a cozinha, organizando a pequena marmita separada em sua mesa. Pedaços de bolo, pães recheados e molho, tudo muito bem preparado por si mesma. Colocou a tampa por cima, e enrolou o recipiente em um pano xadrez. Amarrou as pontas e saiu dali, levando como se fosse uma trouxa.

 

Sua mãe estava sentada no sofá, lendo o jornal do dia. Aproveitou para se aproximar e ver a primeira página. A mulher mais velha abaixou a folha de uma vez, assustando a filha, que se desequilibrou. Começaram a rir juntas, sem pudor.

 

— Não te ensinei que é feio observar o que os outros estão fazendo? Mas que coisa! – brincou, fazendo um singelo carinho na cabeça da outra.

 

— Eu só queria saber qual é o horário previsto mamãe. Já vou descer para a padaria, e não quero me atrasar.

 

— Pois bem pentelha, está previsto para 13:30. – olhava atenta a primeira página, verificando se não tinha errado a informação.

 

— Obrigada mamãe. Volto tarde hoje. – e lhe selou a testa, saindo calma pela porta da frente.

 

Dessa vez, caminhava, aproveitando o pouco tempo que tinha até o estabelecimento para observar o movimento da rua. Outras jovens mulheres e senhoras iam na mesma direção que si, algumas carregando seus filhos. Pelo visto, outras tiveram a mesma ideia que sua mente pensante. Suspirou, apertando mais o pacote que levava contra seu corpo, a cabeça perdida em alguma música brega, de sua infância.

 

 

— Desculpe mas nós só atendemos às... Jeni! O que faz aqui uma hora dessa? Ainda mais em um domingo? – Minseok fingia surpresa, mas já imaginava que a garota viria. Jenifer sorria, os cabelos longos e soltos decorando seu rosto.

 

Usava o mesmo vestido de quando passaram sua primeira tarde juntos, a diferença era que agora, a barra acabava em suas coxas e não mais cobrindo suas pernas inteiras.

 

— Eu vim te ver oras! E além do mais, fiquei curiosa para saber como os pães são feitos. – disse inocente, sorrindo mais do que costumava fazer. Minseok retribuiu o sorriso, a puxando para um abraço apertado.

 

— Entre por favor! – deu passagem para a garota, que simplesmente se sentou no degrau, ignorando o pedido feito. – Mas o que é isso agora? Se revoltou?

 

— Xiu, você sabe que dia é hoje? – Jenifer tinha o olhar fixo em seus pés, mexendo em seus dedos calmamente. Minseok percebeu que ela estava novamente descalço.

 

— Claro que sei. É seu aniversário. Inclusive, o bolo já está pronto e...

 

— Tem cinco minutos para trazê-lo aqui. Vamos logo, que tenho pressa! – e se levantou, cruzando os braços e parando em na frente do outro, um bico nos lábios e os olhos fechados, esperando que sua vontade fosse feita.

 

— Tá, eu acho. – e sumiu para dentro da padaria, indo pegar o que lhe foi pedido. Jenifer abriu os olhos, vendo que o outro não estava mais ali e deu alguns pulinhos, não contendo a felicidade em seu peito.

 

Sr. Springles, bem maior do que quando o vira pela primeira vez, chegou perto de si e começou a se esfregar em suas canelas. A garota riu e o pegou no colo, fazendo carinho em sua barriga, recebendo ronronados em resposta.

 

Minseok saiu pela porta, um pacote relativamente grande em suas mãos. Fez uma careta ao perceber o gato nos braços da garota, mas não demonstrou sua insatisfação.

 

— O gato é melhor tratado do que eu?

 

— É sim, e se reclamar, me caso com ele e seremos felizes para todo o sempre.

 

— Já entendi, nossa. – sorriu, com a mão livre coçando os cabelos. – Mas por que me pediu isso? Pensei que ia querer mais tarde.

 

— Ah, sim! Vem comigo. – e começou a andar, o bichano preso em seus braços. O garoto a olhava espantado, não acreditando no que via.

 

— Mas assim do nada? – perguntou do nada, o pacote quase caindo de suas mãos. Jenifer, que já estava um pouco distante dele, se virou, o animal escorregando de seus braços.

 

— Tá esperando o que para vir aqui? O fim da guerra? – gritou, voltando a caminhar, sabendo que o garoto logo viria. Minseok segurou firme o pacote contra seu peito e correu até a garota, ficando ao seu lado. Nada disseram um ao outro, o silêncio se instalando.

 

Foram a lugares que o garoto nunca tinha visto. A guerra realmente tinha feito um bom estrago na cidade, sendo possível ver ao longe os destroços de alguns prédios, e pessoas andando sem rumo.

 

Minseok engoliu em seco, procurando o mesmo nervoso no olhar da amiga, mas ao invés disso, só encontrou seriedade e constância. Jenifer sabia bem disfarçar seus sentimentos, não deixaria transparecer a sua revolta com tudo aquilo. Sr.Springles se remexia, tentando fugir, mas a garota apertou seus braços com mais força, impedindo sua fuga.

 

Passaram por uma rua abandonada, onde os ratos brincavam livremente, comendo restos de algo cru. Minseok queria pedir para que voltassem, mas a garota seguia em frente, sem pestanejar. Não faria feio em sua frente.

 

Andaram por tempo suficiente para que o sol já estivesse se pondo No final do bairro, havia um enorme campo de lavanda, usado para os treinos do exército. Entraram ali dentro, a grama alta cobrindo seus pés. Jenifer largou o bichano e esse tratou de correr entre as plantas, como um cachorro animado. Os dois riram e Jenifer indicou para que sentassem.

 

— Vamos, me dê o bolo. – Minseok lhe estendeu o pacote, e logo a garota o colocou na grama, abrindo e se deliciando com a visão. – Morango! Como sabia? – perguntou sorridente, o garoto se perdendo na pessoa a sua frente. Seria indelicado dizer que estava linda? Afinal eram palavras que tinha guardado para si mesmo desde o primeiro dia em que a viu.

 

— Achei que combinasse com você. Doce, sabe? – deixou escapar, Jenifer ruborizando com o comentário.

 

— A aparência é linda, mas e o gosto? – riu, esticando a mão para pegar um pedaço.

 

— Espera! – Minseok retirou a mão da garota, segurando seus dedos. – Eu não trouxe garfos e muito menos pratos. Como faremos? – dizia verdadeiramente preocupado, e Jenifer simplesmente ria da reação de sua reação.

 

— Oras, comeremos com as mãos! – disse simplista, o garoto mal acreditando no que ouvia. – O que sujarmos, nós lambemos. – com o dedo, pegou um pouco da cobertura, o sabor invadindo sua boca, as palavras lhe escapando da mente. – Meu Deus, isso aqui é muito bom! – pegou mais um pouco, encantada com o talento do outro, e feliz pelo presente.

 

Eram pobres e sabia que aquilo estava sendo mais do que o outro poderia lhe oferecer. – Por favor, pegue um pouco! – e passou o outro dedo por cima do bolo, o levando para a boca de Minseok.

 

Este recusou, empurrando a mão a sua frente de leve.

 

— Não posso aceitar. Quero que você aproveite e. EI! Jeni! – a garota enfiou o dedo sujo de cobertura dentro de sua boca, e logo disparou a rir. Minseok tentou ficar bravo, mas vê-la tão feliz só fez com que a acompanhasse na gargalhada. Sr.Springles se aproximou novamente, com um inseto em sua boca.

 

— Parece que não somos os únicos a encher a pança, hein? – segurou o bichano, lhe fazendo carinhos e com a mão livre, pegando um pouco do bolo.

 

Passaram os últimos momentos de luz solar assim, rindo, comendo, e lambendo os dedos sujos. Quando a noite chegou, não se importaram em ficar ali, observando o céu e suas estrelas, que brilhavam imponentes, iluminando os dois jovens (e gato).

 

Se deitaram, a grama fazendo cócegas em suas mãos e braços, que se entrelaçaram em algum momento da noite.

 

Minseok aproveitou para observar sua companhia, extasiado com a simplicidade da garota, e como isso a deixava bonita. Em um pensamento egoísta, concluiu que a queria só para si.

 

Uma estrela cadente cruzou os céus, tão rápido quanto a luz, mas ficara tempo suficiente para que os jovens a vissem. Jenifer fechou os olhos, fazendo um pedido rápido e se virando na grama, encarando o garoto que a olhava.

 

— Xiu, hoje é meu aniversário. – disse baixinho, com medo de que acordasse o gato que dormia ao seu lado.

 

— Eu sei. – dizia entre risos. – Espero que tenha feito um bom pedido. – soltou, se referindo a estrela passageira.

 

A garota deixou o sorriso em seu rosto morrer, levantando o tronco e se sentando, sendo acompanhada pelo garoto preocupado com sua repentina mudança de comportamento. Jenifer tinha o olhar fixo nas estrelas que piscavam quando fechava os olhos.

 

— A partir de hoje, tenho 18 anos. Sou uma mulher agora. – começou, Minseok a escutava pacientemente. – Eu poderia pedir tantas coisas...- o olhar em seu rosto era sério, maduro. – Faz seis anos que nos conhecemos e que vivemos aqui. Eu poderia ter pedido vestidos novos, cadernos brancos, o fim da guerra... Mas – segurou com mais força a mão do jovem, fazendo carinhos leves com seu polegar. – Eu pedi correspondência e benção. – se aproximou de Minseok, que tinha o coração disparado, sabendo aonde chegariam com aquilo.

 

— Xiu, aceita namorar comigo?

 

Um clarão, seguido do som de algo se partindo. O cheiro de fumaça se intensificando e mais estalos. Terra para todos os lados, gritos sendo ouvidos. Um bombardeio.

 

Minseok se levantou, rápido, puxando Jeni pelo braço, da maneira como podia. Sr.Springles já estava acordado, correndo em disparada para lugar algum. Jenifer escorregou, mas o garoto a segurou, preciso, a levantando e se pondo a correr, com a certeza de que ela estaria atrás de si.

 

Alguns poucos soldados corriam na direção oposta à que os garotos iam, mal os notando. Simplesmente passavam por seus corpos, não reparando em suas expressões de pânico. Seus corações batiam em somente um ritmo: o do desespero.

 

Fizeram um caminho diferente do de antes, indo parar em um beco mal iluminado. Haviam caixas molhadas e rasgadas para todos os lados, mas nem sinal de uma alma viva. A claridade novamente, o som de explosão mais alto.

 

Minseok pegou uma caixa um tanto seca, e puxou a garota para a parede. Se agacharam e se cobriram com o retângulo de papelão, o silencio sendo o melhor companheiro. Seguravam as mãos, com força, e suavam de medo. Tudo o que queriam era o fim do tormento.

 

— Jeni. – o garoto sussurrou, percebendo que a garota tinha os olhos fechados, mas não chorava. Ela abriu as pálpebras, encarando o rosto sujo de Minseok.

 

— Eu aceito. – e os sons de gritos cessaram.

 

 

Chegou a porta da padaria, encontrando o sr. Kim, o ilustre padeiro, servindo alguns doces para as crianças que ali estavam. Algumas riam, outras choravam, mas todas tinham um doce na boca. Ele avistou Jenifer se aproximando, abrindo um sorriso por debaixo do bigode que insistia em deixar crescer.

 

A garota acenou, andando mais rápido e subindo na calçada. Selou a bochecha do homem a sua frente, ganhando um abraço apertado. Seus ombros foram afagados, e embora nenhuma palavra tivesse sido trocada, sabia que não era necessário. Ambos estavam cansados de esperar, e a espera teria um fim, cada vez mais próximo deles.

 

No fim da rua a direita dos que ali estavam conversando ou somente sentados, um caminhão de carga ia depressa, levantando poeira por onde passava. Algumas crianças começaram a pular de alegria, sabendo o que aquilo significava.

 

Os faróis do caminhão foram acessos, e buzina tocada incessantemente. O motorista sorria, festejando com a visão que tinha, afinal, sua mulher estava ali entre tantas outras.

 

Jenifer suspirou, o coração batendo ansioso em seu peito. O automóvel se aproximava mais e mais, e sentia que poderia desmaiar a qualquer momento. Não o faria, senão sua marmita ia ao chão junto.

 

O caminhão parou no meio da rua. A caçamba fora aberta. Agora se contavam os segundos. O padeiro apertou suas mãos nos ombros de Jeni, que respirava com dificuldade. A poeira que subiu descia lentamente, permitindo a aproximação dos menores. Olhou seu relógio de pulso: 14:38pm.

 

Tinham se atrasado.

 

 

 

A chuva fria descia forte contra o corpo dos que estavam se despedindo. Mulheres choravam, segurando firme as mãos dos maridos que subiam no caminhão coberto pela lona verde. Soldados do lado de fora estavam a postos, as armas prontas em seus ombros.

 

Minseok pensou em voltar atrás em sua decisão, mas já era tarde demais. Carregava uma mochila preta em suas costas, todos seus pertences bem organizados. O homem a sua frente terminara de beijar sua filha e subiu, deixando com que fosse o próximo a subir. Engoliu em seco e jogou a mochila para um soldado, que ajudava os novos recrutas a se ajeitarem. Se virou, a pior parte de sua ida começando naquele momento.

 

Jenifer segurava uma toalha em sua cabeça, uma proteção pífia, mas a única que tinha. Sua mãe a observava na calçada, esperando para que voltassem. Sabia que a filha estava sofrendo, o que a machucava também.

 

O garoto se aproximou. Levou uma de suas mãos ao rosto da jovem, percebendo que esta chorava, mas as lágrimas eram disfarçadas com as gotas frias.

 

— Eu...pode me prometer uma coisa? – Minseok sussurrou, perto do ouvido da jovem. Jenifer meneou a cabeça, positivamente. O garoto se afastou, olhando firme nos olhos da menina que amava.

 

— Promete me esperar? Eu volto, é uma promessa também.

 

Jenifer não resistiu, pulou nos baços do garoto e lhe beijou. Um beijo calmo, sôfrego e ansioso, cheio de saudades. Sabia que o garoto não tinha certeza sobre seu retorno, mas teria fé. Esperaria.

 

— Eu prometo. – desprendeu os lábios, Minseok ria, apesar de tudo. Lhe selou a testa fria e subiu no caminhão, se sentando. Foi o último a entrar, antes que dessem a partida.

 

— Minseok!! – Jenifer gritou ao longe, e fora ouvida. O garoto colocou a cabeça para fora, a chuva molhando mais seu rosto. Um soldado lhe puxava pedindo para que se sentasse.

 

— Eu vou esperar! – o choro desceu sem permissão, e Jenifer caiu ajoelhada. Sua mãe correu para levantá-la. Dentro do caminhão, Minseok sorria, lágrimas finas descendo suas bochechas gordinhas.

 

 

Os soldados não vestiam a parte de cima de seus uniformes, somente a blusa branca devido ao calor que fazia. Alguns carregavam grandes mochilas, enquanto outros nada traziam. Alguns tinham partes do corpo enfaixadas, mas sorriam tão abertamente que se duvidava se tinham ou não sido feridos.

 

As senhoras se aproximavam, tomando o rosto de seus filhos e lhes beijando. As mulheres choravam felizes pelo retorno de seus maridos e as crianças estavam fascinadas pelo retorno de seus pais. E nem sinal de Minseok.

 

Alguns, ao saírem do caminhão, cumprimentavam garota e padeiro. O homem sorria educado, e lhes estendia a tigela cheia de pães, oferecendo-os. Alguns aceitavam sorrindo, outros recusavam, educados. Mas nada do garoto ruivinho que a dupla tanto amava aparecer. Estavam preocupados.

 

Jenifer reparou que alguns dos soldados simplesmente subiam a rua ou iam embora, sem ninguém para lhes acompanhar. Eram jovens que iam começar suas vidas novamente. Mas antes, todos passavam por um oficial, bem-apessoado, vestido em sua farda cheia de condecorações, se despedindo. A garota supôs que se tratava do general responsável pelo pelotão.

 

Sentiu um macio familiar em seus pés calçados. Olhou para o chão, e percebeu Sr.Springles pedindo carinho. Sorriu, voltando a olhar para frente, esperando que o garoto saísse da caçamba. Se espantou quando o oficial ordenou que o motorista partisse, entrando em desespero. Sua vontade era de gritar, exigir que lhe mostrassem onde o garoto estava.

 

Onde seu namorado estava.

 

O oficial se aproximou dos dois, sorrindo educado.

 

— Posso pegar um pouco de pão? Tenho fome... – disse, gentil, e Jenifer parou para reparar um pouco nele.

 

— À vontade. Pegue o quanto quiser. – Sr.Kim, controlando as lágrimas. O cape que o outro usava impedia que Jenifer tivesse uma boa visão de seu rosto.

 

— Se me permite, - o oficial, dirigindo a voz a Jenifer. – é muito bonita, donzela. Seu marido tem sorte. Eu tenho sorte.

 

Jenifer riu em seco, pronta para lhe desferir um tapa, mas o oficial foi mais rápido, enlaçando sua cintura e selando seus lábios.

 

— Que bom que esperou. E eu voltei. Promessas cumpridas. – o cape caiu, o coração acelerou, um novo beijo.

 

Minseok estava de volta. Vivo, e para Jenifer.

 

— Eu lhe trouxe uma coisa. – afrouxou o abraço que lhe dera, mas ainda a mantendo perto. Sorriu para o pai, que somente chorava, feliz pelo filho. Abriu o bolso de sua farda, retirando um pequeno botão e colocando atrás da orelha da garota. Jenifer não conseguia segurar seu sorriso.

 

— Qual é a flor? – perguntou curiosa, Sr.Springles miando, pedindo atenção. Minseok sorria, pegou o gato e começou niná-lo. Jenifer acariciava os cabelos curtos do garoto, admirada por tê-lo ali consigo.

 

— A chamam de violeta. Nunca a vi por aqui, mas me lembrei de você. São parecidas. Delicadas e cheirosas. – Jenifer lhe deu um tapa leve, rindo do comentário. A flor era realmente linda, e amou ter sido comparada a ela, mas não diria isso.

 

Não naquele momento.

 

— Vamos, deve estar com fome. Trouxe baozis. – estendeu a marmita, os olhos do garoto se arregalando.

 

— Você não se esqueceu? – Jeni negou. – Mas faz dez anos.

 

— Pelo visto, você também não esqueceu. – selou sua orelha. – E não se esquece o que se ama.

 

Entraram na padaria, indo jantar. 

 

 

 

 

 

 


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