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Há lugares dos quais vou me lembrar, por toda a minha vida

Embora alguns tenham mudado

Alguns para sempre, não para melhor

Alguns já nem existem, e outros permanecem ...

 (In My Life – The Beatles ) 

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            - Eu não vou  - eu estava determinada, nada me faria me mover.

            - Katniss, vamos lá não é difícil.

            - É sim – vi ele revirar os olhos – Quer tentar?- ofereci em tom de desafio.

    - Não mesmo – ele negou rapidamente e revirei os olhos involuntariamente.

            - Viu, eu vou tirar isso já passei da idade de aprender a andar de patins mesmo.

            - Você que inventou que queria aprender eu não, qual é você não é de desistir de algo assim tão fácil – eu ainda não sei onde estava com a cabeça quando inventei de comprar um patins, na infância eu nunca tinha tido qualquer interesse em aprender a andar naquele monstrinho de quatro rodas, no entanto havia inventado de que naquele verão faria algo diferente e pensando nisso inventei que aprenderia a patinar.

            - Você poderia aprender comigo – a sensação era de puro desequilíbrio parecia que se eu desse qualquer passo iria direto ao chão.

            - Eu? Você sabe que não levo jeito para essas coisas – eu realmente sabia – Vem, me da suas mãos – neguei com a cabeça – Vamos lá eu te ajudo não deve ser tão difícil, não pra você.

            - Eu vou cair Peeta então quando as aulas voltarem vão me perguntar o que eu fiz no verão e eu vou dizer “Cai no primeiro dia com meu patins novo”.

            - Você não vai se machucar, eu não vou deixar – ele estendeu as duas mãos na minha direção – Nunca vou deixar você se machucar, não se eu puder proteger você Katniss, você confia em mim? – olhei em seus olhos e vi o azul conhecido por trás das lentes de grau e não tinha a menor duvida eu confiaria minha vida a ele então eu simplesmente segurei forte as mãos dele e vi o sorrir.

            - Não me deixa cair, não quero passar o verão de repouso.

            - Você não vai cair, agora um passo de cada vez – respirei fundo antes de começar a mover lentamente minhas pernas – Viu você esta indo bem – ele incentivou, embora minhas pernas estivessem tremulas e eu não parecesse ter qualquer equilíbrio.

            Pouco a pouco fui conseguindo equilíbrio, não tenho ideia de quantas vezes fizemos o percurso de ida e vinda até o fim da nossa rua com ele segurando minhas mãos até que ele passou a segurar apenas uma.

            - Estou patinando.

            - Sim, você esta. Agora vou soltar sua mão – ele soltou e de um jeito um tanto desengonçado continuei deslizando pela calçada com ele andando na minha frente de costas, estávamos novamente em frente a casa dele quando eu perdi o equilíbrio. Então em um movimento rápido ele tentou me segurar enquanto eu tentei me manter em pé e no fim ambos caímos ou melhor eu cai em cima dele.

            - Você esta bem? – perguntei tentando sair de cima dele.

            - Estou, e você? – me sentei ao lado dele na calçada sem a menor condição de levantar com aquela coisa nos meus pés.

            - Estou, você amorteceu minha queda – ele riu e acabei rindo também.

            - Eu disse que não deixaria você se machucar – ele sentou também as duas mãos apoiadas na calçada.

            - Sim você disse. Mas acho melhor tentarmos novamente só amanhã.

            - Não, vamos tentar de novo, não vou deixar você desistir – ele levantou e estendeu a mão para me ajudar e não foi preciso mais nada para que eu aceitasse.

            Peeta era minha força em meio aos desafios, ele estava sempre lá amortecendo a queda ou simplesmente cuidando dos danos.     

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Não foi nenhuma surpresa Peeta passar os três dias seguinte no hospital, por mais que minha mãe e eu tenhamos insistido para que ele fosse para casa ele se negou a sair, dessa forma levamos para ele roupas e o carregador do celular.  Minha mãe e eu ficávamos lá durante a manhã e a tarde saindo só quando o horário de visita acabava.

— Exatamente quem eu queria ver – Mags parecia muito mais animada do que no dia anterior e sorriu assim que entrei no quarto do hospital.

— Quanta saudade vovó, eu sai a menos de doze horas – comentei me aproximando e beijando sua cabeça com carinho.

— Sempre sinto saudades suas meu anjo – sorri e beijei o rosto do loiro sentado na poltrona ao lado da cama com o notebook no colo aparentemente checando os e-mails – Mas eu queria lhe pedir um favor.

— Peça quantos quiser.

— Leva esse teimoso para casa.

— Vó eu não vou sair daqui, já disse – ele nem ao menos tirou os olhos do computador para falar.

— Vai sim, você veio direto do aeroporto e não teve tempo nem de tomar um banho descente, esses chuveiros de hospital são péssimos. E dormir nessa poltrona não pode ser considerado descansar – ela comentou – Peeta você esta aqui comigo três dias  vá para casa come alguma coisa e descansa amanhã eu recebo alta, Effie pode ficar comigo hoje.

— Amanhã eu vou para casa com a senhora.

— Peeta Mellark isso não é um pedido é uma ordem acompanhe a Katniss para fora desse quarto e me deixe conversar com minha velha amiga sem você por perto – mamãe que estava entrando no quarto riu.

— Melhor você ir antes que ela coloque você de castigo – brincou enquanto ele fechava a cara – Vai lá eu fico com ela e ligo se precisar – ela disse antes que ele o fizesse.

— Certo – ele fechou o notebook derrotado e se levantou indo até ela – Eu volto logo, e isso não esta em discussão, vou passar a noite aqui – disse serio beijando o topo da cabeça dela com carinho, ele pegou o casaco e passou pela minha mãe beijando o rosto dela também.

— Mantenha ele o mais tempo possível longe daqui – ela me pediu e sorri.

— Pode deixar - me despedi das duas e saímos pelo corredor em silencio, era como se Peeta e eu tivéssemos feito um acordo silencioso sobre o assunto casamento nos últimos dias, obviamente era possível sentir que algo estava errado entre nos, mas não falamos sobre isso apenas seguimos até o carro da minha mãe e vi quando ele recostou a cabeça no banco e pude sentir o quanto ele estava cansado,  não apenas fisicamente mas emocionalmente também, seguimos em silencio pelas ruas conhecidas do Distrito 12, e uma sensação de familiaridade se fez presente. As ruas e as pessoas eram tão familiares que chegava a ser nostálgico – Quer conversar? – perguntei após passarmos o percurso todo em silencio e estacionar em frente a  garagem da casa da minha mãe.

— Eu senti tanto medo – ele virou a cabeça na minha direção - Quando o hospital ligou eu entrei em pânico.

— Eu também fiquei assustada, mas ela esta bem agora – ele concordou com a cabeça e olhou para casa ao lado, e eu sabia que ele não queria entrar sabia que ele não queria ficar ali naquela casa vazia  – O que acha de uma bebida quente?

— Acho uma ótima ideia –  descemos do carro e senti o vento frio em meu rosto e assim que ele parou ao meu lado peguei em seu braço enquanto seguimos em direção a praça na rua de trás onde ficava uma das melhores cafeterias do Distrito, uma fina camada de neve  cobria o asfalto ainda sim as pessoas continuavam seguindo com seus afazeres.

Assim que entramos no The Hob escutei o barulho do sino da porta e senti o aroma inconfundível de café já conhecido do ambiente, então a velha sensação de voltar no tempo se fez presente eu amava aquele lugar e todos aqueles aromas.

— Não acredito no que estou vendo – Greasy Sae estava no balcão e sorriu assim que nos viu – Não vejo vocês por aqui a mais de um ano – não conseguia me lembrar de ir até ali sem vê-la, era como se o The Hob e ela fossem ligados, como se fossem um só.

— Greasy – Peeta se aproximou com um sorriso e comprimento a senhora que tantas vezes nos fez sentir em casa dentro da cafeteria onde costumávamos passar algumas tardes na adolescência

— Soube da Mags. Fico feliz que ela esteja bem – ficamos alguns minutos no balcão conversando antes de nos sentarmos na “nossa mesa” que ficava no fundo do estabelecimento em frente a janela – Aqui esta um Chai Latte com canela para a senhorita e para esse belo rapaz um Caramelo Macchiato com calda extra e alguns Muffins – agradecemos e ela nos deixou.

— Eu amo esses Muffins – comentei enquanto pegava um.

— Quem não ama – observei ele olhar pelo vidro a praça onde algumas crianças corriam, havíamos passado inúmeras tardes ali, jogando conversa fora ou fazendo lição sempre na mesma mesa desde que éramos pequenos e ainda íamos ali com os avos dele ou minha mãe – Lembra quando viemos aqui juntos pela primeira vez?

— Lembro foi durante o primeiro inverno que passei aqui, o vovô nos trouxe, eu não conhecia a neve e estava dizendo que odiava o inverno então ele disse que  o inverno tinha o seu lado bom e nos trouxe aqui pra tomar chocolate quente.

— Acho que ele nunca pensou que com o tempo viraríamos viciados em bebidas quentes e em bebidas geladas daqui – concordei pensando no cardápio de bebidas geladas que a cafeteria tinha.

— O que acha de darmos uma volta? – havíamos passado um bom tempo conversando e embora eu soubesse que ele devia estar cansado e querendo algumas horas de sono descente eu não queria voltar para casa, não queria me afastar dele mesmo que fosse por uma distancia tão curta como a casa ao lado.

— Isso tudo é para me manter longe do hospital?

— Certamente – saímos alguns minutos depois caminhando lentamente pela rua em uma conversava vaga.

— Eu sempre gostei dessa pracinha, nos conhecemos aqui lembra?

— Como poderia me esquecer, eu estava dentro daquela casinha – apontei para o velho brinquedo a alguns metros – Eu estava chorando, pensando que iria odiar tudo aqui então você apareceu com um carrinho em mãos e nunca mais me deixou.

— Éramos dois solitários naquela época, você por ter acabado de mudar eu por nunca ter tido facilidade de fazer amigos – eu não consegui me lembrar de bons momentos que ele não estivesse presente ainda mais ali aquele tinha sido o Distrito onde crescemos, cada canto era conhecido tínhamos lembranças de tantos lugares – Não acredito que a velha locadora de vídeos fechou – ele apontou para o outro lado da rua onde vi a placa de vende-se.

— Até que demorou, ninguém aluga mais filmes hoje em dia.

— Verdade, ainda sim alugávamos tanto e agora meus futuros filhos não vão saber o que é uma locadora – acabei rindo do comentário.

— Não, mas eles vão saber o que é serviço streaming de vídeo – ele fez uma careta e acabei rindo – Qual é Peeta você mesmo não alugava um filme a anos.

— Eu gostava de ter a opção – olhei para ele que riu – Ok, eu admito que não me lembro a ultima vez que entrei em uma locadora, e sim admito que é um péssimo negocio hoje em dia, ainda sim era legal.

— Era ótimo querer ver um lançamento e ir buscar e ele já estar alugado, então tinha toda aquela fila de espera, sem contar em ter que vir devolver principalmente em dias de chuva e neve – falei com ironia.

— Acho que você foi a pessoa que mais pagou multas de atraso de devolução.

— Sabe que sempre achei um dia muito pouco para ficar com um lançamento.

— Dois no final de semana.

— Porque eles não abriam no domingo - confesso que na época eu adorava ir alugar filmes, passar um bom tempo em meio as prateleiras e depois nos reunir para assistir, embora atualmente goste muito mais de ter toda a variedade de conteúdo na hora que quiser e quando quiser para assistir – Eram bons tempos.

— Eram sim. Acho melhor irmos para casa esta ficando tarde e daqui a pouco tenho que voltar para o hospital – seguimos nosso caminho falando sobre algumas velhas lembranças e não conseguia não pensar no quanto eu tinha sido tola em não perceber o que sentia em relação a ele antes,  verdade seja dita o sentimento em relação a ele não havia mudado eu é que não tinha notado e pensando nisso agora eu sentia raiva de mim mesma por não ver antes o que estava tão nítido o tempo todo. Eu queria mais queria ele pra mim, eu queria dividir minha vida com ele – Katniss ... - me sobressaltei com ele me chamando.

            - O que você disse?

            - Você não prestou atenção em nada do que eu disse não é?

            - Desculpa eu me distrai.  O que você disse?

            - Perguntei se você vai para casa da sua mãe? – foi só então que notei que havíamos chegado. Olhando para ele parado na minha frente com as mãos no bolso do casaco olhando pra mim como tinha feito inúmeras vezes naquele mesmo lugar, eu senti necessidade de dizer a verdade, dizer o que sentia porque éramos um time incrível juntos e talvez Johanna estivesse certa, talvez ele me amasse também.

            - Eu preciso falar com você – talvez não fosse a melhor hora com Mags no hospital, ainda sim ela estava bem e talvez não tivesse hora certa.

            - Fala –  eu não tinha motivos para ter medo, Peeta era uma das pessoas que mais confiava no mundo, respirei fundo antes de começar quando um carro prata estacionou ao nosso lado tirando minha atenção.

            - Peeta – Glimmer desceu e foi ao encontro dele o abraçando em seguida, me fazendo desviar o olhar – Desculpa não ter vindo antes, estava tudo uma loucura eu queria ter vindo a três dias, mas não consegui desculpa amor.

            - Esta tudo bem, eu entendo estou surpreso que esteja aqui. Você não disse nada – ele parecia feliz com a presença dela.

            - Consegui dois dias de folga, então peguei o primeiro voo, fui direto para o hospital sua vó disse que vocês tinham vindo par casa, fiquei um tempo lá com ela e vim te ver.

            - Fomos até o The Hob tomar alguma coisa e acabamos caminhando um pouco acabamos de chegar – ela se virou para mim e me comprimento.

            - Acho melhor eu entrar – comentei querendo sair o mais rápido possível dali.

            - Não quer entrar com a gente? Você queria conversar.

            - Não tudo bem, nos falamos depois – me virei e fui o mais rápido possível em direção a porta.

            Talvez eu tenha notado esse sentimento tarde demais.