A Fronteira Maldita escrita por Dama do Poente


Capítulo 5
4 - Problemas Até A Alma


Notas iniciais do capítulo

Amores, novidades: essa fic tem roteiro pronto até o capítulo 16, o que mais que a metade, já que a fic será mais curta que as outras (quero no máximo 30/35 capítulos). Quero agradecer a daughter of the sun, McLancheFeliz, MaryDiÂngelo, Lady Winchester e speedy pelos reviews no capítulo passado.
Estão prontos para o lado Egípcio da fic?



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P. O. V Sadie:

Eu estava quase arrependida de ter voltado a estudar ― podia fazer como Carter fizera no início: ficar em casa, estudando apenas o caminho dos deuses, ou fingindo estar estudando... ―, mas os assuntos humanos me faziam esquecer os problemas divinos que, por mais simples que fossem, geravam muita dor de cabeça.

Era de se esperar que depois de reequilibrar Caos e Ordem as coisas ficassem mais calmas, ou pudéssemos ter umas férias dos perigos... Mal sabia eu que tinha muito mais de onde os outros vieram...

Na noite de 22 de janeiro, quando me deitei para dormir, minha cabeça latejava como se os deuses estivessem ensaiando para uma apresentação de sapateado. Se Maat e caos não estivessem em equilíbrio, eu poderia jurar que era Ísis ― a deusa que habitou minha mente durante a guerra contra Apófis ― que estava dançando em meu cérebro... Teria sido melhor que fosse.

Fazia tempo que meu ba ― a parte de minha alma que representa minha personalidade e que podia viajar por aí­ enquanto eu dormia ― não flutuava pelo mundo e me tirava a paz, mas naquela madrugada ele resolveu dar um passeio.

Não reconhecia o local em que estava, até porque era escuro e úmido, como uma caverna; arrepios de medo tomaram conta de meu ba quando duas vozes frias e inóspitas começaram a falar. Uma delas me parecia terrivelmente familiar.

― Não gosto de sua presença em meu reino, Serpente! ― a voz fria desconhecida diz. ― Não aprovo esse acordo!

― Tampouco aprovo, mas sequer poderia estar aqui se não fosse por ele. Malditos Kane! ― a voz que eu reconhecia sibilou e eu adoraria não tê-la reconhecido.

Há mais ou menos um ano ― talvez mais, talvez menos, eu realmente não parei pra contar ―, conheci a voz da Serpente. Uma voz traiçoeira, que pode contar maravilhas a qualquer um, encantando com suas promessas vazias. Era a voz do caos, e eu esperava não a ouvi­r mais.

Meu irmão e eu haví­amos aprisionado Apófis. Uma execração deveria detê-lo por um perí­odo mais longo, porém eu tinha certeza: aquela voz era da Serpente do Caos.

Eu entrei em desespero e não consegui compreender nenhuma outra palavra dita, se havia um plano, não pude ouvir. Apenas um recado que mais parecia uma ameaça:

― Estou voltando, senhorita Kane. Você não perde por esperar! ― e a risada de Apófis, a Serpente, sacudiu todo o ambiente e expulsou meu ba da caverna.

Quando dei por mim, estava em minha cama, gritando e sendo encarada por dois pares de olhos castanhos.

― Sadie, o que aconteceu? ― a voz de Carter, meu irmão, parecia preocupada, o que teria sido cômico se eu não estivesse ofegando de pavor.

Encarei-o por um segundo antes de me sentar e, então, encarar Walt. Meu namorado parecia tanto ― ou mais ― preocupado que meu irmão. Talvez porque eu tremia, ou porque chorava. Queria ser abraçada naquele momento, mas não sabia qual dos dois poderia me oferecer mais segurança: meu irmão, que lutava lado a lado comigo, ou meu namorado, que só não era mais carinhoso porque eu não permitia.

Abracei meus joelhos, buscando afeto em mim mesma e aproveitando para fazer um exercício para controlar a respiração. Eu derrotara Apófis antes, certamente aquilo era apenas um pesadelo.

Precisava ser.

― Sadie, você teve um pesadelo?! ― Walt perguntou.

Levei mais algum tempo para acalmar minha respiração antes de conseguir explicar aos dois o que eu vira. Não vou sequer comentar sobre as caretas que os dois fizeram. Vou me concentrar na parte em que Walt desviou o olhar para o horizonte de Nova York, como se quisesse esconder algo.

― Em que está pensando? Tem algo que você sabe e não está nos contan... ― mas eu não terminei minha ameaça em forma de pergunta.

Alguns quartos após o meu, na direção oposta a do quarto de Carter, ouvimos um grito obviamente feminino.

― Deuses do Egito, o que deu nas garotas dessa casa? ― Carter murmura, correndo na direção do quarto de onde o grito viera.

― Você sabe que é do quarto de Zia que...

― Eu sei! E isso me assusta também! ― ele grita de volta para mim.

Zia Rashid e meu irmão estavam namorando desde que derrotáramos Apófis, mas muito antes já podia se afirmar uma coisa: a garota não era do tipo que soltava gritinhos frenéticos.

― Zia, abre a... ― e Carter é derrubado quando Zia pula de dentro do quarto. ― Porta!  O que foi? ― e o tom de voz de Carter amolece quando ele segura uma Zia trêmula e confusa.

Preocupante? Demais! Só havia duas razões para vermos Zia assim: ou ela estava de TPM, ou o fim do mundo estava próximo. Infelizmente, nenhuma opção seria boa para meu irmão.

― Eu ouvi a voz dele, Carter! A voz de Apófis! ― ela murmurou ofegante de susto. ― Ele parecia estar aqui. Tentava acabar com Sadie!

― Maravilha. A Serpente do Caos e da destruição eterna está voltando para me fritar como bacon e comer no café da manhã! ― bufei.

― Hm... ― Carter se levanta, ainda com Zia em seus braços. Ela parecia prestes a desmaiar.

― Mas não foi só isso! ― ela sussurra fraca. Notei que as pontas de seus dedos fumegavam, como se ela tivesse criado bolas de fogo e as jogado em alguém.

Eu mencionei que o quarto dela tinha cheiro de queimado? Não? Pois bem, tinha!

― O que mais aconteceu? ― Carter pergunta, segurando-a no colo.

― Ele falou alguma coisa sobre... Sobre magias opostas unidas! ― e, como era esperado, a pobre garota desmaia.

O que minha cunhada dissera permanece em minha mente e eu adoraria que Carter não estivesse duplamente preocupado: o que quer que estivesse acontecendo, tinha a ver com as amizades que fizéramos há algum tempo, porém prometêramos não falar para ninguém.

Logo após a batalha contra Apófis, eventos estranhos começaram a acontecer: um crocodilo gigante, o filho de Sobek, atacara em uma das ruas de Nova York ― meu irmão e um garoto chamado Percy Jackson o detiveram, combinando a magia egípcia dos Kane com um truque de filho de Poseidon, ajudinha de Percy ―; poucas semanas depois, Sérapis, um deus híbrido de Grego com Egípcio, tentou transformar Rockaway em seu novo templo ― dessa vez, eu e Annabeth Chase , uma filha de Atena e coincidentemente namorada de Percy, demos conta do recado ―, mas ao ser impedido confessou que sua aparição era apenas parte de um plano maior: o plano de Setne, um mago com muitos milhares de anos, de se tornar um deus misto. Nós quatro ― os irmãos Kane e o casal de namorados gregos ― conseguimos impedi-lo, mas eu deveria saber que aquilo não seria o fim.

Disparei na direção contrária do corredor, entrando no quarto de meu irmão. Fui direto a sua mesa, sem sequer reparar na quantidade absurda de papéis ou nas caixas de biscoitos jogadas por ali ― meu irmão é organizado, nosso babuíno não... Enfim, explico essa do babuíno mais tarde ―: foquei no globo de neve que Carter usava como peso de papel.

― Sadie, o que está acontecendo? ― Walt pergunta, me seguindo. Provavelmente eu o estava enlouquecendo mais que o normal.

― Só me deixe checar uma coisinha! ― murmurei, sacudindo o globo de neve. ― Estranho: ele ainda ta aqui! ― comento, vendo Setne, o mago encolhido, tentando escapar da agitação dentro do globo.

― Aquele... Aquele é Setne? ― Walt pergunta sério. ― Sadie Kane, desde quando temos um mago perigoso e encolhido dentro do nomo?

Encarei aqueles olhos castanhos, tão parecidos com chocolates derretidos, e estava claro a preocupação e confusão estampados neles. Eu devia a ele a verdade, porém eu sempre fui do tipo que honrava sua palavra: eu não diria nada, não sem que os outros três concordassem.

― Foi mal, mas não posso contar! ― suspiro, passando por ele e me trancando no quarto, esperando que todos entendessem tal gesto como “não criem portais para o quarto de Sadie Kane”. ― Não posso te contar, querido Walt, mas tem gente que precisa saber! ― murmuro antes de pegar o celular e discar meu principal número de emergência.

― Sadie Kane? ― a voz feminina questiona do outro lado da linha. ― A que devo a honra?

― Esqueça a honra, Annabeth Chase: acho que temos um grande problema!

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Eu precisava encontrar Annabeth o mais rápido possível. A neve caía em Nova York da mesma forma que caía no globo de neve de Setne; todas as escolas estavam paradas, exceto a minha: tive duas provas pela manhã e mais uma no turno da tarde, antes de poder seguir até Manhattan para encontrar com minha amiga semideusa. Pela primeira vez, desejei que Carter estivesse ali comigo, mas ele estava com Zia ― a pobre garota realmente ficara abalada... Se Apófis voltasse, Rá também voltaria e Zia seria reclamada para ser o Olho de Rá mais uma vez... Não é uma experiência tão animadora assim, ser o Olho de um deus...

Annabeth me dera o endereço de seu namorado, Percy Jackson, para nos encontrarmos e eu estava praticamente na esquina quando fui atacada. O que quer que fosse veio voando em minha direção e foi por muito pouco que consegui escapar. Automaticamente invoquei minha varinha e meu cajado, procurando pelo o que me atacara, e o que encontro não me pareceu nada egípcio.

Não apenas uma, mas várias mulheres aladas e com pés de aves voavam ao redor da rua em que o tal apartamento se encontrava. Suas faces demoníacas claramente mostravam que não estavam ali para fazer amizade, mas talvez me usarem como petisco.

― Não deixem a maga escapar! ― uma das mulheres gritou e eu não esperei que se reagrupassem: saí correndo na direção do prédio, claramente aos berros.

Talvez Annabeth me ouvisse; talvez alguém do Brooklyn tenha me seguido; talvez tudo não tivesse passado de um sonho, mas lá no fundo eu sabia muito bem que aquilo era bem real, e nenhuma magia egípcia me ajudaria: as criaturas pareciam mais fortes que o normal, pois qualquer magia que eu lançasse era rapidamente repelida, como se um escudo invisível as protegesse.

― Por que vocês não morrem, suas pragas? ― se me faltava criatividade para xingá-las? Sim, muita, mas compreendam: era um bando contra mim.

Voltei a olhar para frente enquanto corria, tentando prestar atenção ao calçamento irregular, porém é impossível se concentrar quando dezenas de mulheres-galinhas, com mais de dois metros, voavam ao meu redor, bicando meus membros como se fossem migalhas de pão. Com um pouco de sorte, consegui me desviar de algumas, mas as asas delas me impediam de ver ao meu redor e, quando menos esperei, acabei tropeçando e me tornando um alvo fácil: uma delas não perdeu tempo em me arrastar pela canela e alçar vôo comigo, levando sabe-se lá para onde.

Por mais que eu tentasse contra atacar, batendo com o cajado nela, suas companheiras me acertavam, deixando-me zonza. Estava quase aceitando que aquele seria meu fim, quando uma saraivada de flechas passou ao meu redor, derrubando minhas inimigas sem sequer me acertar, o que foi uma boa coisa... Entretanto, uma das flechas fez a minha “carona” se transformar em pó de monstro e eu despenquei não sei quantos metros até o asfalto congelado da selva de pedra, batendo com a cabeça nesse processo.

Pouco antes de desmaiar, senti-me sendo erguida delicadamente do chão e ouvi vozes ao meu redor.

― Devíamos ter calculado esse plano melhor... ― uma voz masculina, ligeiramente familiar, resmunga.

― Eu tentei, mas os dois estavam desesperados!

― E com razão... Enfim, o que fazemos agora? ― o garoto torna a perguntar, soando um tanto impaciente.

― Vamos para o Acampamento... Depois daquela visão, acho que apenas Quíron poderá nos ajudar! ― e após o comando de uma garota, sinto meu corpo ser depositado sobre algo macio poucos segundos antes de apagar.

Soube então, bem ali, que a confusão seria certa e, possivelmente, machucaria muita gente... Na melhor das hipóteses.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam da narrativa da Sadie? Estou tentando manter o mais fiel possível aos livros dos Kane, mas mudanças podem acontecer (a Sadie aqui é mais velha que a dos livros). Quem não entender qualquer coisa, por favor, pergunte no review e terei prazer em responder. Ou você pode ler no pequeno guia explicativo que deixei no grupo do facebook: https://www.facebook.com/groups/1593138720950697/?ref=bookmarks
Espero ver vocês nos reviews!!
Beijoos