Caçadora da Meia-Noite escrita por Ginger Bones


Capítulo 7
Blaze Bailey




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Um. Dois. Três. Quatro. Quatro minutos. Fico olhando os ponteiros do meu relógio de pulso praticamente a cada minuto, contando o tempo em que permanecemos escondidos entre as árvores e cada pequeno espaço escuro que um humano armado possa ficar de tocaia há alguns metros de distância da casa sombria com luzes piscantes do Blaze Bailey.
O bar do submundo estava totalmente iluminado e o letreiro parecia cintilar com as luzes refletindo no bronze. Bronze, não prata. Eles iriam se prejudicar se tocassem em prata. Espertos.
Nossos atiradores já estavam preparados e de olho em tudo. Qualquer sinal de perigo e eles tinham permissão de atirar. Era bom saber que eu não estaria sozinha dessa vez, no final das contas.
Certifico-me de que minha roupa e minha aparência estejam convincente o suficiente. Eu espero que esteja. Isso era vida ou morte, afinal.
Nós só estávamos esperando o lugar encher mais, a multidão lá dentro iria ser útil para que nos camuflássemos com mais eficiência entre todas aquelas criaturas bêbadas e parcialmente grogues. Aproveitaríamos a chance de todos estarem com as mentes nubladas demais para perceberem qualquer movimentação de Caçadores entre eles. Quando o ponteiro das horas chega às 23:45h, desço da árvore em que estava empoleirada em um pulo, parando exatamente ao lado de Adam. Ele não se assusta com a minha aparição silenciosa e repentina, apenas assente ao entender o motivo de eu ter descido. Estava na hora. Ele começa a caminhar para o bar, mas o impeço ao segurar seu braço.
— Espere.-peço baixinho.- Tenho algo para te dar.
— Um presente agora?-pergunta.- Não pode esperar para me dar mais tarde? Porque agora nós temos que...
— Não, não pode!-o interrompo tirando o colar do meu bolso e o desenrolando. Depois de desamarrar todos os nós, mostro-o ao Adam por alguns segundos antes de puxar a gola do uniforme do meu amigo, colocando eu mesma o cordão em seu pescoço, e sem nenhuma palavra o prendo deixando-o solto para cair logo abaixo de sua clavícula.
— Eu fui atrás disso naquela noite que voltei tarde na semana passada. Use isso, vai te proteger enquanto estiver no Blaze Bailey.
— Não, Saphira!-diz tentando manter o tom de voz baixo, não precisávamos de ninguém nos ouvindo aqui tão perto desse lugar. Tão perto dos nossos inimigos.
Adam leva uma das mãos ao pescoço, dando a entender que irá tirar o colar, mas eu não permito, e afasto suas mãos, segurando-as ao lado do seu corpo.
— Você precisa usá-lo.-tento convence-lo.- Consigo me defender. Não preciso de proteção.
— Eu também não.-Adam tenta argumentar. Não vou voltar atrás, preciso que ele confie em mim.
— Eu só tenho esse. Robert usou sangue de lobisomem para criar esse amuleto. Vai nos dar mais chances de nos perdemos na multidão sem levantar suspeitas.
— Por que eu estou usando isso?-pergunta levando a mão ao colar.- A ideia foi sua, seria mais justo se você usasse.
— Não foi exatamente minha.-explico lembrando do trabalho de Robert. O credito é todo dele.- Porém, você é quem está usando o disfarce de lobisomem. Não faria sentido uma élfica com o cheiro de sangue dos licantropes. Não preciso de um colar assim para me manter viva, fique com ele. É um presente.
— Tudo bem.-ele cede finalmente. Há muito tempo ele já entendeu que não adianta insistir comigo. É extremamente raro que eu mude de ideia com alguma coisa.- Obrigado.
Assinto, feliz por sua decisão ao me ouvir. Faço um gesto com a mão para que ele siga em frente, e, em silêncio, caminhamos lado a lado em direção ao bar, sabendo que tudo nessa missão pode dar errado, mas assim como em todas as outras em que já trabalhamos juntos, sei que se morrermos, será comigo e meu melhor amigo lutando contra demônios até o fim.
Sei que eu não posso pensar assim, mas não deixa de fazer parte das probabilidades. Grandes probabilidades. Ser parte da Caçada da Meia-Noite exige coragem, visto que nosso trabalho é perigoso.
O lado de dentro do bar estava lotado e barulhento, imundo e sem cuidados como qualquer bar humano, exceto pelos frequentadores.
Para quem não estava acostumado a lidar com as criaturas do submundo, esse lugar pareceria um show de horrores com os vampiro, lobisomens e os elfos, em suas versões mais grotescas, livres para assumirem sua aparência real, já que aqui todos são iguais. Até mesmo as fadas não se importam em ficar de caninos liberados, ou os metamorfos mudando seus corpos conforme uma aparência não parece ser bem recebida nos grupos de conversa entre eles. Há também algumas outras espécies de submundanos pouco comuns que circulavam pelo lugar, espécies meio demônios variadas demais para minha mente ficar prestando atenção em todas ao mesmo tempo.
Sim, era um lugar completamente diferente de tudo que eu já vira, e era muito arriscado entrar no bar sem ser convidado, exatamente como estávamos fazendo, mas para mim e para toda a classe de caçadores da meia-noite, essa era apenas mais uma noite de trabalho, nós só estávamos em um lugar que nunca tínhamos tido a necessidade de entrar antes, mas eu estudei muito nos últimos dias para garantir que tivéssemos uma chance de sobreviver e concluir a missão com sucesso.
Eu confiava na minha pesquisa, e era grata que Adam e os outros atiradores lá fora também confiassem em mim.
No fundo do bar, vejo uma figura masculina olhar em nossa direção e em seguida entrar por uma por à sua esquerda sem olhar para trás. Por tudo que já sabia sobre essas criaturas, tinha certeza de que ele era suspeito. Por seus movimentos graciosos e estatura atlética, diria que é um feérico. Essas criaturas sempre foram perigosas. Sempre se consideram superiores a todos os outros seres vivos neste e nos outros mundos, incluindo os mortais comuns. Cutuco Adam discretamente, apontando em direção a porta por onde o homem havia entrado há poucos segundos. Ele assente entendendo, dando um passo a caminho de lá. 

Eu o seguro e levanto a minha mão com a palma para cima. Espere, eu queria dizer.

 Ele contorce seu rosto formando uma expressão de confusão e o colar em seu pescoço muda de lugar com as contrações de seus músculos. Aponto mais uma vez para a porta e depois para mim e em seguida para Adam. Fique aqui e espere, eu dizia em sinais simples. 

— Fique de guarda enquanto eu vou até lá.- Havia mais em minhas palavras que eu esperava que ele pudesse entender. Não se arrisque. Um de nós será o suficiente. 

Ele concorda ao entender minha mensagem. Tinha que confiar que ele tenha compreendido o que eu não disse. 

Gira seu dedo indicador em círculos. Irei ficar de olho em todos, compreendi. 

Não respondo quando dou as costas para o meu amigo e caminho até a porta no fundo do bar ao qual a criatura entrou. Macho, não homem. É como eles gostam de se classificar. 

Depois de tantos anos de amizade e missões juntos, eu e Adam não precisávamos mais de palavras para nos entendermos. Então, apenas dou uma última olhada em sua direção e o vejo levando as mãos discretamente até sua cintura, onde, eu sabia, uma faca de caça era estrategicamente escondida por baixo das roupas. Ele se vira de costas para mim e sei que ele já assumiu seu papel de guarda por mim. Vai me deixar entrar, e mais ninguém.

 Certifico-me de que ninguém mais nos observava antes de abrir a porta, destrancada por algum motivo, talvez o fae soubesse o que eu pretendia e estava armando uma armadilha, mas não é a primeira que eu venci, então fecho a porta atrás de mim, confiante de que iria quebrar qualquer armadilha que ele tenha feito para mim. Ao menos assim não tenho dúvidas de que ele me viu segui-lo.

 O ambiente permanece em escuridão total por alguns segundos antes de uma única luz brilhar ao fundo. 

Um corredor. Isso é um corredor. Tiro meu facão da bainha e ligo a lanterna recém comprada dos novos inventores patrocinados pelos caçadores, iluminando o caminho. 

O corredor parecia ser feito de algum material semelhante a pedra, mas com um tom de brilho fraco como metal. Algum material proveniente das terras élficas ao sul da fronteira do continente, próximo ao país que chamam de Grécia, provavelmente. Sei que há um portal para a dimensão de origem dessas criaturas, mas não como ter certeza do que são feitas essas paredes sem testes, mas com certeza é algo novo, já que não me lembro de ler sobre isso nas aulas teóricas do Instituto.

Consigo quebrar um pedaço da pedra próxima a mim com o facão, lançando-a reta pelo corredor. Antes de atingir o chão, um lança-chamas a incinera até só restarem cinzas e faz o chão tremer, em seguida, linhas de laser iluminam o inicio do corredor, bem próximo de mim. Que ótimo! Um campo-minado e eu acabei de ativa-lo.

Quanto a pedra, pelo que posso ver, é bastante maleável e de fácil maneio. Talvez ela seja leve o bastante para ser trazida aqui com facilidade, e então moldada no formato desejado nesse corredor. Como um brinquedo de criança. Bom, assim que voltar para casa, vou ter mais uma tarefa de reportar esse corredor ao setor de descobertas na biblioteca do Instituto Millenium.

Por um momento, não ouso me mover. Agora que ativei essas armadilhas, teria que pensar bem antes de agir. Não adianta ficar muito tempo aqui, seria perda de tempo, e eu preciso chegar ao outro lado e descobrir o que aquele fae veio esconder aqui. E tenho que ser rápida, Adam não vai conseguir segurar todos aqueles submundanos lá fora para sempre. 

Sei que tem uma saída e preciso ir até ela. Guardo minha arma na bainha mais uma vez, prendendo-a firme em minha cintura. Observo com calma o laser por alguns minutos, cada lugar por onde ele passa que eu não posso de forma alguma tocar. Pelo menos ele não se move.

Flexiono meus braços até estalarem em um alongamento. Já sei o que fazer. Fiz um circuito semelhante durante meu treinamento tempos atrás, fui bem e acho que posso repeti-lo. É como uma aula de ginástica, não há como errar com o treino que tive.

Pegando impulso com os pés, pulo por cima do primeiro feixe,quase na altura dos meus quadris, mas com certeza o mais fácil. Com os próximos feixes entre cruzados do chão ao teto, preciso de mais habilidade. Dou uma cambalhota rápida, pulando por entre os dois primeiros de pé e esquivando-me dos próximos pelas laterais com saltos. O primeiro subindo de um do lados do chão até quase á altura dos joelhos no lado oposto da parede, mas sem deixar marcas na parede. Resistência  certos tios de calor, faço mais uma anotação mental. No segundo tenho que pular mais alto, mas o laser vermelho no teto me força a ir por baixo, com a minha altura, morreria se pulasse entre os dois. Por pouco não passo meu braço direito em um laser mais baixo, mas consigo me arrastar até o outro lado pelo chão. Quando me levanto com cuidado, limpo rapidamente um pouco de sujeira da minha roupa.

Depois, preparo-me mais uma vez para pular e desviar e chuto o que restou da pedra incinerada no ar. O lança-chamas é novamente ativado e enquanto cruza o ar entre as paredes com fogo, aproveito a oportunidade e pulo pelo meio, o único espaço seguro que consegui encontrar. 

Confirmo que não há mais nenhuma armadilha, mas quando levo a mão até a um ponto mais fundo na pedra viscosa da parede no fim do corredor, o que parecia uma parede falsa se move e revela uma porta escondida. Ninguém a abriu manualmente, acredito eu, mas não penso nisso ao entrar na sala revelada.

Não dou dois passos antes das luzes se ligarem por completo para revelar o lugar onde me encontrava e passos soarem próximos a mim. 

— Olá, Caçadora.-diz uma voz masculina atrás de mim.- Procurando por isso?

Viro-me para encarar o macho atrás de mim parcialmente coberto pelas sombras. É o mesmo feérico que tinha visto vir até aqui ouço antes de mim. Algo brilha em suas mãos compridas. Um pequeno frasco com um liquido claro refletindo a luz dentro. Parece exatamente como meu chefe o descreveu, e um pensamento sobre como Romckpay sabia tão bem o que eu devia encontrar passa pela minha cabeça, mas o afasto tão rápido quanto veio. Prioridades. 

Porém, é exatamente o que eu vim buscar.


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