Moonlight Lover escrita por Benihime


Capítulo 8
Irmãs




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Selene

É Lennya quem abre a porta para mim quando, às três em ponto, vou à casa de Katerina para estudarmos, como é nossa rotina todas as terças-feiras.

— Oi, Selene.

Ela sorri, porém parece cansada, o que não é normal para uma mulher durona e com tanta energia como a mãe de Kat.

— Oi, Lennya. — Vejo as olheiras fundas em seu rosto pálido quando ela se aproxima para me abraçar. — As duas encrenqueiras estão incomodando você?

— Esse é o eufemismo da década. — Ela ri brevemente ao se afastar, gesticulando para que eu entre. — Aquelas duas estão acabando comigo.

— Vou tentar falar com elas.

— Duvido que a ouçam. — Lennya responde. — Mas eu agradeceria muito a tentativa, Selene querida.

Subo rapidamente. Ao chegar ao quarto de Kat, vejo a porta fechada, a primeira vez que isso acontece desde que começamos com nossa rotina de estudos. Bato, porém não há nenhuma resposta.

— A Kat não está.

Pulo de susto e me viro para olhar para Evanora, que veio silenciosamente por trás de mim. Ela está enrolada apenas em uma toalha, o que me faz corar e desviar os olhos imediatamente.

— Ah. — Digo, como uma perfeita idiota. — Ela saiu?

— É. Parece que ela queria comprar uns livros ou coisa assim. — Ela responde. — Com a minha irmã, é difícil saber.

Sua piadinha me põe à vontade, e acabo rindo mesmo sem querer.

— Engraçadinha.

— E muito mais. — Ela declara com uma piscadela. — Se quiser, te faço companhia até minha irmã chegar.

— Por que não?

Seu sorriso se alarga enquanto ela abre a porta do outro lado do corredor, revelando um quarto que imediatamente me deixa com inveja. Ela desaparece no que suponho ser um closet e emerge menos de um minuto depois.

— Como consegue se arrumar tão rápido? — Pergunto, sem conseguir deixar de admirar seu corpo escultural envolto apenas por aquele minúsculo vestido branco. — Mesmo à noite, não levo menos de quinze minutos.

— Porque você é vaidosa, e eu não.

Ela se joga na cama, apoiando-se em um braço e aninhando a cabeça na mão livre de forma a poder olhar para mim.

Katerina

Para minha surpresa, nem preciso destrancar a porta ao chegar. Estranho, pois Lennya havia me dito que não estaria em casa.

— Lennya? — Chamo, desconfiada. — Mãe?

— Aqui na sala, querida.

Vou até lá e a encontro enrodilhada como uma gata em sua poltrona favorita, lendo um livro. Ao me ouvir, ela sorri sem erguer os olhos.

— Oi, mãe.

— Oi, Kat. — Minha mãe responde. — Sua amiga Selene chegou há alguns minutos, está lá em cima com a sua irmã.

— Ah, droga! — Exclamo. — Eu esqueci!

Lennya fecha o livro com um estalo e o larga no braço da poltrona para se pôr de pé, me olhando com seriedade.

— Não seja assim tão dura, querida. — Ela diz. — Evanora ainda é sua irmã, apesar de tudo.

— Um fato que, infelizmente, não posso mudar.

Cruzo os braços ao falar. Sei que pareço uma garotinha birrenta, mas nem ligo.

— Evanora realmente mudou, sabia? — Lennya declara. — Vamos, Kat, você sequer falou com a sua irmã desde que ela voltou?

— Claro. — Rosno em resposta. — No dia em que ela chegou, quando Eva estava quase beijando Selene.

— Ora, vamos. — Minha mãe ri. — Esse problema todo é por ciúmes da sua namorada?

Meus olhos se arregalam enquanto eu a encaro, totalmente surpresa por sua pergunta.

— Como você sabe que ela é ...?

— Até parece que você não sabe o que eu sou, garota. — Lennya mais uma vez ri com gosto. — Agora vá logo lá para cima, é rude deixar uma dama esperando.

Lhe dou um beijo estalado na bochecha e depois praticamente corro escada acima. Logo vejo que a porta do quarto de Evanora está aberta, derramando uma faixa de luz amarela pelo corredor. Penso rapidamente na conversa que acabei de ter e decido seguir o conselho de minha mãe. Porém, quando me aproximo o bastante, vejo minha irmã e Selene esparramadas juntas na cama.

— E aí, como estão as coisas com a Kat? — Minha namorada pergunta.

— Nada bem. — Evanora responde melancolicamente. — Tentei conversar, mas aquela garota me odeia.

— Odeia nada. — Selene rebate. — Kat só está com raiva. Dê um tempo a ela e as coisas vão se resolver.

— Sel, já tem dois meses que eu voltei, e ela ainda nem trocou duas palavras comigo, exceto quando brigamos.

 — Ahá! — Minha garota exclama maliciosamente. — Descobri o motivo de tantas brigas, então.

— É, você me pegou. — Evanora admite. — Se é o único jeito de conseguir falar com a minha irmã, então que seja.

Saio dali tão rapidamente quanto cheguei, sem querer ouvir mais nada, e desço as escadas silenciosamente de volta para a sala. Lennya está no último degrau, parecendo esperar por mim.

— Bem, agora você sabe. — Ela declara simplesmente. 

— Foi você! — Percebo. — Você usou um feitiço da verdade.

— É isso aí, Kat. — Minha mãe sorri. — Garota esperta.

Trocamos um breve sorriso e ela me dá um pequeno empurrão, me instando a subir novamente as escadas. Dessa vez, sou propositalmente barulhenta enquanto me dirijo para meu quarto.

— Kat, é você?

— E quem mais? — Respondo. — Oi, Selene.

Ouço-a dizer algo em voz baixa para Evanora e em seguida ela vem ao meu encontro, cumprimentando-me com um beijo rápido.

— E aí — Seu tom é de provocação. — Pronta para estudar Química?

— Nem um pouco. — Eu rio. — Você sabe que eu odeio Química.

— Ah, pare de reclamar. — Ela me dá um tapinha bem humorado na bochecha, do jeito que sabe que eu odeio. — Se não tentar, nunca vai aprender.

— Está bem, sua chata. — Eu pego sua mão enquanto a levo para dentro de meu quarto. — Vamos logo, antes que eu mude de ideia.

Deixo a porta aberta enquanto entramos, nos jogando em minha cama. Depois de alguma enrolação ( de minha parte, é claro), começamos a revisar a matéria. Nem cinco minutos se passam e já sei que isso não vai dar certo, pois minha mente teima em viajar para outro lugar, lembrando como as coisas costumavam ser.

Acordei aos gritos, apavorada com o pesadelo que voltara para me assombrar. De repente, a porta de meu quarto se abriu com um rangido. Soltei um gritinho de susto, mas relaxei assim que percebi que era apenas Evanora.

— O pesadelo de novo?

Apenas fiz que sim em resposta enquanto ela se deitava ao meu lado, me abraçando apertado. Um de seus braços envolve minha cintura enquanto sua cabeça descansa no alto da minha.

— Volta a dormir, irmãzinha. — Eva sussurrou. — Eu fico aqui. Não vou sair do seu lado até de manhã, eu juro.

Selene chama meu nome numa repreensão, fechando com um estalo seco o enorme livro de Química que tem nas mãos.

— Me desculpe mesmo, Selene. — Eu digo. — Estou meio ... Distraída, eu acho.

— Percebi. — Ela sorri com indulgência. — Quer que eu volte amanhã?

Por mais que sua proposta seja tentadora, meu orgulho jamais me permitiria aceitá-la. Selene, porém, ri de minha negativa, percebendo sem dificuldades o quanto é falsa.

— Selene, eu ...

— Está tudo bem. — Ela bagunça meus cabelos com a mão livre enquanto recolhe os livros, canetas e papéis espalhados por minha cama. — Me liga amanhã e combinamos uma hora, ok?

— Tudo bem. — Eu afinal me permito ceder. — Obrigada, Selene. De verdade.

— Disponha. — Selene sorri e se inclina para me dar um selinho. — Afinal, namoradas são para isso.

— Isso me fez lembrar de uma coisa. — Eu digo, me virando de novo para continuar a olhá-la depois que ela se afasta. — Nós nunca oficializamos.

— Tem razão. — A morena concorda. — Mas podemos dar um jeito nisso quando você quiser. 

— Amanhã. — Declaro, tomado por uma súbita coragem. — Podemos estudar na sua casa, para variar, e aí contamos.

— Mas e a sua família? Não devemos contar a elas também?

— Ah, pode acreditar, as duas já sabem. — Respondo. — Eva é uma intrometida, já deve ter descoberto. E Lennya ... Bem, é impossível guardar segredos dela. Ela sempre descobre tudo.

— Isso é impossível! — Os olhos verdes de Selene se arregalam num misto de espanto e curiosidade. — Como ela consegue?

— Ela simplesmente sabe. —Dou de ombros. — Vai por mim, é assustador.

— Até imagino. — Minha namorada ri, sentando na cama enquanto coloca de volta seus tênis All Star, amarrando os cadarços rapidamente. — Tchau, Kat. Não esqueça de me ligar, ok?

— Pode deixar.

Ela assente e, depois de mais alguns minutos, me deixa a sós. Nem tenho vontade de me levantar, apenas fico ali, encarando o céu cinzento pela janela.

Horas mais tarde, encaro os ponteiros do relógio antigo no console da lareira. São cinco e meia da manhã, e Evanora ainda não chegou. Posso ouvir Lennya ressonando de leve em seu quarto, tão profundo é o silêncio.

Ainda bem. Penso. Pelo menos assim não teremos brigas.

A porta dos fundos abre e fecha silenciosamente, me fazendo pular de susto. Momentos depois, minha irmã mais velha aparece, parando de súbito ao me ver.

— Oi, mana. — Sorrio para mostrar que esta noite não haverá briga entre nós. — Essa foi por pouco. Lennya ficou uma fera quando descobriu que você saiu. 

— Droga! Eu esperava que ela não descobrisse. 

— Relaxe, eu a Influenciei. Ela não vai se lembrar de nada quando acordar.

— O que?! — Eva exclama. — Por que fez isso por mim?

Suas sobrancelhas estão unidas em V agudo acima dos olhos, e posso ver a pequena ruga de tensão em sua testa, porém sei que ela não está zangada, apenas muito surpresa.

— Porque somos irmãs, sua idiota.

— Isso não importou nem um pouco para você desde que voltei.

— É o que você pensa, mana.

Ela não responde, mas me pega pela mão e subimos juntas para seu quarto. Eva imediatamente troca a roupa de festa por um de seus pijamas minúsculos e tira a maquiagem. Suspiro quando ela solta o cabelo, com vontade de ir até lá e correr os dedos por aquela cabeleira como fazia quando era criança.

— Obrigada por me salvar, irmãzinha. — Ela diz, jogando-se na cama. Me sento ao seu lado. — Se Lennya descobrisse ... Ela estaria na porta quando cheguei, esperando para me lançar aquele olhar e dizer "Evanora Gray". E aí eu estaria ferrada.

— É, talvez ela amaldiçoasse você. — Finjo suspirar de felicidade com a ideia. — Eu adoraria ver isso!

— Ei! Tenha algum respeito, garota, ainda sou sua irmã mais velha.

— O que só quer dizer que está mais acabada do que eu.

Eva age como uma serpente dando o bote, tanto que nem percebo suas intenções até ela me derrubar contra os travesseiros e começar a me fazer cócegas.

Minha irmã ri, mordendo o lábio de tempos em tempos para evitar fazer muito barulho. Sem querer, solto uma gargalhada, e nós duas podemos ouvir os passos de Lennya no corredor.

— Merda! — Eva exclama, ainda rindo. — Rápido, para baixo das cobertas!

Obedeço, puxando seu edredom cor de cereja até os ombros. Ela rola e se aninha ao meu lado, segundos antes de Lennya aparecer na porta.

— Meninas, que barulheira é essa?

— Nada, Lennya. — É minha irmã quem responde. — Só estávamos conversando. Desculpe se acordamos você.

Não me importo por Eva tomar a dianteira, já que ela sempre foi a melhor mentirosa. Para minha surpresa, o rosto de Lennya relaxa num largo sorriso.

— Tudo bem, eu já estava de pé. — Ela diz. — Então, vocês duas fizeram as pazes?

Minha irmã assente e eu a imito um segundo depois, esperando que Lennya não perceba meu lapso. Assim que ela sai, o sorriso de Evanora desaparece e ela se vira para mim com mil perguntas nos olhos.

— Então ... Estamos bem mesmo? — Ela pergunta baixinho.

— É, pode ser. Se você prometer que dessa vez vai ficar por mais tempo.

— Pode contar comigo, irmãzinha. — Eva responde, se inclinando para me dar um beijo estalado na bochecha.

Isso me faz rir. É bom finalmente ter minha irmã mais velha de volta.


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