Dons: Carbúnculo escrita por KariAnn, Haruka hime


Capítulo 6
A Ordem de Áquila


Notas iniciais do capítulo

Olá, mais um capítulo, onde a história começará a caminhar de forma mais compreensiva para o leitor. Espero que gostem.



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“A Ordem de Áquila foi criada há muito tempo por Laura Aquilina, a primeira mulher a se ter notícia de que tinha poderes especiais. Ela tinha um dom excepcional para manipular a água, mas escondia essa sua condição por temer ser hostilizada pelos humanos.”

“Laura não era a única que possuía dons incomuns, porém muitos que tinham dons extraordinários os usavam com propósitos maus e perversos.”

“Interessada no bem estar de todos, Laura criou uma ordem que regeria leis para a boa convivência entre humanos e os chamados sobre-humanos; A Ordem de Áquila.”

“Os conselheiros dessa ordem foram definidos da seguinte maneira: dez anciões, com mais de cinquenta anos de idade, e ela, a princesa. Qualquer tomada de decisão viria da princesa, mas não sem antes consultar os anciões aquilinos.”

“Até hoje, a escolha dos anciões é baseada na idade e experiência dos candidatos. E a princesa é sempre uma descendente direta de Laura. Atualmente, é a princesa Samanta.”

“A Ordem não conta apenas com membros fortes e uma princesa poderosa, mas também com um exército próprio. Conta com uma província separada de qualquer país, que faz fronteira com a Federação de Grahan pela floresta de Acádia.”

“As terras de Áquila são, em sua maioria, florestais. As paisagens são matas densas, pradarias extensas, e escarpas. Os picos das montanhas são frios, e neva algumas vezes no ano. ”

“Nessa província, habita uma população inteira de sobre-humanos que escolheram viver em Áquila. As vilas eram divididas por famílias, que eram frequentemente grandes.”

“Algumas famílias, no entanto, não viviam em Áquila, como era o caso da família Raimann, e de outras tantas. ”

“Mas, como sempre existe um lado bom, existe também um ruim. Tempos depois da criação dessa ordem, surgiram aqueles que não estavam satisfeitos com as leis e com as decisões de Áquila. Esses rebeldes se juntaram e formaram uma coalizão. Eles se denominaram Óligos.”

“Até hoje os Óligos existem e não respeitam as leis mantidas pela ordem, nem concordam com o sistema que a compõe. Inicialmente, eles defendiam uma algumas mudanças como uma eleição para princesa da ordem, assim como para se tornar um dos dez conselheiros. Também não concordavam com leis que restringiam o uso de seus dons.“

“Muitos dos que vieram depois deles, entretanto, eram totalmente anarquistas, e suas intensões se tornaram tão somente destruir toda a Ordem e instaurar uma anarquia onde cada sobre-humano poderia fazer o que quisesse.”

“Desse modo, uma guerra começou entre os sobre-humanos dentro de Áquila. Os Óligos passaram a habitar lugares próximos à província, como Grahan, para poder se articular e planejar a destruição da Ordem. Como são vigiados pelos soldados espalhados por vários lugares do mundo, seus atos se tornam muito difíceis de serem executados, mas não impossíveis.“

***

Alícia sabia muito sobre a Ordem de Áquila, mas ignorava as motivações dos Óligos, e também os segredos que seu tio havia mencionado na conversa que ocorrera mais cedo. Ela descreveu tudo o que acontecera para Christophe, que estivera fora toda a manhã.

O rapaz meditou um pouco. Conhecia Marcos, e se lembrava de quando ele havia partido, sete anos atrás. Christophe tinha doze anos quando o fato aconteceu. Não tinha intimidade suficiente com o tio, mas também não tinha nada contra ele.

Marcos nunca foi de fato ruim, mas sempre muito intenso em suas emoções, agindo mais precipitada do que racionalmente. Algumas de suas atitudes eram por vezes duvidosas, e ele nunca simpatizou com regras e leis. Ter se unido aos Óligos, no entanto, era uma decisão que ninguém imaginava que ele pudesse sequer cogitar.

De início, os Óligos eram apenas um grupo que se opunha ao modelo de liderança da Ordem, mas depois se tornou uma coalizão anarquista. Os Raimann ouviram relatos de pessoas ligadas à Ordem sobre ações que o grupo realizou que incluíam assassinatos brutais. 

Os assassinatos foram de membros ligados à Ordem e de seres humanos comuns que não tinham relação aparente ou mesmo sabiam sobre Áquila.

Christophe e Alícia estavam na sala da casa de Elric quando este chegou trazendo consigo algumas frutas. Ele percebeu que os dois conversavam e se juntou a eles.

— Pai, a Alícia acabou de me contar sobre o tio Marcos — falou Christophe, pegando um prato cheio de frutas que o pai lhe ofereceu.

— Hum! Pois é — Elric falou, lânguido. — Eu não parei de pensar no que ele disse desde que saiu. Sei que ele é um pouco temperamental, mas isso? Nunca imaginei que ele se juntaria aos Óligos.

— O que exatamente querem os Óligos? — Alícia perguntou depois de engolir um morango cheio de açúcar.

— Nem eu mesmo sei — Elric confessou. — A verdade é que os Óligos são uma organização incompreensível. Dizem que inicialmente eles apenas questionaram o poder hierárquico da Ordem, mas depois passaram a questionar também todas as decisões que eles tomavam sobre vários assuntos, que não sabemos ao certo quais eram, e, principalmente, as leis. Vocês sabem que não existem de fato muitas leis, mas tudo gira em torno de regras para garantir que nós possamos conviver em paz com os humanos. Os Óligos, aparentemente, não gostam dessas regras.

— Do que eles não gostam? Da lei que nos proíbe de matar humanos? 

— Sim. Eles são anarquistas. Questionam o fato de não poder usufruir melhor de seus dons, uma vez que não devem usá-los diante dos humanos, e de não poder se utilizar deles em muitas situações.

— O que levaria Marcos a se juntar a eles? — perguntou Christophe enquanto olhava para o teto com ar meditativo. 

— Essa é uma pergunta para qual eu busco uma resposta satisfatória — Elric falou, quase num sussurro. — Não há causa! Há apenas um grupo de assassinos descontentes, causadores de confusão, apenas isso e nada mais.

— Entendo! — Christophe falou e apoiou o queixo nas mãos. — Ele falou mais alguma coisa?

— Ele voltou por que está numa espécie de missão. Só espero que isso não envolva assassinatos. A punição para um Óligo que é preso é terrível.

— Em que será que consiste essa missão? — Alícia perguntou.

— Não faço ideia, mas não gosto nada disso — Elric respondeu. 

***

Christophe entrou em seu quarto e fechou a porta. Passou a mão nos cabelos e ficou parado por um tempo, apenas respirando profundamente. Processava tudo o que acabara de conversar com o pai e com Alícia, que já havia voltado para casa.

Com um suspirou, Christophe balançou a cabeça de um lado para o outro tentando esquecer tudo e resolveu arrumar algo para fazer. Começou a organizar as roupas que estavam jogadas em sua cama quando alguém bateu à porta. Ele pediu que entrassem e logo Branca e Preta adentraram o quarto efusivamente.

— Olá, meninas. — Ele sorriu. — O que vocês querem?

— Oi, irmão. Queríamos falar com você desde ontem e você sumiu— Branca falou, se sentando na cama do irmão.

— Oh, me desculpe. Ontem eu cheguei um pouco tarde, vocês já estavam dormindo. E hoje eu saí cedo também.

— Nem tomou café conosco. — A irmã fez um muxoxo. — Mas tudo bem. Queremos te fazer uma pergunta. Você, por acaso, sabe onde o papai guarda cartas antigas e documentos da nossa família?

— ... Sei. — o rapaz respondeu depois de pensar um pouco. — Ele guarda num cofre, no banco de Kendrich. Mas só ele tem a chave. Por que a pergunta?

— Estamos numa caça ao tesouro com o Fábio e o Heitor, e precisamos dessas cartas pra encontrar as pistas para encontrar o tesouro — Preta respondeu com um sorriso pueril no rosto. 

— Tesouro, é? — Christophe riu e beijou cada uma das gêmeas. — Terão que arrumar outra brincadeira.

— Tudo bem, então — falou Branca decepcionada. — Obrigada mesmo assim. Até mais.

Antes de sair do quarto, Preta olhou para Christophe e falou com um sorriso largo:

— Pare de usar roupas tão largas, Chris!

***

Já passava das duas da tarde quando Alessandra entrou num bar de esquina lotado. Diversos motoqueiros e homens do submundo frequentavam aquele lugar que era referência para muitos encontros e local de várias negociações e transações não totalmente legais. Esse fato era de conhecimento apenas de pessoas ligadas ao submundo e, se uma pessoa comum sabia de algo, não fala nada.

Duma mesa, no canto mais afastado do bar, um homem envolto em uma capa e usando um chapéu acenou para a garota. Ela se aproximou e sentou-se em frente a ele. Pediu um copo de suco.

— E aí, Neil, tudo em cima? — Alessandra falou com aquela sua voz grossa e forte, e com ar despreocupado.

— Bom te ver, Sandra. — O homenzinho falou um pouco mais baixo. — Então, o carregamento das mercadorias especiais já chegou. Está interessada?

— Opa! — Ela bateu a mão na mesa, o que irritou Neil. — Claro, to precisando. Tem dois pedidos novos de clientes importantes.

— Dá pra ser mais discreta. — falou o homem olhando temeroso para os lados. — Vamos até o lugar que eu te entrego tudo. O pedido é pra hoje?

— Já tem um pra hoje. O outro é só pra depois.

— Sei que você é sigilosa com relação aos seus clientes, mas... Pode me dar uma dica de quem fez esse pedido? É coisa grande!

— Nem dica, nem meia dica, Neil. — A garota apontou pra ele com um sorriso terrível no rosto. — Só quero a mercadoria e bico fechado. Vambora, que eu quero pegar logo esse esquema e me mandar.

Um pouco desapontado, Neil concordou e pediu a conta ao garçom. Alessandra e o homem levantaram-se e saíram apressadamente do local.

***

Na casa de Loui, Fábio ficou a imaginar como faria para conseguir as cartas. Parecia impossível para ele, a menos que conseguisse a chave do cofre, o que seria igualmente difícil. Suas esperanças de descobrir pistas para encontrar o carbúnculo de Teju Jagua estavam ficando escassas.

Heitor, deitado em sua cama, observava o primo andar de um lado para o outro sem conseguir pensar em nada.

— E agora? — Heitor perguntou. — O que podemos fazer?

— Eu até sei de que cofre ele falou, mas sem a chave, a senha e uma autorização do Elric, não podemos entrar — Fábio falou, enfezado e caminhando de um lado para o outro.

— Por que você não usa o Dom Fantasma? — Preta perguntou, com as sobrancelhas franzidas, como se não compreendesse qual a dificuldade que o primo via na situação. 

— Não é tão simples — respondeu Fábio, olhando-a de soslaio. — Mesmo que eu possa fazer isso, o banco é todo protegido por câmeras. Eu seria flagrado e isso não é uma opção. Não! Teremos que arrumar outro jeito.

***

Já era madrugada quando, próximo ao palacete de sua família, Carlos Magno, com sua Taurus 454 em mãos, caminhava devagar. Seus ouvidos, mais desenvolvidos que o normal para compensar sua visão limitada pela falta de seu olho direito, captavam o menor som.

O único olho do homem vasculhava o local à procura de qualquer indício da presença de sua caça. Ele pensava que, para uma fera de enorme porte, ela se escondia muito bem. A escuridão era uma grande auxiliadora, mas não o ajudaria por muito tempo, pois a manhã logo chegaria e a fera seria apenas um homem novamente.

Seus ouvidos captaram uma respiração ofegante à sua direita. Não tinha como ver nada naquele lado, mas já fazia uma boa ideia de onde estava sua presa e rapidamente esticou o braço e deu um tiro naquela direção. Um uivo de dor cortou o silêncio da mata. O enorme lobo que se equilibrava sobre as duas patas traseiras saltou de seu esconderijo e se pôs a correr. O tiro acertara seu ombro.

Carlos Magno correu atrás da fera, atirando, agora com duas taurus. Mais duas balas acertaram as costas do lobo que ficava cada vez mais fraco, até que avistou um buraco à frente. Não perdeu tempo e pulou, caindo de um pequeno penhasco num rio.

O homem que o perseguia parou na beirada e ficou a observar o local. Não via nada. A fera desaparecera.

— Numa próxima oportunidade!  Carlos Magno sussurrou.

 


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler. ^.^



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