Lá E De Volta Outra Vez escrita por Pacheca


Capítulo 74
Casos de Família


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoas, tudu bom? Aproveitando meu fim de férias para postar mais um capítulo, porque vcs já devem saber que eu sumo quando minhas aulas voltam. Espero que gostem.



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   – Esse é o melhor lugar desse colégio. – Ele falou de repente, me fazendo abrir os olhos. Depois do almoço, durante nossa conversa, acabei deitando a cabeça em seu colo, sentindo o peso que aquele horário sempre trazia consigo. E enquanto ele afagava meus cabelos, eu quase dormia.

   – Alguma razão específica?

   – Tenho. Mais de uma. Eu gosto do ar livre, da natureza daqui. Mas tem uma razão específica. – Fiquei esperando, mas ele não falou. Ou pelo menos, não de imediato. Quando eu abri a boca para perguntar, ele falou algo que eu demorei um pouco para entender do que se tratava. – Encarava a vastidão do céu estrelado esperando enxergar em todo aquele azul pontilhado a insignificância que imaginava ser, e no entanto, acabou se percebendo tão imensa quanto a noite. 

   Meu texto. Aquele, escrito quase cronometrado, quando ajudamos Rosa a se reconciliar com Leigh. Tornei a me sentar, o fitando. Ele tinha o mesmo olhar sereno, me fitando de volta.

   – Quando memorizou isso?

   – Nos primeiros quinze minutos em que você me deu aquela folha. – Os olhos dele estavam presos nos meus, o rosto sério. – Assim como eu memorizei quase de primeira como seu ombro direito é mais alto que o esquerdo pela sua postura. E como você percebe isso no meio das aulas e tenta corrigir sem ninguém perceber. E só não foi mais rápido do que como eu memorizei a forma como meu coração bateu quando eu te vi sorrir.

   Não consegui responder. Tinha alguém mais sutil do que Lysandre para conseguir roubar para si todo meu ser? Sorri, sentindo meu rosto queimar. Ele sorriu também, segurando meu rosto com delicadeza, me impedindo de desviar o olhar.

   – Eu te amo. Eu te amo muito. – Aquilo sim era um sorriso. Ele pegou minha mão e pôs sobre o próprio peito, sorrindo de volta. E não é que o coração dele estava martelando dentro do peito?

   – Eu te amo também. Eu te amo de tantos jeitos, Lys. Você me fez me sentir viva de jeitos que tinha muito tempo eu não sentia. – Sequei a lágrima que teimou em rolar pelo meu rosto, rindo. – Ok, quando foi que esse almoço ficou tão sentimental?

   – Linda. – Pelo menos aquela amostra de choro me rendeu um belíssimo beijo. Ele se afastou, mudando o assunto. – Aliás, você vai fazer algo hoje? Eu queria te levar na loja de música em que eu normalmente vou. Eles têm muitas coisas de artistas menores.

   – Ai, hoje não dá. Eu combinei de tomar um café com o Alexy mais tarde, para ver se tirava ele um pouquinho da fossa.

   – Tudo bem. A gente pode ir outro dia. A loja não vai sair voando, nem você, eu espero.

   – Ah, depois dessa declaração pode ter certeza que não. – Ele sorriu, enquanto eu passava os braços ao redor de seu pescoço e o puxava para mais perto. Realmente, era tão melhor podermos ficarmos juntos sem todo o segredo.        

   Pudemos aproveitar o resto do nosso almoço em paz, caminhando de mãos dadas até a próxima aula. Passei o resto do dia dividindo minha mesa com Nathaniel como de costume. Aquela coisa estranha entre nós ainda persistia. O máximo que pude fazer para quebrar o gelo foi desenhar uma carinha feliz com um coração no caderno dele. Vi o sorriso e fiquei satisfeita, pelo menos por hora.

   As aulas finalmente acabaram, mais cedo do que eu achava que seria. Deixei minhas coisas no armário e fui caminhando até a lanchonete, vendo o céu azul. O dia estava tão agradável, seria bom levar Alexy praquele encontro.

   Ele já estava lá, sentado numa mesinha do lado de fora, os olhos distantes. Alexy não estava com o brilho usual dele, apagado naquela mesa. Fiz meu caminho até ele e puxei a cadeira vaga.

   – Desculpa a demora. Já pediu?

   – Já. Não consegui uma mesa ao sol, desculpa.

   – Aqui está ótimo, Alexy. Já está bem quente hoje, a sombra é agradável. – O garçom me viu chegando e veio anotar meu pedindo, se retirando em seguida. – De todo jeito, eu estou feliz que você tenha voltado, a escola parecia vazia sem você.

   – Fofura, eu senti saudades suas também. As coisas ainda estão indo mal lá em casa. A minha mãe estava chorando ontem à noite.

   – Eu imagino como deve ter sido. Sempre me parte o coração ver minha mãe triste, eu imagino no seu caso.

   – Bom, a gente ainda está vivo, pelo menos, mas...Sem ser indelicado.

   – Eu sei, bem. Ainda assim é problema de família, então vale a comparação. Ainda mais sua mãe, ela é sempre tão feliz, enérgica.

   – Eu não sei você sabe, mas o Armin adora um jogo de investigação ou algo assim. Acho que é Orwell. Ele podia simplesmente continuar com o jogo, porque na vida real a coisa fica bem menos divertida.

   – É, eu entendo. – Estava tentando pensar em algum assunto para distrair Alexy, mas ele me surpreendeu ao falar antes que eu tivesse qualquer ideia.

   – Ele achou uma coisa.

   – Como?

   – Ele achou um número de telefone nos nossos documentos. – Alexy falava mais baixo agora, quase como se estivesse guardando um segredo. Talvez estivessem. Ou talvez os pais dele sabiam e por isso as coisas andavam tão mal.

   – E vocês ligaram? Pro tal número? – Eu perguntei, agora mais alerta. Tinha realmente o fator medo que eu tinha dito para Alexy mais cedo naquela equação. Eles não tinham chegado à um beco sem saída, eles poderiam seguir caminho, só...

   – Não. O Armin não quis. Acho que a cadeia acabou com o ânimo dele. Ele finalmente percebeu que isso não é só um joguinho dele.

   – Talvez seja melhor mesmo.

   – É, só que...agora eu quero saber. – Ele resmungou, finalmente tomando seu café. Ergui os olhos, fitando-o. – Eu acho que tinha razão sobre eu ter medo do que poderíamos encontrar, mas...Eu fiquei curioso agora.

   – E qual seu medo, exatamente?

   – Nem eu sei. Lógico que tenho medo de magoar meus pais mais ainda, mas eu também tenho medo de descobrir a razão do abandono. Eu imagino que eles tenham tido uma razão.

   Estiquei minha mão na mesa e apertei a dele, tentando passar todo o conforto possível para ele. Ele ainda não respondeu mais, aceitando meu contato com um sorriso fraco. Ficamos ali por um momento, até ele revirar os olhos e soltar minha mão para cruzar os braços.

   – O que está fazendo aqui, hein? – Ele falou meio alto, atraindo alguns olhares. Me virei, vendo Armin de cara fechada.

   – Eu estava passando por aqui, incomodo?

   – Incomoda, sim. Eu te avisei que eu quero ficar sozinho, sem você no caso. – Pensei em dizer algo para ver Alexy se acalmava, mas Armin também parecia estar ficando irritado.

   – Abaixa a bola, Alexy, que foi que eu fiz?

   – O que? O que? Você quer realmente saber o que você fez? Não sei, Armin, talvez magoar sua família inteira e fazer todo mundo sofrer remoendo o passado por seu puro prazer egoísta, será que foi isso?

   – Ah, para com esse show, Alexy. – Os dois tinham armado o maior barraco dentro da lanchonete, e as coisas não pareciam estar tomando um bom caminho.

   – Anna, você poderia informar o meu irmão que ele foi longe demais dessa vez? Talvez ele escute outra pessoa. – Alexy finalmente se lembrou da minha presença, da pior forma possível.

   – Ah, a Anna pode te falar também que você está exagerando, Alexy. Hein? – E os dois passaram a me olhar. Fiquei de pé, tentando apaziguar a situação, mas os dois pareciam realmente esperar uma resposta.

   – Opa, espera aí gente, eu não tenho porque estar nessa briga. Vocês dois são meus amigos. – Falei, tentando não piorar a situação. Até porque, eu realmente era amiga dos dois. Eu podia ser mais próxima de Alexy, mas isso não me faria jogar Armin debaixo de um ônibus assim.

   – Ah, a isentona. – Armin reclamou, revirando os olhos. – Parabéns por incentivar o comportamento do seu amigo, Anna, realmente muito bem feito.

   – Armin... – Mas nenhum dos dois quis continuar aquela discussão, muito menos me escutar. Os dois deram as costas e, cada um numa direção, foram embora e me deixaram ali sozinha.

   Tornei a me sentar, ainda incrédula. Eu entendia que os dois estavam muito estressados com toda a situação, mas daí me jogar na fogueira foi demais. Suspirei, acabando de tomar meu suco e pedindo a conta. Eu só não queria mais me meter em assuntos que não eram meus, não parecia um crime pra mim. O garçom me trouxe a conta, e eu paguei pelas duas bebidas antes de deixar a lanchonete.

   Estava caminhando na direção da minha casa, quando menos de dois minutos depois meu celular começou a tocar. Atendi, sem conferir o número.

   “Anna, oi. Você está muito ocupada?” Era Rosa. 

   – Ocupada não é bem a palavra, por que?

   “Sua voz está estranha, que foi?”

   – Briguei com os meninos. Bom, o Alexy começou a brigar com o irmão e eles me jogaram no meio. Enfim, no que posso ajuda-la? – Perguntei, agora sentada num dos banquinhos do parque.

   “Bom, eu estava te ligando para irmos ao shopping, mas acho que você não vai estar muito afim agora.”

   – Não, tudo bem. Acho que vai ser bom para mim andar com uma amiga que não esteja me dando dor de cabeça. – Ela riu do comentário, dizendo então que me encontraria no shopping. Desliguei e fui para o ponto de ônibus, avisando minha mãe onde estava indo.

   Assim que cheguei, mandei uma mensagem para Rosalya perguntando onde ela estava. Assim que ela me respondeu dizendo que estava na ótica, fui atrás dela. Encontrei-a com vários modelos de óculos de sol numa mesinha, experimentando todos.

   – Esse ficou bom em você. – Comentei, fazendo-a sorrir no espelho.

   – Oi, finalmente chegou. Como está?

   – Chateada com os dois por terem me feito de vilã depois de toda a ajuda, mas vou superar. E você?

   – Eu estou bem, mas com um pequeno problema. Só que primeiro, quero ouvir sobre você. – Concordei. Deixamos os óculos de sol para trás e fomos até um banquinho, conversando. Passei para ela o relato de como os dois irmãos se desentenderam e me jogaram no meio da briga, tentando não ficar chateada demais.

   – Quer saber como vamos resolver isso? Com roupas. – Ela falou sorrindo, tentando me distrair. – Vamos achar um belo figurino e você nem vai se lembrar disso.

   – Meu dinheiro vai, Rosa. – Falei, já tentando frear a besta com compulsão em compras. Ela riu, prometendo não me falir.

   – Anna, você estava bem próxima do Armin. Ele deu algum indício disso, de por que ele faria isso? – Ela perguntou, antes de irmos às nossas compras.

   – Não, nenhum. Eu vi ele na biblioteca um dia, assim que eu entrei ele fechou tudo. Só que eu nunca chutaria nisso.

   – Bom, eu tenho dó do Alexy. Não foi nada legal do Armin.

   – Eu não acho que o Armin esteja de todo errado, mas eu não vou tomar partido independente do que eu ache ou deixe de achar.

   – Mas concorda com ele? – Ela questionou, jurando não me entregar pro Alexy caso eu confirmasse.

   – Não concordo com o método, mas é família dele também, Rosa. Assim como Alexy tinha direito de não querer saber dessa história, ele tinha o direito de querer. Eu só não dou razão pela forma como ele fez tudo isso. – Ela concordou, dizendo que até que fazia sentido. – É bom para eu aprender de uma vez por todas a parar de me meter nos assuntos dos outros.

   – Talvez, mas agora nós vamos tratar do seu assunto chamado roupas. Vamos. Eles acabaram de inaugurar uma loja linda de moda feminina e eu tenho certeza de que vai achar sua nova paixão por lá.

   – Tudo bem, vamos. – Ela comemorou quando concordei, me levando com ela até a tal loja pela mão. Assim que entramos, ela começou a revirar todas as araras, caçando roupas. E pelo tamanho, para mim. Passei algumas camisetas antes dela voltar com a sacola cheia.

   – Vamos logo provar estas. – E fui guiada de novo até o provador. Peguei a sacola, contando quantas peças tinha. – Nem pense que tem escolha, vai sair com pelo menos um look montado. Agora ande logo, de calcinha.

   – Leigh sabe dessa sua tara nas minhas calcinhas? – Questionei, fazendo-a rir enquanto me livrara da camiseta.

   – Ele não se incomoda, mas aposto que o irmão dele adoraria receber uma descrição da sua gaveta. – Foi minha vez de rir, vendo-a me encarando no espelho com uma cara estranha.

   – Que foi? Me passa a primeira roupa.

   – Vocês dois já estão...sabe, chegando lá? – Aproveitei a camisa na minha mão para enfiar minha cara em um buraco, literalmente. Ela esperava a resposta, calada.

   – Eu não sei exatamente quando o momento de transição acontece exatamente, mas creio que não.

   – Sério, nada? Uns toques mais ousados, um puxão para mais perto, nada disso?

   – A gente se dá uns amassos de vez em quando, se é essa a pergunta. – Respondi, pensando em cada vez que Lysandre me prendia contra ele e me fazia querer ainda mais. – Por que da curiosidade?

   – Curiosidade, só isso. Bem, acho que acontece quando tem que acontecer. – Ela deu de ombros, voltando a prestar atenção nas roupas. – Essa ficou perfeita.

   Conferi no espelho o que ela tinha dito, e apesar de não concordar no perfeita, confesso que gostei bastante. Antes de conhecer Rosalya eu não era adepta dos crop tops, mas depois que ela começou a fazer combinações com saias e calças de cintura alta, eu acabei me habituando. E a saia rosa era de um comprimento razoável.

   – Concordo. Achamos a roupa que resolve meus problemas magicamente. – Ela riu, me deixando voltar para minhas roupas normais e ir até o caixa pagar.

      – Gostou da sua roupa incrível?

   – Rosa, você faz maravilhas para a minha autoestima. – Falei, guardando a notinha da compra na bolsa.

   – E pro seu dinheiro também, mas faz parte. – Concordei, indo atrás dela. Ela voltou a falar, finalmente esclarecendo qual era o tal problema que ela tinha dito antes que eu começasse a falar do caso dos gêmeos. – Não é bem um problema, mas eu sofro um pouco com isso. Eu quero dar um presente pro Leigh durante nosso feriado na praia, mas como eu disse, costumo sofrer para escolher.

   – Leigh tem sorte de ter uma namorada tão comprometida com esse relacionamento. 

   – Bom, eu já me acostumei com a ideia do nosso casamento, só resta ele fazer o pedido. – Ela disse, confiante. Sorri. – Bem, quer me ajudar? A gente se separa e procura por algo.

   Aceitei, vendo-a se afastar depois de me agradecer. Dei uma volta por aquele andar, vendo bichinhos de pelúcia e jogos de vídeo game, mas não achei que aquelas coisas faziam o estilo dele. Pelo menos, com o pouco que eu conhecia de Leigh. Acabei não achando nada e reencontrando Rosa.

   – Eu vi uma camisa numa vitrine, achei linda. Vamos lá conferir, acho que me decidi.

   Entramos na tal loja da vitrine, achando ninguém mais, ninguém menos que Alexy. E ele nos viu entrando. Pelo menos ele não fingiu que não viu, mas não sei quanto aquilo foi realmente a melhor opção.

   – Oi, meninas. O que estão fazendo aqui? – Ele perguntou, soltando o cabide na arara que olhava.

   – A Anna está me ajudando a escolher um presente pro Leigh, daquele passeio nosso. E você?

   – Me conhecem, achei que fazer umas comprinhas poderia me distrair dos meus problemas. – Vi que ele olhou de relance para a sacola de papel na minha mão, e Rosalya disse que então nós todos concordávamos que aquele era um ótimo método. E depois, silêncio.

   – Alexy, eu... – Pensei em quebrar o gelo e falar algo, mas assim que tive a ideia ele me interrompeu, suspirando.

   – Desculpa por ter sido um babaca. Foi simplesmente maldade da minha parte te fazer escolher um lado naquela discussão, eu não tinha esse direito. De verdade, me perdoa? – Ele falou, meio envergonhado. Sorri, aliviada que ele ainda era o Alexy sensato e compreensivo de sempre.

   – Claro que sim, Alexy. – Ele sorriu, aceitando de bom grado o abraço que eu me precipitei em dar. Rosalya se juntou no abraço, feliz por nossa reconciliação.

   – Fico feliz que as coisas estejam de volta ao normal, seria horrível ter que me dividir em dois para andar com vocês.

   – É, mas pelo menos poderia ir na sua viagem e deixar sua outra metade aqui com a gente. – Falei, fazendo-a sorrir. Alexy, por outro lado, já estava distraído com a própria cabeça de novo. – Alexy, o que foi?

   – Ah, nada, eu...Bom, na verdade, eu queria pedir um favor. – Ele acabou falando, segurando um dos braços, numa pose como se ele quisesse se encolher. – Aquele telefone do qual eu falei antes, eu queria ligar. Queria que estivesse comigo, estou com medo do que eu vou ouvir.

   – Se você realmente quiser, eu estou aqui para te dar todo o apoio. Quando vai ligar?

   – Amanhã no fim das aulas. Mesmo se for muito mal, eu vou ter o fim de semana para me recuperar. – Ele deu de ombros. Rosa suspirou.

   – Eu já vou ter ido embora, mas você sabe que também pode contar comigo.

   – Claro que sei disso, Rosa. Quero que aproveitei sua viagem e tire muitas fotos de surfistas sarados e bonitões para a gente. Aliás, traga os surfistas de uma vez.

   – Eu já tive minha cota com surfistas, vou passar a oferta. – Os dois riram, lembrando da minha narrativa com Dake.

   – De toda forma, Rosa, não se preocupe. Você já fez o suficiente por mim nos últimos dias. – Ele comentou, segurando as mãos da menina. Confesso que senti uma fisgada no peito quando ele disse aquilo. Eu percebi que não estava tão presente assim pros meus amigos. – Bem, eu vou para casa. Foi bom encontrar vocês. Nos encontramos amanhã no parque?

   Concordei, finalmente ganhando um último abraço e vendo-o se afastar. Rosalya finalmente lembrou-se da camisa que viera buscar, pagando tudo rapidinho. Decidimos que já estava tarde e que deveríamos ir para casa. Não a veríamos mais depois daquilo, então agradeci o passeio e me despedi, desejando boa viagem.

   Cheguei um pouco mais tarde que o previsto, o céu já estava quase completamente escuro e os postes já estavam acesos na rua. Subi para o apartamento, sendo recebida pela voz alegre da minha mãe assim que abri a porta.

   – Ai está você, meu bem. Bem vinda.

   – Boa noite, meu bem, tudo bom? – Meu pai me deu um beijo. Estranhei o bom humor dos dois, mas eu não ia reclamar, não é? – Como foi seu dia?

   Uma bagunça. Meus amigos estão brigando por causa dos pais biológicos e me jogaram no meio, mas depois as coisas começaram a se resolver. Sorri, mostrando a sacola na minha mão.

   – Foi ótimo. Rosa me levou até o shopping para ajuda-la com um presente pro namorado, acabei gastando algumas das minhas economias. – Sorri, disfarçando o peso no meu coração.

   Eu me sentia mal por esconder tanta coisa deles. Digo, o problema com os gêmeos nem era algo tão ruim, mas eu simplesmente não via porque contar, ou talvez simplesmente não achasse legal. E sobre Lysandre então, parecia ainda mais injusto. Os dois sempre estiveram ali para mim, por que eu não podia simplesmente retribuir a confiança?

   Por que eles já não estavam confiando tanto mais em mim. E o oposto também valia. Voltei para a conversa quando meu pai falou do tal presente.

   – Presente pro namorado?

   – Ora, Phillip, não é porque você raramente faz isso que todo mundo tenha que ser igual.

   Ele a encarou depois da patada, mas eu fui obrigada a rir da atitude da minha mãe. Ele ficou sem graça, mas ela logo se redimiu.

   – Brincadeira, querido. Ainda assim, acho legal da parte dela. Ela pode comprar um presente pro namorado se isso a agrada, não é? – Ele concordou, sem muita convicção. Acredito que o problema na história era o namorado, não o presente. – E você, comprou pro seu também?

   – Oi? O que foi? Olha só, um fantasma me chamou no meu quarto agora... – Falei, fingindo de besta e subindo as escadas pro meu quarto. Ela garantiu que só estava brincando e meu pai resmungou, avisando que o jantar seria servido em dez minutos. Fechei a porta depois de dizer que logo desceria.

   Suspirei, mais uma vez. Ela poderia até estar brincando, mas não estava errada. Sentei na cama, deixando a sacola do meu lado e vendo a pintura na minha parede.

   – Você se abria com eles, Viktor? – Perguntei pro nada, sabendo que nunca teria uma resposta. Fui me trocar antes que o jantar estivesse pronto, tentando não me incomodar tanto comigo mesma. 


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