Eu não sabia onde estava, apenas que estava deitada, minha consciência retornava pouco a pouco.

Estava difícil pensar e me situar.

O que aconteceu?

Não conseguia me lembrar de nada.

Meus olhos estavam tão pesados e doloridos, como se estivesse passado muito tempo chorando.

Ouvi o barulho de uma porta perto de mim sendo aberta;

—A sedação já cedeu? —Alguém perguntou.

—Sim, ela está apenas dormindo... —Suspiro — Será melhor deixa-la tomar consciência em seu próprio tempo, coitadinha teve muito com o que lidar. —Era a voz de uma mulher, soava gentil e preocupada.

—Foi um trauma terrível,tudo que aconteceu.

Eu estava verdadeiramente confusa,quem eram essa pessoas e do que falavam?

Onde eu estava...sabia que não era nas cavernas;não sentia o cheiro de mofo que era tão familiar.

—Encontraram alguma coisa? —Perguntou a mulher.

—Pétalas Abertas Para A Lua é seu nome. Ela desapareceu a alguns meses da sua residência em Seattle... agora sabemos o porque.

Um choque percorreu todo meu corpo quando finalmente as lembranças emergiam.

“Eu te amo...me perdoe por isso.”

 Pulei da cama ficando sentada, minhas mãos no meu pescoço...

Não, não...

—Não! —engasguei com um grito de pura dor.

Não era dor de onde havia sido machucada, porque não sentia mais nada.

Era uma dor mais insuportável, agonizante... a dor da perda.

—Shh.Está tudo bem se acalme. —Olhei para cima e vi uma mulher vestida com roupas claras, e com o cabelo preso em um coque se aproximando de mim.

Me encolhi com sua proximidade,afastando do seu toque.

—Está tudo bem. —ela repetia afagando meus braços.

—Onde... —solucei, ainda com as mãos na minha garganta. — Onde ele está?

A mulher pegou minhas mãos a as segurou juntas me reconfortando.

—Não se preocupe querida... tudo vai ficar bem.Ele não vai mais machucar você.

—Não vai?

—Vai poder voltar, para sua casa. Para sua mãe...está segura agora.

Essa palavras trouxeram a dor de volta,tão forte que pareciam rasgar meu peito.

Me encolhi na cama e chorei...um engasgo de dor insuportável...um lamento profundo.

Um luto que seria permanente.

Nada ao meu redor, me despertava.

Mesmo depois de encontrar, a mãe de Pet —ao qual herdei o amor que meu corpo sentia por ela —Nada fazia mais sentindo...Não mais.

Não tinha forças para continuar vivendo, nem mesmo pude guardar luto.

Tive que esconder a dor .

Todas as noites sonhava com ele,com nosso terrível ultimo momento.

Por que Ian...porque fez isso?

Um soluço escapou pelos meus lábios,tapei minha boca com as mãos,a mãe de Pet—minha mãe —passava a maior parte da noite acordada,velando meu sono.

Temendo que Pet— eu —desaparecesse de novo,muitas vezes dormia ao meu lado depois de entrar desesperada no quarto acordada pelo meu choro.

Ela imagina que o trauma do “seqüestro” foi demais para a frágil Pet.

Não apenas ela, mas os Buscadores que me encontraram,também pensavam assim.Não tentaram me interrogar temendo que eu não suportasse as lembranças, não no estado que eu estava—não conseguia dizer uma palavra depois de sair da instalação de cura.

Por quê?

Porque minha vida continuou?

Porque você fez isso Ian?!

O momento de sua morte,era uma lembrança tão vivida em mim.

Ele se sacrificou...para me salvar.

Senti seus lábios perto do meu ouvido e ele sussurrou de novo.

— Eu te amo... me perdoe por isso.

Eu já chorava desesperadamente em meio a engasgos, não conseguia respirar.

A dor era demasiadamente forte, muito mais do que me lembrava; meu novo corpo era frágil demais mediante a força de Ian.

A dor não me importava eu tinha que para-lo antes que fosse tarde.

 “Não! Por favor, não faça isso!”. Queria gritar.

(...) Ian sacou com a outra mão a arma que estava presa nas suas costas e a apontou para minha cabeça.

Eu já estava perdendo a consciência.

Alguém gritou “Não a machuque!” e então ouvi o disparo.

Porque percebi tão tarde o que ele faria?

Assim que vimos os carros dos buscadores parando atrás de nós,sabíamos que era o fim.

Eu me abracei a Ian, —ficando de costas para eles,os ouvindo pedir para ficarmos calmos e nos entregarmos— já com as mão no bolso da frente da minha calça,para pegar a pílula de cianureto.

Olhei em seus olhos, — tão vividos, tão azuis — e me despedir silenciosamente.

Sua expressão era rígida de dor,desolada enquanto seus braços me apertavam,tão desesperadamente que machucavam.

Vi um luz em seu olhar...fiquei confusa com suas palavras.

— Me perdoe Wanda — e ele me virou de frente.

Apertei o lençol da cama,reprimindo o choro.

Os Buscadores não imaginavam, quem eu era.

Na verdade foi um estúpido acidente que nos revelou.

Ian e eu fomos fazer uma pequena pilhagem; repor o estoque de vitaminas, complementos,produtos para higiene pessoal.

Não era necessário,poderia ser feito na pilhagem trimestral ,mas queríamos sair um pouco, ter um momento só para nos dois.

Ficamos três dias fora,e na volta o carro quebrou.

Estava encostada na porta do carro,rindo de Ian.

— Lata velha. —ele chutou o pneu.

Eu ri alto.

—Ian o carro não vai ressuscita... se você matar ele de pancada.

Ele olhou por cima do capo e riu.

Foi de mim não da piada,eu já sabia.

Eram poucas as vezes que eu conseguia fazer piada dele com qualquer coisa, e eu realmente não era boa, humanos em geral tem um humor tão estranho, que era um acontecimento sempre que eu tinha a chance.

—Está começando a ficar frio. —Me inclinei pela janela aberta para pegar um casaco. Vi os faróis de um carro iluminar minhas costas e passar por nós.

—Droga! —Ian xingou de novo.

—O que foi senhor “super mecânico”,descobriu que eu estou certa? —Me virei vestindo o casaco e sorrir para ele.

O sorriso no meu rosto se desfez assim que vi o olhar de Ian.

—O que...? —Olhei para os lados alarmada,meu corpo automaticamente se encolhendo.

—Se acalme... —disse se aproximando e afagando meu rosto tentando me tranqüilizar.

—O que aconteceu? —sussurrei.

Ele suspirou.

—O carro iluminou meu rosto.

Meus olhos ficaram impossivelmente maiores.

—Shh.Não fique ansiosa,pode não ser nada.Vou terminar de consertar para voltarmos.

Não deu tempo.

Alguns minutos depois eles apareceram.

Ian me machucou para que acreditasse,que não estávamos juntos.

Sabia que ameaçar minha vida,fariam com que eles tentassem me proteger.

Não apenas por eu ser uma alma,mas também pelo meu rosto e corpo—impossivelmente frágil e vulnerável ao lado de Ian—ao lado de um humano—Assim que ele apontou arma para mim os Buscadores atiraram nele.