Lápide escrita por Rossetti


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Se alguém ler e sentir metade da tristeza que eu senti enquanto escrevia isso, meu trabalho aqui está feito.

Me perdoem se eu tiver deixado passar algum errinho na revisão. (To nervousor)

Boa leitura!



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O cemitério estava vazio aquela madrugada. Nem mesmo os adolescentes que gostavam de circular entre os túmulos, em apostas de coragem ou por pura vontade de se sentirem rebeldes estavam presentes. Um tanto melhor para o homem que adentrou o local sorrateiramente.

Para alguém vendo de fora, poderia parecer um tipo de maluco crente de alguma Ceita estranha ou só um vagabundo qualquer, mas o que o jovem buscava era o mais comum a se fazer num cemitério: visitar o local do descanso final de um ente querido. A razão de estar ali no meio da madrugada, no entanto, era muito mais complexa.

Demorou alguns minutos para que localizasse o túmulo certo. Haviam menos flores do que ele imaginava. Pelo menos eram todas satisfatoriamente brancas, azuis e vermelhas; nada mais apropriado.

— Hey, amigo. – James Buchanan Barnes se sentou na grama e colocou a mão direita na lápide fria. Quase sem perceber, passou o indicador pela escritura do nome de seu melhor amigo, Steven Grant Rogers.

A única coisa a qual Bucky se sentia bem sobretudo é que não havia nenhuma menção ao Capitão América no túmulo, poucos sabiam que ali fora enterrado o grande protetor da liberdade americana. Bucky particularmente não tinha nada contra Steve ter sido o Capitão; pelo contrário, ninguém jamais sentiria tanto orgulho de Steve quanto Barnes sentia. O incomodo era que as pessoas se esqueciam frequentemente do homem por baixo do traje de herói.

Steve era uma pessoa, um rapaz jovem, com desejos e ideais. Porem tudo isso pareceu ter sido sugado pela existência do Capitão. Ainda mais nesse novo mundo, o futuro, onde era uma lenda, onde o rapaz não parecia se encaixar em lugar nenhum. Toda a expectativa e responsabilidades de ser uma lenda viva foram jogados para cima de Steve e ninguém questionou se ele estava preparado para isso, mental e emocionalmente. De certa forma, foi surpreendente Rogers não ter surtado em algum momento.

Agora que Bucky tinha sua total lucidez, se sentia triste e culpado todo o tempo sobre isso. Deveria ter descoberto uma forma de impedir que as coisas chegassem a esse ponto. Ele era responsável por Steve, apesar de tudo. Se pudesse, daria sua vida para que Steve tivesse ficado em casa, mesmo doente e fraco. O mais provável era que o rapaz sobrevivesse mesmo com todos os problemas (Steve era um lutador, afinal!) e conseguisse viver com sua arte, talvez ganhar um pouco de dinheiro e usar para ajudar quem precisasse. Outro caminho seria que mesmo após o Capitão acontecer, Steve sobrevivesse em seu tempo. Seria um herói de guerra e depois teria uma vida tranquila, se casaria com Peggy e teria meia dúzia de filhos, um cachorro e uma casa com um balanço no quintal. E, na pior das hipóteses, Steve poderia ter acabado congelado e depois apenas... Parado, aposentado o escudo. Podia se passar por um homem do século XXI e encontrar algo que gostasse; seria difícil e doloroso no começo, mas Bucky preferia pensar que se tivesse tentado, o amigo teria encontrado algo a que se dedicar nesse novo tempo.

Mas não, dammit, Steve tinha que ser tão teimoso e agir da forma mais maluca e autodestrutiva. E agora, estava...

Bucky fechou os olhos.

— Você nunca cansou de ser um punk, hein? – Falou baixinho, sorrindo; um sorriso vazio, que não chegava aos olhos. Se ao menos houvesse uma pessoa viva que conhecesse Bucky Barnes o suficiente, notaria facilmente que o olhar do rapaz parecia sem nenhum tipo de vida. Nem mesmo sob o domínio da Hydra sua alma esteve tão quebrada. – Eu queria falar um pouco com você, Stevie. É um assunto importante, por isso estou aqui agora. Não queria ser interrompido.

O rapaz olhou para o céu nublado. Sabia que não era racional conversar com um túmulo, mas sentia que precisava fazer aquilo. A sua lista de coisas pela qual se arrependia já era mais extensa do que podia suportar, então pelo menos, pelo menos precisava desabafar aquilo.

— Foi tudo tão... Você sabe, chegou um ponto que eu achei que ficaríamos mesmo juntos até o fim da linha. – Barnes sussurrou devagar, como se fosse apenas mais uma conversa tranquila com o amigo. – Mas eu nunca tinha pensado direito no que isso significa. E acho que você também não. – Ele olhou para a lápide. – Morrer juntos? – Deu de ombros. – Não sei no que pensamos... Não me lembro de quem foi o primeiro de nós a dizer isso. A questão é que...

Ele suspirou e sua respiração formou uma pequena nuvem de vapor na noite fria. Estava divagando; dessa forma não conseguiria terminar o que precisava dizer.

— Eu não posso morrer agora. Você sabe porque, Stevie. Eu tenho que continuar, mesmo que não valha a pena sem você. – Bucky arrancou um pequeno tufo de grama com a mão mecânica. – Porque... Você sabe, não é por mim. Tem tudo isso, esse futuro insano no qual fomos jogados, onde tudo está em desordem. Eu queria... – O soldado engoliu em seco, envergonhado. – Eu queria ir com você. E faria isso. Você sempre soube que eu acabaria... Naquele tempo, em que você estava sempre tão doente, que a guerra tomava conta do mundo inteiro, mesmo naquele tempo... Eu poderia não admitir, Steve, mas sem você eu acabaria fazendo alguma besteira qualquer. Tenho certeza que você via isso através do meu desespero.

Bucky tomou parou para tomar ar.  

— No entanto, eu estou vivo. Eu não deveria estar aqui, Stevie, mas estou. Queria acreditar que existe uma razão, como você acreditava. Por alguns dias, eu cheguei a pensar que fosse algo como destino, para que nós dois pudéssemos... Você sabe. – O soldado não sabia quais palavras escolher. Sendo rapazes nascidos no fim dos anos 10, ele e Steven nunca tinham tocado nesse tipo de assunto. Mesmo que tivessem passado a adolescência perdidos em pequenos toques falsamente acidentais e olhares subentendidos, eles sempre estiveram presos na zona entre a amizade e o algo mais, incapazes de dar um passo para frente ou para trás. A simples ideia de se afastarem, para romper a relação (que seria facilmente classificada como pervertida, caso mais alguém notasse), era dolorosa demais. Insinuar ou tentar qualquer coisa estava fora de questão. Mesmo no pouco tempo que passaram juntos no século XXI, onde tudo era diferente e liberal, não conseguiram falar sobre isso. Era como se o todo o tempo reprimindo o que queriam tivesse construído uma barreira indestrutível, um muro de vergonha e medo, entre o eram e o que as pessoas deveriam pensar que eram.

Porém, agora que Steve não estava mais ali, Bucky sentia o peso do silêncio de tantos anos. Eles deveriam ter conversado, esclarecido. Não deveriam ter fugido de si mesmos. De que importavam as consequências de serem pegos juntos? Seriam elas maiores do que a dor de nunca ter sequer tentado? “Antes tentar e se arrepender, do que nunca saber como teria sido”, é o que dizem; agora Bucky entendia completamente essa frase.

No entanto essa era a sua opinião, Barnes tinha ciência disso. Talvez Steve achasse que não valesse o risco, de qualquer forma. Afinal, foi Steve quem esteve mais próximo de conseguir um relacionamento saudável com uma bela moça e quem mais precisava manter a ficha limpa, a imagem de homem perfeito. Talvez. Bucky não sabia o que o amigo escolheria se tivesse a oportunidade e agora jamais teria como perguntar.

— Mas não teve um significado, no fim das contas. – James continuou falando, antes que acabasse cedendo ao choro. – Eu estar vivo, ter te encontrado... Apenas coincidência. – Ele deu de ombros e secou uma lágrima rudemente, com sua mão normal. – Mas eu posso fazer do presente, uma oportunidade. De me redimir pelo que já fiz. Eu sei, Steve, que você me diria agora que não foi minha culpa, assim como você sabe que eu responderia que não ter sido proposital não tira minha culpa. É, não vamos ter essa discussão de novo. E não é só isso.

Bucky parou mais uma vez, para respirar fundo e tentar manter o foco. Seu lábio inferior tremia, mas ainda não era o momento para se deixar dominar pela angustia.

— Tudo o que você fez, Steve, pelo mundo e pelas pessoas... Isso não pode morrer. Você tem sido um herói muito antes dos músculos e eu não me perdoaria se deixasse morrer tudo pelo qual você lutou e deu seu sangue e suor. Aquilo pelo que você deu a própria vida. – Mais uma pausa. Por um momento Bucky achou que não conseguiria dizer mais nenhuma palavra, mas pensar nos acontecimentos que levaram à morte do amigo o fez sentir uma onda momentânea de raiva, que lhe deu força para continuar. – Essas pessoas... Principalmente ele, Stark... Estão por aí, agindo sem pensar, causando mais danos ao mundo do que realmente o salvando. Eles precisam de alguém que os coloque na linha, um líder. E as pessoas comuns precisam de um símbolo e de alguém que garanta que tenham a liberdade que lhes é de direito. Pode ser que eu não seja digno, Steve, mas eu tenho certeza que você concordaria: O Capitão América não pode morrer. Então, amigo... Eu assumo daqui.

Devagar, Bucky Barnes se levantou e tirou o escudo circular das costas, o segurando da mesma forma que Steve faria.

— Não se preocupe, eu vou ficar bem. Sam disse que me seguiria aonde eu fosse. Soa como um stalker, mas ele é um bom amigo. – O soldado sorriu mais uma vez e, apesar das lágrimas, foi um sorriso mais caloroso do que o primeiro. – Ele quem me ajudou a roub... Pegar o escudo. Estamos escondidos, por enquanto, mas acredito que o cara que encolhe, o das flechas e a ruiva concordam conosco. A menina da magia parece estar apaixonada pelo robô, apesar de tudo, então não sei que rumo ela vai tomar. O que importa: Eles fazem isso por você Steve. E você confiou em mim, mesmo nos piores momentos. Então eu juro não decepciona-los. Não decepcionar você. Steve, a partir de hoje, eu sou o Capitão América.

Estava dito. Bucky decidiu que esse era o momento que deveria se virar e ir embora, antes que sucumbisse a uma crise de choro que levaria muitos minutos para cessar. Mesmo assim, colocou o escudo nas costas e se inclinou para perto da lápide e sussurrou.

— Então, punk, só tem mais uma coisa que preciso confessar. Eu... – E as duas palavras mais importantes ficaram presas em sua garganta, como tantas outras vezes. O soldado pôs um mão sobre a boca e fechou os olhos. Não conseguia fazer isso. Depois de tudo o que aconteceu, Bucky sequer conseguia se declarar.

Ele endireitou o corpo mais uma vez e desviou os olhos da lápide fria.

— Nos vemos no fim da linha, Steve.


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Notas finais do capítulo

[Sobre a Nat: Eu acredito que a amizade e lealdade dela pertencem ao Steve e que ela só ta no time do Tony porque deu alguma zica pra ela.
Quanto ao resto do que aconteceu na Civil War, fica como vocês preferirem imaginar que foi.Obrigada por ler, se você chegou até aqui. Um abraço enorme e...
#TEAMCAP!]

^ Eu escrevi isso antes de ver o filme e VEJAM SÓ, não estava tão errada, né.
Natasha rainha! Viva #TeamCap! Deixem comentários!