"Do I look lonely? I see the shadows on my face"

De acordo com todas as pessoas que conheço, nenhum ser humano descente é capaz de viver sozinho a vida inteira. Seres humanos precisam manter relações, sejam elas de quais níveis forem. É inconcebível que um homem de 31 anos se sinta confortável em ter passado basicamente sua vida toda sozinho.

Nunca havia parado efetivamente para pensar o impacto disso na minha vida. Sempre passei os momentos de minha vida sozinho sem as amarras que muitas pessoas colocam. Para alguns, essa liberdade é maravilhosa. E para mim também era. Mas chega um momento que ter apenas os próprios pensamentos para lidar é intediante...

Desci para a sala de estar, onde possuo um bar com uma variedade de bebidas de países os quais passei. Me servi de um gole de whiskey irlandês e me joguei na poltrona ao lado.  Estiquei o braço, peguei um pequeno controle e dei play na música, sem nem ver o que por último havia sido tocado.

"I don't look the same... Maybe I lost weight, I'm playing hooky"

Ironia ou não, todas as coisas as quais aconteceram em minha vida deixaram claro de que este não é o modo que deve-se viver. Muitos dos erros recentemente cometidos se dão por minha falta de tato em lidar com as pessoas. Por que eu tenho de ser tão inconsequente? 

"With the best of the best. Put my heart on my chest so that you can see it too..."

Depois que ela entrou em minha vida, da maneira mais louca possível, nada nunca mais foi o mesmo. Não fui atento o suficiente para perceber o que estava acontecendo, muito menos esperto o suficiente para saber interpretar e decidir: tentar ou deixar para lá?

A figura daquela mulher nunca abandonava meus pensamentos e para mim aquilo era doentio e perturbador. O pior de tudo é que para ela, eu não seria mais do que aquele amigo para todas as horas. Para mim, ela era a amiga. Mas também a companheira que mesmo que eu não conseguisse admitir, me completaria.

Virei o gole de whiskey e reclinei o corpo na poltrona, da maneira mais jogada possível. O celular vibrou e dei uma olhadinha de canto, sem muito me importar.

"I'm walking the long road, watching the sky fall. The lace in your dress tangles my neck. How do I live?"

Mensagem dela.

"The death of a bachelor, oh oh oh, letting the water fall"

Provavelmente me chamando para contar como está a situação com seu novo rolo, como está entediada ou somente jogando conversa fora. Normalmente eu correria para respondê-la, com aquela ânsia de ter a atenção dela, mesmo que não fosse da maneira que desejava.

Dessa vez decidi ignorá-la. 

Mais uma dose de whiskey. E outra. E outra.

Minha resistência era relativamente alta, mas não sou de ferro e aqueles goles de bebida estavam começando a produzir seu efeito e entorpecer meus pensamentos.

O maior problema disso é que, quando me desligava do resto do mundo, o que sobrava para mim era aquele pensamento. Meus olhos se fecharam, no intuito de clarear meus pensamentos e ter a imagem o mais clara possível de minhas fantasias pessoais. Fruto de uma imaginação pervertidamente fértil.

"Oh oh oh, seems so fitting for. Happily ever after. How could I ask for more?"

A boca que percorria meu corpo, deixando carícias que me arrepiavam. As unhas, que passavam em minhas costas deixando longas marcas vermelhas. Eu não conseguia me controlar. Meu corpo estremecia a cada toque e eu tinha que tê-la...

"I'm cutting my mind off. It feels like my heart is going to burst"

O celular começa a tocar.

Despertei frustrado com o toque irritante do telefone.

— Alô? - Cuspi as palavras de um modo ligeiramente frustrado.

— Alex... - A voz disse meio triste, baixinho.

Saltei da poltrona no momento que identifiquei a voz.

— Helena?

— Preciso de você. 

E meus pensamentos fervilharam de perguntas.