Acordei com Mingau ronronando em cima da minha barriga. Olhei para o relógio no criado mudo: 11h30min. Suspiro e fico sentada na ponta da cama olhando para o nada, acumulando preguiça. Finalmente, me levantei. Ergui os braços no topo da cabeça e entrelacei os dedos, me espreguiçando. Tomei um banho e escovei os dentes. Fui ao armário e peguei um vestidinho amarelo simples. Isso te lembra de algo? Coloquei um cinto preto na altura da cintura para complementar e calcei uma sapatilha preta de gatinho. 

Desci as escadas para a cozinha, colocando ração para o Mingau. Abri o armário, pensativa se deveria almoçar ou tomar café. Decidi tomar café. Fiz uma tapioca e a recheei com algumas frutas vermelhas e um pouco de leite condensado. Para acompanhar, um copo de achocolatado. Ao terminar, lavei tudo, aproveitando para arrumar a casa. Queria poder ter a sorte da Mônica de ter uma empregada. Bom, ter pais ricos, donos de uma das melhores clínicas médicas da cidade não é pra todos, não é mesmo? Ri comigo mesma e decidi ir até lá. Desde que as férias começaram não nos vimos muito.

Bato em sua porta e a mulher de 40 anos, dona de cabelos castanhos e olhos verdes e gentis me atende. 
—Bom dia, Magali! Estava pensando em você hoje de manhã, faz um tempinho que você não vem. –Esmeralda diz me dando espaço com corpo, para que eu pudesse passar. –Pode subir, a Mônica está no quarto, acho que ainda não acordou. 

Dou uma risada um pouco sem graça pelo fato de não ter tido chances de falar nada. Peço licença e subo as escadas. 
—Mônica? –Bato na porta. Sem resposta nenhuma, entro. Ela estava toda largada na cama, a coberta cobria metade de sua barriga, o resto estava no chão, e um pé estava pra fora da cama. Peguei meu celular e tirei uma foto, achando graça da situação. Fui até a janela, abrindo totalmente as cortinas e as janelas que davam pra sacada. Mônica se mexe bruscamente na cama e se encolhe. –Deixa de ser preguiçosa e levanta logo, vamos fazer alguma coisa, não aguento mais ficar em casa. –Com os braços abertos, me jogo em cima do seu corpo, apenas para irritá-la. 

—Ai Magali! –Ela me empurra para o outro lado da cama e começo a rir. –Isso é jeito de acordar alguém?-Ela coça os olhos e se espreguiça.

—Bom dia pra você também, flor do dia.

—Hunf. –Ela se levanta e vai até o banheiro, pela demora, percebo que está tomando banho. Algum tempo depois volta penteando os cabelos. –Então, o que você quer fazer? –Seu humor já estava completamente diferente, nem parecia que há alguns minutos estava me matando com os olhos. 

—Pra ser sincera, eu não sei. Qualquer coisa que me faça sair de casa está bom. –Neste momento meu celular começa a tocar. Ao pegá-lo, vejo a foto de Cascão balançando conforme o celular vibrava. Ele estava sem camiseta, sentado no pico de uma montanha, olhando o horizonte.

—Alô?

—O-Oi Cascão. –Mônica havia acabado de vestir uma jardineira preta, por baixo havia uma camiseta soltinha cinza. Ela se sentou na cama para calçar os tênis. Coloquei a ligação no viva-voz para que ela pudesse ouvir também.

—O Cebolinha ganhou cinco ingressos para o boliche e queria saber se vocês gostariam de ir também. –Ao fundo pudemos ouvir um grito de Cebola, corrigindo seu nome. –É, tanto faz. –Cascão disse um pouco longe do celular, não pude deixar de rir.

—Claro, acho que vai ser legal. –Presumo que a ligação estava no viva-voz também, pois logo em seguida ouvimos um ‘’a Mônica vai também?’’ no fundo da ligação. Olho para Mônica e rimos.

—Sim, Cê. Eu também vou. –Ela se inclina um pouco perto do meu celular, para que eles ouvissem também. Ouço a risada rouca do Cascão, provavelmente debochando do amigo. 

—Então, nos vemos lá ás 19:00. Beijo.

—B-Beijo...-Assim que a ligação termina, olho para Mônica. –Bom, arrumamos um lugar para ir.