Pois é, aqui estou eu: dentro de um avião, que estará indo para Buraza Town. Quem diria, depois de dois anos em Tóquio, eu ser selecionada para a universidade que fica em minha cidade natal? Eu não, eu esperava ser selecionada para a Universidade de Tóquio. Mas eu não estou desanimada, muito menos irritada; eu estou muito animada, na verdade. Pode sentir aquele clima de cidade pequena e ver as pétalas de cerejeira cobrindo as ruas não tem preço. 

—Caros senhores passageiros—Uma aeromoça fala no microfone, o que interrompe meu devaneio—Certifiquem-se de que seus cintos estão presos; o avião está prestes á decolar. Em caso de problemas técnicos, temos duas saídas de emergência na segmento frente, duas na troço traseira e uma à sua direita. No caso de falta de ar, máscaras de oxigênio desabarão acerca de suas cabeças. Caso precisem de nossos serviços, basta convocar e comissários de bordo lhes atenderão. Tenham uma boa viagem. 

Enquanto prendia meu cinto, pude notar alguém sentando-se ao meu lado. Quando me virei para olhar, era ninguém mais ninguém menos que Ayano Aishi, o que fez uma memória refrescar-se em minha cabeça. 

[Flashback - On] 

—Esperem!—Ayano chamou nossa atenção—Antes de queimarem, tem uma última coisa para que esta faca será útil...—Ela contou, tirando a faca da mão de Supana, que estava prestes á joga-la no incinerador.—Oka, eu sei que você tem uma queda pelo MEU senpai, então é melhor acabar com isto logo, não é mesmo?—Ela disse, em um tom irônico. 

Ayano soltou uma risada psicótica, enquanto se movia lentamente em minha direção. Não consegui pensar em nada á não ser sair correndo para qualquer lugar em que a garota não me encontrasse. Eu corri sem ao menos olhar para onde estava indo, virando minha cabeça várias vezes para ver se ela estava perto de me alcançar, isso me fez tropeçar e cair sentada. Eu olhei para Ayano, com terror nos olhos, mas, ao olhar neles, a mesma deixou a faca cair e simplesmente foi embora correndo. 

[Flashback - Off] 

Não percebi que ficamos nos encarando enquanto a memória refrescava-se em minha mente, isso me fez prestar muita atenção nela. Ela está completamente diferente do colegial, agora ela se parece com uma mulher. 

—O-olá...—Ela diz, sem conseguir me encarar. A mesma parece tímida, o que era estranho, depois de tudo o que aconteceu. 

—Olá...—Digo, e assim pude ver um sorriso tímido formando-se em seu rosto. Segundos depois, pude notar o avião levantando voo. 

—E-escuta, eu te peço desculpas pelo que eu tentei fazer aquele dia, eu era apenas uma adolescente e eu andava muito...—ela faz um pausa, parece estar pensando—confusa comigo mesma. 

—Está tudo bem, Ayano-chan, aquele dia e tudo o que aconteceu nele ficou no passado.—Falo, confiante. As coisas que aconteceram naquele dia costumavam me assombrar, mas, ao me mudar para Tóquio, consegui esquecer tudo.—Então, como você vai? 

—Ah, eu vou bem. N-não sabia que você estava morando em Tóquio também. 

—Pois é—Sorri—Estava morando com meu irmão mais velho. Estou voltando para Buraza pois fui selecionada na universidade de lá, dá pra acreditar? 

—M-mas isso é bom, não é? Eu também irei para a Universidade de Buraza!—De repente, pude notar que ela ficou mais alegre. 

—Você ainda não começou? Pois é, acho que ambas ficamos para trás.—Ri, ela riu também—Pois é, muita coisa aconteceu comigo nesse meio tempo, imagino que com você também. 

—O que tem de novo na sua vida?—Ela parecia realmente estar interessada em saber. 

—Bem, eu terminei meu curso técnico ano passado, por isso só me matriculei na universidade agora. Ah, eu estive noiva. 

—Hum...Esteve? 

—Sim, não deu certo: Nós sempre acabávamos discutindo. Depois que contei que voltaria para Buraza, tudo começou á desmoronar. Mas foi melhor para mim, eu acho...—Ficamos alguns minutos em silêncio, ela parecia não saber o que falar—Mas e você? O que tem de novo em sua vida? 

—Hum, nada demais, s-só a mesma rotina chata de sempre, exceto por eu ter me mudado para Tóquio.  

—Entendo...—Faço uma breve pausa, pensando no que falar—E como foi seu último ano na Akademi School? 

—Eu não terminei meus estudos lá, vim estudar em Tóqui assim que soube que v...—Ela para de falar do nada, e fica corada—A-ah, d-deixa pra lá—Ela gagueja, mais do que o normal, e começa a ficar muito vermelha. 

—Você está bem? Quer uma água?—Pergunto, preocupada, e já pronta para solicitar os serviços dos comissários de bordo. 

—E-eu estou bem, acho que só preciso tirar um cochilo. Estou com m-muito sono.—Ela diz, ficando cada vez mais vermelha. 

—Tudo bem, acho que vou dormir também...—Digo e me viro para a janela, pensando no motivo dela ter ficado tão nervosa. 

"Ver tudo diretamente do céu é maravilhoso, e quando o avião vai mais alto e podemos ver apenas as nuvens é mais lindo ainda. Momentos como esse são perfeitos para se afogar em pensamentos, criar teorias ou até mesmo refletir em algo... Pois é, refletir que a garota que tentou me matar á 2 anos atrás esta dormindo do meu lado e á alguns minutos atrás estávamos conversando e rindo, antes dela surtar e começar a se parecer com um tomate. Não sei porque penso nisso, eu deixei isso para trás, eramos apenas adolescentes e fizemos uma grande bobagem. Uma bobagem ENORME." 

[...] 

Eu sinto algo encostar em minha mão, percebendo que havia cochilado, e que isto foi o que me acordou. Abro meus olhos e noto que ainda estou virada para a janela, e, agora, sinto a coisa agarrar minha mão. Resolvo me virar para ver o que é; É a mão de Ayano-Chan. Ao perceber que eu estava a-encarando, ela rapidamente soltou minha mãe e voltou á ficar corada. 

—D-desculpe, e-eu estava tentando pegar... m-minha água—Ela disse, parecendo confusa. 

—Huh, entendo.—Disfarcei. A água dela estava do outro lado, mas tudo bem, entendo a vergonha que ela estava sentindo. 

Bocejo, me ajeito no banco e olho pela janela: Ainda estamos em cima das nuvens. 

—Parece que ainda estamos longe.—Comento com Ayano, tentando quebrar o clima estranho que tinha ficado no ar. 

—N-nem tanto, já foram 3 horas de viagem, tenho certeza de que em menos de 1 hora já estaremos em Buraza!—Eu realmente tinha dormido por todo esse tempo? 

—Eu dormi tudo isso?!—Pergunto, tenho certeza de que soei confusa. 

—Sim.—Ela afirma e solta a risadinha mais fofa que já ouvi em toda a minha vida, o que é estranho, pois á 2 anos atrás ela ria de forma assustadora. 

—Se eu já dormi tudo isso, o que tem de errado em dormir mais um pouco?—Falo e me viro para o lado novamente. 

—Não! Me faça companhia, por favor.—Ayano pede fazendo uma voz muito amável, não era possível recusar seu pedido.—Prometo que serei divertida. 

—Ah, tudo bem.—Me levanto e sorrio para ela, que sorri de volta. Ela logo se vira para o lado e abre sua mochila, tirando de dentro uma caixinha de um produto que eu não consigo identificar. 

—Fome?—Ela se vira e pergunta com um sorriso enorme, enquanto me mostrava uma caixinha de Pockys*.