O Curioso Caso de Daniel Boone escrita por Lola Cricket, Heitor Lobo


Capítulo 5
Enchanted — Parte Um


Notas iniciais do capítulo

Hello, it's me... again :)
Voltei com tudo pra essa história, a começar pelo quinto capítulo de OCDB. Antes de tudo, quero agradecer a todos que estão comentando na fic, fico muito feliz com o que cada um diz *u* E os fantasminhas podem se apresentar também, eu não mordo, tá?
Aliás, a Luce não conseguiu responder aos comentários do capítulo anterior ainda por falta de tempo, mas nesse fim de semana ela irá fazer isso ;)

Então... eu escrevi esse capítulo em janeiro, e ele ficou tão grande - 6 MIL PALAVRAS! - que eu precisei dividir em duas partes pra não judiar do juízo de vocês. Me amem! *risos* Hoje temos dois personagens novos que mais tarde terão suas respectivas importâncias: Edward Hong e Andrew Boone. Este último é o tio que eu nunca tive [literalmente, tanto que esse capítulo todo é ficcional] e além de ser 'interpretado' pelo Niall Horan, acredito que vocês vão gostar desse cara *-*

"Enchanted" é uma música da Taylor Swift. Sim, Taylor de novo. Porque essa mulher escreve praticamente tudo sobre minha vida em forma de músicas, dá até medo...
Boa leitura e comentem no final ;)



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Washington, D.C.

25 de Fevereiro de 2015

413 dias da facada que pode ou não ter me matado

Você provavelmente deve estar pensando que esse salto de duas semanas na história foi proposital porque provavelmente nada aconteceu nesse meio tempo e nem morto eu contaria sobre os vários nadas que ocorreram aí e no final das contas eu seria acusado de encher linguiça aqui. Bom, eu fico feliz em desmentir esse boato e também fico mais feliz ainda em estragar a sua alegria.

É tudo verdade. Porra nenhuma aconteceu em duas semanas cheias da seguinte situação: escola, casa. Depressão não diagnosticada. Comer, dormir. Acordar. Escola, casa. E por aí vai o ciclo. Mas quem liga? Eu adoro essa rotina. Sinceramente, prefiro mil vezes ficar intocado em casa longe de qualquer perigo de assalto, confusão e McDonald’s atraente que o valha a ir atrás de todas essas coisas e no final levar advertência da família toda que “por Deus, não esperava que você um dia se tornaria essa pessoa, Daniel Arthur Boone”.

E vai por mim. Você não quer decepcionar a família Boone.

Enfim, vou te poupar dos detalhes desse drama por enquanto e focar no fato de que nesta escola aqui, uma das coisas mais importantes (e que eles devem ter prazer em esfregar na cara da sociedade o que praticam, porque pelo amor de James Brown, nunca vi tanto orgulho acumulado) é a eleição para o líder de sala. Sim, você até poderia pensar que o grêmio estudantil é mais importante que um líder de classe, mas aqui nesse colégio cujo nome eu realmente não faço questão de falar, quase tudo é invertido. Menos a sexualidade de Shawn Hans e seus amigos. São héteros e disso ninguém pode duvidar a não ser eu por motivos que… CALADA, CONSCIÊNCIA! NÃO TE CHAMEI AQUI! Foda-se, eu estou aqui pra causar, se fosse pra ser pacífico eu tava no oceano, querido Daniel!

Eu definitivamente odeio quando minha própria consciência trai meu raciocínio dessa forma. Voltemos ao script.

Como eu disse antes, líder de classe é algo muito importante e marcaram para hoje a bendita votação. Legalmente uma pessoa dessas deve “unir a coordenação da escola aos alunos da sala por meio do líder de classe, que além de moderar essas relações, também propõe propostas (juro, a coordenadora falou isso na semana passada e eu ri bastante… por dentro, óbvio) que visem o bem-estar de ambos os lados”, mas burburinhos espalhados após o anúncio da eleição chegaram aos meus ouvidos e eu entendi algo do tipo “líder de sala é aquele que vai resolver todos os nossos problemas e ser trouxa por motivo besta”.

Preciso revisar meus conceitos de honestidade e corrupção depois de três semanas dentro dessa sala de aula.

— Terra chamando Daniel Boone — Raven Fields balança as mãos na minha cara, quase me estapeando pra voltar à realidade — vamos para o auditório!

— Fazer o quê lá? — Pergunto, alheio à situação toda.

— Eleição do líder de sala, bobão… e se você não percebeu, todos já foram.

Giro meu corpo em 360º para comprovar que realmente só restavam eu e Raven ali na sala de aula. Deus, se o senhor ainda está aqui por mim, me ajuda a não voar tanto no meio das aulas, tá? Nunca te pedi nada!

— Drogaria — esbravejo, já me levantando — vamos logo, Fields!

— Hum, quem é o apressadinho agora? — Ela vem correndo atrás de mim, e acabamos sendo pegos pela faxineira no corredor.

— Ei, vocês dois — ela se mete no nosso caminho. Enxerida — pra quê essa correria?

— Queridinha — preparo meu discurso — isso aqui é um corredor, para que mais ele serve? Pra jogar grama e chamar as vacas do Ensino Fundamental II pra pastarem?

— Pegou pesado, cara — a garota ao meu lado diz.

— Por um lado, isso faz sentido — a funcionária concorda com a cabeça depois da afirmação — mas por outro lado, os diretores me matam se eu deixar vocês correrem. Preferem seguir a risca a palavra “corredor” ou a palavra “regra”?

— Com certeza a “regra” — Raven me corta antes que eu pudesse contra-argumentar lindamente. Vadia, ela sabia que eu faria isso e tratou de me interromper — vamos logo, Dan, já devem estar dando falta de nós no auditório!

— Só se for de você mesma, não é? Aqueles lá nem lembram direito que eu estudo na mesma sala!

— Não é hora de discurso moralista, vamos logo — me puxa pela mão, e andamos apressadamente - sem correr - até a porta do auditório, a qual Raven empurra sem a menor piedade.

— Menina, tá a fim de arrombar essa porta? — Esbravejo antes de notar que todos os olhares se concentraram em nós — em minha defesa… ela está naqueles dias.

— O QUÊ? — Meus tímpanos quase estouram com o grito da garota.

Belisco de leve seu pulso pra que ela entendesse o recado e não nos fizesse pagar mico pelo atraso e pela declaração de TPM. Coopera aqui, mona!

— Eu fiquei esperando por essa moça no banheiro, já que ela também é novata e conhece esse prédio menos que eu — os outros continuam a me encarar como quem pensa ih, chegou o cheio de razão pelo atraso, o pensador, o argumentador, o diferentão e eu percebo que a explicação que estava dando era embaraçosa e desnecessária ao mesmo tempo — quer saber? Esqueçam o que eu falei.

— Tem sorte dos professores ainda não terem chegado — a única amiga do momento sussurra para mim, enquanto nos sentamos em umas cadeiras avulsas dali — ou estaríamos ferrados.

— Uma característica que você precisa saber sobre mim depois de três anos sem me ver: eu sempre me ferro, até mesmo involuntariamente — comento, e em seguida lembro do que viemos fazer no auditório — você sabe alguma coisa dos candidatos?

— Só do cara em quem vou votar. Está a fim de saber?

— Seu voto é o meu voto, sua boca de urna é minha também. Fala.

— Aquele cara sentado lá na frente — ela aponta para um jovem de aparência levemente oriental — o nome dele é Edward Hong.

— Ele é parente do Ki Hong Lee dos filmes Maze Runner?

— E isso interessa? — Ela arqueia as sobrancelhas — Os fatos são: descendentes de orientais sempre são bons em exatas.

— E daí?

— Eles podem resolver qualquer problema rapidinho com aquele cérebro cheio de equações, ué!

— Não sei se fico surpreso com o estereótipo de oriental ainda estar presente ou com o fato de você ainda acreditar nesse clichê de fanfic — reviro os olhos e tenho uma ideia — vou procurar informações direto da fonte, com licença.

— Quê? — Ouço Raven falar antes de me aproximar do tal Edward Hong.

Santa Rihanna, até que ele não é de se jogar fora. Poderia ter um crush nele sem dúvidas, mas não foi pra isso que você veio, Daniel. Seja o persuasor que você precisa ser.

— Olá — começo com a palavra mais clássica — você é o Edward, certo?

— Em carne e osso — responde, de um jeito que faria qualquer um pensar que ele é um convencido qualquer, mas ao mesmo tempo de forma que te faz rir porque sabe que ele está sendo sarcástico. Puta merda, não é hora de ter crush em candidato a líder de sala! — E seu nome é…?

— Daniel Arthur Boone, mas pode me chamar só de Dan que eu não me incomodo.

— Encantado em conhecer o senhor, Dan.

Okay, a porra tá ficando séria. Que tipo de cara aparentemente hétero em pleno século 21 diz “encantado em te conhecer” para outro cara?

Ainda bem que eu disse “aparentemente” ou eu teria problemas no futuro.

Porcaria de consciência que interrompe a história! Dá pra parar? Agradeço!

— As pessoas ainda dizem “encantado” hoje em dia uns para os outros ou isso é coisa da Coreia do Norte?

— Primeiro: Coreia do Norte é o caralho — cruzou os braços — sou da Coreia do Sul e se eu tivesse vindo do Norte, já estaria te batendo, mas as coisas não funcionam assim. Segundo: é coisa do meu país. Somos bastante educados.

Fiquei boquiaberto com a reação do menino Hong. Ele precisou bater na minha cara pra eu voltar a realidade.

Ah, tá tranquilo, tá favorável! Eu aqui sendo idiota com o futuro líder da turma!

— Leve na brincadeira, em nome de Jesus — limitou-se a um breve riso — E então, o que deseja, Dan?

— Calma, isso aqui não é ligação de telemarketing pra você me perguntar isso — e a resposta que eu quero dar definitivamente não é ideal para uma conversa dessas, penso e depois dou risada sem querer, denunciando a coisa toda e fazendo-o rir também — minha amiga Raven disse que você é um dos candidatos a líder de sala.

— Exatamente. Veio pedir alguma coisa para caso eu seja eleito?

— A gente conversa sobre isso depois — pisco o olho esquerdo — na verdade eu estava pouco me lixando pra essa eleição até lembrar que eu preciso dar meu voto, então preciso saber um pouco do que você pretende ao se candidatar. Será que eu poderia ouvir suas palavras sobre isso?

Não há muito o que dizer do que houve, mas aqui vai o spoiler decisivo: marcamos um encontro no shopping pra mais tarde.

Mentira. Não sou do tipo que sai dando pra todo mundo.

Até porque eu não saio dando pra ninguém mesmo.

No final das contas ele me explicou o que pretendia fazer caso fosse eleito (spoiler número dois: não incluía comida de graça na hora do intervalo) e eu agradeci pelo tempo que ele dispôs. Mas como o bom trouxa que sou, não contava com o fato de que a coordenação da escola chamaria ele e o outro candidato para falarem A MESMA COISA na frente da sala toda. Ou seja, gastei meu tempo falando com um coreano safado que me ludibriou. É a vida me fazendo de trouxa.

Sendo assim, tratei de viajar dentro da minha mente até que o resultado fosse anunciado, voltássemos para a sala e continuássemos aquela aula boring de Geografia. Spoiler número três: Edward Hong foi eleito por unanimidade e eu jamais saberei o que os colegas de sala tinham contra o outro candidato porque eu simplesmente não dava a mínima pra isso.

Denver, Colorado

27 de Fevereiro de 2015

411 dias antes da facada que pode ou não ter me matado

Nunca agradeci tanto a Deus por ter pais cristãos como hoje. Aaron e Ellis foram a um acampamento de casais da igreja que frequentamos, e inicialmente eu ficaria com meu irmão Justin na casa da minha avó materna, mas o mesmo Deus ao qual agradeci pelos dias longe dos meus pais também me agraciou há mais de vinte anos (antes mesmo de eu nascer, olha o tamanho da sorte!) com um anjo disfarçado de ser humano que atendia pelo nome de Andrew Boone.

EU DEFINITIVAMENTE AMO MEU TIO! Ele ligou lá pra casa dia desses perguntando se poderia me levar para um fim de semana em sua casa de campo no Colorado, e meu pai - que não é bobo e sabe que eu não aguentaria ficar tomando conta do pequeno Justin Pestinha - prontamente autorizou essa viagem.

E cá estou eu, admirando a paisagem campista dos arredores de Denver por meio da janela peliculada do carro modesto de meu adorado tio Andy, curtindo um rádio que tocava “Hey Brother” do Avicii - ótima música para viagens, recomendo - e pensando nos vários nadas que eu faria naqueles três dias. Outro motivo pro meu tio Andy ser a melhor pessoa do planeta: ele não se importa com o fato de eu ser um sedentário. Contanto que eu me alimente bem e esteja feliz com isso, ele pouco se importa com minha falta de movimentos.

Minha felicidade mental é interrompida pelo frear do carro.

— Chegamos, sobrinho — ele cutuca meu braço, e eu viro minha cabeça para encará-lo.

Seus vinte e quatro anos de idade eram bem estampados em seu rosto. Sempre tive inveja do fato de ele nunca ter tido espinhas ou cravos - as benditas me atormentam desde os primeiros indícios da pré-adolescência - e também porque, aos dezoito anos, tio Andy deu a louca e pintou os cabelos com um tom loiro bastante claro. Porcaria, eu queria pintar meu cabelo também, mas a minha amada mãe Ellis ameaçava me dar uma voadora se eu viesse com essa conversa de novo. E tirando o sobrenome na certidão de nascimento e os óculos de leitura, ele não se parecia em nada com meu pai. Totalmente o oposto.

Ah, se ele fosse meu pai!

— Alô, alô, marciano — nem noto quando ele dá um tapa em minha cabeça — eu sei que sou essa Coca-Cola toda, Danny — e eis o único ponto negativo do tio Andy: ele me chama de Danny — mas também não precisa ficar me olhando dessa forma, não é?

— Desculpa, é que eu fiquei martelando aqui na cabeça… você não é nada parecido com o Aaron.

— Não é a primeira vez que ouço isso — ri levemente — vamos pegar nossas coisas?

O sol já se punha de vez quando acomodamos nossas coisas num dos quartos da casa de campo - que por sinal não era isolada, inclusive até haviam uns comércios por perto para garantir que não morreríamos de fome - e eu simplesmente me jogo na cama como se ela fosse feita de aço puro. Tio Andy faz o mesmo com sua cama, e logo nos encontramos encarando um teto já não iluminado mais pela luz do sol que adentrava facilmente pela janela daquele quarto.

— Sua avó sempre destacou as diferenças entre seu pai e eu — ele diz, me pegando de surpresa com o início de uma conversa.

— Oi?

— Quando você falou que eu não pareço em nada com o Aaron — Daniel Esquecidinho Ataca Novamente — sei lá, eu comecei a remexer umas memórias aqui na cabeça e lembrei das inúmeras vezes que sua avó olhava pra minha cara e contava nos dedos as semelhanças entre meu irmão e eu.

— Ela fazia isso na cara dura?

— Na cara dura, exatamente! — Rimos histericamente — De fato, ela deixava implícito que eu deveria ser mais responsável e menos preguiçoso, que nem o seu pai era nos áureos tempos da adolescência.

— Mas vocês tem, sei lá, uns quinze anos de diferença… como conviveram juntos?

— Correção: dezesseis anos — legal, eu não sabia mais a idade do meu pai, a que ponto cheguei? — e antigamente era muito comum os filhos continuarem morando na casa dos pais mesmo depois de atingirem a maioridade. Você já deve ter visto isso nas aulas de história.

— Cá entre nós, eu estava ocupado demais contando carneirinhos nessas aulas — obrigado também, Deus, pelo meu tio adorar meus comentários sarcásticos — mas eu já li em alguns livros sobre isso.

E ali ficamos, conversando sobre passado, presente e futuro, até que a famosa fome bateu e eu lembrei que tinha um pacote de macarrão instantâneo (AKA miojo para os leigos) na minha bolsa. Decidi me levantar e preparar eu mesmo, porque era a única comida de fogão que eu não incendiaria de fato; peguei o pacote na bolsa já desarrumada, me encaminhei à cozinha, abri o registro do gás (não me pergunte como eu aprendi a fazer isso sem me tremer de medo, eu já me sinto um vencedor só com isso) e fiz o que tinha que ser feito. Qual é, eu não sou lerdo a ponto de ensinar o passo a passo de um simples macarrão instantâneo aqui em pleno texto dramático. Hoje não, Faro.

Quando finalmente me sento à pequena mesa de madeira que havia ali, tio Andy adentra a cozinha com um papel amassado em mãos e uma expressão de dúvida estampada no rosto.

— Danny… precisamos conversar.

Ai, caralho, não pode ser depois? Deixe-me fazer uma última refeição antes da morte!

— S-sobre o quê? — Minha voz treme já na formulação da pequena e fatídica frase.

Você pode estar pensando que eu sei o que tem naquele papel e que por isso eu imaginava o quão ferrado estava.

Resposta incorreta. Eu não fazia ideia do que era aquilo, mas coisa boa não podia ser.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam dos personagens novos? Edward parece ser boa pinta, mas depois a gente dá uma olhada mais aprofundada nesse menino. E O QUE FOI A EXPLOSÃO DE FOFURA QUE FOI DANIEL E SEU TIO, GENTE? Tio Andy, melhor coisa de Enchanted - Parte Um, admitam *u*
O que vocês acham que o Andrew encontrou sobre o Dan? Será que ele vai acabar descobrindo sobre o curioso caso do sobrinho? Isso vocês só irão saber na segunda parte dessa joça #MALVADEZAFEELS

Espero que tenham gostado e que continuem por aqui para os próximos capítulos ;)

PS: Sigam a mim e a Luce no Twitter: @vitaostilinski / @Luce_Banana . A gente fala coisas da fic por lá e vocês podem se comunicar conosco também :D