Lá E De Volta Outra Vez escrita por Pacheca


Capítulo 25
Seria o Inferno um Túnel?


Notas iniciais do capítulo

Olá, rapaziada :3 Aproveitando o fim de semana (o restinho dele) vim atualizar a fic e suas tretas rsss Espero que gostem ♥



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  A escola estava exatamente como no dia anterior. Um inferno. Respirei fundo e atravessei o corredor. Eu ia me provar inocente. Nem que eu tivesse que bater em Debrah e esfolar aquela carinha ridícula. Eu ia.

  Pena que não era tão fácil. E a cada minuto, só ficava mais difícil. Alexy continuava me evitando, nem Rosa tinha entendido. Nathaniel continuava irritado comigo, Lysandre parecia nem se lembrar que eu tinha chorado horrores. Estava tudo de mau a pior.

  – Eu bem avisei, não foi? – Debrah sorria, atrás de mim. Respirei fundo, olhando o corredor. Ela não ia me dar essa chance numa bandeija, ia? Sozinhas.

  – Debrah, eu acabei de almoçar. Deixa eu pelo menos fazer a digestão em paz.

  – Eu te deixo enjoada? Acontece.

  – O que você quer?

  – Só vim checar como você estava. Alexy é um amor, não é?

  – É. Era só isso, estou bem.

  – Não parece. Eu recomendo agir logo, do contrário Castiel vai embora comigo e ai você continua sendo o monstro.

  – Pode deixar.

  E foi embora com o mesmo sorriso cínico. Por um acaso, como obra do destino, eu vi Ambre e as amiguinhas saindo do banheiro com um balde cheio. De onde elas tinham tirado aquilo, eu preferia nem saber. E a curiosidade em saber a causa foi mais forte que eu. Segui o trio.

  O refeitório começou a esvaziar. Eu já ouvia os alunos começando a conversar no pátio, tomando um ar antes de entrarem nas salas de novo. E ouvi bem distinta a voz de Debrah. Ambre subiu as escadas para o segundo andar e parou na janela do corredor.

  – Ambre, o que está fazendo?

  – Sai daqui.

  – Isso é...?

  – Mira direito, Li. – Charlotte reclamou, puxando um pouco o balde. – Ande logo. Suma.

  – Não tem ninguém além de mim com quem fariam isso. A não ser...Puta merda, Ambre. Não faz isso.

  Eu deveria ter deixado elas agirem e desgraçarem o dia da Debrah? Devia, devia mesmo. Meu problema era ter consciência. Eu agarrei o braço de Charlotte, mas ela soltou o balde antes que eu evitasse o problema. Eu e Li dividimos um espaço na janela, vendo a comoção lá embaixo. Até Debrah olhar para cima e gritar meu nome. Arregalei os olhos, sem outra reação. Engoli em seco e me virei, já esperando estar sozinha. E ouvi o barulho dos tamancos de Sra. Shermansky.

  Suspirei. Sorte realmente não era mais algo que eu conhecia. Sem reclamar, segui a senhora até sua sala, vendo Debrah se aproximando. Ela tentava secar os cabelos com uma toalha encardida. E me olhava como se planejasse de onde me jogar, do segundo andar ou do telhado do ginásio. Eu tinha motivo para sentir medo, mas nem isso eu sentia.

  – VOCÊ DEVE ACHAR ISSO MUITO DIVERTIDO, MALTRATAR SUAS COLEGAS, SIM? EU NÃO ESPERAVA ISSO DE VOCÊ, SENHORITA. – Ela respirou tão fundo que eu quase me senti sem ar. – Poderia ter machucado a colega, espero que entenda isso.

  – Sra. Shermansky, eu poderia tentar me defender, mas não vai adiantar.

  – O que diria? Que o balde caiu sozinho?

  – Bom, tecnicamente foi a Charlotte, mas como eu não tenho como provar. Culpada sou.

  – Uma suspensão nem serve para o que você fez. Eu deveria expulsá-la. Agradeça ao meu bom coração que eu apenas vou lhe dar três dias seguidos de detenção.

  Concordei, calada. Falar não surtiria nenhum efeito positivo, era melhor simplesmente aceitar o que já tinha acontecido. Ela me fez ficar de pé na frente de Debrah e me desculpar oficialmente. Sem reclamar, o fiz. Debrah me olhava séria, ainda com raiva.

  – Pode ir. Espere depois do horário.

  Saí da sala, vendo a rodinha de gente. Peggy empurrou aquele microfone dela na minha cara e ligou o gravador, esperando eu dizer algo. Fiquei a encarando, sem nem respirar direito.

  – E ai? Não vai falar alguma lorota para tentar se defender?

  – Não, não vou. Licença.

  Um corredor se abriu para me deixar passar, mas a tensão dos olhares quase me prendia ao chão com o peso do julgamento. Passei o mais rápido que consegui e entrei na sala de aula. Aquilo devia ter sido aviso o suficiente de que eu deveria ter deixado o assunto de lado. Só não podia.

  Eu já tinha perdido amigos. Uns de formas piores que outras. Eu simplesmente me negava a simplesmente ver todo mundo que eu tinha me afeiçoado caminhar para longe de mim daquele jeito. Eu ia me provar inocente. Abri o caderno e fui rabiscar simplesmente para não ver os olhares sobre mim.

  Ou pelo menos não ia ficar de bico calado. Nem que eu falasse sozinha eu ia tirar aquilo de dentro de mim. Eu estava na biblioteca, sozinha com as estantes, quando ela entrou e parou ao meu lado. Não quis nem fazer contato visual, mas ele se forçou.

  – Feliz? Dessa vez eu nem tive que fazer nada.

  Peguei meu celular e abri o gravador, só por precaução. E tomando o cuidado de não deixá-la ver. Fiz como se só fosse trocar de música. Ela sorriu para mim, fazendo a pergunta repentina.

  – Se sente culpada? Pela morte dele? Pelo que eu entendi, ele só se atrasou para pegar a estrada porque parou para comprar algo para você. Ele poderia ter chegado em casa antes se não fosse por você.

  – Onde está querendo chegar, hum?

  – Você é violenta?

  – Sabe bem que não.

  – Então sai de perto de mim. Como consegue mentir com esse sorriso, sua psicopata? Sai. Ai, para, ai.

  Eu achava que aquilo era coisa de filme, mas ela começou a se bater, com força. Dei um passo para tentar impedí-la, mas ela aproveitou e tomou meu celular, pausando a gravação.

  – Achei que seria mais inteligente.

  Ela voltou a gravação até certo ponto e deixou tocar, deixando a percepção para mim. Parecia que eu quem tinha a atacado. E com o sorriso sumindo e o choro falso, ela saiu correndo. Desesperada, a segui. Por mais que eu corresse, de nada adiantava. Ela tinha sumido no corredor. Só a encontrei dentro de uma das salas, com Peggy.

  – Ela te machucou? Deveria mostrar para a diretora.

  – Eu não preciso expulsar ninguém, estou bem.

  – Posso pegar o meu celular de volta?

  – Fique a vontade, já me enviei o áudio. Sinceramente, você seria uma ótima atriz. Deveria tentar.

  – Peggy, para com esse olhar de quem sabe tudo de todos. Toda história tem três lados. – Apanhei o celular e esperei uma resposta, mas ela simplesmente deixou a sala. Fechei os olhos. Debrah sorria, eu tinha certeza, pelo tom do sussurro.

  – Parece que eu venci. Até contra Nathaniel eu te joguei. E ele sabe a verdade. Tchau.

  Saí da sala só para me movimentar, para fugir. Eu ia pegar minhas coisas e ir embora, chorar no meu canto escuro e solitário. Ela tinha razão, eu perdi. E, para piorar, todo mundo fazia questão de esfregar aquilo no meu rosto. No corredor, uma mão forte me agarrou, me empurrando na parede. Ouvi Lysandre tentar falar, mas o tom ríspido o calou.

  – Ficou doida, garota? A melhor oportunidade da minha vida e você quer destruir por uma bobagem de pré-adolescente? Quantos anos têm, cinco? Podia ter a machucado com o balde, mas como não funcionou preferiu partir para a agressão, é isso? Sinceramente, você é patética.

  – Está me machucando.

  – Que nem você fez com ela.

  Puxei meu braço e sequei o rosto, indignada. Tudo que eu queria era sair como se fosse a vadia que todo mundo acreditava que eu era, para pelo menos receber pelo que eu tinha pago. E aquele imbecil tinha arruinado em um instante.

  – Fica longe das pessoas que eu amo, entendeu? Isso a inclui.

  – Castiel...

  – Cala a boca, Lysandre.

  – Tudo bem, Lys. Se eu sou uma vadia, imagina se um dia ele descobre o que ela fez com ele. Licença.

  Empurrei o guitarrista para o lado e sai do corredor, buscando refúgio. Subi para as salas dos andares de cima, com um bolo tão grande na garganta que até machucava. Ia fechar a porta, quando senti aquele par de braços me rodeando. Reconheci o abraço no mesmo instante, deixando o bolo se desfazer em uma torrente de lágrimas e catarro.

  – Eu sinto muito, Anna. Perdão.

  – Nath... – Eu tentei me desculpar, mas nem isso eu consegui. Ele respirou fundo, acariciando meus cabelos. Eu tinha sido tão estúpida com ele, jogando a culpa dos outros em seus ombros. Quão monstruosa eu conseguia ser, de fato? – Desculpa.

  – Eu não notei a proporção que estava tomando.

  – Ela simplesmente arruinou os próximos três anos da minha vida, mas tudo bem.

  Mais calma, eu me afastei de seu peito e tentei enxugar o rosto, sem conseguir muito. Ele tirou um lenço do bolso e fez o serviço, sorrindo. Ainda fragilizada, pedi desculpas de novo. Ele deu de ombros e respondeu em voz baixa.

  – Você sabe que existe um pouco de verdade no que disse, é bom ter esse tipo de choque. O problema em questão é você, não quero mais te ver nesse estado. Como pretende recuperar seus próximos anos?

  – Eu tinha que arrumar uma maneira de mostrar que a mentirosa egocêntrica é ela, mas não vai mais dar tempo. Castiel já deve até estar assinando um contrato.

  – Talvez tenha tempo. Se pensarmos direito...Quem mais parecia estar tranquilo com você?

  – Nos últimos dias? Rosa, Lys, Armin, Kentin e você.

  – Rosa...Ela parece do tipo que tem um plano.

  – Sorte suas, eu tenho. Nós todos temos.

  Ela entrou na sala de aula com os outros três rapazes a seguindo, os três muito calmos. Nathaniel esperou o que ela ia dizer, ao que ela simplesmente murmurou.

  – Aqui não. Anna, sua casa pode nos receber?

  – Claro.

  – Muito bem. Recolham o que precisarem, vamos nos encontrar no parque e irmos juntos. O senhor também, garoto da papelada.

  – Muito bem. Em dez minutos.

  – Vou na frente.

  Sequei mais uma vez as bochechas e fui para o parque. Vi alguns dos alunos indo embora e me olhando com desprezo, mas fiz meu melhor para ignorá-los. Até mesmo Castiel, o idiota. O que mais me irritava era saber o esforço que eu tivera tentando conviver com ele, quebrar aquela barreira em que ele se escondia. E em dois minutos ele jogou todas as pedras do mundo em mim.

  – Vamos. Precisamos agir rápido.

  Fomos o resto do trajeto inteiro em silêncio. Abri o portão e esperei todo mundo entrar, procurando algum sinal dos meus pais. Nada. Não que eu não os quisesse por perto, mas meu pai não ia querer quatro meninos no meu quarto, mesmo que um fosse Nathaniel. E eu não queria discutir as brigas de colégio no meio da sala de estar.

  Abri a porta e levei-os direto pro meu quarto, deixando a mochila largada em um canto. Rosa esperou todo mundo se acomodar, paciente. Bem mais do que eu estava. Kentin sorria abobada para a parede pintada com a paisagem, enquanto eu tinha me esquecido de detalhes, que Lysandre certamente notou.

  – Tem uma foto minha numa moldura?

  – Hum? Oh, eu... eu tirei essa no dia do show e Violette estava treinando para fazer molduras e... É, é você.

  Ele deu um sorriso fraco e colocou a moldura de volta no lugar. Evitei contato visual, tentando disfarçar o sangue subindo para o meu rosto. Não que fosse adiantar, depois do que aconteceu. Rosalya estava fuçando no meu armário, como de costume, quando abriu a gaveta proibida. A da roupa íntima.

  – Minha nossa, qual seu problema? Não acredito que você usa isso. – E esticou uma calcinha na frente de todo mundo. Fiquei olhando para ela, esperando o desconfiômetro apitar, mas ela simplesmente não percebeu o micão.

  – Qual o seu? Guarda isso!

  – É, porque eles nunca viram uma.

  – Oh, eu não ligaria de ver uma na modelo. – Armin tinha aquele sorriso bobo que ele sempre dava quando tinha acabado de falar algo que não devia. O irmão dele dizia que era como ele disfarçava o lado que assistia pornô escondido no quarto. Fechei a gaveta e perguntei, enfim.

  – Qual o plano, Rosa?

  – Oh, sim. Bem, depois que essa confusão toda começou, eu tive a brilhante ideia de procurar o antigo guitarrista. E numa ligação ele me contou tudo que aquele ordinária fez com eles. Ficava dando entrevistas sozinha em nome de todos, não os deixava aparecer em fotos e filmagens, nem mesmo queria dar os créditos aos compositores. Ele acabou apelando e indo embora.

  – É o que ela fez na primeira vez que foi embora. – Nathaniel comentou, pensativo. Ela concordou, continuando a falar.

  – Exatamente isso. Ele nos disse que ela é alucinada com a fama. E se queremos derrubá-la, é nisso que temos que nos basear. Foi por ai que eu comecei a bolar o plano.

  – Cortando para o assunto...

  – Calma, garota, ingrata. O que eu pensei foi, a melhor maneira de tirá-la daqui é repetir a primeira vez que ela foi embora. Um empresário interessado unicamente nela.

  – Castiel vai ficar chateado.

  – Ele não pensou nisso quando fez aquele show no corredor.

  – Enfim, continuando...Eu pensei no seguinte. Leigh se vestiria formalmente e, aproveitando que ele parece mais velho, se passaria por um empresário. Tentaria convencê-la. Você iria tentar atrapalhar, como tem feito até então. E ai, meu bem, a armadilha ia estar montada.

  – Só isso?

  – Nada difícil. Dividimos as tarefas e pronto. E Leigh aceitou ajudar.

  – Tarefas?

  – Sim, Kentin. Aa coisas não vão se resolver sozinhas. Vamos pensar na organização. Vamos precisar treinar Leigh, depois de checarmos como está o clima na escola. Depois precisamos de um bom terno, precisamos marcar o melhor dia, colocarmos todos aqui a par do status. Ah, e vamos precisar do telefone dela.

  – Pro Leigh poder ligar. Consigo isso.

  – Boa, Nathaniel. Eu monto a armadilha, você só faz o que eu mandar, Anna. Entendido?

  – Sim, senhora. Quem faz o que?

  – Eu vou agir por último e treinar com Leigh. Kentin e Nathaniel podiam ir com você pegar o terno. O mais formal deles. Lysandre e Armin vão avaliar a situação no colégio.

  – Todo mundo de acordo?

  – Sim, claro.

  – Tudo bem. Eu continuo agindo como tenho feito?

  – Uhum. Se ficar mais confiante ela pode suspeitar. Continue tentando se provar a inocente, mas mantendo distância. Vai tudo dar certo.

  – Ok. Precisamos agir rápido.

  – E vamos. Amanhã vamos nos preparar, no dia seguinte atacamos. E agora nós vamos embora, descansar. Até amanhã.

  – Eu levo vocês lá embaixo.

  Os cinco foram embora praticamente juntos, mas falando sobre a parede do meu quarto. Acenei para eles e fechei o portão. Subi de novo, fui buscar minha mochila, e deixei a casa, indo para a academia.

  Kim estava lá, mas me ignorou. Olhei triste em sua direção e fui pular corda. O que eu menos queria era atrapalhar nosso recém formado plano, mesmo que para isso eu tivesse que fingir um pouco. Respirei fundo e me concentrei no meu exercício.


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Notas finais do capítulo

Boa noite, lindjos e lindjas :3



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