Eu, Meu Noivo & Seu Crush — Thalico escrita por Helly Nivoeh


Capítulo 40
Há energia quando você me abraça, me toca. É tão poderosa.


Notas iniciais do capítulo

Recapitulando:

Thalia está no acampamento a duas semanas;
Nesse tempo Nico morreu. E depois reviveu, claro.
Ele tem um ou outro trauma, como tempestades.
Ah, Thalia e Nico até concordaram em se casar, mas querendo o divórcio logo depois.
Pra isso, precisam parecer um casal de verdade, mas são um desastre: por um beijo Thalia já mordeu a língua de Nico. Ela realmente acha beijos nojentos.
Eles combinaram de se beijar em público quando vencessem o caça a bandeira, mas perderam.
Para desestressar, decidiram fazer uma luta amigável no anfiteatro, no entanto, uma plateia juntou e Nico achou que seria o melhor para beijar Thalia de novo.
Mas é claro que foi de surpresa.
E é nesse momento que estamos: Nico vai ou não virar pipoca de novo?

Observação: Se isso fosse uma novela ou filme, eu com certeza colocaria Powerfull (música de Major Lazer com feat de feat. Ellie Goulding & Tarrus Riley) como plano de fundo. Que tal ouvi-la enquanto lê?

Ademais, boa leitura!



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Ok, talvez eu estivesse brincando um pouquinho com as inúmeras possibilidades de morrer de forma dolorosa. Ao beijar Thalia de surpresa — novamente — eu sabia que a chance dela me matar seria alta. No entanto, ainda assim tentei: era a melhor forma de mostrar para todo o acampamento que estávamos juntos, a chance ideal de começar o plano maluco.

Felizmente a filha de Zeus entendeu e, quando nossos lábios se tocaram, ela entreabriu os seus, permitindo que eu a beijasse de verdade.

Senti a energia fluir entre nós, minha pulsação acelerando e meu corpo se arrepiando. Apertei levemente o corpo de Thalia contra o meu e, temeroso, deixei que minha língua deslizasse por entre os lábios dela, com medo de assustá-la. Com a mesma delicadeza, Thalia retribuiu o beijo, sua língua tocando a minha com curiosidade, seus dedos deslizando pela minha nuca provocando ainda mais arrepios pelo meu corpo. 

Aquela era uma sensação… diferente.

Lentamente fui finalizando o beijo, mas mantendo a proximidade, meus lábios ainda a centímetros dos de Thalia enquanto eu abria os olhos e encontrava as irises azuis concentradas na minha boca. Seu rosto tinha um tom rubro, seus lábios estavam entreabertos e os fios negros escapam do rabo-de-cavalo numa completa bagunça pelo seu rosto, mas ainda assim ela parecia até… bonita.

Entretanto, nem tive muito tempo para pensar sobre. Ouvi um barulho alto, o inigualável som de um trovão retumbante por todo o acampamento. Olhei para o lado assustado, encontrando o céu cinzento nos cobrindo, relâmpagos brilhando entre as nuvens, criando o pânico no meu peito, uma massa pesada e negra que se expandia pelo meu corpo, trazendo calafrios gélidos. 

Senti o leve toque de Thalia no meu queixo. Gentilmente ela guiou meu rosto para olhá-la, desviando minha atenção para si.

— Calma, é apenas Jason fazendo um show. — sussurrou baixo, afagando meu queixo. Engoli em seco, tentando confiar em suas palavras. — Você está seguro, lembra-se?

 Assenti com a cabeça levemente e Thalia se aproximou ainda mais suave, como se estivesse com medo de me assustar. Seus dedos passearam do meu queixo para minha nuca e não pude deixar de olhar para seus lábios, tão próximos dos meus que roçavam um no outro. 

— Você está seguro. — Ela repetiu baixo, contudo,dessa vez nem esperava resposta. Seus lábios tocaram os meus e foi como se uma descarga ainda maior passasse pelo meu corpo, a energia tão forte que eu nem pensava em mais nada, apenas em que nunca havia me sentido daquela forma.

Foi a minha vez de retribuir o beijo, entorpecido pela energia, pela conexão. Meus lábios provocavam os seus, aprofundando o beijo, meus braços a puxavam, aumentando o contato e Thalia me apertava contra mim, também inebriada pelas sensações. 

Era difícil saber se eu devia prestar atenção no que eu estava fazendo, no que Thalia estava fazendo ou em todas essas sensações.

Eu sentia a energia que nos atravessava cada vez mais forte, a eletricidade nos percorrendo e se transformando em raios que caiam por todo o acampamento, Thalia ajudando o irmão a criar uma tempestade digna de Zeus.

E, quanto mais aprofundamos o beijo, mais energia se criava, me deixando mais forte a cada segundo, como se o fato de Thalia usar a energia apenas fosse um canalizador para mais energia.

Aquilo me motivou.

Me concentrei no solo abaixo de nossos pés, na terra fofa que dava estabilidade ao acampamento meio-sangue, um solo abundante em minerais que faziam crescer deliciosos morangos de forma mágica. Eu não era ligado à terra, mas isso não mudava os fatos de que aqueles eram os domínios do meu pai e, portanto, uma herança que eu poderia reclamar.

Pensei na energia entre eu e Thalia, na forma como as descargas elétricas pareciam atrair os raios. Imaginei-as infiltrando pelo solo, provocando a terra, enchendo-a de energias e vibrações. Senti um pulsar, o campo reagindo a energia como um coração, enviando uma onda que se projetava em direção ao solo, fazendo-a vibrar como se fosse um terremoto. 

Ouvi os gritos exasperados antes de sentir o leve tremor. Abri os olhos minimamente para ver o cenário: à nossa volta, o céu estava completamente cinzento, com relâmpagos estalando muito perto, o vento forte se tornando quase um tornado e o solo formando uma massa negra a nossa volta, repleto de sombras e plantas mortas movendo-se com o terremoto. E, no centro do pequeno apocalipse, eu e a tenente das caçadoras de Ártemis nos beijávamos. 

— Hora do grande final. — Thalia sussurrou, ainda com os lábios contra os meus. — No três, nos tire daqui. 

Senti uma leve batida imperceptível de seu dedo na minha nuca, anunciando o “um”. Apertei-a mais contra meu corpo e invoquei as sombras para mais perto, sentindo-as moverem-se no solo ao nosso redor, atraídas pela energia. “Dois”. O dedo de Thalia bateu novamente e foquei em fazer as sombras erguerem-se ainda à nossa volta, criando um pequeno tornado de dois metros de altura, tampando-nos quase completamente.

Na terceira batida, as sombras nos puxaram em direção ao solo, no exato momento em que Thalia invocava um raio sobre nós em um timing perfeito. 

 

 

As sombras nos levaram diretamente para o chalé de Poseidon. Thalia ainda mantinha seus braços à minha volta e sua boca na minha quando nossos pés se firmavam no chão. Lentamente ela abriu os olhos e, como se levasse um choque, me empurrou para trás, se afastando como se eu fosse uma assombração. Sim, achei ofensivo, mas nem tive tempo de reclamar.

Cambaleei para trás, encostando em uma das paredes, subitamente tonto, como se toda a minha energia tivesse sido drenada. Engoli em seco e fechei os olhos por um segundo, sentindo meu coração acelerado.

— Nico! Nico! — Ouvi a voz de Thalia bem perto e senti suas mãos sacudindo meus ombros. Abri os olhos transtornado, tentando entender porque ela me balançava. — Você está bem? Achei que tinha desmaiado!

— Estou bem, só fiquei tonto. — retruquei, percebendo como a filha de Zeus me encarava trêmula e próxima. Eu deveria perguntar se ela estava bem, mas isso só me lembrou que estávamos com pressa. — Vem, não temos muito tempo!

Antes que ela pudesse protestar, agarrei seu pulso e corri em direção a fonte que preenchia o chalé. Confesso que já havia a utilizado para entrar em contato com Hazel, então sabia exatamente como e onde estava o que eu precisava no chalé.

— Ó deusa Íris, aceite minha oferenda. — Recitei, jogando o dracma na fonte. — Mostre-me o anfiteatro do Acampamento Meio-Sangue.

A imagem logo se formou, mostrando o céu nublado sobre o acampamento e o grupo de semideuses que se aglomeravam abaixo dele. 

— Jason está mantendo a tempestade. — Thalia disse, ajoelhada ao meu lado e também encarando a visão. 

— Vocês fizeram um belo show. — elogiei, observando lentamente a tempestade se dissipar, o redemoinho se desfazendo e mostrando que não havia mais ninguém ali.

— Nós fizemos um belo show. — Thalia corrigiu, sorrindo ao apontar para onde estávamos minutos antes. — O terremoto deu um toque diferente e nós desaparecemos num passe de mágica.

— Eu não podia te deixar com todo o trabalho difícil. — brinquei voltando, em seguida, minha atenção para a visão.

Os semideuses observavam perplexos e em silêncio o local onde Thalia e eu estávamos. O mini tornado havia se dissipado, mas a terra ainda estava negra e rachada, com plantas mortas formando um círculo ao redor, deixando nossa marca. Em um instante, os murmúrios começaram, explodindo em seguida em várias discussões e exclamações eufóricas, inteligíveis, onde cada um tentava contar sua versão da história e suas teorias.

Sorri para Thalia. Mesmo sabendo que aquele era o início de uma longa jornada de farsas, nós havíamos conseguido dar o primeiro golpe de forma sincronizada e, logo logo, estaríamos casados e, depois, divorciados e livres. Talvez nossa parceria pudesse dar certo, no final das contas.

— Acho que conseguimos. — opinei e ela assentiu com a cabeça, ainda olhando para a imagem.

— Olhe. — ela ordenou, apontando. 

Nem precisei perguntar "o que". Os murmúrios dos semideuses dissiparam-se novamente e todos olhavam curiosos para o local em que estávamos antes, onde pequenos pontos azuis começavam a brotar da terra, pequenas daphnes florescendo na terra preta.

— O que significa isso? — Thalia sussurrou, mas balancei a cabeça, também sem saber.

As últimas nuvens negras se dissiparam e o sol forte do verão tomou seu lugar, todas as plantas mortas voltaram a florescer em meio às flores, cobrindo as rachaduras na terra, como se nada tivesse acontecido.

Isso fez os semideuses voltarem a fofocar com ainda mais força, compartilhando teorias cada vez mais mirabolantes, que iam desde que éramos deuses disfarçados até a que os deuses haviam nos transformado nas tais florzinhas. Não pude deixar de rir da última teoria, lembrando do péssimo histórico que eu e Thalia tínhamos em virar plantas.

Abri a boca para compartilhar com Thalia, mas, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, algo na visão me chamou atenção. Um garoto loiro começava a se afastar em silêncio, ignorando cada um que tentava lhe falar algo. Seus ombros estavam curvados, a cabeça abaixada e não era preciso que ele fosse meu melhor amigo para saber que aquele era Will Solace e que ele estava realmente chateado.

Apertei os lábios, subitamente arrependido de não ter falado com ele antes e sem fazer ideia do que meu amigo estava sentindo naquele momento. 

 

[...]

 

— O que exatamente estamos fazendo aqui, mesmo? — Thalia olhou em volta enrugando o nariz, como se o cheiro de fritura lhe desse nojo.

— Almoçando. — Dei de ombros, dando mais uma mordida no hambúrguer. 

A filha de Zeus olhou para mim por um segundo, apenas para revirar os olhos antes de desviar o olhar novamente. Já havia se passado duas horas desde o beijo e, desde então, ela tentava não me olhar a todo custo.

— Isso eu sei, gênio. — Ela retrucou, enfiando uma batatinha na boca. — Mas por que estamos aqui?

— Foi o melhor lugar que pensei. Achei que merecíamos dar um tempo do Acampamento e, além do mais, ia ser bem mais curioso se sumíssemos o dia todo, não acha?

— Tem razão. — Thalia retrucou à contra-gosto. — Devem estar achando que nossos pais nos mataram ou algo assim. 

— Um castigo por nosso “relacionamento”. — Fiz aspas no ar e ela fez uma careta. 

— Acho que meu pai realmente faria um show daquele, se não estivéssemos justamente à mando dele.

— E meu pai não ficaria menos enfurecido. — resmunguei. — Me pergunto o que de fato levou eles a armarem tudo isso.

— Disseram que foi pelo bem dos semideuses, uma aliança entre eles. — Thalia resmungou, me fazendo revirar os olhos. Aquele argumento não me convencia de jeito nenhum. 

— E agora? Qual o próximo passo? — Perguntei, dando um gole no refrigerante, sem querer debater isso onde os deuses poderiam nos ouvir.

— Eu tenho uma ideia. — Thalia murmurou, fazendo a batata-frita dançar sobre o ketchup, os pensamentos distantes. — Mas vamos precisar passar o dia fora. A fogueira é o melhor momento. 

— É uma ideia realmente boa? — perguntei e ela assentiu com a cabeça, ainda concentrada em brincar com a comida. — Então acho que não tem problema em passar o dia à toa com você, Grace. 

— Pra você vai ser tranquilo. Tortura mesmo vai ser eu passar o dia com você!

— Ei! — briguei, mas ela já estava rindo e me mostrando a língua, como se o fato de ficar um tempo longe do Acampamento Meio-Sangue lhe tirasse um peso das costas. Algo que eu também sentia. 

 

 Nós passamos o dia como um adolescentes normais: comemos besteira, fomos ao cinema e matamos alguns monstros. 

— Ainda não acredito que você não me deixou comer pipoca! — Thalia resmungou pela milésima vez enquanto andávamos pela floresta do acampamento, o lugar vazio enquanto os campistas se preparavam para o jantar. 

— A recepcionista era uma harpia. A pipoca poderia muito bem ser de tripas de semideuses. 

— Se você realmente achasse isso, teria me deixado comer. Mas só porque é de milho… 

— Thalia, eu já vivi meus maiores terrores hoje: fiquei no meio de uma tempestade de raios, beijei uma garota e assisti uma comédia romântica. O que mais você quer de mim, mulher?! — Brinquei, fechando a cara e me fazendo de brabo. 

Thalia me olhou por alguns segundos, fazendo carinha de cachorro sem dono e um biquinho.

— Pipoca... — Ela murmurou, me fazendo revirar os olhos. 

— Você não pode comer pipoca, Thalia. — respondi solenemente. — Ou as pipopinhas já vão começar a crescer na sua barriga e teremos muito mais trabalho, não quero ter que brigar pela guarda das crianças durante o divórcio. 

Thalia me olhou por um segundo tentando ficar séria, mas já estava rindo também, tamanho o absurdo.  

— Nem podemos brincar com isso. — repliquei, pensativo. — Do que jeito que as coisas são, vão achar que você está grávida assim que anunciarmos o casamento. 

— Podem inventar o que quiser, sei que da minha barriguinha não vai nascer nenhuma criança, muito menos pipopinha. — Thalia murmurou, colocando ambas as mãos no ventre.

— Tem certeza? — perguntei, curioso. — Depois que tudo isso acabar, você não vai poder voltar para a caçada. Não quer mesmo casar, ter filhos…?

— Depois que tudo isso acabar, eu vou achar meu lar novamente. — Ela replicou com um sorriso leve. — Mas, por ora, temos que lidar com isso, não é mesmo? — Assenti com a cabeça, sem saber o que responder. — E, aliás, temos muito o que fazer. Lembra do nosso plano? Na hora da fogueira você entra sozinho e se junta a Jason, no momento certo eu vou entrar e você vai saber quando se juntar a mim. 

— Por que você não me diz logo o que você vai fazer? 

— Porque você nunca me conta os seus planos. — Thalia retrucou. — E, dessa vez, nada de me beijar de surpresa de novo, ok?! 

— Tentarei resistir aos seus encantos. — retruquei, fazendo-a revirar os olhos.

— Apenas esteja lá, Nico. E não se atrase! — ela ordenou, me dando as costas e se afastando em direção aos chalés, sem me dar nenhum “tchau”.

Eu provavelmente deveria seguir a mesma direção e ir me preparar para o fatídico momento, mas eu precisava fazer algo antes. Caminhei lentamente em direção a enfermaria, embrenhando-me pelos lugares mais escuros, esperando não ser visto. Felizmente, não havia ninguém pelo caminho e a própria enfermaria parecia deserta, com exceção de um certo filho de Apolo que eu sabia onde se escondia. 

Sem perder tempo, caminhei em direção a pequena baía que Will usava de escritório, encontrando-o em pé, de frente à uma mesa e de costas para a entrada.

— Solace. — chamei, fazendo-o virar sobressaltado.

— Quer me matar de susto? — brigou com uma carranca, algo bem incomum. 

— O que você está fazendo? — Perguntei curioso com a atitude suspeita, que piorou ainda mais quando Will ficou pálido, movendo-se para esconder o conteúdo da mesa. 

— Nada. — murmurou, erguendo a sobrancelha. — E o que você está fazendo? 

— Visitando meu amigo. — sorri, fazendo Will revirar os olhos. 

— Depois de sumir o dia todo? Que fofo. — retrucou amargo, virando as costas para mim e voltando a mexer na mesa, jogando alguns panos em cima do que quer que estivesse mexendo. Tentei focar os olhos na mesa, curioso, mas tudo o que eu consegui ver foi um graveto ensanguentado, nada diferente do normal no Acampamento. 

— Solace… — chamei, mas ele me ignorava deliberadamente, revirando a mesa. — Por favor… Will…

Ao ouvir seu nome, Will parou de mexer e ficou quieto por alguns instantes, antes de se virar tão zangando como nunca eu tinha visto.

— Uma caçadora, Nico?! Sério?! — Questionou irritado, vindo em minha direção, gesticulando muito. — De tantas coisas estúpidas que você já fez, essa ganhou o prêmio! Parabéns! Quando eu acho que você tomou um pouquinho de gosto pela vida, você me apronta uma dessas! Achei que você odiasse Thalia! 

— Eu não lembro de dizer que odeio ela. — resmunguei, olhando para baixo. — E eu não planejei isso. 

Will passou as mãos pelo rosto, exasperado e tentando se acalmar. Respirou fundo audivelmente e cruzou os braços, recostando-se à mesa, seu semblante exibindo um leve sorriso que parecia forçado. 

— Você me pegou de surpresa. — ele disse lentamente, tentando demonstrar que estava mais calmo, mas seus ombros ainda pareciam feitos de mármore. 

— Acredite, até eu estou surpreso. — Tentei brincar, mas Will não me ouviu. 

— Eu pensava que… — começou a dizer, mas parou e olhou para o chão, balançando a cabeça, como se tentasse afastar os pensamentos. 

— Pensava o que? — Perguntei, mas novamente ele ignorou o que eu disse, me olhando em seguida, com o semblante sério. 

— É realmente o que você quer, então?

Apertei os lábios, tentado a explicar que eu não tinha escolha. Contudo, eu não podia contar e o que me restava era mentir. 

— Sim. — tentei ser o mais convincente possível. — Não sei bem como vai ser, mas… 

Dei de ombros, deixando a frase sem terminar. Will forçou outro sorriso e assentiu com a cabeça, como se entendesse. 

— Então acho que só posso desejar felicidades ao casal. 

Ele até tentou alargar o sorriso, mas só o tornou mais estranho. Havia camadas de sentimentos negativos em Will, camadas suficientes para que não soasse verdadeiro.

— Obrigado, eu acho… — murmurei, balançando-me inquieto. Um silêncio pesado se instalou, algo que não acontecia há muito entre nós. Will normalmente falava pelos cotovelos. — Hum… O que você está fazendo? — Tentei puxar assunto, mas isso pareceu deixar o outro garoto ainda mais em defensiva.

— Trabalhando. — respondeu, áspero. — Coisas de médico, você sabe. 

— Eu não estou vendo ninguém machucado, então não, não sei. — retruquei, erguendo a sobrancelha. Will cruzou os braços e se remexeu, parecendo tentar esconder a mesa atrás de si. 

— Tarefas administrativas. Coisas chatas, mas importantes. — continuou, soando como uma desculpa. — E, pra ser sincero, eu preciso continuar.

— Eu te ajudo. — Me ofereci, tentando deixar de lado esse clima estranho entre nós.

— Sozinho. — Will completou, o semblante fechado. —  Quero ficar sozinho.

Engoli em seco, todo o tipo de sentimento negativo de rejeição voltando de uma vez, como eu não me sentia há anos.

— Tá. — retruquei amargo. — Entendi. 

Will fez uma careta e suspirou: — Não estou te mandando embora, Nico. Eu só preciso de um tempo para absorver tudo.  Você morreu semana passada e hoje está namorando uma caçadora, é difícil não associar uma coisa com a outra. 

Fiz uma careta, culpado e sem saber o que responder. Will não estava errado, mas não podia saber disso.

— Foi durante a caça à bandeira. Como Thalia podia ter culpa disso? — tentei argumentar e Will abaixou a cabeça, murmurando. 

— É isso que estou tentando descobrir. 

— Will, por favor, deixe isso quieto. — Supliquei, fazendo-o me fitar desconfiado.

— Por quê? Não quer saber quem te matou?

— Acho que foi só um acidente. — menti, fazendo-o erguer a sobrancelha, claramente desconfiado. — Não quero ficar pensando que há uma conspiração para me matar. 

— Se você diz. — Will sorriu amargo, ainda não acreditando. — Agora, eu preciso realmente voltar a trabalhar. E acho que você tem uma garota para beijar.

Revirei os olhos, nenhum pouco animado em beijar Thalia de novo. 

— Você quem sabe, Solace. — retruquei, já me virando para ir embora. — Até mais. 

— Se cuida, Nico. — Will se despediu, mas dava para ver que havia uma nota de preocupação na voz. Olhei por sobre o ombro, a tempo de ver Will mexendo novamente na mesa, a ponta de uma flecha visível em suas mãos. Aquilo me parecia um péssimo sinal. 



(...)

 

Conforme combinado com Thalia, fiz as sombras me levarem ao redor da fogueira, em meio aos outros campistas, sentando-me silenciosamente ao lado de Jason. Como ele não esboçou nenhum sinal de surpresa, imaginei que Thalia tivesse contado o plano, apenas Piper me olhou curiosa.

— Onde você estava? — Ela perguntou baixo, tentando não atrair tanta atenção, mas algumas pessoas me olhavam e fofocavam baixo. 

— Por aí. — retruquei sem muitas palavras, olhando ansioso a espera de Thalia. 

Eu não fazia ideia do que ela estava planejando e isso me preocupava, ainda mais porque haviam se passado umas cinco canções e nada dela aparecer.  Já estava para perguntar a Jason, quando Thalia surgiu, caminhando lentamente em direção a fogueira. 

Se haviam murmurado quando eu cheguei, a reação com a Thalia foi bem diferente. Os campistas cutucavam uns aos outros em silêncio e apontavam para a garota que, tenho que admitir, estava linda. 

Ela usava jeans, camiseta e coturno, tudo preto, mas havia algo em seu semblante e sua postura que me fazia lembrar de Afrodite, ou as estátuas de Helena de Esparta. Entre seus cabelos, a tiara prateada se destacava e os olhos azuis estavam mais elétricos do que nunca, enquanto ela caminhava resoluta até a fogueira, cujas labaredas também tomavam um tom de azul, como se respondesse a ela.

Um silêncio se instalou quando Thalia parou na frente da fogueira. Nem Quíron ousava perguntar o que ela estava fazendo quando a caçadora ergueu o olhar para o fogo, o rosto em uma expressão solene e decidida. 

— Eu, Thalia Grace, tenente das caçadoras de Ártemis... —  sua voz ressoou pelo acampamento e o fogo respondeu se erguendo mais forte e azul. — ...abdico da minha função. 

Expressões de susto foram ouvidas ao redor da fogueira, mas Thalia não se deixou abater, continuando seu discurso em uma voz clara e alta. 

— Rompo meu compromisso com a deusa Ártemis, dou adeus a companhia das caçadoras e retorno ao meio dos homens. Abdico da juventude eterna, da eternidade solteira, e volto a ser apenas uma mortal. Agradeço a Ártemis pelos anos em que fui sua serva, mas agora escolho minha própria caçada. 

Thalia tomou a tiara nas mãos, seu rosto brilhando com a luz do fogo de uma forma que ela parecia, mais do que nunca, alguém que não era uma simples mortal. E, sem qualquer sinal de fraqueza, indecisão ou tristeza, ela  atirou a tiara no fogo, fazendo-o crescer ainda mais.

Sem nenhuma palavra, ela deu as costas a fogueira e caminhou decidida entre os semideuses estupefatos. 

Eu não precisava de nenhum sinal. 

Aproximei-me silenciosamente e estendi-lhe a mão, a qual ela segurou sem sequer me olhar, os olhos fixos no caminho à frente. Sem nenhuma palavra e de mãos dadas, desaparecemos novamente nas sombras.


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Notas finais do capítulo

Eu provavelmente reescrevi esse capítulo 666 vezes antes de achar uma versão que eu gostasse.

Oi meus amores, vou nem falar que vou voltar a postar com frequência porque a Lei de Murphy sempre aparece para acabar com tudo.
Sei que andei um ano sumida, mas foi muita coisa louca. Eu até me apaixonei pelo meu melhor amigo e achei que seria como em “Solo Per Me” (não conhece? Vai lá no meu perfil agora ler!), mas eu era o Will de EMNSC mesmo xonadinha no Nico de Twenty One. Deu ruim .-.
Então, escrever romances se tornou um pesadelo porque realmente foi algo que me magoou. Mas tamo aí superando né.
Além do mais, euzinha consegui enfim terminar minha graduação (e já tô enrolada com a pós), fazer meu TCC que é um programa para ajudar escritores (logo devo disponibilizar para usuários beta), estou trabalhando a quase 70 km de casa de novo e tentando arranjar tempo pra cuidar da minha vida, mas saibam que vocês tem um lugar no meu coração S2.
Então, muuuuuuuuuito obrigada por não terem desistido!
Espero que toda essa espera tenha valido a pena.
E adoraria saber a opinião de vocês.
Eu esperava muito por essa cena do beijo deles no acampamento, porque queria algo bem intenso. Assim como queria mostrar a Thalia desistindo da caçada de uma vez por todas. Ah, e nem vou falar nas reações do Will: só eu tô de coração quebrado?????
Enfim, me contem: o que mais gostaram?
O que poderia ter sido melhor?
O que vocês querem ver nos próximos capítulos: mais momentos Thalico, Solace, envolvendo o Jason? Mais comédia, ação, drama ou romance?
Eu tenho algumas ideias de Dama do Poente para as próximas cenas engavetadas desde de 2017… acho que é hora de colocar em ação!
Enfim, desculpem o sumiço e muito obrigada por lerem!



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