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Se lembra daquelas paredes que construí?
Bem, querido, elas estão desmoronando
E elas nem sequer resistiram à queda
Elas nem sequer fizeram barulho ...

(Halo - Beyoncé)

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Olhei mais uma vez para o céu naquele fim de tarde tentando entender o por que não tinha dado certo. Meu lado racional entendia o motivo, e até concordava, éramos jovens demais para viver um relacionamento assim, mas por outro lado eu estava realmente chateada, afinal a ideia de levar isso a diante tinha sido dele, ele havia dito que daria certo, ele insistiu e agora ele havia colocado um ponto final. Ouvi o barulho de uma janela abrindo, mas não olhei na direção da mesma eu já sabia quem era.

            - Sabia que encontraria você aqui – Peeta disse se aproximando com cuidado, não disse nada e continuei olhando o céu, o sol estava começando a  se por lentamente no horizonte – Eu sempre tenho a sensação de que vou cair daqui – ele comentou sentando ao meu lado no telhado que cobria a varanda dos fundos da casa dele.

            Desde os sete anos eu comecei com o habito ficar ali quando queria pensar, aquele cantinho do telhado onde era quase impossível me verem, mas que tinha um vista bem legal dos morros do Distrito. O acesso até ali não era realmente difícil, pela casa dele bastava sair pela janela do corredor do segundo andar ou do quarto de hospedes e caminhar pelas telhas com cuidado, pela minha casa era um pouco mais complicado eu precisava subir na árvore que ficava na lateral do jardim e ir pelo tronco até a parte que pegava o outro lado da cerca e pular até o telhado, Peeta nunca ia até ali pelo meu quintal ele sempre foi péssimo em subir em arvores.

            - Castor terminou comigo – disse baixinho depois de alguns minutos de silencio e ele me abraçou com carinho esperando que eu conta-se o que aconteceu – Ele disse que não esta dando certo com todo essa distancia entre nos e que era melhor acabar.

            - Ele é um idiota – ele fez carinho no meu braço lentamente ainda me abraçando – Se ele não quer fazer um esforço para estar com você ele não vale a pena.

            - Eu não sei onde eu estava com a cabeça quando aceitei esse namoro a distancia – Castor tinha sido meu primeiro beijo dois anos atrás, na época o beijo não tinha dado em nada, pouco mais de um ano depois nos encontramos novamente ao acaso no Distrito 4, nossos pais não estavam mais juntos e de certa forma isso pareceu fazer com que nosso contato ficasse mais fácil, nos falávamos constantemente por e-mail e seis meses depois marcamos de nos encontramos novamente e decidimos namorar, mesmo que a distancia – Quantas vezes conseguimos nos ver nos últimos seis meses? Estava claro que não daria certo – de fato depois de começar a namorar nos vimos apenas nas férias de verão a alguns meses.

            - Se ele fosse bom o bastante para você teria dado certo, se ele fosse inteligente teria tentado e não se importado com a distancia, você vai achar alguém bem melhor do que ele, alguém que mesmo ficando meses longe de você faria qualquer coisa para ver você nem que fosse por alguns minutos.  

            - Essa pessoa não existe Peeta – talvez fosse o fim recente do namoro, mas parecia difícil pensar em outro namorado no momento.  

            - É claro que existe, e um dia você vai achar – ficamos em silencio apenas olhando o céu já escuro enquanto ele continuava me abraçando – O que acha de irmos ao cinema?

            - No meio da semana? – estranhei a proposta, já que nos dois sabíamos que tanto minha mãe quanto os avos dele não permitiam que saíssemos muito durante a semana por conta do colégio.

            - Vai ser divertido, podemos ver aquele filme de terror que estreou na ultima sexta, e duvido que vão impedir a gente de ir já que você terminou com seu namorado e precisa se divertir um pouco.

            - Vendo um filme de terror?

            - Uma comedia romântica te colocaria para baixo- ele comentou como se fosse obvio e acabei sorrindo.

            -Você esta usando o fim do meu namoro como desculpa para ir ao cinema?

            - Talvez – ele sorriu e se levantou estendendo a mão para me ajudar – Vai ser divertido, podemos comer chocolate e pipoca.

            - Tudo bem – me levantei – Mas você paga, minha mesada já acabou.

            - Você precisa aprender a controlar sua mesada, mas tudo bem eu pago e entra pela janela é mais seguro – ele comentou assim que viu que eu desceria pela árvore.

            - Não sei qual seu problema com a árvore – disse seguindo ele pelo telhado até a janela.

            - Com a árvore nenhum, com você pulando dela para o telhado todos, você pode muito bem vir por aqui e evitar se machucar.

            Ele pulou a janela do corredor e me ajudou a entrar também, alguma forma era bom saber que ele se preocupava comigo, saber que ele farai o possível para me ver bem.

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  Aquela pergunta me deixou sem reação por alguns segundos, olhando a mulher na minha frente com o sorriso enorme fez com que em segundos eu voltasse anos no tempo. Como não lembrar de Glimmer Rambin, não que eu tenha pensado nela nos últimos dez anos, mas ela tinha virado um nome constante demais nesse ultimo verão e obviamente eu também me lembrava dela no tempo de colégio. Líder de torcida, popular sempre rodeada de amigos do time de basquete e da torcida e que havia namorado Peeta no colegial.

            - Você não mudou quase nada Katniss – ela sorriu simpática e Peeta abraçou levemente sua cintura.

            - Você também não – disse após me recuperar da surpresa de vê-la ali – É realmente uma supressa ver você aqui – comentei olhando Peeta em busca de uma explicação, mas quem falou foi ela.

            - Acho que não estava preparada para deixar o Peeta ainda, então vim acompanhando ele assim eu aproveito e conheço o Distrito 4, acredita que nunca estive aqui, Peeta disse que tem lindas praias espero poder conhecer alguma.

            - Você vai conhecer – ele falou sorrindo e senti uma sensação horrível ao ver o modo como ele falava com ela – Katniss mora em frente a uma das mais belas praias do Distrito e eu mesmo vou te levar a uma.

            - Realmente as praias são lindas, você vai gostar – comentei por educação, forçando um sorriso – Acho melhor irmos o transito está um caos hoje, muita gente chegando.

            Seguimos conversando até o estacionamento e por mais que eu desejasse deixa-la no aeroporto para que ela voltasse para a Capital, tentei ser simpática. O percurso do aeroporto até o apartamento do Peeta foi feito com ele contando mais detalhadamente sobre as coisas que viu na Capital e o quanto eu precisava conhecer. Glimmer falou muito bem sobre o lugar e me limitei a sorrir e fazer alguns comentários. Peeta sentado no banco do passageiro me olhou algumas vezes provavelmente sabendo que eu não estava a vontade, ele me conhecia e sabia que aquele sorriso não era nem um pouco verdadeiro.

            Chegamos no apartamento dele por volta das sete e meia e Peeta sugeriu pedirmos o jantar e aproveitar uma noite mais tranquila em casa mesmo. Enquanto Peeta apresentava o apartamento a Glimmer eu me sentei na sala de estar e observei o ambiente familiar, Peeta amava aquele apartamento que segundo ele era acolhedor. E mesmo considerando o lugar pequeno e antigo admito que era muito acolhedor.

Basicamente era um cômodo razoavelmente grande dividido em ambientes distintos. Logo de entrada centralizado ficava a sala de estar, atrás do sofá vinha o “escritório” que era basicamente uma mesa de estudos com o computador entre outras coisas dele, a esquerda ficava uma mesa de vidro de quatro lugares e uma bancada com dois banquinhos que era a divisão da pequena cozinha, que era bem mais utilizada e bem equipada do que a do meu apartamento. A direita tinha uma estante que ocupava quase toda a parede com livros, objetos pessoais e fotos. Uma escada de metal com degraus de madeira levava ao segundo andar onde ficava o quarto dele e o banheiro. A primeira vez que vi o local que ele havia escolhido morar após a faculdade achei realmente rustico principalmente por me lembrar mais um galpão de dois andares do que um apartamento, mas ele transformou o lugar em um ambiente realmente acolhedor e tenho que concordar que a enorme janela de vidro que ocupava grande parte da parede tinha uma vista linda da cidade principalmente a noite. Ouvi ele descendo as escadas falando ao telefone com algum restaurante. Aquilo não era o que eu tinha planejado para aquela noite, muito menos para o ultimo final de semana do verão. Eu não estava gostando nem um pouco daquela situação só de pensar que os dois levariam aquela relação adiante me dava um nó no estomago.

            - Glimmer foi tomar um banho – ele se jogou ao meu lado no sofá – Então me diz o que esta passando pela sua cabeça – olhei para ele por um segundo, muitas coisas estavam passando pela minha cabeça, mas eu definitivamente não podia dizer nem metade delas.

            - Por que não me disse que ela vinha com você? – optei pela pergunta que não parava de rondar minha cabeça desde que a vi.     

            - Foi de ultima hora, não pretendíamos que as coisas acontecessem assim, não quis esconder nada de você Katniss, nos só não pensamos muito em como seria quando eu precisasse voltar entende. Então duas noites atrás enfim tocamos no assunto, ela consegui essa semana de folga e pensamos por que não.

            - E o que vai ser quando ela for embora?

            - Não sei, conversamos e eu acredito que podemos fazer dar certo. São algumas horas de voo, mas podemos fazer um esforço e se ver, podemos nos falar por telefone  essas coisas e o trabalho dela é flexível a maior parte do ano, exceto quando tem aqueles eventos de moda ai ela fica realmente atarefada.

            - Isso nunca da certo Peeta, você sabe disso

            - Milhares de pessoas namoram a distancia – a palavra namoro fez meu coração apertar

            - Você não esta se escutando, vocês não tem ideia do que estão fazendo e alguém vá acabar se magoando nessa historia esta na cara – eu estava perdendo a paciência e confesso que estava com raiva daquela situação.

            - Katniss isso pode dar certo, somos adultos podemos lidar com isso – ele parecia calmo, como se tivesse explicando algo para os seus alunos e isso me deixou ainda mais irritada.

            - Ok, então não diga que não avisei – levantei e peguei minha bolsa eu estava sendo irracional, mas não estava interessada em ver meu melhor amigo fazer essa besteira e se eu ficasse acabaria dizendo coisas que não deveria.

            - Onde você vai? – ele perguntou se levantando também.

            - Para casa, afinal você é adulto e não precisa mais da minha opinião para nada.

            - Para com isso Katniss, você sabe que é minha melhor amiga. Eu senti sua falta o verão inteiro e agora você simplesmente quer ir embora, vamos jantar conversar tenho um monte de coisas para contar e quero ouvir cada detalhe de como foi seu verão – olhei para aqueles olhos azuis que eu conhecia bem e vi sinceridade neles, mas não era isso que eu queria, por mais infantil que parecesse eu tinha planejado as coisas de uma forma diferente, e não conseguia me ver sentada mais tempo naquele apartamento com Glimmer Rambin como se fossemos amigas, coisa que nunca fomos nem mesmo enquanto eles namoraram.

            - Aproveita sua namorada Peeta, nos falamos depois – parei com a porta do apartamento aberta e me virei para ele novamente – Marquei um almoço lá em casa amanhã, se não tiverem outros planos e quiser passar lá eu vou pedir comida no restaurante italiano – fechei a porta sem esperar uma resposta, embora interiormente deseja-se que ele fosse atrás de mim e me impedisse de ir, mas ele não fez nada.

            Aquela situação só podia ser um pesadelo, era irreal demais Peeta era inteligente demais para estar fazendo algo assim, mas eu sabia que aquilo não iria durar e que no final ele iria me dar razão.