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...E é estranho

Tudo o que temos em comum...

... Me assusta conhecer você tão bem

O lugar que eu não deveria ir

Mas eu sei que tenho que tomar o nobre caminho

Porque eu não quero que você pergunte

As intenções que tenho

Eu deveria ir

Antes que minha vontade se enfraqueça ...

... Antes que eu perca meu senso de razão ...

(I Should Go - Levi Kreis) 

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Observei Pongo correr pelo parque atrás da sua bolinha favorita e não pude evitar o sorriso ele realmente adorava aquela bolinha barulhenta, de todos os brinquedos que teve ao longo dos anos ele sempre teve um fascínio pelos que faziam barulho.

            - Ele já foi mais rápido – Peeta comentou se sentando ao meu lado na grama e como se soubesse que o loiro tinha aparecido ele veio correndo em nossa direção e vi meu melhor amigo ser atingido por 25 quilos em uma velocidade considerável sendo jogado de costas no chão – Ei amigão desculpa se ofendi – como sempre Pongo estava animado e acabei sorrindo enquanto Peeta tentava se sentar novamente – Você ainda é mais rápido do que eu.

            - Isso é verdade, vem Pongo vem aqui garoto pega a bola – joguei a outra bolinha e ele me olhou por um momento na duvida entre parar ou na a brincadeira, mas acabou correndo para buscar o brinquedo.

            - Estão aqui a muito tempo? – ele perguntou enquanto se ajeitava

            - Não, no máximo meia hora, como foi no oftalmo?

            - Vou precisar de óculos novos, meu grau aumentou outra vez – ele suspirou.

            - Já pediu os novos? – ele confirmou com a cabeça no momento que Pongo veio em nossa direção deixando a bolinha na nossa frente e deitando a cabeça no colo dele, eu odiava admitir mais ele realmente estava mais lento e se cansando mais rápido ele não tinha mais a mesma energia de quando éramos crianças. A verdade era que Pongo já tinha quase 11 anos.

            - Andei pensando em fazer a cirurgia .

            - Você nunca quis a fazer a cirurgia

            - A ideia de um laser no meu olho não é animadora, mas pelo que vi é um procedimento realmente rápido e isso pode zerar meu grau ou no mínimo diminuir muito ele me deixando menos dependente dos óculos e até das lentes.

            - Lentes? Peeta você nunca gostou de lentes de contato – ele havia tentado usa-las por um tempo quando tínhamos cerca de 12 anos, mas não se adaptou.

            - Estou vendo opções Katniss.

            - É a Glimmer não é?- aquela namorada dele não me descia – Ela esta fazendo a sua cabeça.

            - Não – ele suspirou -  Eu só estou pensando no melhor pra minha visão.

            - Já falou com seus avos?

            - Ainda não, na verdade não falei com ninguém ainda, de alguma forma queria falar com você primeiro.

            - Acha que eles vão concordar?

            - Não sei, o vovô provavelmente sim a vovó que sei que vai ficar na duvida acho, vai dizer que é melhor esperar.

            - Bom temos que comprar óculos de sol pra você então ouvi dizer que a maioria dos pacientes fica com fotofobia por um tempo – ele riu

— Provavelmente sim.

Eu sabia que eu era seu porto seguro, a primeira pessoa que ele contava a maioria das coisas porque no final das contas ele sempre era a primeira pessoa que vinha a minha mente quando decidia algo também.

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Voltar para o Distrito 4 não foi tão bom quanto o esperado de se voltar para casa, já que mesmo deixando Mags com minha mãe e a confirmação medica de que ela estava bem eu podia ver o quanto Peeta estava com um pé atrás em pegar o avião de volta para casa e eu não o culpei por isso, na verdade eu o entendia bem, o susto tinha sido grande apesar de tudo. A semana que passamos no Distrito 12 após a partida da Glimmer havia sido agradável embora não tenhamos de fato entrado no assunto casamento estávamos bem perto da normalidade de antes.

— Peeta seu celular esta tocando – avisei assim que vi o aparelho começar a vibrar em cima da mesa de centro na minha frente – Numero privado.

— Atende pra mim deve ser telemarketing – ele gritou da cozinha.

— Alô – atendi embora estivesse com a atenção voltada para a programação da TV, estava a mais de cinco minutos mudando de canal em busca de algo bom para assistir.

— Por favor, o Senhor Peeta Mellark— sorri imaginando que tentariam vender aquela hora.

— Ele esta ocupado no momento, quer deixar recado?

— Sou do hotel Mockingjay, e gostaria de informar ouve uma desistência em um dos nossos salões de festa para a data que ele estava procurando, tentamos falar com a senhorita Rambin, mas não conseguimos e precisamos de uma resposta deles no mais tardar amanhã cedo — fiquei sem reação por um momento, eles já estavam organizando o casamento e eu não sabia – Alô.

— Eu vou passar o recado e pedir para ele retornar o mais rápido possível – deligue sem nem ao menos ouvir o que ela ia dizer e fiquei olhando para o aparelho em minhas mãos por um momento.

— Pronto a pipoca esta pronta, já escolheu o que vamos ver? – ele estava rindo quando se sentou ao meu lado colocando a vasilha na mesa de centro – Aconteceu alguma coisa? Quem era?

— Era do hotel Mockingjay – a fisionomia dele mudou  rapidamente – Ouve uma desistência e conseguiram um salão na data que estava procurando.

— Katniss ...

— Pediram para ligar no máximo amanhã de manhã – queria chorar com aquela informação ainda sim me mantive firme – Vocês escolheram uma data?

— Escolhemos, na primeira semana do verão. Glimmer quer se casar no dia em que voltamos a sair e o verão é uma boa época eu vou estar de férias e ela não tem nenhum desfile programado pra essa época.

— Você não me disse nada.

— Eu achei que fosse melhor não dizer, antes que tudo estivesse acertado – ele voltou a olhar pra mim – Sei o que acha do meu casamento e não queria discutir novamente  - pela primeira vez em mais de vinte anos ele não me contou uma decisão e isso foi como uma facada no meu peito.

— Acho melhor eu ir para casa.

— Katniss ... – me levantei e sai o mais rápido possível do apartamento dele, mas ao invés de ir para casa fiquei rodando de carro pelas ruas do Distrito.

Era sexta feira a noite e os bares e restaurantes estavam cheios, quantas vezes havíamos frequentado aqueles lugares juntos, não dava pra contar era como uma parte do nosso cotidiano. Parei em frente a uma das praias mais conhecidas do Distrito onde como todo final de semana acontecia um luau organizado pelos restaurantes próximos. Varias pessoas estavam se divertindo, mas passei direto em meio a musica e sentei próximo a água um pouco mais afastada deles pensando em tudo que estava acontecendo e acabei ficando ali por algumas horas.  

Pela primeira vez estava sentido ele se afastar de mim, se conversasse com alguém sobre isso provavelmente diriam que eu estava ficando louca já que aparentemente nada tinha mudado, mas eu sabia que tinha eu estava perdendo meu melhor amigo lentamente, mas estava e a pior parte era que no fundo eu sabia que não era por conta da Glimmer ou do casamento cada vez mais inevitável era por minha causa eu havia deixado meus sentimentos por ele atrapalhar o que tínhamos eu estava afastando a pessoa que mais esteve ao meu lado de mim. E por mais que eu o amasse eu não podia continuar com isso, não podia deixar que meus sentimentos o afastassem de mim, perde-lo não era uma opção. 

— Peeta – chamei entrando no apartamento dele novamente e não foi preciso muito tempo para ele aparecer na ponta da escada com os pés descalços usando uma calça de moletom que eu sabia ser uma das que ele usava para dormir, uma camiseta branca lisa e os óculos de grau no rosto.

— Katniss, esta tudo bem? Eu te liguei varias vezes, no seu celular na sua casa  – já passava das 23 horas e eu sabia que estava tarde, mas eu precisava acabar com aquilo eu precisava tê-lo de volta.

— Esta tudo bem – menti já que no fundo não estava nada bem e vi quando ele se aproximou acendendo a luz do abajur próximo ao sofá alguns centímetros de onde eu estava.

— Certo então por que saiu daquele jeito? Por que não atendeu o telefone?– por um momento eu quis esquecer tudo que tinha decidido mais cedo e gritar que era porque eu o amava, porque eu não conseguia pensar em nada que não fosse nele nos últimos dias, que eu tinha passado as ultimas horas apenas pensando em tudo que envolvia esse novo sentimento e no quanto eu estava sentido ele se afastar.

— Eu ... – desviei o olhar para o abajur e vi um porta retrato onde ele e Glimmer sorriam e de certa forma aquela foto me trouxe de volta a razão – Você é o meu melhor amigo Peeta e eu não quero perder você, eu não posso perder você. Eu fui egoísta e mesquinha não ficando do seu lado. Você sempre esteve ao meu lado e eu só soube criticar sua escolha, quando devia estar te apoiando, me desculpa pelo que disse aquele dia, desculpa se pareceu que eu achava você inferior a Glimmer, mas eu juro que nunca pensei dessa forma pelo contrario eu acho que você merece a melhor mulher do mundo, porque ninguém vai ser bom o suficiente para você – aquela era a mais pura verdade já que no fundo eu mesma não era merecedora dele – Você sempre foi uma pessoa incrível Peeta, e se não viam isso era porque eram todos uns tolos, e se você a ama e acredita nessa união eu vou dar o meu apoio e estar ao seu lado sempre. Como você sempre fez comigo.

— Me desculpa também eu agi como se tivesse 16 anos outra vez – ele se aproximou e me abraçou forte e acabei sentindo um aperto no peito eu estava perdendo ele, talvez não como amigo mas eu estava perdendo qualquer chance de algo mais que pudéssemos ter – Você sempre vai ser uma das pessoas mais importantes da minha vida.

— Eu sei, e você não precisa se preocupar em não me contar as coisas relacionadas ao casamento, se é importante para você é importante pra mim – dizer aquilo estava me matando, mas era o certo a se fazer - Bom agora que eu me desculpei acho melhor eu ir pra casa esta bem tarde – eu precisava sair dali precisava ir antes que fizesse alguma besteira.

— Esta tarde, não vai sair a essa hora fica aqui – normalmente eu não teria pensado duas vezes em ficar, em outra situação teríamos passado a noite conversando ou vendo TV, mas com tudo o que estava acontecendo com o casamento dele para acontecer em menos de cinco meses eu não poderia ficar não aquela noite não quando a única coisa que queria era chorar.

— É melhor eu ir pra casa.

— Qual é Katniss, você já ficou tantas vezes.

— Eu tenho um compromisso amanhã cedo – menti – E se eu ficar vou precisar acordar mais cedo para passar em casa então é melhor eu ir agora, você sabe como odeio acordar cedo em um sábado.

— Eu levo você então.

— Peeta não dramatiza não é longe, posso ir dirigindo não é como se tivéssemos 16 anos.

— Eu me preocupo Katniss.

— Eu sei, desculpa eu ligo quando chegar prometo– beijei seu rosto com carinho – Nos vemos amanhã – ele confirmou com a cabeça e sai o mais rápido possível enquanto ainda estava vencendo a luta contra as lagrimas.

Talvez fosse pura covardia, na verdade eu era uma covarde. Covarde por esconder a verdade dele, covarde por não aceitar o que estava tão claro quando ainda era tempo, covarde por não lutar por ele, mas por mais que doesse em mim eu sabia que era o certo a fazer.