Registro Panorâmico escrita por Titi


Capítulo 18
Compatível?


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas.



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Fatos psíquicos de Quésia

Finalmente sexta-feira... Seria uma pena se eu estivesse tão doente que não pudesse aproveitar. O Edgar entrou no quarto de manhã pra bancar o despertador como sempre. Quando chegou, só em me ver já percebeu que eu não estava muito em paz.

—Quésia! Como você está? –ele me perguntou com certo tom de preocupação.

—Morrendo. –minha voz estava fraca.

Eu estava com muito medo de levantar e me olhar no espelho. Se for pra ficar mal fisicamente, que pelo menos eu continue bem psicologicamente... De qualquer forma, tentei me levantar, mas não deu muito certo. Meu irmão acabou dizendo que eu não deveria fazer muito esforço e que eu podia faltar aula hoje.

—Fica aí, eu vou buscar água. –ele disse.

—Eu prefiro café...

—Ai, garota, vê se não abusa, tá?! Senão eu mando você ir à escola do jeito que está!

Me olhou por alguns segundos e disse num suspiro:

—Mas eu trago teu café... Vai tomando um banho quente enquanto eu procuro algumas coisas pra trazer pro teu quarto.

Assenti. Depois de sair do banho, eu coloquei um casaco e uma calça de malha, mas continuei com frio. Voltei pra cama sem conseguir pensar direito. A Marisa era quem cuidava de mim quando eu ficava doente, não consigo lembrar nada que ela me mandava fazer pra amenizar os sintomas.

Edgar chegou no quarto correndo com lenços de papel, um termômetro, uma garrafa de água, uma toalha e algumas outras coisas.

—Tá sabendo que você não vai poder ficar só tomando café, né? –Cortês me olhou de uma maneira séria.

Eu nem respondi. Ele viu que minha febre estava alta e colocou uma toalha molhada na minha testa. Nunca me senti tão mal por causa de um resfriado, mas acho que eu ainda tenho forças pra escrever um testamento.

—Espera aí, tem alguém batendo na porta. –meu irmão comentou e desceu para atender.

Fiquei olhando pro teto, à espera... Será que era o Hebrom? Eu não acharia bom que ele me visse desse jeito... Eu peguei o notebook com a maior dificuldade e vi que ele tinha solicitado minha amizade naquela rede social estranha. Fiquei meio feliz, mas o resfriado não me deixou demonstrar.

—MINHA NOSSA, QUÉSIA! O QUE ACONTECEU COM VOCÊ?! –surpreendentemente era a Mari. Foi só pensar na mulher que ela brota... Com o berro que ela deu, eu quase joguei o notebook pra longe. –Tira essa toalha da testa, menina, vai piorar a febre!

—O Edgar que colocou. –falei.

—Ah, não! Não, não, não! Nem vem! Você chega na minha casa pra ficar esculachando o jeito que eu cuido da MINHA irmã? –ele entrou no quarto já com paciência curta.

—Acontece que eu sei muito mais do que você sobre como tratar. Sempre que ela ficava resfriada, era eu quem cuidava dela. Se ela ainda está viva é porque meus meios funcionam!

—Hm... Fale mais sobre isso!... Enquanto eu chamo o meu advogado pra te contar quem é o responsável pela Quésia agora.

“É muito bom ver que vocês se importam tanto comigo que preferem discutir ao invés de me ajudar... Muito, muito bom mesmo...” era a coisa que eu mais queria dizer na hora. Apenas tossi e isso chamou a atenção dos dois.

—Onde fica a cozinha? –Marisa perguntou, olhando para o meu irmão com cara de “Discutimos depois”.

—Fica lá em baixo... –respondeu.

—Você deixa eu usar algumas coisas pra tentar ajudá-la?

—Certo, certo... Sem problemas.

Ela desceu e meu irmão tirou a toalha da minha testa, dizendo num tom baixo:

—Acho melhor eu não arriscar... –pegou uma caneca de café e colocou nas minhas mãos.

É até estranho quanto o Edgar ativa o lado sensível dele... Eu não estou acostumada. Fica até parecendo outra pessoa de tão incomum.

—Tem alguém batendo na porta! –a Marisa gritou lá de baixo.

—Então atende, mulher! –ele berrou de volta. –Deve ser aquele seu namo...

—Edgar e Marisa debaixo da árvore... –parei de beber o café que já estava morno e interrompi cantando com a minha voz de pilha fraca.

—Não! Para! Parei! Foi mal! Eu esqueci. –riu. –Vou descer.

—Tá...

Saiu do quarto e eu fiquei ali, sozinha, assoando o nariz com os lenços de papel. Pelo andar da carruagem, a lixeira já estaria abarrotada antes da metade do dia.

Eu me levantei pra ir ver quem tinha chegado, porque estava demorando e eu fiquei curiosa. No mesmo instante, a porta foi aberta:

—Nem OUSE levantar daí! –era o Hebrom, estava com um buquê de flores na mão esquerda.

—O que você está fazendo aqui?... –falei quase tombando no chão e me apoiando na mesinha de cabeceira.

—Bem... Eu vim te ver. –ele sorriu. –Agora volta pra cama. –o garoto me deitou outra vez.

—Olha só, não precisa ficar me tratando como um neném só porque eu estou doente, tá?

—Não preciso, mas é exatamente isso que eu vou fazer. –ele ficou com o rosto plenamente sério.

Eu fiquei encarando-o, esperando ele fazer alguma coisa. Então ele ajoelhou ao lado da minha cama outra vez, segurou uma das minhas mãos e começou a sussurrar, de olhos fechados, algumas coisas que eu não entendia. Depois disso ele se levantou sorrindo:

—Ah, é! Isso aqui é pra você... –Salamander estendeu as rosas e ficou um pouco constrangido.

—Pra que isso? Eu ainda não estou morta. –brinquei.

—Mas tomando essa porcaria, vai estar daqui a não muito tempo. –ele tirou o café das minhas mãos.

—Devolve!

—Não, isso faz mal! E não é das melhores coisas para quando se está com a sua doença, moça.

—Eu não perguntei, agora devolva!

—Beba outra coisa, por favor.

—Não, Hebrom, me devolve, anda!

—Se eu te entregar e você morrer por causa disso, eu sentiria culpa!

—O que o café vai fazer? Me esquartejar durante a noite? Devolve ele agora! –tentei pegá-lo de volta.

—Nem pensar!

—Para com isso, vai acabar derramando.

—Ok, você venceu. –ele soltou... E como eu estava puxando, o café foi no meu rosto. –Me desculpe!

Preferi não dizer nada. Acho que ele levou muito a sério aquela história de procurar bastante líquidos quando se está resfriado... Fui rastejando ao banheiro para lavar o rosto. Salamander ficou atrás de mim, pedindo perdão incansáveis vezes.

—Tá, tá! Tanto faz! Aceito as tuas desculpas! –falei tirando a mão dele do meu braço, que tentava me ajudar a voltar pra cama.

—Desculpe mesmo, Qué... –fez cara de coitadinho.

—Eu já disse que aceito!

—Se você tivesse me perdoado, não estaria tão brava. Me desculpa, vai... Você sabe que eu não faria aquilo de propósito... –ele sentou do meu lado na cama e foi se aproximando.

—Sai, garoto!

—Só saio quando você aceitar de verdade. –a persistência dele me fez virar o rosto. –Pelo menos desfaz essa cara...?

—Me obrigue.

—Posso mesmo? Você falou. –o garoto botou a mão dentro da minha blusa e começou a fazer cócegas na minha barriga.

Eu comecei a rir descontroladamente e pedir para ele parar, mas praticamente não dava pra entender o que eu dizia entre risos. Parecia uma retardada, eu estava morrendo por dentro... Acabei chutando a fuça do Hebrom.

—Ai, cara, foi mal mesmo! –fui pra trás, arrependida.

—Sem problemas... Eu acerto café em você, você me acerta com teu pé... Nada mais justo. –ele colocou a mão na boca e viu que estava sangrando. Ela havia rasgado por causa do aparelho.

—Você tá bem? Quer dizer, é claro que você não está bem, mas... Você está tão mal assim?

—Não. –ele riu.

—Vem cá, me deixa ver.

—O que foi? Vai dar um beijinho no meu ferimento pra ele melhorar? Olha que eu aceito... –o garoto tentou prender o riso mas depois ele tapou o rosto com as mãos, gargalhando. –Não acredito que eu disse isso.

—Nem eu. Você precisa parar de falar com o Folk... Nem machucado você perde a oportunidade de fazer piadas idiotas.

—E nem doente você me deixa esquecer que eu faço isso. –Salamander sentou ao meu lado de novo.

Ele é extremamente simpático, isso chega a ser bizarro. Parecia estar muito feliz por me visitar. Só que aí, do nada, o garoto amarrou a cara e disse:

—Quer dizer que você não vai à escola hoje... Certo?

—Bem, parece que não, né?

—Então... Então eu te mando mensagens quando chegar na escola... Isso é, se você quiser. Eu posso?

—Claro! Vai ser ótimo. Aí você me conta o que acontecer nas aulas. –peguei as rosas da mesinha de cabeceira. –Elas são lindas... Obrigada.

—D-De nada! Eu acho que já vou indo... Tchau... Melhoras. –me deu um beijo na testa e saiu com pressa, só que na porta, ele deu de cara com a Marisa.

—Oi, Hebrom! Você já vai?

—Eh.

—Obrigada por me aconselhar a fazer suco de laranja pra ela.

—Não há de quê! Minha mãe costuma fazer nessas situações e ajuda muito. –acenou e saiu correndo.

Mari olhou pra mim segurando um copo e uma jarra... Me desejem sorte.


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Notas finais do capítulo

Que drama, eu gosto de suco de laranja.
Até mais, pessoas.



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