Eu, Meu Noivo & Seu Crush — Thalico escrita por Helly Nivoeh


Capítulo 41
Os Elaborados Testes dos Filhos de Apolo


Notas iniciais do capítulo

As vezes no silêncio da noite, esta história é atualizada ;)
Boa leitura!

Recapitulando:

Thalia e Nico precisam e até concordaram em se casar, mas querem o divórcio logo depois.
Pra isso, precisam parecer um casal de verdade.
Com isso, Nico beijou Thalia na frente do acampamento todo.
Algumas pessoas estão lidando bem com isso, outras nem tanto.



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Narração: Thalia Grace

 

Queria poder dizer que as coisas ficaram mais fáceis, mas não é verdade. No entanto, eu me acostumei com as campistas me encarando e sussurrando pelas minhas costas, e eles se acostumaram com os raios que misteriosamente caiam há poucos metros quando isso acontecia. 

— Você ainda vai causar um incêndio. — Jason alertou quando duas filhas de Afrodite gritaram após mais um susto.

— Você não tem provas de que fui eu. — Apontei dissimulada, mas meu irmão apenas balançou a cabeça.

— Você podia ser mais simpática. — Ele aconselhou, me causando uma careta. — Você e Nico parecem disputar o título de mais antipático do acampamento e a competição está acirrada.

— Por isso mesmo não posso deixar ele ganhar, não é mesmo? — Debochei. — Além do mais, você já é simpático o suficiente por nós dois. O "miss" simpatia do chalé de Zeus. 

 — Eu ouvi simpatia? — Uma voz animada nos interrompeu, me fazendo franzir a testa e olhar para trás.

 Alexia estava parada muito perto, um sorriso brilhante como o do pai no rosto e, se isso já não me assustava o suficiente, a garota estava vestida inteiramente de preto, um top cropped mula-manca combinando com uma legging de cirrê e coturnos pesados. Não era apenas estranho pelo fato de estarmos em plena manhã de verão, mas também porque Alexia vivia com roupas coloridas. Roupas pretas definitivamente fugiram do comum. 

— Thalia está tentando ser mais simpática? — A menina questionou animada. —  Posso ajudar com isso!

— Não, não estou. — retruquei, seca. — E muito menos preciso da sua ajuda para isso. 

Jason me deu uma cotovelada e forçou um sorriso para a filha de Apolo:

— Ela só está brincando, Alexia.

— Não, não estou.  — retorqui, mas pareceu não fazer efeito na garota, que apenas aumentou o sorriso.

— De qualquer forma eu estou precisando da sua ajuda, Thalia. Estou tentando compor uma música nova e queria sua opinião. Sei que você tem um ótimo gosto!

— Sabe, é? — questionei, intrigada. — Como sabe? 

A garota se embaraçou, o sorriso desmanchando antes de forçar outro:

— Bem, eu sou filha de Apolo, eu sei quando as pessoas tem bom gosto musical!

— Então deveria saber se sua música está boa ou não, certo? Não deveria ter um poder assim....?

— Thalia, por favor. — Jason me interrompeu calmamente. — Alexia está apenas pedindo que você escute uma música que ela compôs, não custa nada ajudar, certo?

— Não vai demorar, por favor! — A filha de Apolo fez beicinho e Jason uma cara de "vai", me fazendo suspirar. 

— Tudo bem, eu te ajudo. — aceitei e Alexia sorriu mais, batendo palminhas. 

— Então vamos! — A garota gritou, pegando meu pulso e me puxando em direção ao anfiteatro.

— Agora?! — Questionei, vendo meu irmão ficar para trás.

— Mas é claro! Todos vão para as aulas agora, é o melhor momento pra te mostrar!

— Mas eu também preciso ir!

— Não custa nada perder uma aula de grego antigo, custa? Vamos, vai ser rápido!

Suspirei novamente e aceitei, seguindo Alexia para o local  vazio. Mal sentei na arquibancada e a menina já havia sentado no banco, um violino delicado em seus ombros. 

— Espero que você goste tanto que chegue a sonhar com a música! — Ela exclamou, me fazendo erguer a sobrancelha. 

Em poucos segundos as notas preenchiam o ambiente em uma melodia delicada e suave. Ela tocava muito bem, isso eu tinha que admitir, a música dava a sensação de leveza, como se eu estivesse deitada em uma cama quente e macia, uma sonolência e calma que há muito eu não sentia. 

Bocejei, tentando me concentrar na garota, nos dedos esguios dançando pelo instrumento, nos cabelos  que caiam em cascata pelo seu ombro nu, delicado e bronzeado. Por que ela estava toda de preto mesmo? E por que aquela melodia me parecia familiar...?

Senti um tremor pelo meu corpo e quase pulei no banco, percebendo que havia começado a adormecer com a música. Bocejei novamente, tentando despertar mais uma vez, no entanto, foi em vão. Logo meus pensamentos eram embalados pela melodia doce e meus olhos se fecharam, caindo em um sono profundo. 



(...)

 

O primeiro indício de que algo não estava certo, foi que acordei sentada. Meus olhos estavam vendados, meus braços amarrados a algo duro e frio — talvez uma cadeira de ferro —  e o cheiro de álcool no ar tomava conta dos meus sentidos. Apurei meus ouvidos, tentando entender os ruídos, mas não havia nada que pudesse me ajudar. 

Continuei a fingir que dormia com a cabeça pendendo, tentando pensar em um plano. 

— Acho que ela ainda está dormindo. — uma voz masculina murmurou, estranhamente familiar. 

— Talvez eu tenha exagerado. Ainda estou tentando controlar meu poder. — Uma voz feminina respondeu e, desta vez, reconheci o timbre de Alexia. Aquela raiozinho de sol havia me apagado! — Mas acho que se jogarmos um copo de água na cara dela, ela acorda. Posso?

— Não, acho que depois ela nos mataria com a mesma água.— A voz masculina replicou.

— Achei que Percy era quem controlava a água. 

— Sim, mas Thalia acharia um jeito de nos matar. — O rapaz respondeu e dessa vez não tive dúvida de que se tratava de Will Solace. E, a julgar pela presença dos dois filhos de Apolo, o cheiro forte de álcool e água sanitária e os objetos de metais, era fácil prever que estávamos na enfermaria. Ou em uma sala preparada para tortura e/ou assassinato, mas era mais provável a primeira opção. 

Agora, o que eles queriam, era que me preocupava. Escutei os passos se aproximando e Will parou próximo, perguntando: — Ei, Thalia, está acordada?

Suspirei e ergui a cabeça, conseguindo ver apenas alguns flashes de luz que transpassaram a venda fraca nos meus olhos. 

— O que vocês querem? — Questionei, antes que de fato tentassem me acordar com água.

— Apenas fazer algumas perguntas. — Alexia respondeu, também se aproximando de uma forma ameaçadora. — Se você responder certinho, ninguém aqui vai te machucar.

Talvez para soar ameaçadora — e falhando miseravelmente — ouvi um estalo próximo, couro batendo contra o piso, então só podia imaginar que Alexia estalava um chicote no chão.

— Quais perguntas? — Perguntei, ignorando completamente a ameaça. 

Eles ficaram em silêncio por alguns instantes, antes de Will se pronunciar.

— Qual é a natureza da sua relação com Nico di Ângelo?

— O que? — questionei, estranhando a pergunta. Aquele era um interrogatório sobre Nico?

— Qual é a natureza da sua relação com Nico di Ângelo? — Will repetiu, sua doce voz forçada para parecer ameaçadora. 

— Eu não sei. — respondi, tentando achar um termo adequado, mas todos pareciam soar estranhos. Somos cúmplices? Vítimas de um plano cruel dos deuses? Dois condenados? Aparecem essas opções de relacionamento do facebook? Realmente não sei o que responder.

— Como não sabe? — Alexia questionou, chutando minha cadeira em seguida. — Responda direito!

— Eu não sei. — repeti, suspirando cansada. — Nós somos amigos, eu acho. 

— Amigos que se agarram na frente do acampamento todo?! Também quero ser amiga de vocês assim!

— Alexia, menos! — Will ordenou, fazendo a irmã dar um grito histérico.

— Você acabou de revelar minha identidade!

Revirei os olhos, cansada dos joguinhos.

— Eu já sabia que era você, Alexia. Assim como sei que é o Will que está ao seu lado. 

Eles ficaram alguns segundos em silêncio, antes de Will suspirar. 

— Alexia, solte ela. 

A filha de Apolo xingou protestando, mas seus passos ecoaram e ela tirou a venda com brutalidade, me dando língua e se afastando.  

Como eu havia deduzido, estávamos na enfermaria. Grossos lençóis brancos se estendiam ao nosso redor, fechando-nos em um cubículo pequeno, com apenas três cadeiras — incluindo a que eu estava sentada — e uma mesa de metal no canto da sala, com algo volumoso em cima coberto com um lençol branco. 

— Você não tem a menor graça. — o loiro replicou, sentado em uma das cadeiras com a perna cruzada e um leãozinho de pelúcia em seu colo, destoante do avental branco de médico aberto e a bermuda florida alaranjada amostra. 

— Não vão me soltar? — suspirei, cansada dos amigos loucos de Nico.

— Não, ainda temos algumas perguntas para você. — Alexia replicou, sentando em outra cadeira, ao lado do irmão e cruzando os braços com um bico. Ela ainda estava toda de preto, os cabelos amarrados em um rabo de cavalo alto e um chicote enrolado na mão. — Agora responda a nossa pergunta.

— Olha, eu e Nico não demos um nome ainda. — repliquei, cansada. — Mas vocês podem dizer que somos namorados ou somos paqueras, sei lá. Não sei que nome vocês dão hoje em dia. Estamos nos conhecendo.

— Paquera?! — Alexia fez uma careta. — Meu deus, isso é tão cringe! Em que década você nasceu, garota?!

Revirei os olhos, não me dando ao trabalho de responder. Will me observava com os olhos semicerrados e uma mão no queixo, parecendo pensar na minha resposta.

— Alexia, vamos manter o foco. — O loiro replicou, tomando o controle da situação. Mas, por algum motivo, ele acariciava a cabeça do leão de pelúcia, então era difícil levá-lo a sério. — Já que você não sabe do presente, vamos falar do passado: quando você e Nico começaram a ficar juntos?

— Isso é uma entrevista sobre o Nico?! — questionei, irritada com as perguntas. Vale quando eu tostei ele por me beijar?! — Vão colocar em uma revistinha para o fã clube dele ler?

— Responda ou você vai ver! — Aléxia replicou, brandindo o chicote novamente. 

— Olha, vocês são amigos do Nico, não meus.  Quem tem que responder o que aconteceu é ele, não eu. Eu não tenho nada contra vocês e nem a favor. Agora, podem me soltar e me deixar em paz?

Will ficou em silêncio alguns segundos, acariciando a cabeça do leão com a expressão fechada.

— Agora você vem a minha casa — Will começou. — Beija meu melhor amigo, mas não faz com respeito, não oferece amizade. Você nem mesmo pensa em me chamar pra padrinho. Ao invés disso, você se recusa a responder nossas simples perguntas. 

Revirei os olhos com o drama, me forçando a suspirar. Ok, vou tentar ser legal com os amigos loucos de Nico. Mas só dessa vez. 

— Estou apenas falando que quem tem que responder essas perguntas é o Nico, não eu.

— Então responda-me mais uma, senhorita Pinha. Uma que apenas você pode nos responder—  Will pediu, com uma expressão séria.

— Fale. 

— Quais são suas intenções com Nico? —  ele perguntou vagarosamente e eu tive que me concentrar muito para não xingá-lo. 

— Casar e ter um bilhão de pipopinhazinhas. — repliquei sarcástica. — E quais são as intenções dele comigo? Alguém perguntou?! Não né?! Parece até que eu seduzi uma criança!

— Nico é nosso neném! — Alexia choramingou, fazendo uma expressão que deveria ser de brava. — Nós temos que protegê-lo!

— Pelos deuses, ele não é mais uma criança!  Deixa ele tomar as próprias decisões sozinho!

— Mas nós deixamos! — Will respondeu em um muxoxo. — Aí ele escolheu você e tudo desandou! Precisamos pelo menos saber se você é digna.

— Se eu sou digna?! — perguntei incrédula. 

— Alexia, traga os nossos utensílios. — Will ordenou, me ignorando. — Vamos começar o teste! 

Dessa vez nem me dei ao trabalho de questionar qual teste. Alexia se levantou da cadeira e saltitou até a mesa, retirando o lençol e exibindo uma caixa branca fechada e uma bacia de alumínio, cujo conteúdo não dava para ver. 

Will se aproximou de mim e soltou os meus pulsos, ameaçando:

— Não tente qualquer gracinha. — ordenou com os olhos semicerrados e um bico, mas era difícil levá-lo a sério porque ele parecia muito fofo. 

Revirei os olhos e ele voltou para sua cadeira, enquanto Alexia se aproximava com a bacia, sua expressão séria e temerosa ao colocar no meu colo, em um suspense que eu pude imaginar que era mil coisas com exceção de…

— Pipoca? — perguntei surpresa, vendo as nuvenzinhas brancas e felpudas na bacia. — Isto é pipoca?!

Encarei os filhos de Apolo surpresa, mas nenhum deles se pronunciou. 

— O que devo fazer com isso? Comer? 

Mais uma vez eles ficaram em silêncio, me analisando com os olhos semicerrados. Sem fazer ideia do que eles queriam, lentamente levei minhas mãos até a bacia, pegando uma única pipoca, olhando para a cara inexpressiva deles.  

Com a mesma lentidão, levei a pipoca até os lábios, observando os olhos de Alexia arregalarem conforme eu colocava na boca, uma expressão de puro susto e medo ao me ver mastigar as delicias macias e crocantes. 

Será que eles haviam envenenado as pipocas?! Tarde demais para pensar sobre isso!

— Sua monstra! — Alexia gritou, ao me ver pegar mais três pipocas e colocar na boca. Tenho que admitir que estavam saborosas. — Como você pode?!

— Comer pipoca?! — retruquei, pegando um punhado na mão. — Olha, é bem fácil: Você pega, coloca na boca e come!

E para demonstrar, fiz exatamente isso, fazendo questão de mastigar de boca aberta.

— Só faltou uma coca-cola!

—  Sua hárpia perigueta! — Alexia xingou, levantando-se exasperada. — Will, ela comeu o Nico!

— Nico? — perguntei, fazendo uma careta ao olhar para a pipoca. — Transformaram ele em milho de novo?! E me deixaram comer ele?! Eco! 

Cuspi no chão, virando a bacia junto, sem querer.

— Ela agora jogou o Nico fora! — Alexia continuou, chorosa para Will,que continuava apenas sentado, me observando com o queixo na mão. 

— Alguém pode me dizer se esse é realmente o Nico ou não? — ergui a sobrancelha, olhando para as pipoquinhas no chão. Eu que não vou casar com pipoca!

— Não, não é o Nico. — Will replicou, depois de infinitos minutos com Alexia chorando e me xingando. 

— Se fosse o Nico você teria matado ele assim! — Alexia continuou, fazendo um bico choroso. Gente, havia lágrimas reais no choro dela! Essa menina é muito estranha! — Sua canibal!

— Se fosse o Nico, ele já teria morrido só de passar de milho para pipoca. Então, bem menos, sua surtada. — reclamei, fazendo uma careta e a filha de Apolo me respondeu me dando língua 

— Você falhou no primeiro teste, Thalia. — Will decretou, me deixando mais confusa ainda. O que eu deveria fazer? Agradecer e recusar as pipocas porque podem ser meu futuro marido?! Como eu ia adivinhar?! — Alexia, vamos para o segundo teste. 

Com sua teatralidade, Alexia se levantou com leveza e caminhou até a mesa, pegando a segunda vasilha de metal, caminhando até mim.

Dessa vez, antes que pudesse se aproximar, o cheiro extremamente doce me atingiu, me dando ânsia de vômito. 

— Isso é pinha? — fiz careta quando a filha de Apolo quase jogou a bacia no meu colo, a fruta cortada em pedaços exalando o aroma forte. — Vocês não querem que eu coma isso né? 

Tal como no primeiro teste ilógico, os dois ficaram sentados, me encarando em silêncio.

— Nem morta que eu como isso! — declarei, colocando a bacia no chão e a empurrando em seguida, para bem longe de mim. 

— Ah, mas se fosse o Nico você comia, né?! — Alexia replicou com o semblante furioso. 

— Pelos deuses, Alexia, o Nico não é uma pipoca! — falei o óbvio, mas a garota me ignorou. 

— Interessante. — Will falou com uma expressão filosófica, me avaliando. — Esses dois testes falam muito sobre você.

— O que?! Que eu gosto de pipoca, mas não de pinha?! Isso não faz sentido nenhum! — Exclamei, desfazendo nós que prendiam meus tornozelos e me libertando. — Vocês não fazem sentido nenhum! Bando de loucos!

Exclamei, já saindo, mas Will me gritou.

— Thalia, espere! — O filho de Apolo pediu, me fazendo virar ainda mais irritada, até vê-lo com uma carinha de cachorro pidão. — Só queríamos proteger o Nico. Podemos conversar? Dessa vez é sério.

Já ia retrucar que não, quando Alexia intercedeu. 

— Juro pelo Estige que dessa vez não vamos fazer nenhuma pegadinha e nem vou chorar. — Ela ergueu a mão, como uma escoteira. — Conversa com o Will, por favor. Vou deixá-los a sós. 

E, como prova, a menina se retirou, saindo pelos lençóis atrás da mesa. Suspirei e resolvi voltar, cruzando os braços ao sentar na cadeira. 

— Diga. — ordenei, ainda sem saber se ele estava brincando ou não.

— Nico sempre foi muito fechado, Thalia. — Will declarou o óbvio, me fitando com uma expressão triste e preocupada. — Ele sempre foi de evitar as pessoas, confiava em pouquíssimas e sempre tive medo dele desaparecer de uma hora para outra, como aconteceu outras vezes. E, agora, ver ele se abrir assim pra você, tão rápido, quando há poucos dias vocês pareciam se odiar… 

Ele fez uma pausa, deixando as palavras no ar, as quais completei.

— Você tem medo de que eu machuque ele. 

Will assentiu com a cabeça, olhando para baixo por alguns segundos.

— Nico tem dificuldade em lidar com as emoções. Eu temo que, se ele se magoar novamente, ele não resista. Que ele fuja de novo, mas dessa vez para sempre. Eu tenho muito medo, Thalia.

O filho de Apolo ergueu a cabeça novamente, os olhos azuis marejados. Aquilo era de partir o coração, os deuses estavam machucando nós três de uma forma cruel que não fazia sentido. 

— Will, eu sinto muito… — Sussurrei, sem saber o que dizer ao certo. — Isso entre eu e o Nico… Nenhum de nós planejou, nenhum de nós estava preparado, fugiu do nosso controle. Eu não posso prometer que Nico não vai se machucar porque eu não sei o futuro, mas eu posso dizer que estou fazendo o possível para que todos nós fiquemos bem. Eu juro que estou fazendo o meu melhor.

Will ficou calado alguns segundos absorvendo as palavras, pensativo de cabeça baixa e aproveitei a deixa:

— Mas tem alguém machucando muito o Nico nos últimos dias, Will. E esse alguém é você.

— Como assim? — Ele ergueu a cabeça, confuso.

— Quando foi a última vez que vocês conversaram? — Questionei. — Última vez que passaram um tempo juntos? Que se divertiram? Eu ouvi que vocês são melhores amigos, mas eu mal vi vocês juntos desde que cheguei, principalmente nos últimos dias. Você acha que ele não sente sua falta? Que ele também não está assustado com tudo isso que está acontecendo? Você se afastar só torna tudo pior.

Will fez uma careta, seus olhos azuis lacrimejando ainda mais. 

— Eu sei que você gosta dele e se preocupa, mas Nico não sabe. Ele acha que fez algo de errado e que você está com raiva. Se você se preocupa tanto assim com ele, não deveria cuidar dele? Em vez de querer me julgar pra ver se eu posso ficar ao lado dele, não deveria você estar ao lado dele também?

Will continuou calado, absorvendo as palavras. Pela milésima vez, suspirei e me levantei da cadeira, pronta para sair em silêncio e ter um pouco de paz no meu dia. No entanto, dei apenas três passos antes de Will me chamar novamente.

— Você tem razão. — Will declarou, me fazendo virar e fita-lo. Ele estava em pé, com a cabeça erguida, mas ainda mantinha uma expressão de tristeza. — Eu me afastei de Nico nos últimos dias, eu fiquei tão preocupado e confuso que esqueci o principal: cuidar dele. Sinto muito pelo o que aconteceu aqui. Acho que, no final das contas, o que vale é isso: você se preocupa e quer cuidar dele, isso é o que importa. 

— Então eu passei nos elaborados testes dos filhos de Apolos maníacos por Nico? — perguntei, tentando quebrar o gelo. Mas, secretamente, lembrando das palavras de Ártemis sobre Apolo não ter nada na cabeça, o que, aparentemente, havia sido repassado aos filhos.

— Passou por hora. — Will avisou com um sorriso. — Mas se você machucá-lo…

— Deixa eu adivinhar, vai me matar?

— Não, farei com que passe o resto da vida rimando cada frase que disser. Isso você sabe que eu posso fazer. 

Assenti, rindo.

— E se você quem machucá-lo de novo? Posso jogar um raio na sua cabeça?

—  Calma aí, você chegou agora. — Will brincou, erguendo as mãos se rendendo. —  A prioridade é de Jason. 

Não pude deixar de sorrir, entendo um pouco o lado de Will. 

— Estou liberada agora? — questionei, querendo dar um fim aquilo também e ficar bem longe dos filhos de Apolo por um tempo.

— Ainda não, Alexia precisa falar com você. — Will respondeu, passando por mim. — Dessa vez são ordens do Quíron, então escute direitinho e não fuja, ok?

Antes que eu pudesse correr, Will passou pelos lençóis brancos e Alexia entrou em seu lugar, um sorriso perigoso em seus lábios.

— Você ouviu Will, senhorita caçadora, nada de fugir. — Ela cantarolou passando por mim e indo em direção a mesa, onde a caixa branca ainda a esperava. — Temos um assunto muito sério para conversar.

—  Primeiro que eu não sou mais caçadora. — retruquei, fechando a cara. — E depois, sobre o que temos que conversar? 

Alexia sorriu, abrindo a caixa e retirando dois objetos, um em cada mão. Ela estendeu as mãos em minha direção, exibindo na mão esquerda um banana grande e, na direita, um pacotinho colorido e laminado. Se aquilo já não era um sinal claro para fugir, o sorriso de Alexia se alargou e ela proferiu as palavras que deixaram tudo pior:

— Sobre sexo.


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Notas finais do capítulo

E aí pessoinhas?
Gostaram?
Alerta de spoiler: Infelizmente não veremos a conversa da Thalia e da Alexia. Maaaaas, veremos uma similar com outros dois personagens, sobre o mesmo tema. Afinal, semideuses também precisam aprender sobre educação sexual, certo? Apostas sobre quem participará dessa conversa?!

Na história, os personagens estão se aproximando de primeira julho, vulgo, aniversário do nosso Superman Loiro. Qual o melhor presente para dar pro nosso segundo Grace favorito?!

Ademais, espero que tenham gostado.
Obrigada por todo o carinho e pelos comentários. Eu amo e não abandonei vocês!



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