Lá E De Volta Outra Vez escrita por Pacheca


Capítulo 47
Pânico


Notas iniciais do capítulo

Ahh, já voltei ♥ Prepara o alicate pra cortar esse tanto de feels. Rs. Aproveitem :3 Ah, ponto de vista do Nathaniel, by the way.



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Priya me encarou, um pouco assustada. E confesso que eu também estava surpreso com a pequena explosão de Anna. Ela nunca reclamou de treinar sozinha, por que era um problema agora?

─ Eu fiz alguma coisa? ─ Ela perguntou, sem graça. Neguei com a cabeça, tentando sorrir de volta.

─ Não, deve ter acontecido algo antes. Ela não é assim, normalmente.

─ Ah, que bom então. Eu odiaria começar com um pé esquerdo.

─ Relaxa. ─ Peguei outro livro para e ela e continuei a ajudando. Anna devia ter se estressado antes disso, é, era isso. Quase certamente. Ele não tinha feito nada. Ela decidiu levar um livro dos que eu mostrei e, depois de registrar tudo, pegou sua mochila e disse que iria embora. Acenei em despedida e suspirei.

Sozinho, eu tentei ligar para Anna. Nada. O que eu tinha feito que, além de tudo, ela decidiu me ignorar também? Fui para a sala de aula, pensando em adiantar algo para ajudar Kim. Com muito custo, a menina tinha finalmente aceitado minha ajuda.

─ Nathaniel. ─ Rosalya entrou na sala, celular na orelha, com Lysandre logo atrás. Ela devia estar indo para a casa do namorado, ou ele simplesmente a acompanhava. ─ Você viu Anna? Ela não me atende e já tem mais de duas horas que estou tentando falar com ela.

─ Espera, então ela não está só me ignorando?

─ Ela não te atende?

─ Não. Ela foi atrás de mim depois da aula, mas quando eu falei que não ia com ela, saiu batendo pé e parou de me atender.

─ E o que você fez? ─ Ela perguntou, como se a amiga claramente tivesse razão. Suspirei.

─ Nada. ─ Ela continuou me encarando. Encarei de volta. ─ Eu estou falando sério, não fiz nada. Ela nunca reclamou de treinar sozinha.

─ Ela não é de fazer isso. ─ Lysandre finalmente comentou. Engoli em seco. Ele sabia mais sobre ela do que eu gostaria. Respirei fundo.

─ Não, só se algo a chateou muito. Ah, pronto. ─ Peguei o celular e atendi, ouvindo Philipe falando baixo. ─ Hum, não ela já saiu da escola. Tem umas três horas, mas achei que ela tinha ido para casa. Não? Já tentou ligar e nada? Não, ela também não me atendeu. É, okay, tudo bem. Eu te ligo assim que conseguir, ok? Tchau.

─ O que foi?

─ Era o pai da Anna. Ela não foi para casa até agora, Rosalya.

─ Você não disse que ela ia treinar? Talvez ela perdeu a hora.

─ Rosalya, eu conheço a Anna o suficiente para te garantir que ela não treinou mais que duas horas. Ela mal aguenta uma e meia.

─ E onde mais ela estaria então? Porque aqui ela não está, em casa também não, na academia você já excluiu…

Eu era um idiota. Fiquei de pé, juntando minhas coisas dentro da mochila. Rosalya me segurou pela manga e me forçou a reconhecer que eu tinha sim feito algo de ruim para ela. Ah, eu era mesmo um imbecil.

─ Ela vai estar no cemitério.

─ Como é?

─ Hoje era dia de visita. Ah, eu sou um idiota. Merda.

─ O que é dia de visita? ─ Parece que Lysandre não sabia tanto assim, afinal. Ótimo.

─ É quando eu e ela vamos até o cemitério, ela gosta de visitar Viktor dois dias no mês, uma de aniversário dele e outra do aniversário de morte. Hoje seria o de morte e eu sou um total babaca.

─ Espera, você esqueceu disso? Nathaniel!

─ Rosalya eu estava ocupado fazendo um favor que ela me pediu. Pode não parecer, mas minha cabeça também sobrecarrega.

─ Gente, se acalmem. É só irmos até lá e falar com ela. ─ Lysandre falou. Concordei, pegando a mochila.

─ É o que eu vou fazer. Se não se incomodarem, eu prefiro que vocês vão para suas casas e me deixem tratar disso. O erro foi meu. Eu ligo assim que deixar ela em casa.

─ Tudo bem. Vamos, Lys?

─ Sim, claro. Boa sorte, Nathaniel. ─ Não perdi meu tempo acenando e sai correndo pela rua. O cemitério não tardou a aparecer no meu campo de visão, o portão preto seguido pela grama seca do caminho da ponte. Passei correndo, reto, indo pelo caminho infelizmente familiar. Acredite, eu preferiria nunca ter que ir ali, pelo simples fato de que eu queria Viktor entre nós.

─ Anna. Anna. ─ Parei, vendo o lugar vazio. Ou quase. As coisas dela estavam lá. Mochila, caderno e caneta, o celular. Peguei o aparelho e vi todas as dezenas de ligações ignoradas. Mãe, pai, eu, Rosalya, até Alexy, todos ignorados. ─ Anna, cadê você?

A iluminação ali era terrível. Eu estava ofegante, mais pelo susto do sumiço dela do que pela corrida até ali. Voltei a chamar, gritando o nome, fazendo o caminho até a ponte. Não estava. Eu ia atravessar a madeira, quando a vi.

─ Não. Não, não, não. Anna. ─ Voltei a correr, seguindo a margem do riacho pela margem estreita perto do muro. Acho que nunca fiquei tão apavorado. ─ Anna, pelo amor de Deus, não me faz isso. O que você arrumou, garota?

Tinha sangue na cabeça dela, colando os fios do cabelo grosso de forma desgrenhada ao rosto. Aquilo era assustador, mas vê-la com a pele tão azulada deixou-o em pânico. E dura também. Quando eu peguei na mão dela para tirá-la da água, era como agarrar um manequim.

─ Anna. Anna, fala comigo, pelo amor de Deus. ─ Tentei fazer uma respiração boca a boca, mas não parecia que ela tivesse se afogado. Não tinha água. Preguei o ouvido no seu peito gélido e escutei, fechando a boca para minha respiração não me atrapalhar.

Fraco. Tão fraco que parecia a ponto de parar. Quanto tempo ela tinha ficado ali? E o que diabos tinha acontecido, afinal de contas? Ela estava tão gelada e...parecendo morta. Não, não estava. Sem saber o que mais eu podia fazer, pus as mãos no peito dela e tentei uma ressuscitação cardiopulmonar. É, não são muitos adolescentes que sabem fazer um RCP. Não me pergunte porque eu aprendi, também não sei.

Fiz mais umas duas vezes e, ouvindo de novo, notei pouca diferença. Peguei-a no colo e sai correndo do cemitério, o peso extra me retardando um pouco. E aos berros.

─ Socorro. Socorro, pelo amor de Deus. Ela vai morrer, socorro! ─ Um senhor não muito longe veio correndo, o telefone já em mãos. Coloquei-a no concreto, voltando a checar seu coração. ─ Obrigado. Obrigado, senhor.

─ Eles já estão vindo. O que houve?

─ Eu não sei, eu achei ela assim e… Ah, meu Deus. Eu sou um idiota.

Dois minutos. Eu tinha colocado meu casaco nela e a abraçado, tentando esquentá-la, mas parecia não surtir efeito. Dois paramédicos a colocaram na ambulância e me puxaram para dentro do carro, já iniciando o resgate.

Minha mente não funcionava direito. Um deles arrancou a roupa dela e a enrolou numa toalha, enquanto o outro tomava o pulso. Não entendi metade das coisas que eles disseram. Eu não conseguia parar de encarar o rosto ainda extremamente pálido e a boca meio aberta, por onde parecia não entrar ar algum.

Eu sabia porque ela tinha ficado tão brava. Eu entendia ela o suficiente para saber que não era só o dia da visita. Era Priya. Eu devia ter percebido. Desde o momento em que escreveram naquele maldito artigo que alguém ia tomar o lugar dela…

─ Eu nunca te trocaria por ninguém, garota. ─ Os dois socorristas me olharam de soslaio. Que olhassem. Eu só queria que ela estivesse me escutando e falando como eu era idiota por ficar tão distraído por um rabo de saia. Bom, por uma calça bordada, no caso.

Hospital. De novo. A moça da recepção me reconheceu, barrando minha entrada na UTI. Aquela não podia ser a última vez que eu a via. Não podia, não podia. Tremi, enquanto a moça me pedia os dados dela. Choque, talvez, fosse meu estado.

─ O senhor precisa aguardar até o retorno do médico. Por favor, tente se acalmar. ─ Ela disse, acabando de escrever algo. Como alguém pedia calma numa situação daquelas? Peguei o celular no bolso, lembrando de todos os outros pertences no cemitério e disquei, ainda trêmulo.

O pai dela atendeu. Como eu dava uma notícia daquelas? Respirei fundo quando o mais velho iniciou o questionário?

─ Nathaniel, você a encontrou? Como ela está? Está vindo para casa?

─ Philipe, eu preciso que o senhor fique calmo e venha para o hospital.

─ Como é? Nathaniel, o que aconteceu?

─ Eu não sei direito, mas ela vai precisar e…

─ Eu estou indo. Espere ai. ─ Ele desligou antes que eu concordasse. Disquei o outro número. Eu não ia encarar aquilo sozinho. A culpa podia até ser minha, mas eu não aguentaria. Rosalya atendeu pouco depois. Ouvi Lysandre e o que eu imagino ser a voz de Leigh.

─ E então, ela finalmente foi entregue a seu lar?

─ Rosalya.

─ Que foi? Você está bem?

─ Não. Eu trouxe ela direto para o hospital, mas…

─ Espera, como é?

─ Eu não sei, eu achei ela no rio e…

─ Eu vou chamar Alexy e estamos indo agora. Te vejo em vinte minutos. ─ O barulho morreu do outro lado da linha, e eu fiquei com o celular nas mãos. Choque, devia ser esse o nome do meu estado.

Rosalya não exagerou nem um pouco quando disse que chegava em vinte minutos. Ela gastou vinte e quatro, mas não fazia diferença. E ela trouxe Lysandre e Alexy a tiracolo. Ela atravessou o saguão quase correndo, só não o fazendo pelo olhar opressor da enfermeira.

─ O que foi que aconteceu? ─ Ela perguntou, enquanto eu vigiava o corredor e a entrada. Os pais dela ainda não tinham chegado. ─ Nathaniel.

─ Eu não sei. Eu vi as coisas dela perto da lápide, mas ela não estava. Então eu fui procurá-la na ponte, porque ela gosta de ficar lá vendo o rio e… Ela estava na margem. Sangrando, até azul de frio.

─ No rio?

─ Com metade do tronco e as pernas dentro d'água. E azul. Azul não. Roxa. Eu peguei no braço dela e parecia que eu tinha acabado de arrastar um manequim pra fora da água, de tão dura.

─ Nathaniel, querido, se acalma, okay? ─ Alexy me surpreendeu um pouco quando sentou do meu lado e passou a mão pelas minhas costas, meio tímido. Agradeci.

─ Mas como ela está?

─ Eu não sei. O médico ainda não veio. O coração dela estava quase parando.

─ Vai dar tudo certo. ─ Lysandre falou, cruzando os braços. Como aquele cara conseguia ser tão tranquilo? Eu esperava que, ao menos por dentro, ele estivesse tremendo ao menos um quinto do que eu estava.

─ Nath. Nath. ─ Lucia. Ela queria correr, mas Philipe a segurava pelo braço, o semblante sério. Sério não. Preocupado. Apavorado. Aquela família desmoronaria. E tudo porque eu fui um imprestável incapaz de dar atenção por um minuto para ela. ─ Cadê ela? Eu quero ver minha filha. Philipe, me solta.

─ Lucia, precisamos ter calma, nem sabemos o que houve. ─ Ela não queria aceitar, mas acabou tomando o lugar do meu outro lado, tirando um terço da bolsa. Rosalya encarou, provavelmente imaginando a situação. Eles já tinham perdido um filho. Os dois seria mais do que insuportável.

O relógio estava para marcar os primeiros quarenta minutos, quando um senhor de seus cinquenta anos passou pela porta do UTI. Fiquei de pé num pulo, desesperado. Ele pegou sua prancheta e leu a ficha.

─ Anna Wright? ─ Concordei, os pais dela se abraçando ao meu lado. Ansiedade ia me matar em menos de um minuto. ─ A menina foi encontrada num caso de hipotermia grave, com a temperatura corporal próximo de 21 até a chegada dos paramédicos, e com uma concussão na parte lateral da cabeça.

─ Pula pra parte que interessa, pelo amor de Deus. ─ Ia acabar socando aquele velho se ele não parasse com a enrolação.

─ Foi um golpe grave no crânio, do tipo que pode ter lhe causado uma convulsão, mas não deve acarretar nenhum problema. No pior dos casos uma confusão mental, o retardamento de alguns reflexos e uma perda de memória breve. Quanto a hipotermia, está sendo feito um processo chamado circulação extracorpórea para tentarmos reaquecê-la rapidamente. Deve durar mais algumas horas, por ser um processo delicado.

─ A minha filha vai ficar bem?

─ Tudo indica que sim, senhora.

─ Oh, graças a Deus.

─ Agora, qual de vocês realizou o RCP? ─ Ele abaixou a prancheta, encarando todos os presentes. Ergui a mão, alarmado.

─ Fiz mal?

─ Pelo contrário. O coração dela pode não ter parado, mas não ia demorar muito mais. Se ela tivesse tido uma parada cardiorrespiratória seria praticamente impossível socorrê-la a tempo. Meus parabéns. Você a salvou.

Foi o suficiente pros meus joelhos cederem. Alexy reparou e me estendeu a mão, me puxando para a cadeira azul. O médico disse que só poderíamos vê-la quando ela recobrasse a consciência, quando a tal circulação tivesse acabado. Alexy pesquisou na internet o que era, a pedido do pai dela. Tiram o sangue da pessoa e o aquecem. Delicado. A palavra verdadeira era arriscado.

Philipe quis nos mandar embora, mas eu me neguei. Alexy e Rosalya também não quiseram ir, e Lysandre simplesmente disse que gostaria de vê-la, assim que possível. Pelo horário, teríamos que entrar aos poucos. Já estava tarde. O céu já estava escuro.

Foram mais de duas horas. A enfermeira veio com os passos rápidos e avisou com um sorriso que Anna já estava desperta, apesar de precisar de descanso. Em resumo, podíamos vê-la, mas tínhamos que ir logo. Os pais dela deixaram que nós, amigos, fôssemos antes.

─ Os quatro de uma vez? ─ A enfermeira ia contestar, mas eu simplesmente respondi.

─ Vão ser cinco minutos. Ninguém vai cansá-la mais que isso.

E ela acabou cedendo. Ela tinha sido transferida para um quarto, então tivemos que ir de elevador. Eu tentava respirar fundo, mas a ansiedade, mais uma vez, parecia pronta para explodir o meu coração. Rosalya abriu a porta.

─ Ei, garota. Como se sente? ─ Alexy com certeza era o mais doce de todos nós. Ele teve o maior cuidado para segurar sua mão. Só de vê-la sorrindo e com alguma cor no rosto, meu coração despencou. Eu quase matei aquela menina. E eu a salvei também.

─ Doí. ─ Parecia difícil de falar, mas o médico tinha avisado que ela estaria com uma certa dificuldade. ─ Oi gente.

─ Anna.

─ Nath…

Alexy ficou de pé no mesmo instante, abrindo espaço para mim. Eu nunca tinha feito aquilo na frente dos outros, mas pouco me importava. Eu tinha tomado um susto tão grande, tão terrível. Deitei a cabeça no seu colo, jogado por cima da cama, com os braços dando um abraço meio desconfortável nela.

─ Me perdoa. Por favor, me perdoa. ─ Chorei. Chorei alto e com soluços, com todo o medo de perdê-la ainda ali, agarrado em mim. ─ Eu sei que eu fui um idiota, mas por favor, me perdoa. Eu nunca mais vou fazer isso.

─ Nath. A-acidente. Foi. Isso. ─ Se ela soubesse o quão feliz ela me fazia, principalmente ali, correndo os dedos pelo meio dos meus cabelos, massageando minha cabeça. Eu continuei chorando. ─ Estava...certo. Subir na...ponte. É perigoso.

─ Você caiu da ponte? Foi isso? Subiu e perdeu o equilíbrio?

─ Aham. Corre muito. E forte. E fundo.

─ Nunca mais faz isso comigo, pelo amor de Deus.

─ Desculpa.

─ Não, eu quem te peço. ─ E calei a boca. Não tinha mais que falar nada. Ela ia me mandar calar a boca de todo jeito se eu continuasse pedindo desculpas. Os outros três falaram com ela, mas eu não me importei. Nem com Lysandre. A proximidade deles sempre fazia meu peito doer, mas eu não ligava. Não hoje. Hoje eu só me importava em sentir o calor que passava pelo lençol.


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Notas finais do capítulo

E é isso ai. Dois num dia já dá, né? Rs. Espero que gostem e vejo vocês depois ^~^