—Eu sei o que aconteceu há dez anos no dia em que meu pai morreu -declarou Neji para a surpresa de Hiashi.

—O quê? Do que é que você está falando?

—Há dez anos, eu sei muito bem o que aconteceu no dia da morte do meu pai e que você teve culpa nisso.

—Garoto, você bateu com a cabeça? Não tem como você saber de nada porque tudo que aconteceu naquele dia eu já lhe contei.

—Não, não contou. Toda vez que eu tocava no assunto você desconversava.

—Porque é um assunto pesado a se tratar com uma criança, mas depois eu expliquei tudo para você, não lembra?

—Eu lembro de ter ouvido um monte de mentiras!

—Neji, chegou isso daqui pra você -disse Hanabi entregando um livro ao primo.

—Quem deixou isso? -indagou Neji pegando e analisando o livro verde que tinha seu nome escrito em um papel colado na capa.

—Não sei, quando atendi a porta a pessoa já tinha ido embora.

Estranho... esse livro... por que alguém deixaria na porta daqui?

—Ai -exclamou Neji ao sentir uma dor pontiaguda em seu braço. Era Tenten, ela cutucara o garoto.- Por que fez isso?

—Fala logo o que você veio dizer.

—Ah sim, claro... bom...

—Está tudo bem, Neji? -perguntou Hiashi.- Por que de repente desenterrou esse assunto?

—Bom... acho que bati a cabeça, desculpe incomodá-lo com isso, boa noite -falou subindo as escadas, deixando Tenten e Hiashi na sala sem entenderem nada.

—Neji -disse Tenten subindo as escadas, seguindo o namorado.

—Algo errado?

—Imagina, só descobri que você é completamente maluco, mas coisinha sem importância.

—Você está estressada, quer ler um gibi? -falou pegando o livrinho da estante e estendendo à garota.

—Não, Neji -exclamou Tenten dando um tapa na mão de Neji, derrubando a revistinha.- Esqueceu do que ia falar lá embaixo?

—Não, apenas resolvi não contar.

—Mas você não pode...

—Posso e vou. Hiashi nunca vai saber se eu não contar, eu, você e a Hinata. Não consegue guardar um segredinho?

—Esse não é um segredinho, é um Titanic!

—Sem querer me intrometer, mas já acabou? Estou meio cansado e queria dormir, se importa?

—Está me expulsando?

—Claro que não! Apenas dando uma indireta para que me deixe descansar, amanhã nós nos veremos, pode ser assim? -disse se aproximando de Tenten e beijando a garota nos lábios.

—Tudo bem, mas amanhã vamos conversar direitinho sobre o que você fez hoje, aliás, do que você não fez -falou saindo do quarto e fechando a porta.

Neji deitou-se em sua cama e lá ficou admirando o livro enquanto ouvia os passos de Tenten na escada se afastarem.

—Mas que idiota, eu vou matá-lo por fazer isso comigo -Neji falou olhando para o livro.

Neji logo adormeceu e só acordou quando o sol já se iluminava sobre seu rosto. Levantou-se da cama, tomou banho e desceu para a cozinha.

—Bom dia -disse Hinata já sentada na mesa.

—Bom dia -respondeu Neji juntando-se à garota, que era a única sentada à mesa.

—E então?

—Então o quê? -disse pegando um pedaço de pão.

—Como foi sua conversa com o papai. A Tenten me disse que lhe convenceu a falar a verdade.

—Quando ela disse isso?

—Quando vocês estavam voltando do parque aqui pra casa, ontem à noite.

—Levam só alguns segundos de lá pra cá, como ela falou com você tão rápido?

—Tecnologia, querido -disse mostrando o celular.- Então, me fale, qual foi a reação dele.

—Dele quem?

—Neji, você está se fazendo de doido? Do papai, lógico! 

—Ah sim, mas em relação ao quê?

—Eu vou pegar aquele jarro ali -falou apontando para o objeto de vidro no centro da mesa- e vou quebrá-lo na sua cabeça.

—Ele não disse nada -disse Neji rindo.

—Nadinha? Não ficou nem com raiva?

—Não teria motivo, já que eu não falei a verdade sobre aquilo.

—O quê? Mas a Tenten disse que você ia contar.

—É, mas na última hora voltei atrás.

—Mas então, quando você vai dizer?

—Vejamos, hoje é segunda? -disse contando nos dedos.- Bom, nunca.

—Como nunca? Você tem que contar!

—Seu pai morrerá sem saber a verdade, será nosso segredinho. Nós não diremos nada a ele.

—Entendo que você não queira falar nada, só não entendi a parte do "nós". Você pode não falar, mas eu não vou viver guardando esse segredo.

—Vai sim, porque se Hiashi descobri por você, tornarei sua vida em um inferno e você sabe que eu sou capaz disso.

—Pense pelo lado bom, você ganharia um pai.

—Não, eu já tive um.

—Se reconhecido como filho teria direito à uma herança.

—Não preciso disso, pretendo trabalhar e não depender dos outros.

—Tá bom, mas eu seria sua irmã.

—Mais um motivo para manter toda essa história em segredo. Já é vergonhoso você ser minha prima, irmã então...

—Não precisa me diminuir, admita, você adoraria ser meu irmão, aliás você é, por criação e agora por sangue. Por que não se lembra um pouco disso durante o dia?

—É mesmo? Então por que você não se lembra disso e ao lado dessa lembrança, coloca a imagem de você me beijando na noite do seu aniversário -disse Neji levantando da mesa e pegando sua mochila para sair, deixando Hinata em choque.

Na escola, Neji encontrou Tenten no portão de entrada.

—Oi -disse beijando a namorada.

—Oi. Quero conversar com você e é sério.

—Eu sei sobre o que é e quero que antes de qualquer coisa você me encontre à tarde naquele mesmo parquinho, tá bom?

—Pra quê?

—Você verá na hora e entenderá. Vamos entrar?

A manhã passou rapidamente e logo que terminaram as aulas, Tenten partiu para o encontro de Neji.

—Quem estamos esperando? -perguntou um homem a Neji no parque.

—A minha namorada.

—Não sabia que tinha uma, não é muito novo para isso?

—Acho que não. Você vai gostar dela.

—Por que quer que eu a conheça?

—Quero que você diga algo à ela.

—Dizer o quê? Eu sequer a conheço.

—Vamos lá, diga apenas um "oi", sabe que me deve isso.

—Não devo nada à você, garoto.

—Deve sim. E não estou pedindo nada demais, basta cumprimentá-la. Ah, ali vem ela -disse apontando para a esquina para a garota de coques.

—Oi Neji, e então, o que queria me mostrar? -falou Tenten.

—Queria apresentar uma pessoa à você.

—Não vejo isso fazendo diferença em nada, mas se você insiste... quem é?

—Ele -falou apontando para o homem que estava sentando atrás de si.

—Olá -cumprimentou o homem.

—Que bom que resolveu contar a verdade para o seu tio, Neji -disse Tenten sorridente.

—Não é bem assim -disse Neji.

—Como não? Você o trouxe até aqui, é sinal de que quer contar a verdade.

—As pessoas costumam cometer esse engano, mas eu não sou o Hiashi -disse o homem se levantando.

—Mas é claro que é -exclamou Tenten sem entender.- Nos conhecemos há pouco tempo quando fui jantar na sua casa, não lembra? A não ser que...

—Isso mesmo -disse o homem sorrindo.

—Mas isso é impossível! Neji, é o seu pai?

—Em carne e osso.

—Mas ele não estava morto?

—Também achei que sim, até ontem à noite. Aquele livro que Hanabi me entregou foi um recado dele.

—Como?

—Era o livro que ele lia pra mim quando eu era pequeno. Tinha uma mensagem dentro.

—Meu Deus! Como o senhor escapou daquele incêndio? -Tenten indagou a Hizashi.

—É uma longa história, não quero entendiá-los com isso, pelo menos não por enquanto.

—Alguém além de nós sabe que está vivo?

—Só a antiga secretária de meu irmão. Não quero que digam nada à ninguém, entenderam bem?

—Claro -concordou Tenten.- Foi por isso que não contou a verdade para seu tio, não é mesmo? -falou olhando para Neji.

—Que verdade? -indagou Hizashi.

—Você tem os seus segredos, eu tenho os meus -respondeu Neji.

—Então, o que o senhor anda fazendo? -perguntou Tenten.

—Arranjei um bom emprego como empresário.

—Parece interessante.

—Não, não é, mas eu sou rico.

—Há quanto tempo tem esse trabalho?

—Há uns dois anos, foi quando eu saí do coma.

—Ficou em coma?

—Foi o que acabei de dizer. Passei por um incêndio e um traumatismo craniano, isso traz consequências.

—Pai, se o senhor saiu do coma há dois anos, por que não me procurou?

—Bom... porque eu não quis.

—Nossa! Assim, na cara? Não vai tentar nem disfarçar? Muita falta de educação falou Neji emburrado.

—Não, não, foi falta de carinho mesmo, mas naquela época, filho, a raiva me consumia mais do que qualquer outra coisa. Eu tenho que ir, é perigoso ficar aqui, a vizinhança me conhece.

—Não vai desaparecer, não é? -perguntou Neji cabisbaixo.

—Claro que não filho, senão porque o procuraria depois de tanto tempo? Vou apenas para casa, mas me comunicarei com você em breve, já tenho seu telefone, tá bom?

—Tudo bem -disse Neji abraçando o pai.

—Prazer em conhecê-la, Tenten.

—Prazer foi meu, senhor -disse sorrindo enquanto o homem se afastava.

—Entendeu agora por que eu não contei nada ao Hiashi ontem?

—Oh se entendi. Neji, seu pai sabe que não é seu pai de verdade?

—Não. Ele sabe que existe a possibilidade, mas nunca teve a confirmação.

—E você vai contar a ele?

—Nunca. Quando ele se revelar vivo, vai querer confrontar o meu tio e ele dirá que fez o exame e que deu negativo, até porque ele não desconfia que eu troquei o resultado.

Eu sei que prometi nunca mais me intrometer na narração, leitores, mas aqui estou novamente. Para quem não se lembra de mim, sou Tenten. Desculpem a intromissão, mas vocês se deram conta do que acabou de acontecer? Hizashi está vivo? Sabem, na minha antiga cidade, não vou mentir, eu fazia muitas confusões, mas depois que conheci o Neji... acho que nem existe nome para isso. Confusão está longe de ser o certo, são experiências inimagináveis! Polícia invadindo festas, tio passando a ser pai, falsificação de um exame de DNA, o pai que estava morto agora está vivo... é muita coisa. Mas confesso, gosto um pouco dessa adrenalina e, principalmente, de passar por todas essas situações ao lado de Neji. Tentarei fazer com que a vida do meu namorado rapunzel seja mais calma, pelo menos um pouquinho. Perdoem-me o desabafo, prometo, essa foi a última vez. Abraços!