O Curioso Caso de Daniel Boone escrita por Lola Cricket, Heitor Lobo


Capítulo 4
I Knew You Were Trouble


Notas iniciais do capítulo

Olá, amores da Luceana Lacradora! Quarta feira... Dia do que? De capítulo novo! Embora também seja dia de feira do pão na minha antiga cidade, mas...
Quero agradecer aos lindos comentários que recebi e por todo o apoio que recebi. Realmente está sendo uma experiência conviver por aqui e enfrentar este desafio que o Vitor me propôs. Se não gostarem de algo que escrevi, podem avisar que tentarei melhorar.

Este capítulo, no entanto, foi escrito tanto por mim quanto pelo Vitor. Mas, nossa, por que? Porque eu não soube fazer uma conversa entre amigos do Daniel. Normal, né? Super normal. Coisa do dia a dia. Ou não.

Enfim, desculpem qualquer erro. Revisei o capítulo, mas estou cansada e não prestei muito atenção no que lia. Boa leitura! :)



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Washington, D.C.

11 de Fevereiro de 2015

427 dias antes da facada que pode ter me matado, ou não ter me matado.

Os defeitos da alma são como ferimentos do corpo; por mais que se cuide de curá-los, as cicatrizes aparecem sempre, e estão sob a constante ameaça de se abrirem. E a minha cicatriz — mais conhecida como Shawn Hans — acabou de ceder.

De todos os momentos que imaginei vivenciar no ano de 2015 e talvez todas as novidades e aventuras que eu pudesse ter a chance de experimentar viraram pó no exato segundo que percebo estar na mesma bendita van 086 que o garoto de olhos verdes.

Como eu havia dito anteriormente, 086 era definitivamente o número do azar, na verdade, estou mascarando a terrível situação com um belo e ensaiado eufemismo.

 Não que isso fosse servir de alguma coisa nos dias de hoje.

Convenhamos que levando em conta as probabilidades, isso poderia facilmente acontecer. Assim como as chances de eu encontrar um dólar vagando pela cidade. Nada impossível, convenhamos. De todas as formas, nesse momento perturbador onde as pernas de Shawn estão dando passos mais largos e chegando ainda mais perto, tenho certeza que o mundo e as probabilidades me odeiam oficialmente.

E sem nenhum motivo! Deus, até parece que joguei pedras na Cruz em algum momento bendito da minha vida passada.

Graças aos Céus e qualquer personagem mitológico apresentado nas sonolentas aulas de História que pudesse alojar-se em suas doces e condensadas nuvens de algodão, Hans se senta atrás do meu assento, onde um garoto de cabelos loiros e sardas parecendo sementes de um sanduíche natural e integral se diverte com suas piadinhas sem graça e de um humor fajuto.

Cogito a possibilidade de por meus fones novamente e poder ignorar a sensação de raiva, trauma e infelicidade que toma conta de mim, mas a sensação de algum dedo intruso estar cutucando o meu ombro ossudo interrompe qualquer plano feliz que eu pudesse concluir naquela manhã.

Eu era um azarado de carteirinha. Aquele cara abobado que renovava o papel de trouxa com cada mudança de número nos dígitos do ano.

— Ei, Daniel, que surpresa encontrá-lo por aqui! — sua felicidade é tão falsa quanto chocolate diet que sinto vontade de lhe mostrar o dedo do meio e pular fora daquele veículo estúpido. Eu acabaria morrendo devido à queda, ao menos eu teria me libertado do Diabo de olhos verdes e teria uma ótima história trágica para contar aos meus filhos (se eu for ter algum, claro) — Sentiu minha falta?

Engulo a seco e o fito. Apesar de pouco tempo ter passado desde o que vi, seus olhos continuavam com as mesmas expressões indecifráveis — aquela que eu já tentara mil vezes desvendar e sempre acabava na escala zero. Digno de aplausos, ironicamente — e sua pele estava mais bronzeada, provavelmente por conta das ótimas horas de Sol que teve.

— Nenhuma, para seu azar — respondo com acidez e faço menção de me virar, porém seus dedos agarram o meu ombro impedindo-me de qualquer movimento. E em momentos como aquele eu desejava ser do Exército para saber lutar como um digno cara do filme Kung Fu Panda ou até mesmo como Tobias Eaton de Divergente — Aposto que não sentiu nem um pouco a minha também.

Pensando bem seria divertido ver o sangue jorrando de seu nariz, e eu me sentiria dentro do mundo de Travis Maddox naqueles segundos que se sucederiam ao fracasso de Shawn Hans.

Shawn sorri de uma forma irônica e olha de relance para o amigo baixinho e loiro — cujo nome nem quero saber — como se ele fosse capaz de entender a situação sem dizer nenhuma palavra. O que, obviamente, não iria acontecer. Homens são burros em questão de olhar, isso eu tinha certeza. Já mulheres... É uma situação bizarra quando notamos o quanto elas são capazes de dizer com apenas um gesto. Minha mãe que o diga.

E pelos momentos que eu havia presenciado nas férias, parecia que meu pai estava aderindo ao movimento “Fale com o olhar e leve um pacote de camisinhas de graça para casa”. Por apenas dezenove e noventa!

— Pois minha situação é diferente da sua — ele se abaixa um pouco, como se fosse me contar um segredo. Alá Pretty Little Liars — Eu senti muitas saudades de você.

Engana-me que eu gosto, Shawn! Não sou cliente idiota que acredita na propaganda de panetones super recheados, quem dirá por um pingo de confiança em suas palavras que pareciam simples sílabas saídas de sua boca carnuda.

— Incrível sua capacidade de continuar sendo um mentiroso — penso alto e seus olhos verdes se arregalam com a minha ousadia.

O garoto loiro solta uma risadinha e aponta para mim com o dedo seboso de alguma meleca desconhecida. Aposto que era tatu, e não aquele que dá de comer. O que sai do nariz mesmo.

— Ah, Daniel, confesse, você daria de tudo para ter passado nem que fossem cinco minutos com o projeto musculoso aqui! — ele segura o braço de Shawn e finge testar a musculatura — Pelo menos ele tem um pouco de gordura...

Sua frase fica no ar, e sei que ele está se dirigindo a minha falta de músculos comparados a Shawn. Não que ele seja um dessas caras bombados que lutam pelos becos a fim de ganhar um pouco de autoconfiança, Shawn tinha apenas um pouco mais de gordura. O que o deixava muito mais atraente de fato — tanto para mim quanto para as garotas que já conseguiam encher um sutiã tamanho 42 em pleno primeiro ano do ensino médio.

Talvez fosse resultado de todas as porcarias que ele come. Se bem que eu também comia, então... Ah, foda-se.

— Por que vocês não cuidam da vida de vocês? — esbravejo já perdendo o restante de paciência que ainda tinha restado do meu dia. Ou a pouca paciência que herdei de Ellis e suas incríveis habilidades de tirar qualquer ser humano do sério — Existe uma coisa chamada limite, e vocês estão ultrapassando o meu.

Shawn revira os olhos e joga os cabelos escuros para trás.

— Quem liga para isso, Daniel? — o sorriso e as sobrancelhas arqueadas combinada com a raiva acumulada em minhas veias desde que acordei faz minha atitude ser involuntária — Por que você está erguendo essa merda?

Mal tenho tempo de responder tampouco Shawn de se esquivar, já que jogo minha mochila preta com força contra sua cabeça. O gemido que se sucede quase me faz se arrepender de ter tomado tal atitude, mas quando o garoto loiro me encara com relutância tenho certeza que fiz a coisa certa.

Um sorrisinho de mariquinha, eu tinha que concordar. E comemoro internamente ao estilo Festa de Ano Novo ao constatar que talvez as coisas pudessem ser divertidas ao lado de Shawn. Não dignas de um filme de comédia com Adam Sandler, mas poderia ser... Tolerante, digamos assim.

— Qual o seu problema, Daniel? — Shawn gesticula para sua cabeça e a mochila que eu ainda segurava — Pensei que fossemos amigos!

Amigos? Quando tais palavras adentram meus ouvidos e são processadas por minha mente meio Tartaruga — nada ninja, por sinal — sinto algo dentro do meu corpo congelar como se estivesse apenas de cueca no Alasca. Era uma sensação estranha, como se um balde de água fria tivesse sido jogado em minha cabeça fazendo-me acordar para a realidade. Ou talvez fosse o vento que entrou pela porta quando a motorista a acionou, alegando que tínhamos parados no primeiro ponto.

Preferia a segunda opção que além de mais viável, tinha mais a ver com a situação ridícula que eu me metia a cada segundo a mais que passava dentro da maldita 086.

— Não posso ser amigo de pessoas como você — confesso em um tom rouco — Já está na hora de você ter conhecimento disso.

Assim que digo essas palavras percebo que alguns olhares caem sobre nós e uma turminha de menininhas com minissaias coloridas — parecendo o arco íris dos Ursinhos Carinhos — cochicha sobre Shawn e eu. Ignoro qualquer palavra idiota que possa sair de suas bocas infantis e coloco os fones — com sucesso dessa vez. E sem interrupções.

E assim se sucedem os próximos minutos. Vários alunos descem do veículo e acenam com animação para Shawn —como se ele fosse um conhecido ou uma web celebridade — e depois sorriem para a motorista risonha.

Depois de quase todos terem saído, percebo que estamos em cinco pessoas e todas são desconhecidas para mim, exceto Shawn que remexia em seu relógio de pulso com uma concentração desconhecida por mim. E ninguém parece estar a fim de bater papo com um banana como eu — e eu também não seria idiota a ponto de abrir minha boca e trocar mais algumas palavras infantis com Shawn.  Talvez eu pudesse conversar com o garoto sentado do meu lado que está usando um boné maior que sua cabeça, porém levando em conta a careta que ele faz quando ouso trocar uma palavra; percebo que é uma péssima ideia.

Ou seria morto com uma facada ou levaria um soco que me tiraria de órbita pros próximos cem anos.

Olho de relance para a janela e percebo minha casa se distanciar cada vez mais. Merda. Merda. Merda. Adeus, bela moradia!

— Motorista idiota — resmungo comigo mesmo, pensando em como voltarei para casa quando for despejado em um beco repleto de besouros, bêbados e mulheres seminuas.

E não, eu não sentiria nenhum tesão por conta disso.

O garoto ameaçador revira os olhos e se levanta rapidamente de seu assento, diz algumas palavras com a motorista que olha rapidamente para mim e me direciona um sorriso envergonhado.

Qual é, serei xavecado pela aquela senhora ali? Deus que me livre! Preferia pisar no monte de bosta que o cachorro do vizinho sempre eliminava em nosso jardim do que me imaginar apalpando seus seios molengos.

— De nada — o desconhecido diz isso quando se senta novamente ao meu lado. Franzo o cenho sem entender nada no começo e quase chego à conclusão que talvez ele seja mesmo o psicopata que minha mente insiste em dizer que é.

Mas como eu disse... Quase...

Noto que o 086 fez à rotatória e agora estamos de volta à rua de minha amada casa e finalmente o bendito estaciona, para logo em seguida a porta estranha ser acionada e finalmente aberta.

Sorrio para o desconhecido e pego minha mochila.

— Obrigado... — mordo o interior da bochecha por não saber o seu nome.

— Kian, se vale de alguma coisa — Kian deu de ombros e tirou o boné — Até mais, Daniel.

Arregalo os olhos quando ele diz o meu nome. É, talvez ele seja mesmo o psicopata que pensei. Cruzo os braços e aceno para a motorista.

Aproveito o momento e olho de relance para trás e vejo Shawn me encarando com expectativa.

— Tchau, traste — digo com um sorriso para logo sair correndo daquele 086 que teria o meu pesadelo nos próximos dias escolares.

Empurro a porta de casa notando que estava emperrada e ouço os gritos irritantes de minha mãe por tratar com pouca educação a casa que eles deram um duro danado para comprar. Ignoro com impaciência e tento evitar a sensação e a vontade de explodir em sua frente.

“Ela não tem culpa disso, Daniel”, minha mente grita com desesperando, temendo que eu fizesse burrada e jogasse a temida verdade no colo de minha estabanada mãe. Subo as escadas com esse pensamento e bato com força a porta do meu quarto.

— Belo dia, Daniel — reviro os olhos e cubro os olhos com as mãos — Belo dia mesmo, seu panaca.

Encaro minha imagem distorcida no espelho do quarto e noto como eu decaí de nível em apenas poucos segundos ao lado de Shawn Hans. Suas provocações me levaram ao limite, entretanto eu sabia que era o culpado por elas, pois eu sempre soube que ele seria o problema desde que apareceu em minha medíocre — e nada animada vida. Já que a mesma estava mais parada que água de poça.

E Shawn Hans era como um mosquito da dengue, me rodeando e esperando para dar o bote.

Soco o objeto e o vejo trincar diante de mim. Outra atitude inteligente no meu dia. Que grande merda. Bufo com impaciência e cogito a possibilidade de jogar os pedacinhos na cabeça de minha mãe que grita do andar debaixo — todavia isso seria errado e eu ainda seria tachado de louco por toda a vizinhança.

— Daniel? — sua voz atravessa a porta de madeira branca — Está tudo bem, meu amor?

Congelo em meu lugar e tento normalizar a respiração.

— Sim, mãe — soo tão patético que mereço dez mil tapas na cara — Só estou cansado.

— Tome um banho, então — noto a decepção em sua voz e meu coração se aperta — Depois disso venha almoçar, seu pai deve voltar logo do trabalho.

Concordo sem dizer nada e ouço seus passos se distanciarem até não passarem de apenas um sussurro. Era isso: Daniel Boone era tão egoísta que apenas pensava em si mesmo e nossos próprios temores que não pode perceber que a pobre mãe também passava por problemas.

E talvez, ainda piores que os seus.

Pelo fato de ainda ser a segunda semana de aulas e os professores terem pena dos novatos que chegaram nessa escola difícil pra cacete bem na primeira série do Ensino Médio, não tinha tarefas pra fazer hoje, então tudo o que fiz à tarde foi deitar na minha cama, apoiar meu notebook sobre minhas pernas e maratonar os episódios de “How to Get Away With Murder” que não tinha visto desde que a série retornara em janeiro. A propósito, quem aí odeia a pausa que todas as séries americanas fazem no fim do ano? Tenho é pena dos fãs de “Once Upon a Time” que esperam quase quatro meses pra conferir episódios novos. Graças a Deus não assisto. Sem ofensas.

Acho que tangenciei um pouco o assunto aqui, não? Minha professora de redação me mataria a facadas se soubesse disso. Mas aqui eu controlo meu modo de falar, então dane-se.

Fiz isso até que meu pai chegasse. Ele acabou não almoçando com a gente naquele dia - grande novidade, e mesmo assim minha mãe continuava achando que ele voltaria do trabalho só pra isso - e só voltou na hora que meu irmão fora liberado de seu dia na escola. Sendo assim, a paz e o pesadelo chegaram em casa ao mesmo tempo.

— Daniel! — Justin gritou assim que pôs os pés na sala de estar. — Cadê você?

— Morri! — Respondi de volta, só pra ver se ele não me enchia o saco.

Bateu na trave. Justin Boone é mais insistente que Emily Fields querendo entregar -A à polícia a cada episódio que tem treta.

— Eu vou te achar! — Gritou mais uma vez, e pude ouvir seus passos apressados subindo as escadas rumo ao meu quarto. Caramba, eu devo ter ouvidos biônicos e nunca soube disso, pensei.

Logo me levantei e tranquei minha porta. Ah, mas ele não entraria no meu quarto mesmo.

— Eu sei que você trancou a porta, Daniel — eita, porra, meu pai percebeu — abra agora!

— Ai, meu pobre coração — resmunguei para mim mesmo antes de voltar e destrancar a bendita — oi, pai! Como foi o dia no trabalho?

— Larga de falsidade e vem jantar. Eu e sua mãe vamos sair e você vai ficar cuidando do seu irmão.

— Já pedi salário pelo meu emprego de babá?

— Já.

— Então eu estou pedindo de novo!

— Só em seus sonhos, camarada — bagunçou meu cabelo — agora vamos descer e comer como uma família digna que faz todas as refeições unida.

— Jura? Então, por que o senhor não veio almoçar conosco hoje?

— Coisas do trabalho, fiquei preso por lá e comi no restaurante da vizinha.

— Aquele macarrão é cheio de óleo, não sei como você não passa mal depois de comer aquela gordura saturada pra caramba — comentei enquanto descíamos as escadas — sério, como você consegue?

— Uma palavra: água.

— Ah, é — finalizei, lembrando da nossa piada interna.

Não costumo ter piadas internas com meu pai porque ele é bem sério 24 horas por dia, 7 dias por semana, 364 dias por ano - o dia restante é basicamente a véspera de Natal quando nos reunimos com a família dele e fico chocado com o nível das piadas que ele faz com os irmãos - então aproveito o máximo que posso quando criamos um princípio de conexão só nossa. É aquele típico exemplo: sou o tipo de filho que passa mais tempo com a mãe, logo, tem mais conexões com ela do que com o próprio pai que tem potencial pra ensinar mais coisas sobre como ser um homem responsável.

Talvez seja por isso que eu ainda não saio sozinho pra canto algum.

Enquanto nós quatro jantávamos praticamente em silêncio e encarando uns aos outros, meus pensamentos se voltaram ao que acontecera mais cedo. Admito que depois de quebrar o espelho do meu banheiro com um soco me arrependi bastante de ter menosprezado o Shawn - afinal, ele nem veio com a ignorância típica de sempre e eu já fui dando patada atrás de patada - mas enquanto encarava meus pais apenas conversando de modo monossilábico sobre banalidades da vida, soube que fiz o certo. Não posso dar bandeira para que o garoto de olhos verdes adentrasse o infinito da minha mente mais uma vez. O estrago seria grande e sairia dos limites da minha pessoa… se descobrissem que eu estava a fim de outro cara e que ele era muito hétero até pra família tradicional lá do Brasil, não só eu estava ferrado como também uma fila de coisas que importavam por aqui.

Porque eu sabia que Shawn Hans era problema desde que ele entrou na minha vida, então a culpa é somente minha. A vergonha é somente minha.

[...]

Depois que meus pais saíram para sabe-se lá onde, não demorou muito e graças aos céus Justin dormiu tranquilamente em seu quarto, o que me permitiu voltar ao meu canto da escuridão e lugar de meus sombrios pensamentos sobre o quão ruim é viver na minha pele, a fim de me afundar em alguma coisa que eu não sabia bem.

Resumindo: voltei ao meu quarto sem ideia do que fazer.

Aparentemente Deus deve ter tido pena de mim e fez com que uma das melhores pessoas que já conheci em toda a minha vida - digo isso porque ainda sonho em conhecer Adam Levine para trocarmos ideias sobre como alcançar notas tão agudas em canções como “Animals” e ainda sair sambando na cara da sociedade no The Voice U.S.A. - me chamasse no Facebook para passar o tempo conversando.

“Tá a fim de um telefonema?” — Melanie Schmidt

“Partiu” — Daniel Boone

Quinze segundos depois meu celular tocou e era a própria Melanie.

— Alô, querido.

— Melhor frase daquele episódio de Pica-Pau. Boa noite, mate!

— Qual a bomba de hoje?

— Como você sabe que tem bomba?

— Eu simplesmente sei.

Já deu pra ter uma noção do quanto Melanie Schmidt é fodasticamente maravilhosa? E já deu pra perceber que não existe a palavra “fodasticamente” porque o Microsoft Word sublinhou essa palavra com a cor vermelha? E já deu pra notar que eu tô pouco me lixando pra isso?

Acho que eles já notaram, Daniel Arthur Boone. Agora pare de dar voz à mim, que sou sua consciência, e termine logo de falar dessa conversa com a Melanie. É pra hoje?

Ah, vai te catar, consciência!

— Se eu não te conhecesse tão bem, diria que você é a Mãe Diná vivinha da Silva depois dessa.

— Continua logo, garoto!

— Tá bem, tá bem — respirei fundo — só você e Deus sabem o quanto tenho tentado esquecer meus sentimentos pelo garoto de olhos verdes lá e…

— O Shawn. Tudo bem, Dan, a fase de não mencionar o nome dele já foi superada por nós dois.

— Ah, então tá — dei de ombros — tem… duas coisas que eu não te contei sobre essa história. Não me interrompa, em nome da nada santa Taylor Swift.

— Mas eu não ia te interromper.

— Agora me interrompeu.

— Merda. Continua.

— A primeira atualização dessa saga: o bendito Hans veio pra minha escola nova também.

— MAS QUE P-— a interrompi antes que viesse um palavrão pior que “merda”.

— OPA, OPA, OLHA OS MODOS!

— DESCULPA, DANIEL, MAS É QUE EU TÔ ESTRESSADA AGORA!

— O problema nem é necessariamente seu, Schmidt.

— Somos amigos. Seus problemas também são meus, sim.

— Eu até choraria horrores depois dessa, mas tenho de continuar — ouvi-a respirar fundo assim como eu — como se já não bastasse, aí vem a segunda bomba: eu troquei de van, e ele também…. só que ele veio pra minha nova van também.

E a ligação caiu. Caramba, Deus, nem posso contar as novidades pra minha melhor amiga à distância? É isso mesmo, produção? Fiquei praguejando por quase um minuto até que ela ligara de novo. Okay, Deus, te agradeço por meter na minha vida uma amiga que sabe que eu vivo sem créditos de telefonia e por isso nem fica com raiva quando eu não retorno as ligações dela. Obrigado, bom Pai.

— Antes de qualquer coisa, eu mesma desliguei na sua cara pra recuperar o oxigênio depois dessa bomba.

— Quase mandei você ao inferno, menina! Não faça mais isso.

— Tá bem, tá bem — ela riu do meu estouro — mas pelo amor da mãe do guarda, como que o universo te joga uma praga dessas?

— Duas pragas, né — dessa vez eu ri, baixinho pra não acordar meu irmão — sabe que eu também não sei? O que o mundo pretende com essas merdas todas? Me desestabilizar? Acabar com o resto de sanidade mental que tenho? — Senti meu coração acelerar só nesse desabafo… tá bom, organismo, já entendi que você tá nervosinho, agora PARE! Espera, se parar, eu morro. Então, só volta ao normal e me deixa conversar com a menina Melanie. — Por favor, me diz que ele não vai me importunar pelo resto do ano como ele fez hoje.

— Espera, ele mexeu contigo hoje?

— Sim — levei as mãos à testa não sei por quê — ele e um colega dele lá ficaram me enchendo o saco, mas nada que eu não pudesse resolver metendo a bolsa na cabeça do menino Shawn.

— Cara, como eu queria ter estado lá só pra ver isso!

— Muito típico de você fazer algo assim — sorri involuntariamente — se duvidar, você até pegaria uma pipoca e gritaria “BRIGA, BRIGA, O GALO E A LOMBRIGA!”, certo?

— Contra esse fato não há argumento!

— Aí a motorista me esqueceu logo no primeiro dia e graças a um anjo enviado por Deus e incorporado num garoto com cara de psicopata, ela voltou, me deixou e eu dei minha última cartada.

— O que você fez?

— Disse “tchau, traste”.

— TU É MEU ÍDOLO, MATE!

(“Mate” é a definição de “colega, parceiro” em inglês. Para os leigos que não veem Once Upon a Time e consequentemente nunca ouviram o carinha lá cujo nome esqueci pronunciar “bloody hell, mate” e a legenda traduzir pra “caramba, parceiro”... e não, eu nunca vi esse episódio, mas a Melanie me contou e cá estou eu tangenciando o assunto de novo. DESCULPA, PROFESSORA MONICA, ISSO NÃO VAI SE REPETIR!)

— Ai, obrigado, plateia gentil, eu tenho umas dez folhas cheias de palavras a dizer porque eu sabia que receberia o prêmio da MTV de melhor cena de luta… mas condenso todas elas em EU SOU INCRÍVEL!

— Mais incrível, impossível!

— Ui, temos uma garota boa de rimas aqui, sim?

— Modéstia à parte, eu sou boa — riu tão alto que precisei afastar o telefone do ouvido direito — Mas, voltando ao que realmente interessa aqui… você sabe que vai ter de aturá-lo não só na escola como na van pelo resto do ano, né?

— Eu sei, mate. É disso que tenho medo, sabe? De surtar e dar ao Shawn o que ele quer: minha paciência perdida. Ah, mas eu não vou dar o braço a torcer — assumi uma postura confiante — não vou mesmo!

— Acredito em você, Daniel, acredito mesmo… mas você está ferrado. Muito, aliás.

— Me diga uma novidade.

“Eu sabia que você era problema quando você apareceu… Bem feito pra mim agora! Você me levou a lugares aos quais nunca estive, e agora estou deitado no chão duro e frio… Mas nada de desculpas. Ele nunca te verá chorar. Finja que não sabe que ele é o motivo de você estar chorando.”

— Taylor Swift, “I Knew You Were Trouble”

 


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Notas finais do capítulo

E ENTÃÃÃOOO, o que acharam? Este capítulo é o mais comprido de todos até agora, então, espero que não tenham abandonado pela metade ou com preguiça de lê-lo, pois ficou bem bonitinho #euachei. Mas foda-se para o que vocês pensam... MENTIRA.


UXALA, deixem seus comentários e nos vemos sabe Deus quando, pois vai demorar para ter capítulo meu de novo. Um beijãoo bem grande na garganta de vocês.

:)