Lá E De Volta Outra Vez escrita por Pacheca


Capítulo 87
Convite


Notas iniciais do capítulo

Chegando ao final, obrigada!



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— Oh, olá crianças. – A voz alegre da mãe dele nos cumprimentou primeiro, sorridente. O pai dele sorria também.

— Como foi a cerimônia? – Ele perguntou, empolgado. Não consegui evitar o sorriso.

— Vocês não perderam muita coisa. Fora o Castiel, que teve que fazer um discurso, vocês gostariam do resto. – Ele comentou, trivialmente. Estudei George nesse meio tempo. Ele tinha emagrecido ainda mais, mas nada muito mudara além disso.

— Castiel...o de cabelo vermelho, não é? – Josiane confirmou, pensativa. Ele suspirou.

— É, mãe. Você o viu algumas vezes, deveria se lembrar.

— Castiel fazendo um discurso? Deve ter sido engraçado.

— Vocês tiraram fotos, não é?

— O Leigh tirou várias, mãe, ele vai te mostrar. – Ele comentou. Estava tão emocionada na hora que, confesso, não prestei atenção se ele tirara mesmo as fotos.

— Nosso filhote mais novo conseguiu seu diploma, que orgulho. – Seu pai sorriu ainda mais, as bochechas ganhando um avermelhado fraco. A mãe dele concordou. – E pensar que há pouco tempo você ainda era um garoto correndo pelado entre as galinhas.

Lysandre limpou a garganta para interromper o pai, infelizmente para ele, tarde demais. Eu sorria, incapaz de imaginar aquele cenário.

— Pelado com galinhas?

— Claro que não, não sei de onde saiu essa ideia. – Ele se apressou em negar, mas eu não comprei a história.

— Ah não, eu aposto que era realmente lindo, você, o jardim, as galinhas...

— Claro, ele era um selvagem. – A mãe dele afirmou.

— Podem parar?

— Imagina, eu adoraria ver umas fotos. – Achei que ele cogitou me atirar daquela janela, então corri para me retificar. – Você devia ser adorável.

— Não sou eu quem deveria dizer, não é? – Ele finalmente sorriu, um pouco menos constrangido.

— Ah, parabéns para você também, claro. Seus pais também devem estar orgulhosos do seu diploma.

— Oh, obrigada, seu George. Eles estão bem felizes, é verdade.

— Já sabe o que fazer do futuro?

— Ainda não, mas já estou com algumas ideias.

— Meu Lys vai ser um grande poeta, tenho certeza. – Ele sorria, satisfeito. — Já leu os poemas dele?

— Ainda não tive a sorte. Algum dia, talvez? – Olhei para Lys, que concordou com a cabeça.

— Assim que eu estiver satisfeito com o resultado, você será a primeira.

— Não seja tão modesto, meu amor. – A mãe dele quem disse. Estávamos rindo, quando a enfermeira entrou no quarto, ranzinza como eu me lembrava dela.

— Odeio interromper a festa, mas precisa descansar, senhor George. E já está na hora do seu tratamento, receita do médico. — Ela comentou.

— Não se preocupe, eu volto logo com ele. — Josiane falou, segurando a mão do marido. O semblante dele agora estava abatido, tristonho. – Nada de cara feia.

— Oh, antes de descermos... – Tive a ideia do nada, quando os outros dois estavam prontos para deixar o quarto. – Lysandre, já que trouxe o diploma, por que não tiro uma foto de vocês três, hum?

— Você tem uma câmera? – Os olhos do pai dele brilharam. Peguei meu telefone no bolso, virando-o na horizontal. Ele sorriu, ignorando o olhar assassino da enfermeira. Ele e a mãe pararam um de cada lado da cama do pai, sorrindo. George segurava uma ponta do papel, enquanto Lys segurava a outra.

Depois da foto, não tivemos alternativa que não fosse ir até a lanchonete do hospital. Pedi um refrigerante e me juntei aos outros dois na mesa próxima a janela, o sol já se pondo.

— Como acha que estão Margarida e Eglentine? Elas devem achar que a abandonamos. – A senhora começou a murmurar, mas eu não disse nada. Lys sorriu.

— São as vacas mais velhas da fazenda. Acho que devem ter minha idade, eu lembro delas desde sempre.

— É, costumávamos deixá-las com os vizinhos. – Ela suspirou, finalmente desmontando. – George ama os bichos, e eles o amam. Não sei o que vai ser se...

— Vai ficar tudo bem, mãe. Não adianta ficar pensando nisso.

A conversa deles fugiu a todo custo daquele elefante enorme no meio da sala. Depois de alguns minutos, ela pediu licença e voltou para perto do marido. Lysandre sorriu, pegando minha mão sobre a mesa. Sorri de volta.

— Obrigado por vir. – Dispensei o agradecimento mais uma vez. – Eles gostam muito de nos ver juntos. Gostam de você.

— Que bom. Seus pais são uns amores, muito fofos.

Depois disso, o sorriso dele perdeu a força até sumir, seus olhos perdidos no horizonte pela janela. Mais um suspiro antes que ele continuasse.

— Sabe, eu já estou preparado para o pior. – Ele finalmente desabafou. – Os dois são velhos, eu sei que ninguém é eterno. Só que eu fico preocupado mesmo com minha mãe. Não sei como ela vai lidar com a ausência dele.

— Ela não vai estar sozinha. Vocês vão estar lá para ela, você e o Leigh.

— Obviamente. – Ele concordou, pensativo. – Acho que vamos precisar colocar um anúncio no jornal, ela vai precisar de ajuda com a fazenda. Sei que ela não vai aceitar sair de lá.

— Lys. – Ele finalmente me olhou nos olhos. Aquele aperto na garganta agora era algo compartilhado entre nós. – Não fique se torturando com isso, por enquanto. Só aproveite os dois o máximo que você puder.

— Quando eu era criança, eu não percebia minha sorte em poder crescer ao lado deles naquele lugar. Eles foram excelentes pais. – Ele voltou a sorrir, saudoso. – Obrigado.

— Eles criaram dois filhos incríveis. – Aquilo o acalmou de novo, o peso saindo dos seus ombros. Depois de mais alguns momentos, ele pensou em voltar para o quarto. – Eu tenho que ir.

O sol começava a se por. Ele entendia, beijando minhas mãos e me dando um longo abraço de despedida. Depois de alguns instantes, seus olhos voltaram a se iluminar. Olhei para ele, esperando.

— Então, Leigh e Rosa vão viajar nesse fim de semana...

— Sério? Ela não comentou nada.

— O que você acha de passar a noite lá em casa, amanhã?

Por mais que eu não quisesse, meus olhos cresceram no meu rosto, surpresos. Pisquei, tentando descobrir se eu estava sonhando com aquela proposta. Ele continuava esperando uma resposta. Sentindo o rosto esquentando, tentei responder rapidamente, me embolando com minha própria língua.

— Eu acho...bem, eu ia...eu ia adorar. – Finalmente soltei a confissão. – Estou curiosa há um tempo com sua casa. Você já conhece a minha.

— Passou da hora de resolvermos isso, não acha?

— Bem, preciso pedir para meus pais, mas acho que não vai ter problema. – Ou eu esperava que não. Na verdade, eu já sentia meu coração cair no estômago só de imaginar a reação do meu pai.

— Tomara. Estarei torcendo.

— Eu te aviso.

— Então, com sorte, até amanhã. – Ele me abraçou, me dando um beijo de despedida. Apesar de ser um beijo doce e carinhoso, ele pareceu durar mais do que qualquer outro que já tivéssemos trocado. Sorri, finalmente deixando o hospital.

De volta ao apartamento, comi qualquer coisa e me enfiei debaixo do chuveiro, revisando todo meu dia. Tinha sido uma verdadeira montanha russa. Saudade, emoção, tristeza, medo, euforia. Tanta coisa em tão pouco tempo.

Euforia. Eu finalmente ia conhecer a casa dele, o quarto dele. Quando pensei nisso, senti meu estômago dar uma cambalhota. O que eu precisava fazer? Tinha que levar alguma coisa? Aliás, meus pais deixariam, não é?

Aquela era a parte difícil. Aproveitando que o casal tinha saído, eu peguei um biscoito e voltei para meu quarto, sem me preocupar com minha mãe e suas reclamações sobre comer no quarto. Pensei em mandar mensagem para Rosa e Alexy, mas eles deviam estar comemorando a formatura, então deixei pra lá.

A melhor opção deveria ser a verdade, no fim do dia. Ele me convidou e eu queria ir. Pronto. Afinal, ele me chamou para passar a noite. Ou seria para dormir lá? Aquilo seria um problema, não?

Paralisei, meio biscoito na mão, a outra metade na boca. Tentei lembrar exatamente o que ele tinha dito, mas dei branco total. Seria feio perguntar, não seria? Ele poderia achar que eu estava entrando em pânico e desistindo, ou que eu estava pensando algo dele.

Estava mesmo. Se eu fosse mesmo dormir lá, eu precisaria de um pijama mais...mais...

Mais o quê? A primeira coisa que me apareceu foi a baby-doll vermelha que eu usara na noite do pijama com Rosa, quando Lys ainda estava no hospital. Sacudi a cabeça, engolindo o resto do biscoito e me deitando, como se o cobertor fosse me esconder de tudo aquilo.

Dormi, nem sei como. Só acordei no outro dia, com minha mãe me pedindo favores. Franzi o cenho, com preguiça. Parecia cedo demais para sair de casa.

— Por que o papai não vai comprar os ovos? – Resmunguei.

— Não vou acordá-lo tão cedo no próprio aniversário.

Dei um pulo, sentando na cama com os olhos arregalados. Droga.

— Você esqueceu? Anna!

— Eu perdi noção de que dia do mês estávamos. – Era mesmo verdade. Os últimos dias tinham passado voando. – Desculpa.

— Só vá buscar os ovos, eu ainda preciso fazer um monte de coisa para o café, bem especial. Anda.

Não reclamei muito depois disso. Eu tinha esquecido o aniversário do meu pai, então eu não tinha muito direito de reclamar. Entrei na primeira roupa que achei pelo quarto e sai da casa, ainda meio sonolenta.

“Rosa, bom dia. Fiquei sabendo que vai viajar, se não for atrapalhar, me ligue antes de ir. Preciso te contar algo. Bjs.”

Mandei a mensagem enquanto esperava o dono do mercado embalar os ovos. Só podia esperar que o dito aniversário não fosse um não definitivo para meus planos. Fiz um desvio rápido no caminho, tentando ganhar alguns pontos.

— Leigh, ainda não foi, que bom. – Ele parecia prestes a fechar a loja.

— Bom dia. Estava de saída. – Gentil como sempre, Leigh estava disposto a atrasar uns minutos para me ajudar a arrumar um presente para meu pai. Ele comentou que estavam indo para a fazenda, resolver algumas questões e espairecer um pouco.

Ele colocou a nota da calça jeans que eu escolhi dentro da sacola caso meu pai precisasse trocar, mas ele estava certo que os dois usavam o mesmo tamanho e que aquela numeração serviria.

— Leigh, Rosa vai estar disponível de tarde? Ou já vão ter ido?

— Vamos de tarde, mas ela precisava arrumar algumas coisas. Pode mandar uma mensagem e ver se ela já vai ter terminado. Conhecendo a peça...

— Eu mandei uma mensagem, ela deve estar ocupada, não respondeu. Enfim, boa viagem. Obrigada.

Voltei para casa depois disso. Cheguei justamente quando meu pai acabou de descer as escadas, entrando na sala. Mamãe e eu desejamos feliz aniversário juntas, cada uma dando nele um abraço. Ela saiu para fazer os ovos mexidos e eu entreguei o presente.

— Muito obrigado, meu bem. Eu adorei. – Ele gostou mesmo, pois fez questão de usar as calças para seu café da manhã. Nós três nos sentamos à mesa, com tanta comida que umas oitenta pessoas podiam comer ali. – Você fez tudo isso, Lucia?

— Claro, quem mais?

— Considerando seu amor pela cozinha, estou me sentindo mesmo um rei. – Ele riu, sabendo que minha mãe tinha horror às panelas. Sorri. De fato, ela tinha se esforçado, tudo estava uma delícia. Quando percebi que a refeição ia terminar, tomei coragem de falar.

— Hum, então, sobre hoje à noite... – Comecei a falar, sentindo meu corpo todo tremer. – Eu queria pedir...

— Não se preocupe, meu bem, não precisa nos acompanhar. – Foi meu pai quem me interrompeu. Fiquei zonza por um instante, confusa.

— Não ficaremos chateados, meu bem. – Minha mãe reforçou.

— Eu perdi alguma coisa? – Soltei, ainda perdida. Ela então me lembrou do jantar a dois que eles tinham marcado, num restaurante. Lembrei, muito vagamente, de ter escutado aquela conversa. – Não se importam mesmo?

— Claro que não. Devemos voltar tarde, inclusive, estamos pensando em ir dançar depois do jantar, não é? – Minha mãe falou, empolgada.

— Você pode ir à casa do Lysandre, se quiser. – Meu pai falou, tranquilo. Fiquei apavorada. Ele lia mentes agora? – Mas não hesite em nos ligar caso precise de algo, ok?

— Obrigada. – Falei, mas não havia muita convicção na minha voz. Parecia uma armadilha, tinha sido fácil demais. Pedi licença e deixei a mesa, subindo para meu quarto. Tinha mesmo acontecido?

“Ei, vou poder ir hoje.” Foi a primeira coisa que fiz depois de fechar minha porta, comunicar o ocorrido a Lys. Ele respondeu satisfeito, que me esperava mais tarde.

Claramente, um de nós estava tranquilo com aquele encontro. Não era eu. Já podia relaxar, meus pais estavam de acordo, estava tudo bem. Não tinha nada de anormal ali também. Era um encontro, que nem os outros. Só que na casa dele. A sós.

Pensei em falar com Rosa, mas ela não me respondera ainda. Liguei para Alexy, mas também não tive resposta, caindo direto na caixa postal. Suspirei. Justo quando eu precisava deles.

Se fosse alguma outra situação, eu poderia ligar para Nath, mas achei que seria uma situação incômoda demais para ele, então deixei para lá. Na verdade, mandei uma mensagem para ele, mas sem mencionar nada, apenas dizendo que já estava com saudades dele.

Revirei minhas roupas, pensando no que vestir. Leigh já fechara a loja, eu não tinha tempo de ir até o shopping, então algo antigo teria que servir. Lembrei de Rosa comentando das minhas calcinhas e estremeci. Aquele não deveria ser um problema, deveria?

Fui tomar banho, aflita. A única solução que encontrei foi falar comigo mesma, já que meus amigos não podiam fazer por mim.

— Vai ser normal, é só Lys. Só o Lys, ele nunca faria nada que você não quisesse. A não ser que você queira. Que eu queira...

Sem mais tempo de fugir, escolhi uma roupa que me agradava, tentei fingir para mim mesma que não escolhi a lingerie mais bonita que eu tinha, e terminei de me arrumar. Pensei que andar um pouco ajudaria a acalmar meus nervos.

— Já vai? – Meu pai perguntou, parado de frente para o espelho do quarto, abotoando a camisa. Concordei, ainda no corredor. – Não se esqueça de ligar se precisar, tudo bem? Promete?

— Lógico. – Aquele sim era meu pai. Ele parecia angustiado em me deixar ir. Sorri, despedindo-me dos dois antes de sair.

Daria tudo certo. Era só viver e deixar acontecer. Só isso. Fui para o parque, ainda recitando aquele mantra, esperando o horário combinado. Viver e deixar acontecer.


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Notas finais do capítulo

Até mais!



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