Shattered escrita por Nash


Capítulo 10
There's a light, there's the sun


Notas iniciais do capítulo

Parte II oficialmente começou! ♥
Queria agradecer M U I T O pelos comentários vocês são uns fofos! :3
Chegamos no capítulo 10 e eu nem acredito! xD



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/677319/chapter/10

 

Sherlock abriu os olhos assustado.

Estava desacordado e o balde de água gelada que jogaram em cima dele o despertou repentinamente. Tossiu a água que tinha entrado pelo nariz para fora. Os olhos arderam se adaptando à iluminação do lugar estranho em que estava. Não podia ver os cantos da sala, apenas enxergava a única luz que pendia no meio do lugar e o rosto endurecido de um homem que estava vestindo um paletó grosseiro.

— Levante.

O homem lhe disse com uma voz rígida e Sherlock obedeceu, ou pelo menos tentou, já que os seus pulsos estavam amarrados e fizeram com que ficasse engatado nas costas da cadeira que estava sentado.

— Levante – o homem repetiu.

— É exatamente o que eu estou tentando fazer, amigo.— Sua voz saiu sarcástica demais naquele final e ele acabou levando um soco no rosto por isso. Mas, em seguida o sujeito folgou as cordas e o puxou com força o arrastando para fora do aposento escuro. Sentiu o nariz arder e um filete de sangue lhe escorrer até a boca. Sentia-se fraco e podia notar a pele queimando nos pulsos devido às amarras apertadas. Não sabia quando tempo tinha ficado dentro daquela sala, mas independente de quanto havia sido ele estava nervoso, sentindo o estômago revirando dentro de si, sentindo que cada passo que daria era um passo em direção a uma bala no meio da testa. Quando saiu porta afora, Sherlock pôde enxergar um corredor estreito e quase tão escuro quanto a sala em que estava antes, porém, no final havia uma escada para o andar superior, de onde emanava luz.

Lá em cima, Sherlock passou por uma sala cheia de empregados ocupados que não moveram um músculo sequer quando ele passou. Era como se fosse algo tão comum e corriqueiro que não fazia mais diferença alguma no andamento do lugar. O detetive olhou em volta tentando reconhecer alguma coisa, mas seu cérebro ainda estava atordoado da pancada forte que havia levado. Deu um grunhido surdo, então resolveu perguntar:

— Onde estamos?

A única coisa que recebeu como resposta foi um empurrão que o pegou de surpresa e quase o fez tropeçar. Foi levado através de um corredor em que viu quadros, esculturas e impressões caras espalhadas por todo lugar. As cores das paredes eram claras e limpas transparecendo um lugar alegre, mesmo que a atmosfera do lugar fosse viciada com uma sensação estranha. Uma rajada de vento frio repentina fê-lo se arrepiar, mas não se moveu para fechar a janela escancarada receando levar outro empurrão. O segurança que o guiava levou-o até uma sala aberta e espaçosa que fazia com que se lembrasse da que tinha em Baker Street. Será que ainda tinha? Parecia que já tinha se passado tanto tempo... Meses se infiltrando naquele submundo e ele de vez em quando tinha que se atar as lembranças tranquilas que tivera lá para usar de combustível para ter forças para continuar.

Uma lareira queimava em um canto e a mulher loura estava na frente do fogo observando as chamas arderem. Quando ela se virou, Sherlock percebeu que Morgan usava um vestido semelhante ao do primeiro encontro dos dois, mas enquanto aquele era de tecido grosso que a cobria por inteiro, o de agora era em tecido transparente com uma peça de tecido preto por baixo.  Mas, ainda assim, chamava atenção para área do seu colo e Sherlock prestava atenção nela, pois, mesmo enquanto coberta dava para perceber uma cicatriz enorme ali.

— Senhor Holmes – o chamado dela ressoou no aposento. – Sente-se, por favor. – Morgan estendeu a mão direita para um par de poltronas próximas ao fogo. Sherlock escolheu a mais perto de si, mas até chegar lá passou de surpresa por um espelho e o estado do seu visual desgrenhado o pegou de surpresa. Ele fazia parte do seu disfarce, mas estar daquela forma de frente a ela de algum modo o incomodava.

A mulher acomodou-se na outra poltrona e deixou a palma da mão estendida no ar por uns momentos até que o mesmo homem grisalho que Sherlock tinha visto uma vez em Bristol se aproximou e depositou um baralho na mão magra da mulher. Ela embaralhou as cartas e começou a dispô-las na mesa pequena que estava entre as duas poltronas. O Holmes resolveu entrar no jogo e pegou um punhado das cartas para si.

— Michael, eu te disse que não batesse no rosto. – Morgan disse meio sussurrante, meio ríspida. Ela nem mesmo se virou para olhar para o segurança que tinha ido ficar em um canto da sala, mas o detetive viu de canto de olho o homem estremecer.

— O que estamos apostando? – Sherlock perguntou após alguns instantes calado. Não é como se ele não soubesse, mas tinha que ouvi-la dizer. Já que estava ali, em completos maus lençóis, teria que dar um jeito para que ela falasse. Que começasse a falar até que ele conseguisse chegar em um ponto fraco dela. Se Moriarty havia tido um, ela com certeza também teria. E nem que tivesse que se sacrificar para conseguir atirar nela, ele o faria. John nunca o perdoaria por não ter se despedido propriamente, mas ele e Patricia estariam seguros se ela não estivesse viva. E era apenas a única coisa que o importava.

— Você – Morgan abriu um sorriso sarcástico. Os dentes se mostravam atrás do sorriso como uma mordida de tubarão pronto para engoli-lo. Outra vez. Os olhos cor-de-gelo dela não se dirigiam a Sherlock e continuavam presos no baralho, mas mesmo assim ele ainda podia perceber o mesmo tom doentio que tinha visto no primeiro encontro dos dois.

— E se eu ganhar? – Sherlock engoliu em seco quando ela respondeu o questionamento dele com uma gargalhada.

— Sua liberdade, senhor Holmes. Sua liberdade.

O silêncio pairou pesado entre os dois por algum tempo. Ele prestava atenção nas cartas que estavam em sua mão e ao mesmo tempo tentava deduzi-la para definir como estava o jogo nas mãos dela, mas o rosto da mulher era a mesma máscara frenética que tinha usado desde o início. Moriarty soube encarnar em outros personagens, para se disfarçar e se infiltrar em seu meio, como quando fingiu namorar Molly, mas aquela mulher nunca seria capaz disso.

— Sua propriedade é muito bonita. – Sherlock puxou um assunto qualquer.

— Obrigada. Essa aqui é especial...

— E onde estamos? Será que eu poderia ter a honra de saber? – O detetive a interrompeu, mas ela seguiu sem dar atenção.

—... Portanto, não precisa se preocupar que essa aqui não vou tentar explodir em cima de você. – Morgan buscou outra carta no monte do baralho. A mão dela pousou com força em cima da mesa fazendo um baque surdo.

— Onde estamos? – O moreno repetiu. O clima o fazia lembrar muito do norte da Escócia, como Inverness ou Nairn, e, além de tudo, conseguiu sentir um cheiro de maresia no fundo da garganta.

— Por que? Quer saber o quanto estamos perto de Manchester? É isso?

Sherlock congelou.

Podia jurar que sentiu as extremidades dos dedos frias como gelo. O estômago petrificou dentro dele causando um desconforto enorme e coração bateu tão forte que ele tinha certeza que Morgan estava ouvindo.

— Você acha, Sherlock, que uma jogada imbecil daquela me pararia? Que o instante que eu quisesse eu não os encontraria? Se quisesse mesmo escondê-los que tivesse os mandado para a América do Sul ou Oceania. Ou até mesmo a Antártida. Não Manchester.

— Você... Fez? – O moreno tinha as mãos paradas e imóveis. Nunca temeu tanto na vida escutar algo. Ali ele tinha certeza que a próxima coisa que sairia da boca dela, era que os dois estariam mortos. Pattie. E John.

— Não, eu não fiz nada com aquele pequeno pedaço de gente. – A resposta da loura o encheu de alívio. – Não que eu não pudesse. Mas, admito, estava muito divertido brincar de gato e rato com você. Se eu tivesse feito uma jogada desse tipo, estragaria toda a diversão, não é? – Ela parou e o encarou. Seus olhos cinzentos se encontraram com os de Sherlock e ele sentiu um arrepio subir pela espinha. – Vamos logo, senhor Holmes... Sua próxima jogada, por favor. Eu ainda não tenho o dia inteiro só para você.

Os seios subiam e desciam tranquilos na respiração, enquanto Sherlock tentava manter o mesmo controle. Ele voltou a si e analisou toda a cena e situação ao redor dele. Concentrou-se nas cartas que tinha na mão, nos seguranças que tinham ao redor deles dois e no rosto dela. O jogo seguiu bem, até que ele conseguiu montar a mão perfeita e jogou-a em cima da mesa.

— Olha só, vejamos... – Morgan disse enquanto parava para analisar o jogo dele. – Não foi meu dia de sorte hoje. Poderia ter ganhado um Sherlock Holmes inteirinho para mim. Uma pena.

O detetive fez que ia se levantar da poltrona, mas antes que percebesse um dos seguranças o segurou e ele sentiu uma picada na base do pescoço. Os dedos começaram a ficar duros e pesados logo em seguida e quando tentou se mexer outra vez, descobriu que não conseguia.

— Saiam daqui. – Conseguiu escutar a mulher dando uma ordem sonora, ouviu uma sequência de passos e o bater das portas. Sherlock a viu se aproximar, o cheiro forte dela invadiu suas narinas, a respiração dela foi quente de encontro com seu ouvido e ela sussurrou baixinho, tão baixo que ele mal escutou – O Jim sempre quis um pedaço de você, senhor Holmes. Antes de você ir eu vou realizar essa vontade por nós dois. Por ele. E por mim.

Ele quis gritar. E empurrá-la. Se revirar. E fazer o possível para que ela fosse para longe. Mas não conseguiu mover nada. Antes de apagar a última coisa que sentiu foi uma lambida que ia da base do pescoço até sua boca enquanto ela se acomodava em seu colo.

~

Sherlock pôs Pattie no berço e ficou observando-a por minutos a fio. Ele mal conseguia pôr o pensamento em ordem. Depois do que tinha acontecido com Morgan, depois da conversa cheia de tensão com John e, principalmente, depois que caiu a ficha de que o plano que havia montado tinha sido inútil. Aquilo o enchia de autodesprezo. Podia sentir o coração doendo. E a única coisa que conseguia pensar era em como Mycroft sempre esteve certo ao tentar lhe ensinar que os sentimentos eram só uma desvantagem. Não que John e a filha não fossem a melhor coisa da vida dele. Mas o fato de que eles importavam tanto, mas tanto, só fazia com que eles vivessem em risco devido à proximidade que Sherlock queria ter com eles.

Patricia se revirou no berço com um grunhido. Ele sorriu para si mesmo aliviado. Tinha passado tanto tempo longe dela e mal podia acreditar o quanto ela já estava enorme em comparação a última vez que a tinha visto. Ele se apoiou devagar na quina do berço e fez cafuné de leve no cabelo louro dela, o toque era macio e doce.

O moreno sentia-se perdido em relação ao próximo movimento e não sabia qual era a jogada certa a se fazer. Ele podia ignorar Morgan, ignorar os casos policias e tudo que eles envolviam. Podia tentar achar algum emprego seguro que não os pusesse em risco. Mas a sombra daquela mulher sempre existiria sobre eles. E, além de tudo, ele sabia que sempre estaria inquieto. Nunca estaria tranquilo com tal pensamento.

Todas as lembranças dos momentos que tinha passado com Patricia o invadiram em contraponto. Ele pensava em como seria bom seguir por esse caminho. Em como poderia ser reconfortante vê-la crescer sendo que ele estaria sempre lá para olhar por ela. Tudo aquilo não havia saído de sua mente nem um só instante durante todos aqueles meses em que esteve distante. As vezes que tinha pensando se valia mesmo a pena ficar longe dela tinham sido tantas que ele nem poderia enumerar. Às vezes, simplesmente achava que um dia não iria acordar porque o coração teria se partido de saudade no meio da noite com todos aqueles sentimentos.

John não entendia, era um cabeça quente, mas ele não conseguia viver em paz sabendo que aquela mulher ainda estaria por aí e poderia fazer o que quisesse com Pattie. Aquilo o deixava louco de raiva como nunca tinha se sentido antes. Nem mesmo todas as outras jogadas de Moriarty (ou Magnussen) tinham mexido com ele daquela forma. E, ao mesmo tempo, ele se sentia tão culpado por deixar-se afetar daquele jeito e prejudicar o andamento da missão, que havia posto tudo em risco e tinha falhado na infiltração. Fazendo com que todos aqueles meses perdidos tivessem sido jogados no lixo.

Mas, mesmo assim, ele sabia que amava John fazia tanto tempo (que mal se lembrava quando tinha começado) e, por isso mesmo, abdicaria dos momentos que fossem necessários para saber que ele e a filha estavam seguros. Aquele amor que tinha tanto tempo, valia qualquer sacrifício. Mesmo que isso significasse nunca mais poder vê-los. Mesmo sabendo que isso significa nunca mais aproveitar de momentos felizes com os dois. Momentos como a primeira vez que Pattie tinha andado...

“ – John, a Pattie está fazendo coisas estranhas. – Ele chamava pelo amigo. – John!!!

— O que foi, Sherlock? – A voz do médico veio alta do andar de cima. – É alguma careta nova?

— Não! Ela está se segurando na cadeira e está se balançado querendo se soltar e olhando em direção ao avião que está na sua poltrona!

Apenas o silêncio veio lá de cima. Sherlock ficou esperando uma resposta. Até que a voz do loiro veio com um tom de leve desespero na voz.

— Por Deus, Sherlock! Ela vai andar! Não posso perder isso! Segura ela aí!

O moreno sentiu a respiração ficar mais forte por causa do nervosismo que o invadiu. Soltou a caneca de chá que bebia em qualquer lugar e perguntou aflito:

— O que eu faço?!

— Faça alguma coisa!

— O quê?!

— Eu não sei! Alguma! Coisa!

A resposta era óbvia. Talvez para John, mas não era para ele. Já tinha algum tempo que Patricia era uma parte da sua vida, quase um ano, mas ele ainda se sentia errado sobre algumas ações em relação com a menina. John na maioria das vezes parecia que tinha vindo com um manual embutido em como cuidar da filha, mas ele não sabia nem de perto como era agir daquela forma. O que tinha aprendido era quando observava o médico ou então Mrs. Hudson. E ele nunca tinha presenciado antes uma tentativa de impedir a menina de começar a caminhar.

— Pare aí, mocinha! Espere por seu pai!

Mas, a menina ou não entendia, ou fingia que não escutava o que ele dizia.

— Sherlock! – John gritou mais uma vez.

— Vamos! Desça logo! A menina vai virar maratonista e você ainda não saiu desse quarto!

— Ela já começou a andar?

— Ainda não... – Mas, naquele instante, naquele mesmo segundo que as palavras saíram pela boca de Sherlock, Patricia se soltou da cadeira do computador e deu um pequeno passo. Sherlock teve que pôr a mão na boca para abafar um grito de surpresa. Ela deu mais um passo. E assim que ele ouviu John descendo nos degraus ele fez a única coisa que passou pela sua cabeça naquele momento e que evitaria que o médico ficasse triste por ter perdido a filha começando a andar. Era irracional, idiota, mas foi o que fez.

Ele empurrou Patricia. Foi apenas um toque, leve, sutil, mas a menina perdeu o controle das pernas e caiu de bunda no chão. No exato instante que John Watson entrava animado pela porta.

— O que aconteceu aqui? – O médico fez uma careta enquanto olhava a cena de Patricia sentada no chão fazendo beicinho e Sherlock com um olhar cheio de ansiedade e nervosismo.

— Ela cansou de te esperar, obviamente.

Foi a resposta que John escutou do detetive. E fez um bico. Não queria ter perdido o momento dos primeiros passos da filha.

— Não acredito nisso – Resmungou.

— Chame-a por algum tempo. Vai que com incentivo ela começa de novo. – O detetive sugeriu.

Patricia sentada no chão observava curiosamente os dois. John então se pôs de joelhos e buscou um brinquedo próximo e o sacudiu para a filha. A boneca chamou a atenção dela que começou a procurar o apoio da cadeira outra vez.

— Venha com o Daddy! – John chamou várias vezes.

Então, após algumas tentativas de se equilibrar outra vez em pé, tendo a cadeira do computador como base de apoio, Pattie se soltou e foi em direção ao pai. Pai este que riu alto. Sherlock pôde enxergar o olhar orgulhoso dele enquanto sorria para a filha e depois a pegou nos braços e deu um rodopio no ar. E aquilo, com certeza, era uma das coisas mais fofas que o Holmes já tinha apreciado.

— Parabéns, Pattie! – John a beijou na bochecha.

— Daddy! – Ela respondeu com um sorriso.

— Você viu, Sherlock?! Ela já está tão grande! Nem acredito que esse dia chegou. Mrs. Hudson vai ficar triste que perdeu isso. – Sherlock sorriu. Aproximou-se dos dois e bagunçou os cabelos dourados de Patricia.

— Parabéns, my dear. – E beijou-a no topo da testa enquanto sorria se segurando para não rir. A menina olhou para ele e sorriu.

— Pápa!

Mesmo sabendo que era irracional, ilógico e sem sentido, ele interpretou aquilo ali como um “vamos-guardar-segredo-que-daddy-não-viu-meus-primeiros-passos”. 

Sherlock viu que a filha tinha caído no sono profundo e foi em direção a cozinha para fazer algum chá. Ele não iria conseguir dormir de qualquer forma...

~

Sherlock passou pelo quarto do médico e não pode evitar de prestar atenção no barulho de farfalhar de lençóis que veio de lá de dentro. A porta estava entreaberta e ele parou por um instante sem nem mesmo perceber o que tinha feito.

Pela pequena abertura viu John olhando para o teto com um semblante perdido. Sabia que o médico tinha dito que conversaria com ele no dia seguinte, mas, como os dois estavam inquietos demais para conseguir pegar no sono, o moreno então ponderou que seria melhor ter essa conversa o mais rápido possível. Ele empurrou a porta devagar, mas o rangido chamou a atenção de John de qualquer forma.

— Sherlock... – O médico falou baixinho.

— John, eu...

— Não – O loiro disse de supetão interrompendo o outro. – Espere. Eu preciso falar uma coisa antes. Me desculpa pela discussão. Eu ando muito estressado e...

Sherlock o encarava de pé. Não sabia como iria dizer que tinha que ir o mais rápido possível. John o odiaria. Mas ele tinha que ir. Precisava fazer uma última tentativa. Mesmo que significasse perder tudo. Ele deu um menear de cabeça e então começou:

— Não. Eu entendo. Eu só queria dizer que...

— Pare – John sussurrou. – Eu não quero saber. Eu só quero ficar com você. Caramba, você não sabe como eu senti sua falta. Venha ficar comigo. É só o que eu preciso.

O Holmes que ainda continuava reto e em pé, se acomodou na cama aos poucos. Se deitou ao lado do médico com uma respiração ansiosa. John ficou de lado para encará-lo.

— Sherlock. – O voz do médico era um chiado de desespero. De sede. De fome. De Sherlock. Ele se aproximou dos lábios do moreno e então o puxou com força para próximo de si. – Eu quero ter você. Agora. – E com isso ele conseguiu sentir o moreno derretendo em suas mãos, o calor dele ao se entregar com vontade.

~

Quando acordou John viu que a cama estava vazia. O dia amanhecia pela janela. Prestou atenção na babá eletrônica e pelo visto Pattie ainda não tinha acordado. Espreguiçou-se e quando foi atrás dos chinelos para ir tomar uma ducha, um papel branco em cima do criado-mudo chamou sua atenção. Suas mãos o buscaram nervosas e trêmulas. Lá dentro a caligrafia do Holmes em uma estampa triste.

“John, eu volto assim que puder.
Por favor, não me odeie. Eu ainda tenho algo a resolver.
Volte para Baker Street e me espere por lá.
SH”

Seu instinto amassou o papel em sua mão sem que percebesse. Respirou fundo e ficou se segurando entre um rugido terrível e um choro. Alguns segundos se passaram naquela indecisão, até que ele resolveu que nada aconteceria. Entrou embaixo do chuveiro. Respirava de tal modo que machucava.

Ele voltaria para Londres. Para Baker Street. Mas, não sabia se para Sherlock. Aquilo doía dentro dele. John poderia perdoar qualquer coisa, mas não suportava aquele gesto de ser deixado de lado, quando a coisa que mais queria era estar e lutar ao lado do moreno.

Mas, ele ainda sentia o cheiro do detetive em si. Algumas lágrimas se perderam com a água do banho. Mas, logo ele passou uma das mãos no rosto, coçou os olhos e se acalmou.

Terminou o banho. Se vestiu. E foi atrás de arrumas as malas dele e da filha. Eles voltariam para Londres e seguiriam em frente. Com ou sem Sherlock Holmes.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Shattered" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.