Andy acelerou o máximo que pode, o quanto o carro suportava, e aquilo já era extremamente suficiente. Aquela sensação de adrenalina substitui e até me distraiu da sensação de desejo por Anne, até ela começar a gritar após Andy virar com tudo numa curva. Olhamos-nos e depois caímos na risada, era muito divertido ver a cara dela.

- Hey, calma! – Andy gritou. Anne ria histérica ao mesmo tempo em que gritava. Eu comecei a ficar preocupado.

- Anne Marie, quer que a gente pare¿ - Perguntei. Ela me olhou sorrindo.

- Primeiro, - Anne começou falando com a voz algumas oitavas a cima do normal. Andy continuava correndo, o barulho do motor era quase imperceptível, quase. – me chame apenas de Anne. Isso aí que você falou é muito formal... – ela falou pausando para poder gritar. Depois se voltou pra mim novamente, sorrindo. – E... Segundo, eu tentei, mas não aguento mais! PARA!

Sorri ao ver seu desespero. Ela era linda demais; seus olhos naquele momento brilhavam como se ela quisesse chorar. Talvez fosse mesmo isso.

- Hey, Andy! – o chamei, pondo a mão em seu ombro, ele virou um pouco o rosto. – Para aí cara, ela tá quase chorando!

Anne me deu um tapa, eu sorri novamente.

- Não estou chorando, mas... – Andy entrou em outra curva, ela gritou de novo – PARA, POR FAVOR!

Voltamos a rir. Pelo seu olhar ela parecia querer nos matar, isso a deixou ainda mais engraçada. Andy diminui a velocidade e depois parou em baixo de uma árvore. Saímos do carro e pegamos as garrafas de cervejas no porta-malas. Vi Anne se assustar com as bebidas em nossas mãos, mas ela disfarçou e não falou nada.

- E ai. Gostou Anne¿ - Julian perguntou encostando-se ao lado dela, no capô do carro.

- Eu... Nossa, é muito louco, mas... É demais para o meu coração. – ela brincou sorrindo para ele. – Sério, eu precisava de um tempo...

Eu parecia um idiota, só que não conseguia tirar os olhos dela. Como eu queria que ela sorrisse de novo pra mim, que ela me olhasse nos olhos ou até que ela me batesse. Sua pele na minha era tudo o que eu queria.

- Tá babando cara¿ - Clark se aproximou me trazendo outra garrafa, a minha ainda estava cheia. – Não vai querer¿

- Não. Eu to de boa. – respondi me sentando na raiz exposta da árvore.  Anne conversava com Julian, Andy e Filipe. Não parava de observá-la, já podia declarar duas manias dela. Uma delas seria a de que ela não para de arrumar o cabelo. E a outra seria a de colocar as unhas na boca, sem roer, apenas colocar e depois tirar. Sorri, pensando em como aquilo era sexy.

- Que foi¿ - Clark me perguntou rindo. – Tá sorrindo feito bobo da corte Rennan. Ah, não! Você tá babando mesmo cara¿ - ele voltou a perguntar perplexo.

- O que eu...¿ - tentei me fazer uma pergunta, que nem eu mesmo sabia a resposta. O que eu estava fazendo¿ O que estava acontecendo¿ - AH! – gritei para desabafar, Clark cuspiu a cerveja que bebia.

- Tá louco cara¿

- Ela! – gritei, mas depois olhei para Anne, ela não havia percebido meu surto. Clark me olhava assustado. - Ela tá me deixando louco mano! – falei me levantando. Ele me acompanhou.

- Qual é¿ Tá falando sério¿ - Clark me parou, segurando meu pulso.

- E eu to com cara de quem está brincando¿ Eu vou acabar fazendo besteira... Vou agarrar ela cara! – falei, tentando descontrair, não deu certo, saiu sincero demais. – E... Para de me fazer essas perguntas! Odeio ter que respondê-las.

- Uau! – meu melhor amigo me olhava sério. – Rennan Stuffer, você a conhece a 24 horas meu irmão! Raciocina!

- Shiii. Já to sabendo. E quer saber, me deixa vai! – falei me soltando dele. – Ela nem tá afim de mim mesmo...

- Como você sabe¿ Você nem tentou... – Clark hesitou, ele parecia querer me ajudar, mas desistiu. – É melhor nem tentar! Ela não é para o seu bico!

O olhei perplexo agora. O que era aquilo¿ Não era para o meu bico¿

- Qual é¿ Pirou¿ - comecei – É meu amigo ou o que¿ E... E desde quando você sabe o que ela é ou deixa de ser cara¿ - hesitei, tentando a negar a ideia na minha cabeça. Minha voz saiu baixa. – Tá afim dela¿

Clark me olhava sem expressão. Uma sensação estranha começou a tomar conta de mim; ela vinha do pé da barriga e se espalhava – sabe se lá como – pelo resto do corpo. Não demorou muito e a reconheci, era a dor da traição, da decepção. Seu silêncio me deixou irritado.

- Vai mano! – gritei o empurrando. – Me responde! É por isso que me fez todas essas perguntas¿

Coloquei as mãos na cabeça e comecei a me afastar. Não podia ser isso, mas porque, então, ele não negava¿ Andy vinha na nossa direção. Fiz sinal para que parasse, ele não tinha que se intrometer.

- Rennan. – Clark me chamou. Me voltei involuntariamente para ele. Meus olhos pareciam marejados. Eu estava chorando¿ - Acabou¿ Posso ter, ou melhor, posso lhe dar a resposta¿ - continue sem dizer nada, ele levou isso como um sim. – Tá. Primeiro, a minha resposta para todas as suas perguntas é não! E segundo, como pensou algo assim de mim cara¿ Você só pode estar bem doido por ela mesmo... Eu, cara, sou eu! Ah, e terceiro, ela não é para o seu bico porque ela simplesmente não é patricinha feita todas as meninas que você já ficou ou, vamos dizer assim, prefere ficar. Tipo, ela é diferente, só isso. Dá pra parar de ficar bolado com umas coisas dessas¿ Falei sem pensar, você não precisava saber minha opinião.

- É lógico que preciso! Você é o meu melhor, sei que parece meio gay, mas, é a real mano. Eu te considero muito. – me declarei querendo esquecer a cena idiota que eu havia feito, Clark sorria. – Desculpa... Você tem razão, acho melhor eu ficar na minha...

- Não. Sério. Eu acho que você deveria tentar, mas é que também não quero que você se magoe sabe cara... – Clark falou diminuindo sua voz.

- Ah. Valeu. Mas eu não... – tentei explicar a ele os meus sentimentos, dizer que eu não me machucaria pois se houvesse tombo ele não seria de muito alto. Mas me calei, eu já não tinha mais certeza dos mesmos.

- Que foi que rolou mano¿ - Andy perguntou se aproximando.

- A gente se desentendeu numa questão, mas estamos de boa de novo! – Clark respondeu me dando um soco. Concordei balançando a cabeça.

Peguei a outra garrafa e depois fiz sinal para voltarmos para o carro. Eles me seguiram rindo e brincando. Eu fitei a obra prima e que eu desejava tanto encostada no carro, Anne Marie.

- Ah, fala sério – Anne conversava animada com Filipe – não vamos fazer mais nada, só isso, andar, ou melhor, correr¿ Só¿

- O que você quer fazer Anne¿ - Andy perguntou encostando-se ao seu lado. Muito próximo. – Algo de especial¿

Julian pigarreou, rindo em seguida. Anne ficou sem palavras. Ela e Andy sustentavam o olhar um do outro. Engoli em seco. Os lábios de Anne tremiam, ela estava hipnotizada.

- Então... – Andy sussurrou. Aquilo era tão idiota. – Vai me responder Anne¿

- E-e-u... Seu... – ela tentou, mas parecia não encontrar a maneira certa. – Idiota.

- Vamos embora Andy. – falei entre dentes. Clark colocou a mão no meu ombro, eu me esquivei, respirando fundo.

- Rá. Rá. Rá. – Andy gargalhou dando a volta no carro e entrando. – Estou brincando Anne, só brincando...

Minha vontade era de pular em seu pescoço. Que imbecil. Demos a volta e entramos no carro, saindo dali em seguida. Anne ficou todo tempo em silêncio. Nem com Andy correndo tanto ela voltou a gritar. Ela parecia viajar em seus pensamentos.