Lá E De Volta Outra Vez escrita por Pacheca


Capítulo 83
Fim De Uma Fase


Notas iniciais do capítulo

Nem acredito quanto tempo eu fiquei ausente, e não tenho nem como me desculpar. Eu pensei em dar um tempinho antes de encerrar a fic para poder decidir sobre uma continuação com o UL, mas não percebi que quase um ano passou nesse "tempinho". De toda forma, espero que gostem. Obrigada.



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Os dias depois do encontro com Kentin, os gêmeos e Evan foram dias confusos. Era praticamente nossa última semana na escola e isso me dava um aperto no coração difícil de explicar. A cada dia que eu cruzava as portas eu me lembrava de algo mais.

Os primeiros dias só com Nathaniel de companhia, a partida de Kentin, o suposto fantasma do porão ou o encontro com Rosa. Aqueles corredores, as salas de aula, nós passamos tantas horas dentro daqueles ambientes que seria impossível não se sentir uma parte essencial deles. Só que não funciona assim. Estar ali, parada no início do corredor no dia de buscar meus resultados só me mostravam como o fim chegaria e eu não seria mais uma parte vital daquele ambiente.

— Eu junto minhas coisas depois que checar os resultados. – Suspirei, falando para mim mesma um plano de ação. Eu adiei o máximo possível esvaziar meu armário, mas agora não tinha mais jeito.

Assim que eu tomei a coragem para andar, ouvi o aviso no interfone dos corredores. Parei para escutar. A senhora Shermansky limpou a garganta antes de começar seu pronunciamento, fazendo o interfone chiar um pouco.

“Caros alunos do terceiro ano, atenção! Os resultados das provas já estão disponíveis em suas respectivas salas de aula. Por favor, evitem tumulto nas salas, dividam-se para que todos consigam conferir suas notas com tranquilidade. Além disso, gostaria de relembrar aos alunos que não obtiveram a média necessária que as provas da recuperação ocorrerão na semana que vem. Aos alunos que já obtiveram as notas, não é mais necessário comparecer à escola. Ao final da semana que vem, teremos uma surpresa esperando por todos vocês, mas até lá, concentrem-se. Obrigada.”

Era estranho ouvi-la falar por tanto tempo sem elevar o tom de voz. Sorri, vendo a movimentação no corredor. Percebi que não estava longe de Ambre, que conversava com Li, discutindo sobre a suposta surpresa. Felizmente, elas não demoraram pra se afastar e eu decidi ir na direção oposta.

Encontrei Melody e Violette saindo da sala de História, enquanto Violette parecia contente em finalmente provar para Melody que ela tinha se saído bem. Como se pudesse ter sido diferente. Passei pelas duas e fui ver a lista. 8,5. Provavelmente era a primeira vez que eu tirava uma nota tão alta em História, revisar em grupo ajudou bastante. Faraize se aproximou com o teste corrigido.

— Parabéns pela nota, Anna. Eu sabia que a sua falta de atenção era um problema temporário. – Ele parecia realmente feliz com meu desempenho. Sorri também, pegando a prova.

— Obrigada, professor.

— E então, a disciplina passou pela sua cabeça para seguir no futuro?

— Hum, eu não me decidi ainda, mas confesso que não muito.

— Eu entendo, você tem potencial para muitas áreas pelo que acompanhei de você até hoje. É uma questão de tempo. Boa sorte.

— Obrigada. Com licença. – Deixei a sala, pensando em ir conferir a nota de ciências, quando Iris e Kim vieram me ver, mas não falaram nada. – Oi.

— E ai? Como foi? – Iris finalmente perguntou. Mostrei a prova com o 8,5 circulado no alto. As duas sorriram. – Todas nós arrasamos.

— É, as revisões ajudaram muito. Bom, vou conferir as outras. Até mais tarde. – Elas pareciam radiantes com suas notas. Subi as escadas para a sala de ciências, mas assim que vi a confusão na porta, dei meia volta. Pensei que o ginásio estaria mais tranquilo, mas também estava cheio. Pelo menos dava para chegar no painel.

— O painel não vai voar, vocês sabem? Tenham calma. – Boris tentava colocar alguma ordem nas coisas, mas estava todo mundo nervoso. Aproveitei e conferi minha nota. 6,5. Eu não ia reclamar, meu condicionamento físico não me permitia questionar aquela nota.

— Bem que poderia, não me faria mal. – Armin resmungou, revirando os olhos. Lysandre concordou, logo ao meu lado.

— Eu também não reclamaria. – Olhei para ele, que deu de ombros. – Eu estaria mal se planejasse ser atleta.

— Felizmente você faz mais a linha poeta atormentado. – Sorri, fazendo-o sorrir também. Recebi um abraço rápido e ele pediu licença para conferir outras notas. Fui fazer o mesmo. Encontrei Castiel saindo do prédio.

— Também correndo para todo lado para conferir essas notas? – Ele perguntou, aquela característica cara de deboche que ele tinha desde o primeiro dia.

— Na verdade, eu só vim tomar um ar enquanto caminho pela escola. – Depois de tanto tempo batendo cabeça com Castiel, eu finalmente aprendi a me virar com ele. Ele deu aquele sorrisinho ordinário dele em resposta.

— Claro. Eu vou meter o pé.

O vi se afastar enquanto ouvia Peggy discutindo com Boris ainda dentro do ginásio sobre como ela precisava estar em forma para ser uma boa repórter e por isso precisava dar um jeito na sua nota. Fui tentar a sala de ciências de novo.

— Oh, pode entrar, Anna. Aqueles animais já saíram. – Percebi pelo jeito que ela suspirou que ela estava exausta. Conferi a nota, um 9. Sorri. – Meus parabéns. Você sempre teve jeito com minha matéria.

— Ah, obrigada. Eu confesso ter uma certa afeição com a ciência.

— Deveria considerar o caminho para seu futuro. Sei que se dará muito bem.

— Talvez… – Ela sorriu e voltou sua atenção para suas coisas. Deixei a sala, quase esbarrando em Nath.

— Oh, ei. Pegou todas as suas notas? – Ele perguntou, curioso. Neguei com a cabeça antes de responder direito.

— Ainda não, mas eu tive notas excelentes até agora. Valeu pelo incentivo, todas as vezes. – Vi que ele pareceu sem graça enquanto me agradecia, até olhar pro sapato dele e depois para a janela. – Está tudo bem?

— Uhum, sim. Quer dizer, eu acho. É, está. – Não era normal para Nathaniel gaguejar daquele jeito. Continuei em silêncio, esperando ele se explicar. – É só que eu fui bem em todas as matérias. Excelente, na verdade.

— De onde eu venho isso é ótimo.

— É, eu sei. Eu sempre me esforcei por causa do meu pai, mas ele não está mais aqui com todas as exigências dele. Só parece que no fim foi tudo em vão.

— Nath, claro que não. É o contrário. Você passou todos esses anos explorando um mundo infinito de possibilidades, mas sempre analisando tudo pelo que seu pai esperava. Agora você pode escolher estudar qualquer uma dessas coisas por você mesmo.

— É, eu sei. Acho que eu só tenho medo de toda essa liberdade. Às vezes eu não sei se quero continuar sendo bom em tudo ou se é só resquício do que eu queria provar pro meu pai.

— Bom, isso eu não posso responder por você, mas estou aqui sempre.

Ele ficou em silêncio por um instante depois da minha resposta, ainda encarando o chão entre seus sapatos, como se contemplasse o que ele mesmo acabara de se questionar. Então, ele endireitou os ombros e sorriu.

— Eu vou para casa descansar, estou exausto. Tchau. – Acenei para ele e fiquei olhando ele descer as escadas até sumir do meu campo de visão. Eu não gostava de não ter uma solução imediata pras crises do Nathaniel, mas certas coisas não têm remédio.

— Anna, bem vinda. Estava te esperando. – O tom animado de Patrick quando cruzei a porta da sala de artes me fez tomar um susto e travar. Ele sorriu. – Vou te deixar ver sua nota antes de tudo.

Finalmente me virei, gastando uns segundos a mais para conseguir me concentrar e achar meu nome na lista. 9. Senti minhas sobrancelhas indo para lá no alto do meu rosto, ouvindo a risada de Patrick logo a seguir.

— Está realmente tão surpresa? Eu não estou. Você é provavelmente uma das minhas alunas que tem o maior entendimento da arte, além da teoria de uma sala de aula. Já considerou a carreira?

— Ah, eu pensava em ser escritora quando era mais nova, mas não é bem artes plásticas. – Dei de ombros, finalmente normalizando minha expressão. – Um pouco, é.

— Mesmo que seja escrevendo, ficarei feliz em te orientar se escolher esse caminho.

Sorri. Patrick tinha entrado nas nossas vidas quase por acaso, mas ele seria um dos que eu mais sentiria falta. Deixei a sala, passando nas últimas salas para conferir minhas notas. No fim, eu fui bem em tudo. Eu fiz mais do que evitar uma recuperação.

Suspirei depois de checar minha última nota. A tal hora de esvaziar o armário chegou, tão temida. Estava no corredor quando vi Patrick entrando na sala dos professores. Todos os professores tinham me oferecido orientação, mas o jeito de Patrick de falar ressoava dentro de mim.

Abri a portinha, vendo minhas coisas lá dentro. Eu nunca fui do tipo de decorar meu armário, exceto por uma foto de família que eu preguei no interior da porta. Abri a mochila e ajeitei meus livros e cadernos lá dentro, além da coleção de gominhas de cabelo e do monte de folhas avulsas que eu simplesmente jogava lá dentro.

Peguei a foto por último, estudando o retrato como se fosse a primeira vez. Estávamos os quatro no sofá, eu e Viktor no meio, e meus pais sentados nos braços, um de cada lado. Eu não devia ter nem 10 anos, Viktor já estava no meio da sua adolescência.

Antes que o sentimentalismo me derrubasse, guardei a foto dentro de um caderno e fechei, uma última vez, a portinha do armário. Aproveitei que ainda estava cedo e fui dar uma volta pela escola. Finalmente cheguei ao jardim, sentindo a brisa no rosto.

— Kentin? – Ele finalmente levantou o rosto, o cenho ainda franzido, e me percebeu perto do banco em que estava. – O que houve?

— Ah, oi, Anna. Bom, eu me dei mal nas provas. Eu já imaginava, considerando meu comportamento dos últimos tempos.

— Poxa, sinto muito.

— É, eu também, mas não dá pra voltar no tempo, não é?

— Bom, mas você ainda pode pensar pelo lado positivo da coisa. Você tem a chance de fazer a recuperação, e dessa vez sua cabeça está no lugar, sem ofensa.

— Verdade, eu preciso ser otimista. Otimista e estudioso também.

— Não se salvou em nenhuma?

— Deu pra passar em educação física. – Ele deu de ombros. Fazia bastante sentido, era a prova que só precisava de aptidão física. – Valeu por tentar me animar. Eu teria evitado tudo isso se tivesse te escutado antes.

— É, eu não gosto de me gabar, mas é verdade.

Ele deu uma risadinha sem graça, dando de ombros. Sorri para ele, desejando boa sorte mais uma vez antes de pedir licença e ir atrás de Rosa. Eu não a vi em nenhuma das salas e só podia esperar que ela tivesse ido bem.

Abri a porta para voltar para os corredores, mas acabei dando de cara com meu poeta favorito. Ele deu uns passos para trás, me dando espaço para entrar no prédio e não ficarmos no meio do caminho.

— Oi. Procurando alguma coisa? Ou alguém? – Ele perguntou, como quem não quer nada.

— Oh, o doce tom da ironia que eu adoro. – Apertei meus olhos para ele, que alargou o próprio sorriso.

— E eu gosto da sua doçura, simples assim. – Não consegui evitar a risadinha envergonhada e o calor que apareceu quase imediatamente no meu rosto, enquanto eu fugia de contato visual por um segundo.

— Bom, e como foram suas notas? – Desviei o assunto, imaginando se meu rosto já estava voltando ao normal. Ele assumiu sua postura comum, dando de ombros.

— Num geral, se desconsiderarmos educação física e matemática, mas nenhuma das duas é exatamente uma predileção minha, então não me surpreende. E você, está feliz com suas notas?

— Sim, senhor. Na verdade, melhor do que eu poderia ter imaginado.

— Pois eu sempre soube que você iria conseguir ir bem e com todas as honras.

— Acho que podemos aceitar isso, não é? – Sorri, sentindo ele finalmente enlaçar minha cintura e me puxar para um abraço. Abracei de volta, satisfeita. Aquilo era um excelente dia no meu dicionário. Fiquei por um tempo, antes de finalmente me afastar. – Bem, para sua informação, eu estava procurando a Rosa e agora vou retomar minha buscas a fim de saber como ela se saiu.

— Oh, sim, espero que ela tenha ido bem também. Bem, até mais tarde. – Aproveitei o corredor relativamente vazio e lhe dei um selinho antes de ir embora. Ele deixou o corredor e eu entrei em uma das salas.

— Ei, princesa. – Alexy sorria, sentado sobre uma das mesas. Como já não tinha mais quase ninguém na escola, ele não parecia ter medo de levar uma última bronca. Armin estava usando a cadeira, sorrindo para mim também.

— Ei, como vocês foram?

— Oh, meu bem, as notas só tornaram oficial o que já sabíamos, somos gênios. – Alexy respondeu, quase cantarolando.

— Só gênios? Uau.

— Bem, e as suas notas, como foram?

— Excelentes, na verdade. – Dei de ombros. Os dois gêmeos pareciam realmente felizes por mim, o que me fez sorrir junto deles.

— Viu, grandes mentes se atraem.

— Bom, ainda temos um longo caminho até o Nobel, meu caro irmão. – Armin comentou, olhando um dos alunos atrasados correrem para conferir o quadro de notas daquela sala.

— Vocês já assimilaram que estamos vivendo nossos últimos dias na escola? – Alexy finalmente diminuiu um pouco o sorriso no rosto, agora com um quê de saudade na expressão. Sorri.

— Oh, está ficando sentimental, Al?

— Sim, e daí, Armin?

— Fofo.

— Ah, você sempre fala debochando, assume.

Quando os dois começaram a se cutucar sobre aquilo, decidi que era minha hora de sair de fininho. Anunciei que ia atrás de Rosa, mesmo sabendo que nenhum dos dois me escutou antes que eu deixasse a sala.

Ambre estava no corredor, resmungando com Li sobre como ela perdeu dois castings para poder revisar para as provas e ainda assim tinha afundado. Li reclamou também, mas ai a loira começou a esfregar na cara da suposta amiga que ela nunca fora brilhante.

Deixei o corredor, fugindo de um último encontro com a peste que me aborrecera nos últimos anos, desistindo da minha busca por Rosa. Pelo horário, ela provavelmente já tinha ido embora. Decidi fazer o mesmo, quase passando batido por Lysandre na entrada da escola. Na verdade, só o notei porque parei para dar uma olhadinha para trás.

— Ei, você ainda está por aqui? – Perguntei, plenamente surpresa. Achei que ele tinha ido embora depois que a gente se encontrou no corredor.

— É, eu achei que poderia esperar um pouco e te acompanhar até em casa. – Ele comentou na maior tranquilidade, ajeitando uma das mangas do próprio casaco. – Você aceita?

— É claro. Vamos. – Peguei sua mão e finalmente começamos a nos afastar da escola. Acho que essas caminhadas com Lysandre tomavam o dobro do tempo que normalmente eu gastaria no trajeto, mas era tão gostoso estar com ele, falando sobre assuntos aleatórios.

— Bom, chegamos. – Foi ele quem me trouxe de volta à realidade e me fez enxergar o portão do meu prédio. Ele se inclinou para receber um beijo antes de ir embora, ao que eu evidentemente retribui. Foi a sensação da palma da mão dele nas minhas costas que me fizeram falar sem nem pensar antes.

— Ei, você quer entrar? Meus pais só chegam mais tarde.

— Hum, você tem certeza? – Ele hesitou um momento, olhando para as janelas. – Eu não gostaria de atrair a ira do seu pai mais uma vez.

— Ira, é. – Tive que rir, lembrando do bendito dia em que meu pai tinha me pego no pulo depois de fugir de casa para poder jantar com ele. – Tenho, eles só chegam mais tarde mesmo. Desde que o apartamento não pegue fogo, tudo certo.

Podia ser só na minha cabeça, mas aquela última frase de repente ganhou um outro sentido que me fez abaixar os olhos e me repreender mentalmente. Lysandre, acho que para minha sorte, não percebeu nada demais. Então, ele finalmente acenou com a cabeça, dando um sorriso.

— Eu te sigo então. – Abri o portão do prédio, sentindo a presença dele atrás de mim. A companhia de Lysandre dentro da minha casa me deixava bem feliz, mas angustiada ao mesmo tempo. Talvez angústia não fosse bem o sentimento, mas eu não tinha outro termo para descrever aquele frio na barriga estranho.

— Você quer uma bebida? Eu acho que tenho suco. – Ele aceitou e eu servi os dois copos de suco de laranja e o convidei para irmos para o meu quarto. Deixei meu copo na cômoda, colocando os cabelos atrás das orelhas e o observando. Ele estudava meu quarto como se fosse a primeira visita dele.

— Tudo bem? Parece nervosa. – Ele perguntou, finalmente deixando seu copo ao lado do meu e estudando meu rosto. Dei um sorriso fraco, negando com a cabeça.

— Está tudo bem, eu só...Ainda estou com a escola na cabeça. Não acredito muito ainda que, puf, acabou. Desculpa.

— Eu entendo. É o fim de uma fase, não o fim do mundo. Mesmo assim, eu sei que é assustador.

— Muito. Acho que é por isso que não paro de pensar nisso. – Sorri, ainda sem muita convicção. Ele sorriu, se aproximando de mim.

— E se você tentasse prestar atenção em outra coisa? – Sorri mais ainda, um pouco envergonhada. Lysandre simplesmente tinha aquele efeito sobre mim, um que eu já não tinha esperanças de que fosse me acostumar algum dia. Assim que ele segurou meu rosto entre suas mãos e me deu um beijo, eu esqueci a escola.

O frio na barriga agora era bem diferente. Eu sentia a língua dele na minha e a forma como ele me segurava me fazia arrepiar. Mal percebi minhas mãos encontrando um caminho por dentro de sua camisa, subindo pelas suas costas até os ombros e voltando.

— Suas mãos são muito macias. – Ele comentou, quando eu finalmente percebi que tínhamos nos sentado na minha cama. Aproveitei a pausa para deitarmos, as pernas entrelaçadas e a mão dele percorrendo de leve a curva da minha cintura até meu quadril, onde minha blusa subira um pouco. Eu estremecia com mais aquele toque.

No momento seguinte, eu sabia que já não estava raciocinando sobre mais nada. Sentei em cima dele, lhe dando outro beijo. Ele se endireitou, erguendo o tronco enquanto se apoiava nos antebraços. Mais um beijo, só que agora eu comecei a desabotoar a camisa dele, finalmente empurrando o tecido para fora do caminho.

Finalmente me afastei para tomar um pouco de ar, ainda digerindo a figura dele sem a camisa, me olhando um pouco intimidado.

— Eu não tinha exatamente isso em mente quando propus uma distração, mas eu não vou reclamar. – Ele comentou, um sorriso meio besta no rosto, me olhando com as pupilas dilatadas.

— Eu acho que eu estou com muita vontade de...você. – Eu ainda estava meio ofegante, quando ouvimos a porta da sala. Travei. Não demorou para a voz me alcançar.

— Anna, querida, já em casa? De quem são esses sapatos? – Os sapatos. Há pouco tempo minha mãe criara uma nova regra de deixar os sapatos usados na entrada, como os asiáticos fazem. – Anna?

Levantei num pulo, puxando Lysandre comigo. Ele pegou a camisa no mesmo instante, correndo para se vestir de novo. Arrumei a cama enquanto tentava ajeitar meu cabelo ao mesmo tempo e minhas roupas, por garantia.

— Não dá mais tempo de me esconder debaixo da cama. – Ele comentou, ajeitando o casaco. Dessa vez ele tinha que estar suando, mas quanto mais barreiras entre a gente existissem, melhor. – Ok, respira fundo, está tudo bem.

Batidas na porta. Ele sentou na cadeira do computador e me deu um empurrãozinho para ir atender. Nesse tempo, minha mãe já estava perguntando do outro lado.

— Meu bem, tem alguém com você? Ouvi outra voz.

— Oi mãe, entra. – Falei, sentando na cama, sem saber mais o que fazer. Ela abriu, vendo Lysandre em primeiro lugar. Ela sequer tentou disfarçar a surpresa.

— Oh, olá.

— Hum, mãe, você lembra do Lysandre. Lys, minha mãe. – Apresentei os dois, mesmo que fosse meio dispensável, ela lembrava dele desde o incidente da floresta.

— Um prazer revê-la, senhora. Bom, eu já estava de saída… – Ele fez menção de se levantar para sair, mas ela olhou para ele com um sorriso estranho.

— Opa, imagina. Já que você está aqui, quero te conhecer direito, sim? Anna, querida, leve seu amigo até a sala, que tal? – Ela me lançou aquele olhar travesso e voltou a falar com Lys. – Você prefere café ou chá, querido?

— Nesse caso, café, obrigado.

— Tudo bem, eu vou preparar e já volto. – Assim que ela fechou a porta de novo eu finalmente percebi que segurava o ar nos meus pulmões e soltei tudo de uma vez só.

— Bem, pronta para as apresentações? – Ele perguntou, finalmente ficando de pé e vindo me oferecer a mão para me ajudar a levantar também.

— Claro, você sendo você, vai ficar tudo bem. Graças a Deus, porque se dependesse de mim… – Respirei fundo, sentindo o completo pânico me possuindo. Ele sorriu, segurando meus ombros.

— Seus pais já gostam de você, afinal de contas. E já estava mesmo na hora de eu conhecê-los, não é? – Concordei com ele, finalmente conseguindo pelo menos controlar os nervos. Realmente, não tinha muito mais como eu esconder nosso relacionamento mais, mas eu também não achei que seria assim, com o calor dos poucos minutos anteriores. Eu realmente tinha começado a tirar a roupa dele? E montada nele, para piorar. Respirei fundo mais uma vez.

— Bom, vamos lá. Minha mãe vai te amar.

Enquanto a gente descia a escada, ele sussurrou para mim, vendo que minha mãe ainda estava na cozinha.

— Aliás, foi surpreendente esse momento no seu quarto. Bastante agradável, mas ainda assim me pegou de surpresa. – Sorri fraco, tentando não ligar muito para não deixar minhas bochechas super vermelhas. Eu ainda não tinha entendido o que tinha me dado também.

— Bom, ai estão vocês. – Ela serviu o café e me esticou uma caneca com chá. Pelo menos agora eu tinha como me acalmar um pouco. – Fico feliz em te conhecer oficialmente, ela fala muito de você.

Franzi o cenho, evitando olhar para ela. Ainda assim eu conseguia ver ela me lançando alguns olhares sugestivos. Finalmente caiu a ficha de que ela devia estar se divertindo muito com isso tudo.

— Afinal, meu marido eu sei que você já conheceu, estava me sentindo deixada de lado. – Ela bebericou o próprio café, aparentemente satisfeita com a fincada. Suspirei.

— É verdade que já nos encontramos antes.

— Então, me conta, você é da sala dela? – Minha mãe perguntou, ignorando a vergonha na minha cara com o comentário sobre meu pai.

— É, bom, a gente se conheceu porque ela não parava de correr de um lado pro outro na escola. É difícil não notar, ela é encantadora. – Ele comentou sem pensar e eu tive que tomar um gole do chá para disfarçar o efeito do elogio. Ela sorria também, satisfeita em ouvi-lo falar daquele jeito de mim.

Ouvimos a porta atrás de nós, sentindo o pânico me atacar de novo. Olhei para ele, pedindo desculpas pelos olhos, mas ele engoliu em seco e ficou de pé, pronto para receber meu pai. O homem nos encontrou na sala de jantar, tomando o dito café e franziu o cenho.

— Temos visita, meu bem. – Minha mãe comentou, ainda despreocupada. Lysandre estendeu a mão para cumprimentar meu pai, tenso.

— Estou vendo… – Meu pai puxou na memória de onde identificava Lysandre, mas não disse nada. – Boa noite, como está?

Assim que ele aceitou o cumprimento sem comentar nada, soltei o ar. O clima pesado não durou muito. A minha mãe usou uma estratégia infalível, que na verdade era só trocar histórias constrangedoras sobre mim.

— Eu não tinha a intenção, mas foi realmente engraçado quando ela jurou que ficaria para investigar o fantasma no corredor, mas ai assim que ficou tarde ela foi embora. E daí, no dia seguinte, ela quase cega Nathaniel com a lanterna, isso tudo porque ela não me conhecia ainda. – Lysandre completou, meus pais rindo da bendita história do fantasma. Suspirei, já sem forças para lutar contra a vergonha. – Mas é certo que não teria sido o mesmo sem ela.

— É, é uma pena que acabou, não é? – Minha mãe comentou.

— Falando nisso, você pegou suas notas? Como se saiu? – Meu pai perguntou, enchendo sua xícara de café de novo. Finalmente o assunto mudou.

— Fui muito bem, melhor do que eu esperava. – Comentei sobre as minhas melhores notas e os dois sorriram, satisfeitos.

— Eu tinha certeza que você iria bem, querida.

— Eu também. E você, meu jovem? – Meu pai perguntou. Achei que ia ver um certo julgamento no olhar do meu pai, mas ele só parecia plenamente curioso.

— Eu fui bem também. Não sou o melhor da turma, mas estou satisfeito com meu desempenho. – Lysandre tinha um jeito tão descontraído e maduro ao mesmo tempo que eu chegava a achar sexy.

Lysandre foi embora antes da hora do jantar, afirmando que não queria preocupar Leigh. Meus pais aceitaram quando ele agradeceu o café e eu o levei até o portão, lhe dando um beijo de parabéns por conquistar meus pais. Subi de volta, os dois tirando a mesa do nosso café. Minha mãe sorriu para mim.

— Ele é um fofo e parece gostar muito mesmo de você. – Ela comentou. Meu pai concordou, dando de ombros.

— É verdade, mas é sempre bom se precaver...Nunca se sabe. – Meu pai respondeu, olhando para mim. Concordei, sabendo que ele sempre estaria preocupado comigo. Sorri, finalmente pedindo licença e subindo para o meu quarto. Mais uma coisa que se resolvia nesse fim de ano.


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Notas finais do capítulo

Juro não demorar tanto mais. Obrigada pela paciência.



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